Existe crise institucional no Brasil? Não. As instituições estão funcionando. Afirmo isto, em razão das ações da Operação Lava Jato e do Tribunal de Contas da União no âmbito do julgamento das contas da presidente Dilma Rousseff. Estas ações institucionais são as mais visíveis. Porém, lembro da Operação Zelotes, a qual desvendou a atuação de grupos criminosos no âmbito da Receita Federal.
O ajuste fiscal sugerido pela presidente Dilma Rousseff é necessário? Sim. A presidente Dilma cometeu equívocos em seu primeiro mandato. O nacional-desenvolvimentismo predominou. A Petrobrás foi utilizada para controlar preços e promover o desenvolvimento. Ambas as ações não consideraram que a Petrobrás precisa atuar considerando a lógica do mercado. Incentivos tributários foram concedidos na esperança de que o crescimento econômico ocorrido na era Lula permanecesse. A presidente Dilma não promoveu o controle dos gastos e nem reformas estruturais.
A crise econômica atual é estrutural? Sim. FHC foi um presidente reformista. A Lei de Responsabilidade Fiscal e as privatizações são exemplos de ações que buscaram reformar o estado e dotá-lo de modernidade e eficácia. Lula foi um presidente que herdou as reformas de FHC, mas não promoveu novas reformas. Embora tenha ampliado o número de pessoas beneficiadas por diversas políticas sociais e tenha promovido o consumo interno. Dilma realizou uma única reforma estrutural: instituiu teto para a aposentadoria do servidor público. Ela continuou as ações de Lula, mas em uma conjuntura econômica desfavorável, em razão da queda da arrecadação.
Qual é a razão da crise política atual? Dilma sofre de paralisia decisória. Ela não se antecipou a crise econômica em razão da sua paralisia decisória. A oposição tem razões para criticar a presidente Dilma. Porém, a crítica e a cobrança estão resumidas em um único desejo: a saída imediata da presidente. Em virtude da presença deste desejo, a crise política atual adquiriu caráter hobbesiano, onde estão todos contra todos em um estado de guerra que impede a construção de soluções para a crise econômica atual.
A saída de Dilma é a solução ótima para a crise? Não! Caso Dilma renuncie ou sofra impedimento, neste último caso, sem nenhuma razão factual, a oposição mandará para o exercício da oposição o PT, Lula e os movimentos sociais. A oposição precisará fazer as reformas estruturais necessárias. E a crise política deverá continuar. Porém, os sujeitos principais da crise serão outros, no caso Lula e o PT. Tenho a hipótese de que a saída de Dilma manterá as coisas em seu devido lugar, inclusive, as coisas benéficas, ou seja, as instituições funcionando.
Apenas enxergamos a crise do governo Dilma Rousseff. Compreensível. Pois a agenda midiática aborda enfaticamente a crise no governo Dilma. Porém, a crise do governo Dilma tem forte rebatimento nos governos estaduais. Certamente, não existem crises políticas no âmbito dos governos dos estados. Mas a crise política no governo Dilma provoca crise econômica, a qual possibilita dificuldades econômicas nos estados. Portanto, a crise do governo Dilma não é uma crise exclusiva do governo Dilma.
Os governadores são atores estratégicos caso sejam proativos. Caso não, eles são meros governadores que atendem as demandas dos deputados e prefeitos. Quando governadores são proativos, eles participam da vida política brasileira em razão de que a superação da crise nacional possibilitará a superação da crise estadual. A ausência de proatividade por parte dos governadores os transforma em políticos provincianos, ou seja, chefes da província que aguardam a ordem da Província-geral, no caso, a União.
O insistente debate sobre o novo pacto federativo é lugar-comum nos discursos de variados governadores. O que os governadores desejam é que do novo pacto federativo mais recursos cheguem aos estados. Legitima pauta. Entretanto, como o governo federal convive com o desequilíbrio fiscal, o novo pacto federativo tende a não existir. Diante desta constatação básica, governadores precisam ser proativos.
Quando a presidente da República propôs a recriação do CPMF poucos governadores a apoiaram. Compreensível. Pois presidentes reprovados não lideram parlamentares, governadores e eleitores. Entretanto, a recriação do CPMF era a oportunidade para o estabelecimento do novo pacto federativo. Foram poucos os governadores que constataram tal oportunidade.
Todos os governadores, obviamente, torcem pela recuperação da economia brasileira, pois desta forma, os governadores terão mais recursos. Por outro lado, observo que alguns governadores ainda apostam na permanência da crise política ou não se pronunciam sobre ela. Tais atitudes são contraditórias e tem condições de levar variados governadores para o abismo eleitoral, ou seja, a dificuldade da reeleição.
Caso Dilma Rousseff renuncie ou sofra impedimento, governadores tendem a ter, neste instante, reduzido prejuízo eleitoral futuro. Por outro lado, caso o governo Dilma supere medianamente a crise, e o país volte a crescer a partir de 2017, governadores poderão obter dividendos eleitorais futuro. Mas só os governadores que hoje são sábios terão condições de obter os benefícios da recuperação da atual presidente, pois a dinâmica política é caracteriza pela vingança. Deste modo, qual é a estratégia ótima para os governadores? Evitar o silêncio, neste caso, defender a superação das crises e solicitar aos deputados soluções para a crise fiscal da União e, por consequência, dos diversos estados da federação.
Desde junho de 2013, manifestações ocorrem no Brasil e incentivam diversas interpretações quanto às razões e consequências delas. As manifestações de junho de 2013 foram motivadas pelo aumento do valor das passagens de ônibus na cidade de São Paulo. A repercussão delas através das redes sociais possibilitou manifestações em diversas cidades.
De acordo com institutos de pesquisas, os manifestantes de junho de 2013 tinham, majoritariamente, nível superior e pertenciam às classes A e B. As reclamações dessas manifestações foram variadas, dentre as quais: melhoria do transporte público e combate à corrupção. Após junho de 2013, novas manifestações ocorreram. Porém, as práticas de violência contidas nelas as esvaziaram e permitiram que elas não fossem aprovadas majoritariamente pela opinião pública. Black blocs lideraram estas manifestações.
A Copa do Mundo, os ativistas Black bloc e a eleição presidencial de 2014 impediram o surgimento de novas manifestações. Após a eleição presidencial, novas manifestações ocorreram no ano de 2015. O perfil socioeconômico delas foi semelhante às de junho de 2013. Porém, os reclamantes mudaram a pauta. Corrupção e a defesa do impedimento da presidente Dilma Rousseff foram as pautas principais. Destaco que em 2013, os manifestantes não reclamavam intensamente de um ator político específico. As manifestações de 2015 reclamam.
Em todas as manifestações ocorridas desde 2013, os participantes não escolheram líderes. Em particular, líderes membros da classe política. A ausência de líderes compromete a efetividade das manifestações entre as instituições e enfraquece a possibilidade do impedimento da presidente Dilma Rousseff. Quando não existem líderes, os objetivos das manifestações tendem a não ser exequíveis, porque nenhum ator político com expressão e respeitabilidade dar continuidade a eles.
Além da ausência de lideres, é estranho não observamos a presença maciça de indivíduos pertencentes às classes C e D nas manifestações. Por que tais indivíduos não se transformam em manifestantes? Esta indagação, entretanto, não retira de modo algum a importância das manifestações. Como não sugere que são apenas os eleitores das classes A e B que estão insatisfeitos com a presidente Dilma Rousseff.
Como serão as manifestações do dia 16 de agosto? Certamente, manterá o perfil socioeconômico das anteriores. Porém, existe uma pergunta fundamental: em razão da reprovação majoritária da presidente Dilma Rousseff e do aumento dos índices de inflação e desemprego, as manifestações de domingo atrairão fortemente indivíduos das classes C e D? Em virtude do desgaste da classe política, desconfio que não surja nenhum novo líder político nessas novas manifestações. Portanto, Eduardo Cunha e TCU são os atores principais e estratégicos que podem conduzir o impedimento da presidente Dilma.
Os integrantes da Câmara dos Deputados votaram majoritariamente a favor da redução da maioridade penal. Fizeram o mesmo em relação à extinção do fator previdenciário. O que motivou tais escolhas? O apoio da opinião pública, ou seja, os eleitores brasileiros apoiam, em sua maioria, a redução da maioridade penal e defendem aposentadorias “dignas”. Portanto, as escolhas dos parlamentares tiveram o objetivo de conquistar sufragistas.
A inocência faz parte da alma humana. Ela existe em razão da falta de informação ou da ausência de experiência de vida. No ambiente político estão presentes políticos experientes e informados. Políticos inexperientes e desinformados. Políticos experientes e desinformados. E políticos inexperientes e informados. Os parlamentares que apoiaram a extinção do fator previdenciário e a redução da maioridade penal podem ser experientes, mas são, obrigatoriamente, desinformados.
São desinformados porque falta a eles visão de futuro. São desinformados porque falta a eles interpretação adequada da opinião pública. A ausência de visão de futuro é observada no ato em que possibilitou a extinção do fator previdenciário. A mídia oferta notícias sobre a Grécia. Este país sofre de grave crise fiscal, a qual é ocasionada, dentre diversos fatores, pela existência de aposentadorias precoces.
A redução da maioridade penal possibilita intensos debates que devem promover o esclarecimento do tema. Porém, os parlamentares quando vão à Tribuna agem com o objetivo de obscurecer a discussão. Nenhum parlamentar, por exemplo, recheou a defesa ou a condenação da redução da maioridade penal com dados estatísticos e com relações de causalidade.
Os parlamentares agem guiados pela inocência que a ânsia de conquistar o eleitor provoca. O raciocínio para boa parte deles é que os brasileiros, majoritariamente, desejam aposentadorias “dignas”, por consequência, o fator previdenciário deve ser extinto. Não sabem eles que em breve futuro a ausência do fator previdenciário poderá reduzir o valor das aposentadorias e a capacidade de investimento público do estado. Portanto, eles serão responsabilizados eleitoralmente por tais consequências.
Os parlamentares, alguns candidatos a prefeito, partem da premissa falsa de que o aprisionamento de jovens proporcionará votos. Os parlamentares creem que o eleitor é um sujeito simples. Os sufragistas são entidades complexas que possuem raciocínios e opiniões contraditórias. Os eleitores, majoritariamente, não confiam e nem admiram políticos. Político informado busca conquistar a admiração e a confiança dos sufragistas através do gerenciamento estratégico da sua carreira política.
Para que serve a intenção de voto? A resposta é simples. Neste instante não serve para nada. Entretanto, são abundantes as pesquisas que trazem a posição dos candidatos na disputa eleitoral que ocorrerá em 2016. Existem pesquisas que mostram o desempenho dos candidatos na competição presidencial que ocorrerá em 2018. Tais pesquisas motivam avaliações equivocadas por parte dos competidores quanto às suas reais chances de vencer a eleição.
Qual é o nível de conhecimento do candidato entre os eleitores? Esta é uma indagação estratégica. Se Pedro, candidato a prefeito, é novato em disputas eleitorais, portanto, com reduzido porcentual de conhecimento, como posso asseverar que ele não é um candidato competitivo? Alguém, motivado pela ilusão da intenção de voto, dirá que ele não é um candidato competitivo, pois só tem 5% de intenção de votos.
Pedro só tem 5% de intenção de votos em razão de que poucos eleitores o conhecem ou sabem que ele é candidato a prefeito. Portanto, a posição de Pedro, neste instante, na corrida eleitoral, não oferta informação factível para considerar se ele é ou não um candidato competitivo na eleição vindoura.
Quais as demandas dos eleitores? Quem são os atores responsáveis por tais demandas? Quais os sentimentos dos eleitores? Quais as expectativas dos sufragistas? Quais eventos podem interferir, caso ocorram, no desempenho dos competidores? Quais os indicadores que possibilitam a aprovação ou a reprovação do gestor atual? Estas perguntas são vitais. Portanto, elas importam consideravelmente, ao contrário da intenção de votos.
As respostas para as perguntas apresentadas serão encontradas através do diálogo exacerbado entre pesquisas qualitativas e quantitativas. As primeiras oferecem ao estrategista os significados para os eleitores dos atores, dos fatos e da gestão do prefeito. Através da verbalização dos entrevistados, a pesquisa qualitativa permite que a mente dos eleitores, no caso os seus sentimentos e desejos, sejam identificados e interpretados.
As pesquisas quantitativas podem ser realizadas concomitantemente com as qualitativas. Entretanto, observo que o ideal é que as qualitativas sejam realizadas inicialmente, pois os resultados delas contribuirão para a construção dos questionários da pesquisa quantitativa e a quantificação dos significados encontrados.
Eleitores buscam informações para a tomada de decisão. Alguns são dedicados à busca da informação. Outros são preguiçosos ou desinteressados. Mas, majoritariamente, eles têm sentimentos para com outrem e possuem visões de mundo. Portanto, têm opiniões. Deste modo, o que importa neste instante não é a intenção de voto. Mas os pensamentos dos eleitores, os quais são extraídos das pesquisas e que contribuirão para a construção de estratégias que motivem os eleitores a escolherem dado candidato.
São inúmeros economistas que consideram que a realização do ajuste fiscal possibilitará a superação da “crise” econômica que assola o Brasil. Se tal premissa for verdadeira, prevejo que o Brasil superará a “crise”, a qual não é volumosa. Se a superação da crise ocorrer, a presidente Dilma recuperará popularidade?
Desde o ano passado existem previsões catastróficas para Dilma Rousseff. Inicialmente, a previsão era de que Dilma não seria reeleita. Assim como previ, Dilma venceu a eleição. Sentimentos de medo com o passado fernandohenriquista por parte de parcela do eleitorado permitiram o sucesso da candidata do PT. Após a posse da atual presidente, a possibilidade de impeachment veio à tona. A tão propalada tempestade perfeita orientou diversas análises conjunturais.
O aumento da inflação, intrigas entre o Executivo e o Legislativo, o pessimismo do setor produtivo, o ajuste fiscal e diversas manifestações nas ruas fizeram com que a tese do impeachment da presidente Dilma prosperasse. Porém, a análise conjuntural não é tarefa para principiantes. Para desenvolvê-la, o olhar precisa ser sistêmico.
Embora pesquisas de opinião mostrassem o desejo de parte majoritária dos eleitores para o impedimento da presidente Dilma, os atores que poderiam conduzi-lo agiram para não realizá-lo. Eduardo Cunha e Renan Calheiros, apesar das intrigas e ameaças, as quais são corriqueiras na relação Executivo-Legislativo, não mostraram disposição para liderar o impeachment da presidente. E FHC, José Serra e Geraldo Alkmin não defenderam a tese do impedimento da atual presidente.
Eleitores, em particular das classes A e B, conforme mostraram as pesquisas de opinião, foram às ruas reclamar da presidente. A ausência de líderes políticos para inflamar os manifestantes e conduzir o impeachment no âmbito do Parlamento enfraqueceu as manifestações. Os sufragistas cansaram de protestar já que verificaram que as consequências dos protestos não foram efetivas.
O pessimismo do empresariado e dos eleitores para com o futuro, a deterioração de indicadores econômicos e denúncias de corrupção motivam a alta reprovação da presidente Dilma. Porém, tal reprovação não foi e certamente não será suficiente para ela sofrer impedimento. Sendo assim, qual será o futuro do governo Dilma?
Se for empiricamente verdadeiro que o ajuste fiscal, além de outras ações, como o programa de concessões, contribuirá para a recuperação da economia, prevejo que o governo Dilma Rousseff readquirirá parte da sua popularidade. Porém, tal recuperação poderá não ser pujante, em razão de dois fatores: 1) A recuperação da economia não trará de volta os exitosos indicadores socioeconômicos observados na era Lula; 2) Dilma sofre de déficit de empatia entre os eleitores. Portanto, a melhora econômica não trará, obrigatoriamente, o aumento pujante da popularidade da presidente.
A vida é uma fábrica de líderes. Alguns surgem das oportunidades que são ofertadas desde cedo. Outros surgem ao criar as oportunidades. A vida produz líderes, porém, existem os líderes que tiveram oportunidades e os que as construíram. No Brasil estes dois tipos de líderes estão presentes.
As contradições sociais do Brasil possibilitam o desperdício de líderes. Alguns possíveis líderes não foram motivados a pensar como líderes. Outros foram vítimas da violência que atinge aleatoriamente os jovens. Alguns possíveis líderes foram domados pela cultura do não empreendedorismo. Cultura ainda existente em muitos espaços intelectuais e profissionais.
Os líderes que criaram as oportunidades encontraram desafios. Através do esforço individual e da cultura empreendedora os superaram. Os que não conseguiram criar as oportunidades podem ter sido vítimas implacáveis das contradições sociais. O Brasil é contraditório: ao mesmo tempo em que o Brasil produz líderes, ele também permite o desperdício deles.
Recentemente, findei a leitura do livro “Transformando sonhos em realidade” de Janguiê Diniz. A trajetória do autor impressiona. O esforço para a superação das dificuldades caracteriza a história de Janguiê Diniz. O livro de Janguiê Diniz mostra que ele criou oportunidades, embora, as contradições do Brasil tenham tentado limitá-las.
O espírito empreendedor, a inteligência, a dedicação ao estudo e a capacidade de liderar fizeram com que as oportunidades fossem constantemente criadas e aproveitadas por Janguiê Diniz. Não considero que o destino guiou e guia Janguiê. Até porque não acredito em destino. Considero, porém, que Janguiê conseguiu criar oportunidades e superar os grandes obstáculos que se deparou.
O estado tem fundamental importância na criação de oportunidades para os indivíduos. Alex Tocqueville, em “A democracia na América”, frisou isto. Os economistas ortodoxos e heterodoxos também reconhecem o estado como indutor e produtor de oportunidades. Mas nem sempre o Estado como criador de oportunidades está ativo. Janguiê Diniz conviveu durante o início da sua trajetória com Estados ineficientes na oferta de bens públicos, como educação. Mas ele não ficou à espera dos benefícios do Estado. Janguiê lutou e construiu oportunidades.
O livro de Janguiê Diniz é estimulante. Lendo-o, constato que se o estado brasileiro fosse mais ativo na promoção da educação, mais líderes, semelhantes a Janguiê Diniz, surgiriam e podem vir a surgir. O livro mostra as razões que motivam o autor a ser apaixonado pela educação: Janguiê Diniz acredita que a educação produz líderes e possibilita o desenvolvimento socioeconômico.
Eleitores fazem escolhas considerando incentivos emocionais. Os incentivos emocionais advêm da empatia que o eleitor sente pelo candidato. Surgem também em razão de boas lembranças que os sufragistas têm para com gestores. Eleitores sentem saudades caso o gestor bem avaliado não seja reeleito. Eleitores também podem sentir medo da oposição e optar pela continuidade do governo.
Eleitores, em cada eleição, apresentam as suas demandas, as quais fazem parte da agenda eleitoral. Através de pesquisas qualitativas e quantitativas é possível identificar e decifrar as agendas dos eleitores. Por exemplo: na era FHC, a agenda majoritária era combate à inflação. Já na era Lula, a agenda foi crescimento econômico e inclusão social.
No âmbito dos estados, observo que a agenda na era Jarbas foi a modernização do estado e, por consequência, melhoria dos serviços públicos e infraestrutura. Na era Eduardo, as agendas foram semelhantes às presentes na era Jarbas, além da segurança pública.
A contemplação das agendas por parte dos governos geram lembranças positivas nos eleitores. FHC é lembrado por ter combatido a inflação. Parte dos eleitores tem boas lembranças do Lula em razão do crescimento econômico e dos programas sociais. O ex-governador Jarbas Vasconcelos incentiva boas lembranças nos eleitores. Alto porcentual de sufragistas pernambucanos consideram que Eduardo Campos foi o melhor governador da História de Pernambuco.
Os sentimentos positivos de parte dos eleitores para com o ex-presidente Lula possibilitou a origem do lulismo no segundo mandato do então presidente. O eduardismo surgiu em razão dos sentimentos positivos dos sufragistas pernambucanos para com Eduardo Campos. Em 2010, pesquisas detectaram a forte presença do eduardismo entre os eleitores pernambucanos. E a forte presença do lulismo entre os eleitores brasileiros.
Eduardismo e lulismo são manifestações observáveis nos ambientes político e eleitoral. Elas têm capacidade de influenciar as escolhas dos eleitores. Tais manifestações não são eternas. Por outro lado, elas podem não findar. Entretanto, elas sofrem processo de enfraquecimento. Em 2010, como já dito, o lulismo estava no auge. Em 2014, constatei o início do seu declínio.
O lulismo influenciará fortemente e amplamente as escolhas dos sufragistas na eleição presidencial de 2018?O eduardismo influenciará fortemente e amplamente as escolhas dos sufragistas nas disputas eleitorais de 2016 e 2018? As agendas originadas em cada eleição motivam a origem de novas manifestações eleitorais caso novos atores políticos as contemplem. Quando o eduardismo e o lulismo serão substituídos por outras manifestações eleitorais?
Desde a era Collor, Luis Inácio Lula da Silva foi o presidente da República que findou o mandato com a maior taxa de aprovação popular. Pesquisa do Datafolha revelou que em outubro de 2010, Lula obtinha 83% de aprovação (Bom/ótimo). Neste mesmo ano, Lula contribuiu decisivamente para o sucesso eleitoral da então candidata a presidente Dilma Rousseff. Pesquisa do Datafolha divulgada em abril deste ano mostrou que 50% dos brasileiros consideram Lula o melhor presidente da História do Brasil.
Turbilhão de notícias negativas é associado ao ex-presidente Lula desde 2014. A má avaliação da presidente Dilma Rousseff, as denúncias de corrupção contra o PT e o mal estar da economia são eventos que são associados à imagem do ex-presidente. Porém, Lula continua a fazer política e é considerado pelo PT, empresários e imprensa como provável candidato na próxima eleição presidencial.
Qual é o futuro de Lula? O desgaste da imagem do PT inibe, atualmente, uma nova candidatura de Lula a presidente. A imagem do PT está fortemente associada a de Lula. Embora, pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau realizada em Pernambuco em novembro de 2010 tenha mostrado que independente do partido de Lula, 93% dos sufragistas pernambucanos desejavam o seu retorno à presidência da República.
Em uma nova disputa presidencial, o desgaste da marca do PT pode vir a influenciar negativamente o desempenho eleitoral do ex-presidente - Hipótese. Obviamente, que a recuperação da popularidade da presidente Dilma Rousseff e o arrefecimento das notícias de corrupção contra o PT poderão fortalecer a candidatura de Lula em 2018.
Porém, alguns cenários precisam ser vislumbrados. Se a presidente Dilma não recuperar fortemente a popularidade, ou seja, ter, em meados de 2018, cerca de 30% de aprovação popular, certamente a nova candidatura de Lula perderá ímpeto. A reduzida popularidade da atual presidente inibe a recuperação da popularidade da marca PT. Deste modo, os desempenhos do PT e de Dilma entre os eleitores estão intricados, e ambos condicionarão a nova candidatura de Lula a presidente.
Entretanto, considerando o sucesso do ajuste fiscal apresentado por Joaquim Levy, o controle da inflação, a retomada lenta do crescimento econômico e a eficácia dos programas sociais, prevejo a possibilidade de Dilma alcançar 2018 com cerca de 40% de aprovação. Deste modo, Lula seria o candidato do PT a presidência da República?
Observo que não. Em 2018, parte majoritária dos eleitores estará ansiosa por novos atores e agendas. O discurso e a imagem de Lula não contemplarão as novas demandas dos sufragistas. Lula será admirado. Mas certamente, os passados bom e ruim serão associados a sua imagem. Portanto, prevejo que um novo candidato do PT surgirá em 2018.
O principal desafio das Ciências Sociais é interpretar adequadamente a conjuntura. Quando isto não ocorre, análises conduzem os leitores à constatação equivocada da realidade. Na análise conjuntural não se deve desprezar os fatos e a qualificação adequada do momento que dado país vive.
Desde FHC, as instituições brasileiras avançam. A Lei de Responsabilidade Fiscal incentivou os gestores a boas práticas de governança. Privatizações possibilitaram a diminuição dos espaços do estado e, por consequência, enfraqueceu a dinâmica clientelista presente no presidencialismo de coalizão. Na era Lula, a Ação Penal 470 permitiu que políticos fossem condenados pelo STF.
Em 2014, na era Dilma, a Operação Lava Jato é iniciada. Em razão dela, diversos empresários e políticos foram detidos. Um grande escândalo de corrupção pública envolvendo a Petrobrás veio à tona em razão das ações da Justiça Federal, Ministério Público Federal e Polícia Federal. Variados órgãos de comunicação noticiam as ações advindas da Operação Lava Jato. E da cobertura midiática, diversos fatos, que requerem julgamentos de valor por parte da opinião pública, brotam.
Os escândalos de corrupção que abundam no noticiário sugerem que as instituições brasileiras avançam e que aos poucos a paralisia deixa de fazer parte delas. Governos, independentes dos que estejam no exercício do poder, sofrem com acusações. Porém, desde a curta era Itamar, nenhum presidente da República foi acusado oficialmente por crime de responsabilidade ou falta de decoro.
No âmbito econômico, a alta da inflação, neste ano, não sugere, ainda, de modo algum, que o Brasil voltará à conjuntura econômica antes do Plano Real. O pífio crescimento econômico de 2014 e, certamente, deste ano, não permite que ondas de pessimismo invadam as cabeças sábias. Relatórios econômicos de variadas instituições presumem que em 2016, caso o ajuste fiscal seja aprovado, o Brasil voltará a crescer. Os avanços sociais ocorridos desde as eras FHC e Lula podem sofrer momentânea paralisação e ínfimo retrocesso neste ano. Mas tais possibilidades não sugerem desastres.
No presidencialismo de coalizão, presidentes da República disputam a supremacia nos campos midiáticos e Legislativo com os membros do Parlamento. Tal dinâmica, costumeiramente, possibilita disputas, arengas. Porém, em dado momento, algum ator, presidente ou congressista, cede e a relação volta à normalidade, ou seja, os conflitos diminuem.
Desde junho de 2013, manifestações implodem nas ruas do Brasil. Redes sociais são arenas de disputas eleitorais. Pesquisas de opinião mostram que a presidente da República, agremiações partidárias e Parlamentos sofrem de déficit de confiança. Diante de tantos fatos, suspeita-se que o Brasil vive o caos. Mas tenho outra interpretação: o Brasil avança institucionalmente e mais eleitores exigentes e inquietos surgem.