Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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Saudades e eleição

Adriano Oliveira, | ter, 22/04/2014 - 16:59
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Três variáveis tradicionais contidas na pesquisa eleitoral orientam as interpretações de diversos atores políticos: 1) Intenção de voto; 2) Avaliação da administração; 3) Nível de conhecimento. No momento, uma variável encanta tais atores: Desejo de mudança. As três variáveis tradicionais são importantes quando consideradas conjuntamente. A variável “desejo de mudança” não consegue, até o instante, revelar o estado de ânimo dos eleitores. Considero-a ilustrativa.

Consta na primeira pesquisa do Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau (IPMN) realizada em abril deste ano uma variável importante para antever o comportamento do eleitorado pernambucano, qual seja: a Saudade. Esta variável foi incluída no questionário por influência da Antropologia das Emoções e de Roberto DaMatta.

Indivíduos sentem saudades daquilo que já conviveram. Saudades de alguma coisa sugerem que os indivíduos têm memória positiva de algo. Neste caso, eleitores têm boas lembranças, e, portanto, sentem saudades do passado e estão atentos ou preocupados com o que virá no futuro. A hipótese que tenho é que eleitores sentem saudades de governos e por isto tendem a votar na reeleição do atual governante ou no candidato apoiado por ele.

Eduardo Campos não poderá mais ser candidato ao Governo de Pernambuco. Ele deixará saudades ou nenhuma saudade? 42% dos eleitores afirmaram que ele deixará saudades. 26% responderam que ele não deixará nenhuma saudade – IPMN, 04/2014. Tais dados sugerem que o candidato Paulo Câmara, o qual é apoiado pelo governador Eduardo Campos, tende a crescer eleitoralmente – Possibilidade.

A possibilidade apresentada surge em razão da seguinte hipótese: as ações do governo Eduardo Campos deixarão saudades, já que 57% dos eleitores aprovam (ótimo/bom) a sua gestão.

Dois pontos importantes: na capital pernambucana, 41% dos eleitores afirmaram que Eduardo Campos deixará saudades. Em Recife, Paulo Câmara obtém 23% de intenções de voto. Na região do Sertão, 51% dos eleitores afirmaram que desejam votar em Armando Monteiro. Nesta região, 28% dos eleitores frisaram que o governador Eduardo Campos deixará saudades. Portanto, neste instante, a variável “saudade” contribui para explicar o desempenho dos candidatos ao governo de Pernambuco. Ressalto que a saudade do eleitor para com alguém pode ser desconstruída ou consolidada.

Ao considerar o todo da pesquisa do IPMN, constato que parte do eleitorado pernambucano deseja a continuidade. Mas isto não significa, neste instante, que os eleitores tendem a votar majoritariamente no candidato da situação. Pesquisas servem para construir estratégias eleitorais. Pesquisas servem para iluminar caminhos. 

A frágil tese da mudança

Adriano Oliveira, | qui, 10/04/2014 - 13:57
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A inocência por vezes está presente na mente dos candidatos. Geralmente o dado estatístico serve apenas como instrumento de informação. A interpretação dele não é realizada. Mudança e continuidade são costumeiramente evocados por diversos analistas para sugerir o comportamento dos eleitores no futuro. Oferta de candidatos versusdemandas da população são utilizados para fornecer as razões do desempenho dos presidenciáveis nas pesquisas.

O antropólogo Clifford Geertz afirma: “Se quiséssemos verdades caseiras, deveríamos ter ficado em casa”. Pois bem, se desejo interpretar o comportamento atual do eleitorado brasileiro preciso estar inquieto e não me deter a afirmações triviais. Preciso sair da frente do computador e analisar com criatividade especulativa os dados ofertados por diversas pesquisas.

A última pesquisa do Datafolha (06/04/2014) revela queda na intenção de votos da presidente Dilma Rousseff e estabilidade dos porcentuais dos principais candidatos da oposição. Este dado é relevante, pois 72% dos eleitores desejam que as ações do próximo presidente sejam diferentes do atual. Neste caso, indago: se o desejo de mudança existe, por que os candidatos da oposição não crescem? A tese explicativa é econômica: os candidatos oposicionistas são pouco conhecidos (oferta). Quando ficarem, crescerão.

Tal tese deve ser considerada. Mas se os candidatos da oposição tivessem crescido na última pesquisa do Datafolha, o argumento oferecido à opinião pública seria: Eduardo e Aécio cresceram porque os eleitores desejam mudança. Portanto, a tese da mudança serve para tudo. Ressalto que: 32% dos votantes consideram Lula como mais preparado para realizar as mudanças. E Lula apoia Dilma. E foi Lula, como bem evidenciam vários artigos acadêmicos, quem contribuiu para o sucesso eleitoral da atual presidente na eleição de 2010.

A recente pesquisa do Datafolha revelou que 36% aprovam a administração da presidente Dilma. Isto significa, portanto, desejo de mudança? Aparentemente sim. Mas quem deseja mudança? 51% dos eleitores aprovam o governo Dilma no Nordeste. No Sudeste, a aprovação é de 28%. Portanto, os eleitores do Sudeste estão mais propensos à mudança. Os do Nordeste, mais propensos à continuidade. Clivagem geográfica presente.

Dado importante: 42% dos eleitores que ganham até dois salários mínimos aprovam a gestão de Dilma. Com o aumento da renda, observa-se a queda da aprovação do governo petista. Clivagem econômica presente. Então, a eleição presidencial deste ano pode vir a ser caracterizada por claras clivagens geográficas e sociais. Tais clivagens garantem o sucesso eleitoral de Dilma? 

Não se pode desprezar a seguinte hipótese, a qual advém da análise do comportamento dos eleitores nas disputas presidenciais de 1998 e 2006. No primeiro governo de FHC, eleitores obtiveram conquistas. E em março de 1998, a taxa de aprovação do governo FHC era de 39% - Ibope. Em março de 2006, após o escândalo do mensalão, o qual ocorreu em 2005, a aprovação de Lula era de 38% - Ibope. Em março deste ano, o Ibope revelou que a aprovação de Dilma era de 36%.

Certamente, em março de 1998, a tese da mudança sugeriu que FHC não seria reeleito. Ocorre o mesmo com Lula em 2006. Tal tese sugere, neste instante, que Dilma tende a não ser reeleita. Devemos ampliar nosso olhar analítico. FHC e Lula recuperaram popularidade e foram reeleitos em virtude de que os eleitores consideraram o passado, ou seja, as conquistas obtidas nos respectivos governos.

Neste momento, com o objetivo de construir previsões, deve-se considerar que as clivagens econômica e geográfica podem beneficiar o sucesso eleitoral de Dilma. Além do receio do futuro. Ou seja: parte dos eleitores pode temer a perda das conquistas que obtiveram na era PT e temerem o futuro caso Eduardo ou Aécio vença a eleição.

Copa do mundo e eleição

Adriano Oliveira, | qui, 20/03/2014 - 09:58
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Pesquisas de opinião que tentem desvendar o futuro tornam os cenários e as disputas eleitorais previsíveis. Mas previsão não significa ato de adivinhação. A previsão é a construção de cenários. Os cenários condicionam a criação de estratégias por parte do competidor com o objetivo de amenizar os riscos e para aproveitar as oportunidades da disputa eleitoral.

A eleição presidencial de 2014 tem sugerido variadas especulações quanto ao seu possível resultado. Tais especulações advêm, em parte, de eventos que ocorreram e que irão ocorrer. Em junho de 2013, manifestações aconteceram em diversas cidades brasileiras. No decorrer e após as manifestações, a avaliação da presidente Dilma Rousseff declinou. E voltou a crescer. Pesquisa de fevereiro deste ano mostra que a gestão petista tem 39% de aprovação. As várias pesquisas realizadas em 2014 revelam que Dilma continua a ter frágil favoritismo de vencer a eleição no primeiro turno.

É importante salientar que a gestão dilmista recuperou popularidade e as manifestações perderam. Em fevereiro, pesquisa do Datafolha revelou que 52% dos eleitores aprovam as manifestações e 42% a reprovam. Neste instante, a expectativa está em torno das consequências da Copa do Mundo para a eleição presidencial. A razão causal sugerida é que a Copa do Mundo pode trazer benefícios e malefícios para os presidenciáveis.

Segundo pesquisa do Ibope realizada em fevereiro do corrente ano, através de pergunta espontânea, 21% dos eleitores brasileiros afirmaram que sentiam, naquele momento, alegria em razão da Copa.  Numa escala de 0 a 10, 7,0 foi a nota média obtida para aprovação ou desaprovação da frase “Eu sou um grande torcedor da seleção brasileira de futebol” – Ibope, fevereiro de 2014. Portanto, existe aprovação. A pesquisa do Ibope revelou que 58% dos brasileiros são favoráveis a realização da Copa do Mundo no Brasil. No Nordeste, região onde Dilma tem alta popularidade, 72% são favoráveis.

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau (IPMN) realizada no Recife em março deste ano revela que: 1) 73,3% dos entrevistados pretendem assistir aos jogos da Copa do Mundo; 2) 71,5% são favoráveis à realização da Copa do Mundo no Brasil; 3) 48,3% estão torcendo muito pela seleção brasileira; 4) 69,6% ficarão muito felizes ou felizes se a seleção brasileira conquistar a Copa; 5) 66,2% são contrários que ocorram manifestações durante a Copa.

Os dados das pesquisas do Ibope e IPMN sugerem que: 1) A maioria dos brasileiros é favorável à realização da Copa do Mundo no Brasil, apesar do volumoso gasto público em razão dela; 2) O declínio do apoio às manifestações diversas em virtude dos atos de violência indica que elas serão focalizadas e de baixa intensidade durante a Copa. As manifestações durante o evento esportivo da FIFA não serão semelhantes às de junho de 2013 – Alta intensidade; 3) Já que a Copa será realizada, parte dos brasileiros a deseja, torcerá pela seleção e ficará feliz com as vitórias.

Portanto, não vejo a Copa, neste instante, como evento que proporcionará intensas e grandiosas manifestações capazes de interferir fortemente de maneira negativa na disputa presidencial, em particular no desempenho de Dilma Rousseff. Outro dado importante: 55,3% dos recifenses não acreditam que as obras da Copa ficarão prontas antes do seu inicio. E neste universo, 52,6% consideram que a não conclusão das obras é de responsabilidade dos governos Federal e Estadual – IPMN, fevereiro de 2014. Portanto, as consequências negativas da Copa serão democratizadas entre os gestores. 

A dinâmica da eleição proporcional

Adriano Oliveira, | seg, 10/03/2014 - 10:30
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Quais são os mecanismos que regem a eleição proporcional? Esta pergunta está presente na mente de muitos competidores. Porém, alguns têm a resposta, outros relutam em acreditar na obviedade dela. E alguns não sabem de fato a resposta. Os mecanismos da eleição proporcional são diminutamente considerados no raciocínio daqueles que desejam pesquisar ou pensar a dinâmica eleitoral brasileira.

A dinâmica da eleição proporcional é caracterizada pelos seguintes fatores: 1) Prefeitos arregimentam eleitores; 2) Lideranças comunitárias são instrumentos para a conquista de eleitores; 3) Troca de favores entre eleitor e candidato permite a conquista do voto; 4) Eleitores admiram candidatos.

O prefeito é ator estratégico na conquista de votos para candidatos. Neste sentido, deputados eleitos são aqueles que possuem prefeitos. Mas como possuir prefeitos? Possuir prefeitos parte da ideia de que eles são controlados pelo deputado com mandato ou por aquele que deseja ser parlamentar. O controle do prefeito ocorre através da negociação política, onde benefícios são ofertados pelo competidor a eles.

Favores podem ser distribuídos ao eleitor em razão do prefeito ter o controle da máquina pública do município. Deste modo, prefeitos adquirem condições de conquistar ou manter eleitores. Tal prática é característica. Não representa, portanto, exceção. Quantos votos um prefeito tem condições de dar ao candidato? O potencial de voto do prefeito é proporcional a sua importância/valor para o competidor.

As lideranças comunitárias exercem força sobre muitos candidatos, mas não necessariamente sobre os eleitores. Elas representam, teoricamente, a comunidade. Isto é: através das lideranças, os competidores podem conquistar eleitores. A relação entre candidatos e lideranças é caracterizada pela troca de benefícios. O competidor deseja o voto. A liderança deseja algum benefício, dentre os quais, financeiros. As lideranças organizam festas nas comunidades e prestam favores com o auxilio do candidato.  Através destes instrumentos, eles buscam conquistar o voto do eleitor e a confiança do candidato.

Lideranças propagandeiam o seu potencial de votos, ou seja, quantos votos eles dão a um competidor. Políticos experientes afirmam que o potencial de voto de uma liderança equivale a 30% do que ele diz ter para dar ao competidor. Então, se a liderança afirma que tem 2000 votos, na verdade ela dará 600 votos ao candidato.

Existem eleitores que votam pela amizade e os que votam por admirar o candidato. O voto pela amizade caracteriza-se por algum favor prestado ao eleitor no passado. Favor este concedido não só a ele, mas a algum membro da família. Mas também, pelo fato do eleitor conhecer o candidato e este o tratar bem sempre que o encontra.

Não se devem desprezar os eleitores que admiram as ideias e as atitudes do candidato – “votos de opinião”. Se este, por exemplo, defende o direito dos trabalhadores ou a união homossexual, eleitores podem ser conquistados. Os competidores que pautam a sua conduta pela oposição a algum governo também conquistam eleitores.

Aparentemente não existem mistérios para vencer a disputa eleitoral proporcional. Mas os mecanismos requerem necessariamente ação dos competidores com a intenção de conquistar eleitores. Deste modo, faz-se necessário que os concorrentes reconheçam que prefeitos, lideranças, favores, amizade e ideias/bandeiras possibilitam, conjuntamente, o sucesso eleitoral. A dúvida, entretanto, é saber o que mais importa para o sucesso do competidor.  

Eleição complexa?

Adriano Oliveira, | qua, 19/02/2014 - 14:43
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O antropólogo Gilberto Velho utiliza o termo sociedades complexas para qualificar os agrupamentos humanos contemporâneos. O brilhante antropólogo discorre sobre escolhas individuais, status social, ações, significados e símbolos para evidenciar as razões das atuais sociedades serem complexas. E, por consequência, requererem árduo esforço intelectual para serem compreendidas.

A dinâmica da eleição presidencial de 2014 sugere complexidade? Sim. As pesquisas quantitativas revelam que existem riscos e oportunidades para os três principais competidores. E que Dilma, apesar dos riscos, continua a ter frágil favoritismo de vencer a disputa no primeiro turno. Esta última afirmação não se baseia, exclusivamente, na intenção de votos, mas em outros indicadores que sugerem, inclusive, a utilização do método qualitativo para que conclusões interpretativas se consolidem.

Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o instituto MDA revela que a avaliação positiva da presidente Dilma Rousseff é baixa: 36,4%. Assim como a negativa: 24,8%. Então, qual é a avaliação da gestão da presidente Dilma, se 37,9% a classificam como regular? Neste sentido, os eleitores sugerem ao estrategista que estão em dúvida quanto a que posição tomar em relação à avaliação do gestor. O regular está presente no centro de uma linha imaginária, onde os extremos representam aprovação ou reprovação.

Campanhas importam. Tal premissa é verdadeira. Campanhas importam para todos os competidores. Esta premissa também é verdadeira. Portanto, Dilma tem condições de conquistar eleitores que hoje classificam o seu governo como regular. E Aécio e Campos também. Este é o dado. Não se pode afirmar, exclusivamente, que os oposicionistas conquistarão eleitores quando a campanha televisiva começar.

Potencial ameaça para Dilma foi revelada pela pesquisa CNT/MDA: 77,2% dos eleitores consideram que o custo de vida aumentou. Este indicador é o adequado para prever a escolha dos eleitores diante da conjuntura econômica. Esqueçam a variação do PIB. Eleitores têm sentimentos. Portanto, se eles “sentem” que estão perdendo poder de compra e a responsabilidade da perda é do presidente, eles podem vir a escolher um opositor à Dilma no dia eleição.

Oportunidade para Dilma e risco para a oposição: 35,2% dos eleitores desejam que o próximo presidente continue totalmente ou com a maioria das ações da atual presidente. Este dado sugere que 35,2% dos eleitores desejam continuidade. E se existe o instrumento da reeleição, estes eleitores tendem a votar em Dilma - Hipótese.

Outro dado relevante: 25% (CNT/MDA) desejam que algumas ações da atual presidente continuem, mas que a maioria delas mude. Mas, se os eleitores imaginarem, no decorrer da campanha, que poderão perder conquistas já alcançadas? Então, diante deste contexto, é adequado considerar que: 60,2% dos eleitores desejam continuidade e mudanças pontuais e que, não necessariamente, o presidente deva ser trocado.

Portanto, não concentro meus olhos em apenas uma única hipótese, qual seja: 62,2% dos eleitores desejam mudança. A pesquisa CNT/MDA mostra que 37,2% dos eleitores desejam que o próximo presidente mude totalmente a forma de governar. Este é o universo real de eleitores que almeja mudança. E Aécio e Campos já conquistaram este universo.  

Eduardo Campos, desconsiderando as variáveis geográficas, tem uma vantagem sobre Aécio Neves: 29,1% não conhece o presidenciável do PSB. Isto significa que ele pode crescer. Mas tal dado sugere também que à medida que ele se torne conhecido, a sua rejeição possa vir a aumentar. Por fim, constato que PSB e PSDB estão brigando, ainda, pela mesma fatia do eleitorado. Nenhum deles conseguiu conquistar eleitores de Dilma, a qual tem intenções de voto, considerando várias pesquisas recentes, entre 40% a 45%. 

As manifestações e as eleições

Adriano Oliveira, | qua, 12/02/2014 - 11:15
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A interpretação equivocada dos fenômenos sociais conduz a compreensão errada da conjuntura. Quando atores políticos e estrategistas cometem erros interpretativos tendem a construir estratégias eleitorais ineficazes. As manifestações de junho de 2013 foram submetidas a diversas interpretações equivocadas. Em razão disto, o que fora previsto logo após as manifestações, não veio a se consolidar em dezembro de 2013.

Após as manifestações de junho, os interpretes apressados frisaram que a presidente Dilma Rousseff não recuperaria a sua popularidade. Primeiro equivoco. Ela recuperou parte da sua aprovação em dezembro de 2013. Os apressados também salientaram que as manifestações provocaram a queda da popularidade da presidente da República. Fato. Mas não frisaram, assim como bem demonstraram várias pesquisas, que gestores diversos tiveram queda da popularidade. Segundo equivoco. E o terceiro equivoco foi  não fazer a pergunta vital: Por que as classes C e D não participaram majoritariamente das manifestações?

As manifestações de junho de 2013 foram fenômenos fortemente segmentados – conforme sugerem as pesquisas. Neste caso, indivíduos pertencentes às classes A e B, na faixa etária de 18 a 35 e com nível superior, participaram majoritariamente das manifestações. Por outro lado, esses eventos foram fenômenos que conquistaram majoritário apoio da população brasileira.

O vetor causal desses eventos foi o aumento da passagem de ônibus ocorrido em São Paulo. Após várias manifestações, ocorreu o “efeito manada”, ou seja, outras pessoas de várias capitais organizaram manifestações, as quais tiveram pautas diversas, já que quando elas ocorreram, o aumento da tarifa de ônibus tinha sido revogado em várias cidades.  

As ações violentas praticadas por manifestantes em junho de 2013 foram reprovadas pela população. A opinião pública apoiou as manifestações, mas não chancelou atos de violência. No final de junho de 2013, pesquisa do Datafolha realizada na cidade de São Paulo revelou que 89% dos paulistanos eram favoráveis às manifestações. Em setembro, o porcentual foi de 74% e em outubro, 66% apoiavam esses protestos. O Datafolha revelou também que em outubro de 2013, 9 entre cada 10 paulistanos entrevistados eram contrários às manifestações violentas.

O Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau (IPMN) em pesquisa realizada em novembro de 2013 revelou que: 1) 43,3% dos recifenses concordam com as novas manifestações ocorridas no segundo semestre de 2013; 2) 82,7% dos recifenses não pretendem participar de manifestações em 2014; 3) e 92,2% reprovam atos de violência nesses protestos.

Os argumentos e dados apresentados sugerem que os candidatos a presidente da República devem ficar atentos às consequências eleitorais das possíveis manifestações que irão ocorrer em 2014. Tenho a hipótese de que elas irão acontecer, mas esvaziadas e com reduzido apoio popular, em razão dos atos de violência. E outra hipótese: a morte do cinegrafista Santiago Dantas aumentará a desaprovação da opinião pública para com elas. Portanto, interpretar adequadamente o que acontece na conjuntura e criar cenários são caminhos adequados para a construção de estratégias eleitorais eficazes.

Quem vencerá 2014?

Adriano Oliveira, | qua, 29/01/2014 - 11:34
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O ato de prever deve ser a tarefa de qualquer ator político ou estrategista. Previsões não representam vereditos, no caso profecias, mas possibilidades. Ou seja: diante de dados indicadores, o que poderá ocorrer? Diante desta indagação, cenários surgem. E são estes que devem guiar a formulação de estratégias. Não é possível construir estratégias eficientes desconsiderando as conjunturas.

Atores políticos costumam ter receio do futuro. Eles gostam do presente. Deste modo, as análises políticas avaliam apenas as condições presentes e dai constroem estratégias. Só que as estratégias criadas precisam considerar as condições presentes e futuras. Se apenas o presente é considerado na criação das estratégias, elas poderão vir a ser avaliadas como equivocadas no futuro.

Em 2011, afirmei que a expectativa de poder do PSB no estado de Pernambuco durará até 2022. Frisei também, em 2012, que após a eleição municipal do Recife, um novo pólo de poder surgiria em Pernambuco liderado pelo PTB e PT. A primeira previsão continua válida e condicionou a origem da segunda. Entretanto, diante de tantas especulações que tentam elucidar os desejos dos pernambucanos e guiar as estratégias dos competidores, algumas indagações são necessárias com o objetivo de prever o futuro.

Neste instante, não existem indícios de que Eduardo Campos não será candidato à presidência da República. Diante desta conjuntura, indago: 1) Qual será o desempenho do candidato do PSB ao governo de Pernambuco? 2) Tal desempenho depende, necessariamente, do desempenho de Eduardo Campos na disputa presidencial? Tais indagações partem de duas hipóteses: 1) Se Eduardo crescer eleitoralmente na corrida presidencial, o seu candidato ao governo de Pernambuco tende a vencer a disputa; 2) Se Eduardo não crescer eleitoralmente, ou seja, continuar na terceira posição, o seu candidato ao governo de Pernambuco tende a perder a eleição.

Ao considerar as duas hipóteses apresentadas, podemos construir dois cenários para o desempenho do senador Armando Monteiro (PTB) na disputa para o governo do Estado. Neste caso, se a primeira hipótese vier a ser verdadeira, Armando perderá a eleição. Então, a segunda hipótese representa o contexto mais adequado para o candidato do PTB vencer a eleição em Pernambuco.

Observem que os cenários propostos consideram a seguinte premissa: a disputa presidencial de 2014 terá influência no desempenho dos candidatos ao governo de Pernambuco. Neste sentido, observamos que Eduardo, Dilma e Lula são os protagonistas em Pernambuco. Então, se Eduardo, Lula e Dilma são os atores estratégicos, volta à tona minha conclusão que publicizei em 2013: a disputa em Pernambuco será entre Lula/Dilma versus o governador Eduardo Campos.

Mas não descarto outras possibilidades. É possível o candidato do PSB vencer o senador Armando Monteiro na disputa para o governo, independente do desempenho de Eduardo na disputa presidencial? É possível Armando Monteiro ser eleitor governador diante de um desempenho frágil de Dilma Rousseff no Brasil e em Pernambuco? A melhor estratégia para a oposição derrotar o PSB em Pernambuco é ofertar duas ou uma única candidatura? As indagações apresentadas requerem respostas adequadas, as quais virão de pesquisas e interpretações sábias.  

Candidato outsider

Adriano Oliveira, | seg, 13/01/2014 - 10:49
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Requer árduo esforço intelectual a escolha de um candidato para disputar a eleição majoritária. A inteligência do personagem que fará a escolha considera as objeções políticas advindas de outros atores para com um dado ator que é o preferido para ser o escolhido. Consideram-se também os desejos e o humor dos eleitores. A escolha de um candidato não é tarefa para principiantes.

Premissas baseadas na intuição ou na interpretação não adequada de pesquisas podem proporcionar escolhas equivocadas. A intuição e pesquisas de opinião pública têm costumeiramente sugerido que candidatos com perfil técnico e neófito na atividade política são os preferíveis do eleitor. Tal raciocínio é verdadeiro?

Howard Becker, em sua clássica obra Outsiders, revela que existem indivíduos que fogem do padrão característico de um grupo. Por exemplo: todos no grupo jogam futebol nos finais de semana. Com exceção de X, que joga xadrez. Por assim ser, X é considerado um outsider. Portanto, o ator neófito na política é aquele que nunca disputou uma eleição, ao contrário dos outros membros do grupo. Acrescento outra característica ao neófito na política: a jovialidade.    

Desde 2008 realizo e interpreto pesquisas eleitorais. Neste decorrer, constatei, em várias eleições, que competidores outsiders e com perfil técnico são os preferíveis do eleitor. Porém, as pesquisas também revelam que candidatos experientes e com propostas factíveis têm também a preferência da população. Além disto, o candidato jovem não é necessariamente visto com bons olhos por parte dos eleitores.

Um competidor pode ser outsider na disputa da eleição, ser experiente no exercício das atividades no âmbito da gestão pública e oferecer boas propostas ao eleitorado. Outro candidato já disputou várias eleições, tem experiência na gestão pública e não tem jovialidade (maduro). Ambos os candidatos têm chances eleitorais.  

O que condiciona (conduz) os desejos do eleitor é a conjuntura. Pesquisas quantitativas e qualitativas buscam identificar os desejos do eleitor e as suas visões de mundo que estão no contexto atual. A interpretação dos dados das pesquisas é ato subsequente. Neste sentido, o eleitor pode desejar que o candidato a governador seja um outsider, tenha experiência na gestão pública e seja jovem. Ou o eleitor, diante de dada conjuntura, deseja um candidato com experiência na área pública, maduro e com boas propostas. Para este eleitor, não importa se ele já disputou ou não as eleições. Portanto, a compreensão adequada do contexto é que tornará inteligível qual tipo de candidato a maioria do eleitorado deseja.

Existe uma variável de fundamental importância na conjuntura que incentiva as escolhas dos eleitores. Tal variável é expressa através da seguinte indagação: quem apoia este candidato? O eleitor não faz, obrigatoriamente, esta pergunta. No entanto, quando o candidato apresenta ao eleitorado quem o apoia, ele oferta atalhos/referências para que as decisões dos eleitores sejam orientadas.

Se o competidor X é apoiado pelo governador Y, o qual finda o mandato bem avaliado, X tende a conquistar eleitores. Outra possibilidade: se Z é apoiado pelo presidente da República A e pelo ex-presidente B, ele tende também a conquistar votos. Portanto, eleitores tomam decisões com base em referências. Então, a escolha de um candidato outsider não é garantia de sucesso eleitoral. Apenas, a depender do contexto, a escolha adequada de uma estratégia inicial.

Lógicas e mudanças

Adriano Oliveira, | seg, 16/12/2013 - 13:22
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O encontro de lógicas torna inteligível a Análise de Conjuntura. As lógicas observáveis orientam a construção de estratégias eleitorais eficazes. Não é recomendável desprezar lógicas presentes nas eleições, pois elas são variáveis preditoras.  As lógicas perceptíveis também amenizam a incerteza, a qual é característica de qualquer processo eleitoral, pois acasos (Cisnes Negros) também são passiveis de acontecer, e podem vir a fazer parte da lógica da eleição, ou seja, em períodos eleitorais, eventos não previsíveis surgem.

Recente pesquisa do Datafolha (29/11/2013) revela que 66% dos eleitores brasileiros desejam que as ações do próximo presidente sejam diferentes das atuais. Tal dado, nos sugere que candidatos da oposição tendem a vencer a eleição presidencial de 2014. Postulantes da oposição têm chances de vencer o pleito presidencial de 2014. Porém, os competidores oposicionistas não devem simplificar a interpretação do desejo de mudança.

Se 66% dos eleitores desejam mudança, por que a intenção de voto da presidente Dilma e a aprovação do seu governo cresceram após as manifestações de junho de 2013? Observem, que após as manifestações, a avaliação da presidente Dilma e a sua intenção de votos declinaram e voltaram a crescer. Diante deste fato, temos que considerar a hipótese de que não foram as manifestações que possibilitaram o desejo de mudança. Especulo que tal desejo já existia. Mas, diante disto, o que é mudança para o eleitor?

Mudar representa o desejo de uma nova realidade. Uma nova ação e postura do ator político. Portanto, mudança representa metamorfose. Deste modo, eleitores desejam que as ações realizadas hoje por dado governante sejam modificadas em razão de que existem demandas na sociedade, como no caso da saúde pública, que requerem soluções.

A metamorfose pode ocorrer para o eleitor em duas possibilidades. No primeiro âmbito, o eleitor deseja mudança, mas não necessariamente a troca do gestor. Ele deseja que o gestor mude as suas ações e conduta. Na possibilidade seguinte, o eleitor deseja mudança do gestor. Isto é: outro gestor venha a substituir o governante de então.

As duas possibilidades estarão presentes na eleição presidencial de 2014. Ambas as possibilidade são lógicas, portanto, coerentes.  A presidente Dilma se recupera eleitoralmente e 25% dos eleitores declaram que não votam de modo algum nela (Datafolha). Saliento, ainda, que a reprovação (ruim/péssimo) do governo Dilma é de 20% (IBOPE, 13/12/2013).

Destaco que em 09/09/2002, 76% dos eleitores desejavam mudança. Neste ano, Luis Inácio Lula da Silva venceu a eleição contra José Serra. Em 2002, o governo de FHC tinha avaliação positiva (ótimo/bom) de 23% (Datafolha, 27/09/2013) e não podia ser reeleito. Lula, em 2010, apoiou Dilma Rousseff. Neste ano, o governo Lula era aprovado por 78% (22/09/2010). E Lula também não poderia ser reeleito.

FHC e Lula diferem quanto à aprovação no último ano do mandato. Neste sentido, podemos ter a hipótese de que as respectivas aprovações contribuíram para a continuidade (PT) e a descontinuidade do poder (PSDB). Por outro lado, FHC e Lula, ao serem candidatos à reeleição, tinham aprovação de 43% (Datafolha, 02/09/1998) e 47% (Datafolha, 27/09/2006), respectivamente. 

Constato, portanto, lógicas nas recentes eleições presidenciais brasileiras. Os dados sugerem que quando o presidente pode ser reeleito, o eleitor, a partir de dado porcentual de aprovação, tende a continuidade. Quando ele não pode ser reeleito, o eleitor tende a mudança, em particular, quando a aprovação do presidente é reduzida. Tais lógicas devem ser encaradas como hipóteses, mas também como alertas aos competidores opositores à presidente Dilma na disputa vindoura.     

 Feliz 2014.    

Os bestializados e as ameaças

Adriano Oliveira, | ter, 03/12/2013 - 14:11
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Recomendo aos atores políticos, analistas e estrategistas que rememorem as suas respectivas previsões eleitorais feitas durante este ano. Relembro algumas delas, as quais estão fortemente arraigadas na minha memória, já que elas foram repetidas por várias vezes: 1) Dilma será eleita no primeiro turno com facilidade; 2) Dilma não vencerá a eleição de 2014. Este prognóstico foi feito após as manifestações de junho de 2013; 3) A aliança Eduardo e Marina fará com que Eduardo cresça eleitoralmente.

Todas as previsões apresentadas foram construídas com base nos dados advindos de pesquisas e no calor das emoções. A emoção, como bem alerta o neurocientista Antonio Damásio, incentiva à ação. Talvez sem ela haja a possibilidade de não alcançarmos o que desejamos. Por outro lado, estes mesmos sentimentos podem nos conduzir para ações equivocadas. E previsões equivocadas nascem de interpretações apaixonadas das pesquisas eleitorais e das conjunturas presentes e vindouras.

O crescimento econômico nos dois anos iniciais do governo Dilma foi baixo. Mas, neste período, ela liderou as pesquisas de intenções de voto e conquistou alto porcentual de aprovação. O bom desempenho de Dilma entre os eleitores em períodos de baixo crescimento econômico emitia sinais de que o bem-estar econômico não explica de modo satisfatório as escolhas dos eleitores. Sentimentos importam para eles. Portanto, as pesquisas mostravam, inclusive as qualitativas, que eleitores admiravam Dilma e tinha expectativas positivas quanto ao seu desempenho.

Após as manifestações de junho de 2013, o desempenho eleitoral de Dilma sofreu hecatombe. Várias teorias, sem respaldo empírico, surgiram para explicar as causas das manifestações. Os fenômenos ocorridos em junho de 2013 foram ocasionados em razão do aumento da tarifa do transporte público em São Paulo. No dia 20/06/2013 várias manifestações aconteceram em diversas cidades, onde os manifestantes foram às ruas reclamar, majoritariamente, do aumento da tarifa do transporte público e da corrupção pública.

Antes do dia 20/06, vários gestores do Brasil anunciaram a redução da tarifa do transporte público. Portanto, a causa das manifestações não mais existia. Então, elas só ocorreram em outras cidades, em razão da intensidade das manifestações acontecidas em São Paulo. Ou seja: estávamos diante do fenômeno imitação social. Friso, ainda, que o perfil dos manifestantes paulistas, recifenses e brasileiros, como atestam várias pesquisas é: 1) Renda acima de 5 salários mínimos; 2) Educação superior completa e incompleta.

Dilma pautou as suas estratégias eleitorais nos eleitores das classes C e D, os quais não são manifestantes. Ela também reposicionou a discussão eleitoral: o desempenho da economia se restringe a taxa de desemprego e ações sociais foram anunciadas e fortalecidas, como o Programa Mais Médicos e Minha Casa Minha Vida.

Portanto, não existe nenhuma surpresa quanto ao resultado da última pesquisa do Datafolha (30/11/2013) que mostra Dilma liderando, com conforto, a disputa presidencial. E pode continuar a liderar, caso os estrategistas da oposição não descubram que o povo aprovou, bestializados (Expressão copiada de José Murilo de Carvalho), as manifestações de junho, mas estão satisfeitos, em parte, com Dilma.  E quem decide as eleições são os bestializados. Então, estratégias precisam ser criadas para conquistá-los.   

Neste instante, continuo a afirmar que Dilma tem frágil favoritismo para vencer no primeiro turno. Porém, observo as seguintes ameaças para Dilma: 1) Candidatura de Marina Silva; 2) Sucesso eleitoral de Aécio Neves em São Paulo e Minas Gerais; 3) Candidaturas de Randolfe Rodrigues (PSOL), Joaquim Barbosa e do PSC.  Tais eventos, neste instante, caso ocorram, poderão condicionar o segundo turno.   

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