A alopecia é um distúrbio autoimune comum que geralmente resulta em perda severa de cabelo e que pode ter causas genéticas, emocionais ou inflamatórias. A doença faz parte da rotina da atriz Jada Pinkett Smith, que se tornou assunto em todo o mundo no último fim de semana, após seu marido, o ator Will Smith, defendê-la de uma piada ofensiva feita pelo comediante Chris Rock sobre a calvície de Jada. A artista recentemente raspou a cabeça, após ser encorajada pela filha mais nova, Willow, ao relatar o impacto da condição em sua autoestima.
Na noite desse domingo (27), durante a cerimônia do Oscar 2022, Will agrediu Chris Rock com um tapa no rosto, segundos após o apresentador do evento comparar Jada com uma personagem careca do filme GI Jane 2. O caso obteve repercussão mundial e alertou para a sensibilidade e o conhecimento que ainda são deixados de lado pelas pessoas ao abordar a doença. Afinal, o que é a alopecia?
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O LeiaJá entrou em contato com os dermatologistas Luann Lôbo, médico especializado em Dermatologia Clínica, Cirúrgica e Cosmiátrica, e dermatologista de famosas como Cléo Pires e Luiza Thomé; e também com Luciana Passoni, médica dermatologista especialista em dermatologia clínica cirúrgica e estética, além de transplante capilar. Os profissionais se revezaram para tirar as dúvidas mais comuns no assunto. Confira abaixo:
LeiaJá: O que é a alopecia? Há diferentes tipos e grupos mais atingidos (etários, étnicos, de gênero) pela doença?
Luann Lôbo: A Alopecia Areata é uma doença bastante frequente. De acordo com estudo divulgado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, pode acometer cerca de 2% da população. Essa doença é de caráter autoimune, e que tem como alvo os folículos pilosos que estão na fase anágena (fase em que nossos cabelos estão em franco crescimento). A Alopecia Areata tem surgimento, mais frequentemente, antes dos 30 anos e é rara após os 50. Porém, pode acometer pacientes de qualquer idade.
LeiaJá: Como é feito o diagnóstico da alopecia? Quais as causas?
Luann Lobo: Quando há predisposição genética, a doença pode ser associada a gatilhos ambientais, de fundo psicossomático, como stress e depressão, por exemplo. A perda de cabelos não é acompanhada de cicatriz, ou seja, não se trata de uma perda definitiva. Sua recuperação, porém, pode ser bastante desafiadora. Se sentir perda de cabelo ou algo diferente no couro cabeludo, procure sempre um médico de confiança. A perda de cabelos pode ser completamente assintomática, ou ser acompanhada de sensações de coceira ou queimação no local da perda.
LeiaJá: Quais as opções de tratamento? Há formas de prevenção?
Luciana Passoni: Toda doença inflamatória tem cura, mas não é simples. A gente briga contra essa doença autoimune, e quando é circunscrita (tamanho da moeda de um real), fica mais fácil da gente cuidar. Geralmente a resposta é muito boa. Para tratar a gente pode usar corticoides, Minoxidil, quimioterápicos locais. Quando a gente não consegue uma resposta com tratamentos convencionais, a gente usa o que chamamos de imunobiológicos. São medicações bem fortes, que a gente usa de forma injetável, subcutânea, não na cabeça, mas na barriga ou via oral. São medicações que podem chegar a dez mil reais por semana. Não é possível evitar Alopecia Areata, mas cuidar do emocional e da saúde capilar é sempre muito importante.
LeiaJá: O que caracteriza uma doença autoimune?
Luciana Passoni: A doença autoimune é caracterizada por algo que a gente produz contra o nosso próprio corpo. A gente cria um anticorpo contra a pele ou contra o folículo piloso; criamos uma reação ou uma resposta como se algum órgão ou tecido não fosse nosso, tentando expulsar ele do nosso organismo e causando inflamação.
LeiaJá: De que forma essa doença pode afetar a autoestima de quem sofre com ela? Casos como o da piada feita por Chris Rock evidenciam falta de informação e sensibilidade para lidar com o tema?
Luciana Passoni: A pessoa que sofre com alopecia pode ficar com placas de falta de cabelo no couro cabeludo ou no corpo inteiro. Isso acaba tirando muito da autoestima de quem sofre com a doença, que pode ficar vulnerável a esses tipos de comentários. Com certeza há muita falta de informação. As pessoas acham que a pessoa que tem alopecia, que tem a falta de cabelo, circunscrita ou universal no couro cabeludo, tem alguma doença, que é contagiosa ou que muitas vezes, está com câncer. E pode não ser nada disso, mas apenas uma doença autoimune, como no caso da atriz.
Casos aumentaram durante a pandemia
De acordo com a dermatologista Fernanda Bertanha, em um estudo divulgado em fevereiro de 2021, o estresse provocado pela pandemia causou mudanças hormonais em grande parte dos brasileiros, sinalizando alopecia na população. A coordenação de medicina interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia também alertou para a perda ou queda difusa em todo o couro cabeludo.
Uma pesquisa estrangeira acompanhada pela organização revelou que a perda capilar representa 25% dos sintomas mais comuns pós-Covid. Ou seja, um em cada quatro pacientes passa pela situação após contrair o vírus.
Os demais sintomas são fadiga (58%), dor de cabeça (44%), dificuldade de atenção (27%) e falta de ar (24%). O estudo foi coordenado por pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, do México e da Suécia, como Harvard e o Instituto Nacional de Cancerologia.