Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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O petismo e o eduardismo

Adriano Oliveira, | seg, 22/10/2012 - 12:49
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A vitória do PSB na cidade do Recife possibilitou o fim do ciclo eleitoral e político do PT. O fim do ciclo eleitoral caracteriza-se pela perda da prefeitura para o PSB. E o fim do ciclo político caracteriza-se pelo fortalecimento do governador Eduardo Campos na capital pernambucana. Ciclos são dinâmicos. Portanto, talvez, daqui a certo tempo, venho a falar no fim do ciclo do PSB em Pernambuco. Adianto, entretanto, que, por enquanto, o fim do ciclo do PSB não é visível.

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) em março de 2012 indagou: Você tem preferência por algum partido político? 36% afirmaram que sim. Neste universo, 82,9% afirmaram ter preferência pelo PT. Em abril de 2012, o IPMN perguntou ao eleitor: Você sabe qual é o partido do atual prefeito do Recife? 67% afirmaram que sim. No universo dos que responderam sim, 99,3% afirmaram que era o PT. E para 65%, no universo de 67%, o PT merecia continuar à frente da prefeitura do Recife independente do candidato. Em janeiro de 2012, pesquisa do IPMN revelou que João Paulo era considerado por 50% dos eleitores como o melhor prefeito do Recife nos últimos anos.

Os dados apresentados, os quais foram colhidos no primeiro semestre de 2012, me permitiram afirmar que existia o fenômenos social petismo no Recife. O que seria o petismo? Conjunto de eleitores que independente dos candidatos que estarão em disputa na eleição municipal e independente da avaliação do prefeito João da Costa votarão no PT. As causas do petismo sempre foram nítidas, quais sejam: 1) Memoria positiva de parte dos eleitores em relação ao ex-prefeito João Paulo; 2) Admiração de parte dos eleitores para com o PT; 3) E o lulismo.

Eleitores não são árvores. Eles mudam de opinião, constroem novas preferências e fazem escolhas. Os resultados finais da eleição do Recife corroboram com essa premissa. Os eleitores mudaram a sua preferência e, por consequência, fizeram novas escolhas. As novas escolhas permitiram o fim dos ciclos político e eleitoral do PT em Recife. Ou melhor: o fim do petismo.

O fim do petismo é comprovado empiricamente. A vitória de Geraldo Júlio no primeiro turno é o indicador mais nítido. Porém, existem outros dois. Pesquisa divulgada em 05 de outubro, às vésperas da eleição, revela que 76% dos eleitores sabiam qual era o partido que estava à frente da prefeitura do Recife. Neste universo, 99,8% afirmaram que era o PT. E 23%, no universo de 76%, frisaran que o PT merecia continuar à frente da prefeitura do Recife. Em abril o percentual era de 65%. Portanto, decréscimo considerável.

Não se deve desprezar que 81% dos eleitores recifenses aprovam a gestão do governador Eduardo Campos – Pesquisa IPMN em 05 de outubro. Este dado, mais a vitória de Geraldo Júlio, possibilitou que um novo fenômeno social surgisse em Pernambuco, qual seja: o eduardismo. O eduardismo se caracteriza pela existência de eleitores que têm como referência positiva o governador Eduardo Campos, e, por esta razão, optam por fazer escolhas sugeridas por ele. Até quando durará o eduardismo? Não tenho indicadores que me deem condições para prever o fim do eduardismo neste momento.    

Quais os candidatos têm chances de vencer a disputa?

Adriano Oliveira, | sex, 13/07/2012 - 05:59
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Após a definição dos candidatos oficiais, três cenários estavam presentes em minha mente, os quais continham os candidatos com chances de vencer a disputa eleitoral para a prefeitura do Recife. Os três cenários eram:

1.  Cenário 1: Humberto Costa polariza a disputa com Geraldo Júlio e ambos devem disputar o segundo turno – Cenário fortemente provável;

2.  Cenário 2: Humberto Costa polariza a disputa com Mendonça Filho e ambos devem disputar o segundo turno – Cenário provável;

3.  Cenário 3: Humberto Costa se isola na liderança e Mendonça Filho, Daniel Coelho e Geraldo Júlio disputam a ida para o segundo turno contra o candidato do PT. 

A primeira pesquisa do IPMN/LeiaJá/JC após a definição das candidaturas oficiais, me faz reavaliar os cenários apresentados e, por consequência, propor um novo cenário. Os cenários 1 e 2 ainda continuam plausíveis. Entretanto, considero que o cenário 3 pode ocorrer, mas sem a presença de Daniel Coelho. Neste caso, Mendonça Filho disputa a ida para o segundo turno com Geraldo Júlio, pois Humberto Costa deve estar no segundo turno.

Diante deste novo cenário, friso que não desconsidero, antecipadamente, as chances de Daniel Coelho vir a disputar contra Geraldo Júlio e Mendonça Filho a sua ida para o segundo turno. Porém, os dados desta pesquisa mostram que Humberto Costa, Mendonça Filho e Geraldo Júlio são os candidatos mais competitivos. Neste instante, não tenho indicadores, os quais advêm da pesquisa, que me permitam afirmar que Daniel Coelho tem condições de estar no segundo turno. Porém, ressalto que assim como os outros candidatos, Daniel ainda não apresentou as suas estratégias, e estas podem mudar a escolha do eleitor.

Neste instante, os eleitores, o qual deve ser entendido como um aglomerado relativamente homogêneo, estão diante de três opções, as quais representam preferências. Quais sejam:

1.     Preferência 1Humberto Costa – 35,5% dos eleitores optam, neste instante, por votar em Humberto Costa. 66% sabem qual é o partido que governa atualmente a prefeitura do Recife. Neste universo, 56% afirmam que o PT merece continuar à frente da gestão da cidade. No universo de 38%, 93,5% afirmam que o candidato apoiado pelo ex-presidente Lula é Humberto Costa. Quando o eleitor descobre, pois foi provocado, que Lula e João Paulo apoiam Humberto Costa, 42% afirmam que votarão nele para prefeito.

2.     Preferência 2Mendonça Filho – Nas diversas pesquisas eleitorais realizadas pelo IPMN mostram que o candidato do DEM tem estabilidade junto ao eleitor em variados cenários. Portanto, esta estabilidade me faz afirmar que Mendonça Filho tem condições de ir para o segundo turno.

 

3.     Preferência 3Geraldo Júlio – 57% dos eleitores nunca ouviram falar no candidato do PSB. A gestão do governador Eduardo Campos é aprovada por 67% dos recifenses. 63% admiram o governador Eduardo Campos. 69% dos eleitores não sabem quem é o candidato do governador Eduardo Campos a prefeito do Recife. Quando os eleitores, ao serem provocados, descobrem que Geraldo Júlio é o candidato do governador Eduardo Campos, 9% dos eleitores pretendem votar nele.

Observem, portanto, que variados indicadores me fazem afirmar que Humberto Costa, Mendonça Filho e Geraldo Júlio são os três candidatos mais competitivos na disputa do Recife. Porém, candidatos são competitivos, podem ganhar mais força competitiva e podem perder capacidade de competitividade. Portanto, as estratégias destes três candidatos definirão durante a trajetória eleitoral a força competitiva de cada um.

Tempestades podem interferir no desempenho dos três candidatos. De que modo Humberto Costa responderá às críticas a gestão de João da Costa? Ressalto que 20% dos eleitores consideram como ótima/boa a administração do atual prefeito. Geraldo Júlio pode ser apresentado como o novo, diante da aliança histórica entre PT/PSB/PCdoB no Recife? Os eleitores reconhecem Mendonça como representante da mudança? Estes questionamentos precisam ser respondidos pelos estrategistas das campanhas dos três candidatos, além de outros que variadas pesquisas e a conjuntura sugerem.

 Os sentimentos dos eleitores, os quais representam variáveis de controle da intenção de voto e mostram a percepção do eleitor para cada competidor, apresentam-se, neste momento, como favoráveis a Humberto Costa. Porém, friso que o candidato do PSB é pouco conhecido dos eleitores. Sendo assim, Geraldo Júlio podem criar estratégias quem venham a possibilitar que os eleitores criem sentimentos por ele.

Ressalto, ainda, que 15% dos eleitores têm medo de que Humberto Costa venha a ser prefeito do Recife. Este percentual pode vir a dificultar o crescimento do candidato do PT e provocar, caso os eleitores sejam provocados, a sua queda ou estabilidade. Consequências semelhantes podem ocorrer com Mendonça Filho, pois 14% têm medo de que ele venha a ser prefeito da capital pernambucana. Neste sentido, indago: Geraldo Júlio pode vir a se caracterizar como um fenômeno eleitoral? Sim, mas para isto ocorrer, ele precisa conquistar eleitores que hoje estão com Mendonça Filho e Humberto Costa. Portanto, tarefa árdua.

* Adriano Oliveira é cientista político, professor da UFPE e coordenou as seis rodadas da pesquisa "O Sentimento do Eleitor Recifense", encomendada pelo Portal LeiaJá e realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau.

Por que Humberto Costa lidera?

Adriano Oliveira, | seg, 18/06/2012 - 09:07
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A quinta pesquisa do IPMN/Leia Já é a primeira a não considerar o prefeito João da Costa nos cenários eleitorais. Isto ocorreu em virtude de que o PT não escolheu João da Costa como candidato a prefeito do Recife. O PT escolheu o senador Humberto Costa. A opção Humberto foi construída através de variados conflitos, os quais permitiram a construção da seguinte hipótese: João da Costa é vítima, por isto crescerá eleitoralmente.

A pesquisa do IPMN/Leia Já/JC sugere que a hipótese é falsa. Friso isto em razão de que os sentimentos do eleitor para com João da Costa não sofreram fortes alterações em relação às pesquisas anteriores. Além disto, a aprovação do prefeito – Ótimo/Bom – não cresceu. Portanto, as turbulências em torno da escolha do candidato do PT não mudaram fortemente os sentimentos dos eleitores para com João da Costa.

A administração do prefeito João da Costa é aprovada por 17% da população – Ótimo/Bom. E 46% a consideram como Ruim/Péssima. 84% dos eleitores não admiram o prefeito João da Costa. E 10% têm medo de que ele vem a ser prefeito do Recife. Estes dados mostram que a hipótese sugerida não é verdadeira.

A pesquisa proporciona a construção da seguinte indagação: por que Humberto Costa lidera? Em todos os cenários avaliados, o candidato do PT lidera com ampla vantagem em relação aos candidatos da oposição. O desempenho de Humberto pode ser explicado pelas seguintes variáveis: 1) 55% dos eleitores sabem quem é o candidato do PT; 2) No universo de 55%, 91,3% afirmam que o candidato do PT é Humberto Costa; 3) 84% dos eleitores não admiram o prefeito João da Costa; 4) No universo de 79% dos eleitores, 53% afirmam que o PT merece continuar à frente da prefeitura do Recife.

Recomendo que as quatro variáveis apresentadas sejam analisadas no conjunto. Com isto, lógicas eleitorais, as quais podem vir a ser momentâneas, surgem e explicam as razões de Humberto Costa liderar a disputa para prefeito do Recife. Sendo assim, afirmo que: Humberto Costa lidera, neste instante, a disputa eleitoral do Recife em virtude de que (1) 55% dos eleitores sabem que ele é candidato, (2) o prefeito João da Costa não é admirado por 84% dos eleitores, (3) a gestão do atual prefeito do PT é aprovada por apenas 17% da população e (4) 53% dos eleitores afirmam que o PT deve continuar à frente da prefeitura do Recife. Portanto, a lógica geral é: parte dos eleitores, neste instante, escolhe Humberto Costa por considerá-lo uma opção melhor do que João da Costa.

Mas isto não significa que Humberto Costa é favorito para vencer a disputa eleitoral. As turbulências ocorridas para a definição do candidato do PT podem vir a ser exploradas pela oposição. Com isto, Humberto pode decrescer eleitoralmente. Não desprezo também a possibilidade do governador Eduardo Campos lançar um candidato do PSB. Isto poderá permitir o enfraquecimento eleitoral do PT. Porém, faço uma ressalva: qualquer candidato que disputar contra o PT precisará mostrar a 53% dos eleitores que existe uma melhor alternativa ao PT.

Os candidatos da oposição ainda não animam os eleitores – desde a primeira pesquisa friso isto. A entrada de Humberto Costa na disputa possibilitou a diminuição dos votos Brancos/Nulos – considerar as pesquisas anteriores. O que isto significa: quando o PT apresenta uma alternativa a João da Costa, parte dos eleitores não ruma para a oposição. Mas para o novo candidato do PT. Portanto, o PT tem força eleitoral no Recife.

Em virtude de que a candidatura de Humberto Costa poderá sofrer fortes tempestades na trajetória eleitoral e também diante da possibilidade do governador Eduardo Campos vir a apoiar um candidato do PSB, afirmo que a eleição para a prefeitura do Recife está indefinida. Mas, faço uma alerta aos candidatos da oposição ao PT: o quadro hoje é bastante favorável ao PT e ao PSB. E se este conflito (PT X PSB) vier a acontecer, quem vencerá? Por enquanto, não tenho respostas. 

Em busca da preferência dos eleitores

Adriano Oliveira, | sex, 25/05/2012 - 16:31
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A literatura da Ciência Política sobre estudos eleitorais apresenta variáveis que orientam a escolha dos eleitores. Avaliação da Administração, Bem-estar econômico, Ideologia e Preferência partidária são os determinantes tradicionais. Variados estudos revelam a importância destas variáveis.

Recentemente, diversos trabalhos têm sugerido que outras variáveis existem, tais como Emoções e Sentimentos. Não desprezo as variáveis tradicionais. Entretanto, a cada instante, após avaliar pesquisas e campanhas eleitorais, constato que Emoções e Sentimentos podem explicar as escolhas dos eleitores.

O que o eleitor deseja? O que o eleitor prefere? Estas duas indagações, podem, certamente, ser respondidas através das variáveis tradicionais. Porém, várias obras sugerem que Ideologia e Preferência partidária não mais revelam de modo satisfatório a preferência do eleitor. Por outro lado, as variáveis Avaliação da Administração e Bem-estar econômico continuam a explicar.

Alguns problemas, contudo, surgem diante das variáveis Avaliação da administração e Bem-estar econômico. Por que prefeitos mal avaliados são reeleitos? Por que prefeitos bem avaliados não são reeleitos? Como explicar as escolhas dos eleitores na disputa municipal através da variável Bem-estar econômico?

Eleitores sentem emoções e têm sentimentos. Por isto, prefeitos mal avaliados são reeleitos. E gestores bem avaliados perdem a eleição. Emoções e sentimentos contribuem para a formação, consolidação e mudança da preferência dos eleitores. A preferência dos eleitores, quando identificada, possibilita a construção de estratégias eleitorais eficazes.

Em disputas municipais, o Bem-estar econômico dos eleitores pode importar. Mas tenho a hipótese de que esta importância só surge em virtude de uma conjuntura onde os eleitores do município associem fortemente o candidato a prefeito com o presidente da República, o qual proporciona o bem-estar econômico. Mas se isto não ocorrer, o Bem-estar econômico perde força explicativa quanto à preferência do eleitor.

Estrategistas não devem desprezar os determinantes do voto tradicionais. Mas precisam incorporar as emoções e os sentimentos às suas análises. Através deles, as preferências dos eleitores adquirem nitidez. Com isto, é possível criar estratégias para conquistá-los.

Pesquisas eleitorais e o futuro

Adriano Oliveira, | qua, 02/05/2012 - 16:29
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Certa vez, numa banca de doutorado, o professor olha para o aluno e diz: “Não existe futuro”. Ri por longo intervalo de tempo diante dos olhos atentos e curiosos do aluno. Outro dia, ao conversar com um candidato, ele me disse: “Não conheço pesquisas que revelem o futuro”. Desta vez não ri. Fiquei em silêncio. Mas o candidato e o professor me motivaram a opinar sobre o futuro.

O futuro existe. Ele vem depois do presente e do passado - óbvio. É impossível mudar o passado. Mas é possível construir o futuro. Candidatos podem construir o seu futuro eleitoral. O futuro na dinâmica eleitoral não advém apenas do sonho. Ele é concebido concretamente através das ações dos candidatos, as quais ocorrem no presente – Por exemplo: indivíduos mais qualificados tendem a ter maior salário. Portanto, o estudo constrói o futuro promissor do indivíduo.

Mas o futuro do candidato depende, em parte, do eleitor. Eleitores determinam o futuro de dado candidato. Para isto ocorrer, basta apenas que a maioria dos eleitores opte por ele. Com isto, obviamente, ele vence a disputa eleitoral.

Se o futuro do candidato depende dos eleitores, estes podem vir a ser conquistados. Se assim for, e é, os candidatos podem identificar os desejos dos eleitores e construir estratégias para conquistá-los. As estratégias não representam unicamente a peça publicitária, mas o conteúdo da peça, da imagem e do discurso. Enfim, candidatos precisam ter marcas. A formação de alianças partidárias e a conquista de apoios é também uma das estratégias.

A construção da marca do candidato ocorre através de pesquisas qualitativas e quantitativas. Mas elas precisam saber o que perguntar ao eleitor. Variáveis tradicionais como ideologia, preferência partidária, avaliação da administração e intenção de voto importam. Mas não são suficientes para decifrar a mente dos eleitores. Por isto, é necessário que as pesquisas qualis e quanti saibam decifrar os desejos objetivos e subjetivos dos eleitores.

Quando a pesquisa decifra satisfatoriamente o eleitor, é possível prognosticar o futuro, pois as estratégias que o conquistarão nascerão delas. Do mesmo modo, se as estratégias não surgirem das pesquisas, é impossível também prognosticar o futuro. Ou prognosticá-lo equivocadamente. Portanto, o futuro pode ser prognosticado e construído quando pesquisas decifram a realidade e sugerem estratégias.

As lógicas da eleição do Recife

Adriano Oliveira, | sab, 21/04/2012 - 11:32
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A nova pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau/Leia Já sugere lógicas eleitorais que estão presentes na disputa da eleição do Recife. A lógica eleitoral é um conjunto de raciocínios coerentes que permitem a construção de equações sociais que representam a dinâmica de específica realidade.

O PT, independente do candidato, tem condições de vencer a disputa eleitoral em Recife. A oposição, independente do candidato, não anima, por enquanto (mas animará?), o eleitorado do Recife. Estas constatações surgem diante das seguintes condições: (1)47% dos eleitores consideram que a administração de João da Costa é Ruim/Péssima; (2) 72% afirmam que ele não merece ser reeleito; (3) e 37% tem medo de que João da Costa venha a ser, novamente, prefeito do Recife.  

Diante disto, indago: (1) Por que, em um universo de 67% de eleitores que afirmam que é o PT que está à frente da prefeitura do Recife, 65% desejam que o PT continue no comando da gestão municipal? (2) Por que os candidatos da oposição não empolgam o eleitor, mesmo diante de um prefeito, o qual é do PT, mal avaliado?

Os cenários eleitorais analisados mostram que a não presença de João Paulo e a diminuição do número de candidatos possibilitam que o número de votos Brancos/Nulos seja alto – 45% (Cenário 2)e 52% (Cenário 3).

No cenário 3, Maurício Rands aparece como candidato do PT. O seu percentual é reduzido, em razão de que os eleitores ainda não sabem que ele é pré-candidato do PT (Hipótese) e também em função de que 33% nunca ouviram falar dele. Em razão disto, ocorre o aumento dos votos Brancos/Nulos.

Nos cenário 2, onde Mendonça Filho e Raul Henry disputam contra João da Costa, o percentual de Brancos/Nulos é de 45%. Portanto, 45% dos eleitores rejeitam os dois principais candidatos da oposição, os quais são os mais conhecidos da oposição, vale salientar, e rejeitam também o prefeito João da Costa.

Se Mendonça Filho é reconhecido, após João Paulo, como o principal opositor de João da Costa, era plausível que ele tivesse mais votos do que o atual prefeito, o qual não é bem avaliado – lembro que o candidato do DEM foi o segundo colocado na última disputa eleitoral contra João da Costa.

Entretanto, a pesquisa indica de que ele está em empate técnico com João da Costa (melhor resultado, por sinal) – Cenário 2. Além disto, no cenário 2, com a presença de Mendonça Filho, 45% dos eleitores ainda não escolheram candidato. Indago: por que parte destes eleitores não optou por Mendonça filho?

Se Raul Henry, assim como Mendonça Filho, disputou a eleição contra João da Costa no último pleito municipal, por que ele não avançou sobre o eleitorado que não avalia positivamente a gestão de João da Costa? Henry é conhecido do eleitor.

No cenário 2, o candidato do PMDB obtém 10% de intenção de votos. E 45% dos eleitores não optam nem por ele, nem por Mendonça, nem por João da Costa. Por que parte destes eleitores não optou por Raul Henry?

Os desempenhos de Mendonça Filho e Raul Henry sugerem que eles precisam ser criativos para provocar e conquistar os eleitores que não aprovam a administração de João da Costa. E também precisam ser criativos para apropriar-se de parte dos 30% dos eleitores que classificam a administração de João da Costa como regular.

Daniel Coelho, Raul Henry, Raul Jungmann, ou qualquer outro candidato que venha a disputar a eleição contra o PT, precisa, necessariamente, superar Mendonça Filho. Portanto, o principal desafio dos candidatos da oposição, num primeiro momento, não é superar o PT, mas superar Mendonça Filho, o qual tem um eleitorado cativo – aparentemente. Mas é possível isto acontecer?

Neste instante, considerando as estratégias e a paralisia dos candidatos da oposição, observo que é árdua a tarefa dos oposicionistas para superar Mendonça Filho – outro oposicionista.

A pesquisa revela que a tese de que múltiplas candidaturas possibilitam o segundo turno é falsa neste instante. Observem que mais candidatos não enfraquecem a liderança de João da Costa. Mais candidatos enfraquecem o percentual de votos dos candidatos da oposição – vejam o percentual de Mendonça Filho no cenário 1 e compare com os demais cenários.

Apesar de muitos analistas e candidatos não buscarem identificar as lógicas eleitorais, opto pelo caminho inverso. Deste modo, afirmo:

1)O PT, independente do candidato, tem condições de vencer a disputa eleitoral, mesmo diante da existência de uma administração mal avaliada;

2)Isto ocorre, em virtude de que os candidatos da oposição ainda não animaram o eleitor, dentre outros fatores. Eles precisam ser criativos para a contemplação de tal empreitada.

3) A tese de múltiplas candidaturas não beneficia a oposição. Ao contrário, a enfraquece. Os candidatos da oposição confundem as estratégias. Não é o PT o principal adversário da oposição. Mas Mendonça Filho. Esta constatação é cruel!

4)Por sua vez, este, para estar no segundo turno, precisa crescer. Mas precisa crescer menos do que os demais candidatos da oposição. Então, o desafio de Mendonça é mais fácil do que os dos demais candidatos oposicionistas?

5)Portanto a equação é clara: Para ocorrer o segundo turno, Mendonça Filho precisa crescer. Ou os candidatos da oposição precisam, inicialmente, superar Mendonça Filho ou se aproximar fortemente dele. Eventos de forte repercussão eleitoral necessitam acontecer para retirar a possibilidade da ida do PT ao segundo turno. Mas isto não significa que, necessariamente, o segundo turno ocorrerá.      

6)Uma pergunta básica: é possível a oposição vencer a disputa eleitoral no primeiro turno? Resposta que carece de mais pesquisas para ser dada. 

 

Confira também o comentário em vídeo. 

 

* Adriano Oliveira é cientista político e professor da UFPE.

Inflexão no contexto político

Adriano Oliveira, | ter, 03/04/2012 - 08:43
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Inflexões significam ruptura e aproximação. Em razão da ruptura uma nova ordem surge, a qual contradiz com a ordem anterior. A aproximação possibilita que dois atores, os quais não eram aliados na ordem T1, criem ou surgiram alianças vislumbrando o futuro (T2). 

É comum inflexões acontecerem nos contextos políticos. Atores sábios devem ter em conta a possibilidade da inflexão. As ações iniciais dos atores podem sugerir que dada inflexão esteja por vir. Analistas atentos vislumbram inflexões. No caso, constroem cenários.  

Eventos regulares revelam que as inflexões ocorrem costumeiramente na realidade política brasileira.  São inúmeros os exemplos. A inflexão mais visível foi realizada pelo PT, após a primeira eleição presidencial de Lula. Atores que criticavam o PT passaram, sem cerimônias, a fazer parte da ampla coalizão partidária presente na era Lula.    

Em Pernambuco, uma nova ordem política surge. Isto não significa que os inimigos políticos de ontem serão os aliados eleitorais de amanhã. Um grande grupo político denominado Frente Popular nasceu em Pernambuco no ano de 2006 e uma bolha de expectativas eleitorais foi criada por parte dos seus variados atores. A bolha, em razão das expectativas, poderá explodir.

A composição da Frente Popular se assemelha a extinta União Por Pernambuco. O senador Jarbas Vasconcelos liderou a União. Em razão das expectativas eleitorais dos variados atores que a ela pertenciam e também por conta da vitória de Eduardo Campos para o governo de Pernambuco em 2006, a União por Pernambuco findou.

O principal líder da Frente Popular, Eduardo Campos, se movimenta. E o principal expoente da oposição em Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, também. Independente dos partidos, estes atores poderão vir a cooperar eleitoralmente. Mas caso isto não ocorra, as suas recentes ações sugerem que os conflitos serão ou já foram dirimidos e que convergências poderão surgir.

Em silêncio, e agindo num lado só, ou seja, na Frente Popular, o governador Eduardo Campos tem, por enquanto, aparente unanimidade. Apesar do resultado da disputa municipal do Recife importar, não vislumbro, neste momento, a construção de um palanque de oposição ao governador Eduardo Campos liderado por integrantes históricos da extinta União por Pernambuco na eleição de 2014.      

Vislumbro, entretanto, que um novo polo de poder surgirá em Pernambuco advindo da Frente Popular. Neste caso, a Frente produzirá um ou dois oposicionistas. Prevejo que PT e PTB, hoje pertencentes a Frente Popular, podem vir a criar uma nova ordem política em Pernambuco. 

A estação João da Costa

Adriano Oliveira, | sab, 17/03/2012 - 14:41
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A realização de pesquisas eleitorais regulares possibilita a identificação de tendência e a construção de prognósticos. Numa série de pesquisa, o analista deve ficar atento à regularidade dos resultados e as mudanças, as quais podem vir representar tendência.

Os eleitores estão numa trajetória. Nesta trajetória, eles fazem escolhas. No instante T1, ele pode optar por reprovar a administração do prefeito. No instante T2, ele opta por aprovar. Esta mudança nas escolhas eleitorais é explicável, pois, os eleitores, aos caminharem na trajetória, recebem a influência dos mais variados eventos, os quais influenciam ou não na escolha do eleitor. As escolhas dos eleitores não são estáticas.

Os eleitores estão dentro de um trem e através deste percorrem a trajetória. Cada candidato representa uma estação. Os eleitores vislumbram encontrar na estação (candidato) uma vida melhor, bem-estar, propostas para os problemas da cidade e discurso emotivo. Os candidatos têm as suas estratégias ou apenas a imagem para fazer com que o eleitor pare e permaneça em sua respectiva estação.

Ao analisar a terceira rodada de pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) /Leia Já/JC, constato que parte dos eleitores que antes não paravam na estação João da Costa, optou desta vez por parar. As razões desta opção foram duas: 1) Faltam candidatos na oposição que animem o eleitor; 2) Eventos criados pela gestão João da Costa.

Não foi apenas a variável intenção de voto que variou positivamente para João da Costa, mas também a avaliação da sua gestão. Em janeiro, 30% dos eleitores avaliavam a gestão de João da Costa como péssima. Nesta ultima pesquisa, o percentual é de 24%. As variáveis Bom/ótimo variaram positivamente. 

Ao avaliar os sentimentos dos eleitores, constato que 73% afirmam que João da Costa não merece ser reeleito. Em janeiro este percentual era de 75%. Observo variação decrescente.  Em janeiro, 20% dos eleitores frisaram que João da Costa merecia ser reeleito. Desta vez, o percentual foi de 25%. Neste caso, variação positiva. O contraste de variação revela que João da Costa possa estar se recuperando (Tendência).

Mas existe um ponto fundamental: em janeiro, 34% dos eleitores tinham medo de que João da Costa viesse a ser prefeito do Recife. A pesquisa de março revela que 42% têm medo de que o atual prefeito do Recife venha a ser prefeito. Os sentimentos merecimento e medo dos eleitores ao serem compreendidos conjuntamente sugerem, em parte, que os eleitores pararam na estação João da Costa em virtude deles não terem outra opção.

Corroborando com esta minha assertiva, estão os votos brancos/nulos nos cenários que João Paulo não está presente. Em todos estes cenários, os votos brancos e nulos estão acima de 40%. Isto significa que os eleitores não têm opção na oposição ou os candidatos da oposição não animam o eleitor.

É importante destacar, contudo, que alguns candidatos da oposição são fortemente conhecidos do eleitor. Isto faz com que dados candidatos possuam, possivelmente, limites para crescimento. A oposição precisa de um candidato que diga ao eleitor que ele é uma opção ao PT (A pesquisa revela que o PT é admirado pelos releitores) e a João da Costa. Mas o eleitor precisa entender e acreditar nisto.

Apesar da rejeição de João da Costa e da reduzida aprovação do seu governo, o prefeito do Recife está numa situação confortável, pois as circunstâncias, neste instante, lhes favorecem, ou seja: existe uma imensidão de eleitores que não optam pela oposição.

Além disto, João da Costa poderá contar com o apoio de Eduardo Campos, o grande eleitor desta disputa municipal como a pesquisa revela. E, enfim, João da Costa poderá ter o silencio de João Paulo, o qual fará com que os eleitores da estação João Paulo rumem para a estação João da Costa como bem revela a pesquisa.          

Existe crise política no governo Dilma?

Adriano Oliveira, | qua, 14/03/2012 - 12:57
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Em 2011, a intermitente queda de ministro possibilitou que a imprensa e variados analistas afirmassem que existia crise de governabilidade no governo Dilma. Neste ano, diante da saída de Romero Jucá da liderança do governo no Senado e a insatisfação da bancada do PMDB no Congresso Nacional, apressados insistem em dizer que existe crise no governo Dilma.

Demissões frequentes de ministros sinalizam de que algo está errado na governança. Mas isto não significa, necessariamente, que uma crise política exista. Troca de lideranças e manifestos de bancadas são comuns no presidencialismo brasileiro. Portanto, não existe crise política no governo Dilma.

É possível vir a ocorrer crise política no governo Dilma. Mas para tal evento acontecer é necessário que Dilma não tenha nenhuma habilidade política para lidar com os partidos da sua coalizão. Além disto, é imprescindível que a percepção positiva de bem-estar econômico que grande parte dos eleitores tem decresça. Por consequência, a avaliação da presidenta diminuirá junto à opinião pública.

As turbulências que ocorreram em 2011 e estão ocorrendo neste instante no governo Dilma não representam crise. Mas turbulências. Crise é um evento que surge por consequência de variadas turbulências, as quais podem ocorrer num dado instante ou em vários instantes, aparentemente, seguidos. Por ora, não constato isto.

As eleições municipais deste ano trarão mais turbulências para o governo Dilma. E elas revelarão uma disputa não tão silenciosa entre PMDB, PSB e PT. Esta disputa terá consequências nas eleições de 2012. E todas as agremiações frisadas têm o objetivo de enfraquecer ou uma ou outra.

O PSB sabe que para ser forte precisa enfraquecer o PMDB. Este, por sua vez, sabe que o PSB é uma ameaça a Temer. E o PT sabe que o PSB e o PMDB precisam ser enfraquecidos, pois desta forma, ele não se enfraquece. Desta disputa, o equilíbrio poderá surgir, o qual neste instante está presente. Mas a ruptura também pode nascer. E se isto vier a ocorrer, a crise surgirá.  

Fatos e prognósticos para a eleição do Recife

Adriano Oliveira, | seg, 05/03/2012 - 10:52
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As ações e os interesses dos atores precisam ser cotidianamente analisados. São as ações dos atores que fornecem condições para os analistas políticos construírem cenários eleitorais e realizarem previsões. Por vezes, os analistas, e os próprios atores políticos, desprezam as informações e agem sem prognosticar cenários. Em razão disto, erram e se decepcionam.

O debate cotidiano em torno da eleição do Recife não ocorre fortemente, por incrível que pareça, no conjunto de partidos que teoricamente realiza oposição à Frente Popular. Esse conjunto de partidos é composto pelo DEM, PPS e o PMDB. Nesse conjunto, debates com intensidade não ocorrem. A razão disto é que todos desejam ser candidatos, mas todos os postulantes estão, com razão, receosos do insucesso eleitoral caso disputem de modo fragmentado.

Por outro lado, na Frente Popular, conforme ressalto há cerca de um ano, três polos de poder brigam entre si. PT, PSB e PTB desejam o governo do Estado em 2014 e por isso travam uma intensa luta em torno da disputa municipal do Recife. Os atores do PT e do PTB, de modo legitimo, desejam manter ou conquistar a prefeitura do Recife e com isto obter condições de diálogo mais favorável com o governador Eduardo Campos em 2014. Em razão desse desejo e pela reduzida aprovação da gestão, João da Costa é o alvo.

Não existe um projeto da Frente Popular para o Recife. Se João da Costa fosse um prefeito bem avaliado, disputas na Frente Popular ocorreriam, mas não de modo tão intenso. O que possibilita a intensidade de debates em torno do nome de João da Costa é o desejo do PT e do PTB em manter e conquistar a prefeitura do Recife em razão da disputa estadual de 2014.

O PSB, por sua vez, ao ter o governador Eduardo Campos muito bem avaliado, o qual avançou sobre o eleitorado do PT na Região Metropolitana do Recife, observa, com sabedoria, os movimentos internos do PT e do PTB, e torce para que João da Costa seja o candidato. Caso esse não seja, o jogo será outro, ou seja, o PSB poderá ofertar outro candidato aos eleitores do Recife.

Friso que se o PSB ofertar outro candidato, esse será do PSB ou uma grande surpresa. Mas certamente não será do PTB. Friso ainda que o PSB, mesmo diante da candidatura de João da Costa, poderá torcer por outro candidato, o qual não pertence aos partidos que integram a Frente Popular.  Por fim, em razão do peso eleitoral de Eduardo Campos, é possível que todos os partidos que hoje brigam na Frente Popular optem por apoiar a reeleição de João da Costa.

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