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A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado analisa uma sugestão popular que extingue o termo feminicídio do Código Penal. Caso seja aprovado pelo colegiado, o texto passará a tramitar como projeto de lei e será votado pela Casa Alta, como qualquer outra proposta apresentada por um parlamentar. Como justificativa para a mudança, o autor da sugestão, identificado como Felipe Medina, de Minas Gerais, afirma que o termo feminicídio é “totalmente infundado” e “fere o princípio de igualdade constitucional”. 

Para Medina, “qualquer crime contra qualquer pessoa em função de violência passional deve ter o agravante de crime hediondo”. “Não temos lesbicocídio, gaycídio, masculinicidio, muito embora, mesmo que possivelmente menos frequentes, crimes passionais ocorrem em todos os gêneros e tipos de relação”, destaca o texto, na sugestão que recebeu o apoio de 26.297 internautas no site do Senado, 6.297 a mais do que o necessário para o encaminhamento do texto para a análise da Comissão.

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Apesar dos apoios, a extinção do termo feminicídio do Código Penal não foi bem avaliada durante uma aferição feita pela mesma plataforma. Ao pedir a opinião de internautas, 15.820 se colocaram contra a mudança e 7.165 a favor. A relatoria do texto está sob a tutela da senadora Regina Sousa (PT-PI). Para ela, a sugestão está na contramão dos recentes avanços de proteção à mulher.

Em Pernambuco, a menção ao feminicídio, além do Código Penal, também passou a constar nos registros de Boletim de Ocorrência desde setembro, quando foram registrados 228 casos do tipo no Estado.

Uma grave denúncia do Conselho Tutelar de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, pode acabar na Justiça. Widanison da Silva Vitorino, profissional do local, revelou ao Portal LeiaJá que uma garota de cinco anos foi estuprada e, ao ser levada para a Delegacia de Polícia de Crimes Contra Criança e Adolescente (DPCA) do município, o delegado responsável teria se recusado a registar o Boletim de Ocorrência. 

Segundo o profissional do Conselho, no dia da possível violência sexual, a menor - com sangramento na região genital - foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paulista e ao IMIP, onde passou por exames e chegou a tomar um coquetel de medicações para evitar doenças sexualmente transmissíveis. No dia seguinte, 8 de setembro, a criança foi levada à unidade de polícia e o delegado Antônio Campos teria se recusado em registrar a ocorrência, sob a alegação de que ela só poderia efetuar o procedimento no Recife e que ele só faria o B.O. após os resultados dos exames (previsão de 40 dias depois).

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Indignados com o comportamento da polícia, o Conselho Tutelar de Paulista afirma que redigiu um encaminhamento para a delegacia e exigiu o Boletim de Ocorrência. Ainda assim, de acordo com Widanison, o delegado se recusou a efetuar o procedimento. Como consequência, o Conselho encaminhará uma denúncia ao Ministério Público de Pernambuco em crítica ao que chama de "omissão da autoridade" em relação ao caso de violência. 

Delegado: mãe disse que criança caiu de bicicleta

Em entrevista ao LeiaJá, o delegado Antônio Campos afirmou que realizou a ouvida da mãe e da criança, mas ambas apontaram que o motivo do sangramento havia sido uma queda de bicicleta, enquanto ela estava na casa de um parente. Segundo ele, o B.O. não foi realizado porque o caso não apontou indicativo de estupro. De qualquer forma, o delegado afirma que encaminhou a menor para o Instituto de Medicina Legal (IML).

"Caso o laudo saia dentro de dois ou três dias úteis, saberemos o resultado, mas se demorar mais do que isso, pedirei um parecer dos médicos que a atenderam na UPA, ou no IMIP, a fim de saber se as lesões indicam violência sexual. A partir daí vou instaurar o inquérito e começar as investigações”, explicou. 

Em nota, a comunicação da Polícia Civil corrobora a versão do delegado. "A criança e sua genitora foram atendidas pelo DPCA Paulista, Del. Antônio Campos, ante uma suspeita levantada por médico da UPA de que ele tivesse sido estuprada. Relatam mãe e criança que ela caiu de uma bicicleta". Segundo o texto, a criança não referiu violência sexual e não havia elementos para lavrar flagrante.  A polícia diz que todos os procedimentos necessários foram realizados, inclusive as perícias médicas.

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Dez anos após a criação da Lei Maria da Penha, comemorados neste domingo, 7, delegacias da mulher ainda colocam a palavra da vítima em dúvida, se negam a registrar boletins de ocorrência e demoram até quatro meses para solicitar medidas protetivas para mulheres em risco. A desvalorização do relato daquelas que sofrem violência doméstica é feita também por policiais militares, advogados, promotores e juízes.

Camila, Maria, Fernanda e Solange são algumas das brasileiras que enfrentaram dificuldades ao buscar amparo de órgãos públicos mesmo após o surgimento da legislação criada justamente para protegê-las. "Da primeira vez que procurei a delegacia da mulher, em junho de 2014, já machucada, tudo que encontrei foram conselhos maternais e resistência para o registro do boletim de ocorrência. Disseram que eu ia prejudicar meu companheiro, que ele era trabalhador.

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Saí de lá sem BO e me sentindo envergonhada", conta a jornalista Camila Caringe, de 29 anos.

Após sofrer agressões físicas e verbais por dez meses, ela decidiu sair de casa, mas o ex-companheiro continuou a persegui-la e a ameaçá-la. "Resolvi voltar para a delegacia da mulher e novamente não queriam registrar a ocorrência. Bati o pé e disse que de lá não saía sem o meu BO e uma medida protetiva", conta. Foi então que Camila conseguiu o auxílio que procurava, quase um ano após buscar ajuda pela primeira vez.

A faxineira Maria dos Santos, de 57 anos, também precisou aguentar inúmeros atos de violência até conseguir afastar o agressor, por meio de uma medida protetiva. Em 2011, ela e as duas filhas passaram a ser vítimas de murros, socos e chutes do filho mais velho. "Cansei de ligar para o 190, os policiais vinham e falavam que não podiam fazer nada, que não podiam prendê-lo porque ele não tinha me matado nem feito nada tão grave. Em 2012, comecei a ficar com muito medo e procurei a delegacia da mulher. Fiz o BO, pedi para tirarem ele de casa, mas nada aconteceu", diz.

Quatro meses depois, a faxineira foi espancada pelo filho. "Fiquei desesperada, cheguei chorando na delegacia e só então fizeram alguma coisa. No dia seguinte, veio um policial em casa para tirá-lo de lá."

Desfecho trágico

A falha na ação do Estado teve consequência ainda mais grave para a enfermeira Fernanda Sante Limeira, de 35 anos. Ameaçada pelo ex-marido desde que terminou o relacionamento, há seis anos, ela teve dois pedidos de medida protetiva contra ele negados pela Justiça.

No dia 22 de julho, foi morta pelo ex-companheiro com um tiro quando chegava ao trabalho. "Ela ia nos tribunais e ninguém ajudava, ninguém acreditava. Ela ficou apavorada, ia mudar de cidade, mas não deu tempo, coitadinha", diz Rosaria Lucia Sante, de 61 anos, mãe de Fernanda.

Nas análises judiciais dos dois pedidos de medida protetiva, os magistrados alegaram "fragilidade dos elementos probatórios" que justificassem a medida. Argumentaram que não havia depoimentos de testemunhas que comprovassem as ameaças relatadas por Fernanda. Mais uma vez, a palavra da vítima foi minimizada.

A atendente Solange Revorêdo, de 46 anos, foi agredida pelo marido, um policial militar, desde a primeira semana de casada. Ela só conseguiu denunciá-lo quando fugiu de casa, após 17 anos de agressões. Antes, já havia tentado por duas vezes registrar queixa na polícia. "Chegava na delegacia e me reconheciam, sabiam que meu marido era PM. Lá, me convenciam a não denunciar. Eu desisti e, ao chegar em casa, apanhei de novo, porque ele sabia que eu tinha tentado prestar queixa."

Rota crítica

Para a promotora Silvia Chakian, do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (Gevid), é "inadmissível" que, após dez anos de Lei Maria da Penha, os agentes públicos que atendem as vítimas não tenham capacitação adequada sobre a violência de gênero. "É o que chamamos de rota crítica: a mulher tem de convencer todos os agentes que, em tese, deveriam acolhê-la. Nesse momento, é crucial que ela seja bem atendida, para que não desista de denunciar."

Viviane Girardi, diretora da Associação de Advogados de São Paulo (AASP) e advogada na área de família, diz que os agentes públicos reproduzem uma cultura machista na qual a violência não é repudiada, mas justificada. "Muitas vezes a mulher vai denunciar a agressão e volta se sentindo culpada e em dúvida porque ouve perguntas sobre o que ela teria feito ao marido, por que só agora foi denunciar e até argumentos de que ele é um bom pai e ela iria prejudicá-lo."

Para Fátima Pelaes, secretária de Políticas para as Mulheres, a aposta do governo federal para melhorar a aplicação da lei é ampliar a rede de atendimento especializada e a capacitação dos profissionais, além de trabalhar na prevenção da violência doméstica. "É preciso trabalhar nas escolas e nos órgãos públicos a desconstrução do mito de que o homem é superior à mulher", afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ninguém precisa ir mais à delegacia para registrar um boletim de ocorrência por ameaça, calúnia, injúria ou difamação. Desde sexta-feira, é possível dar queixa desses quatro crimes por meio do endereço na internet da Delegacia Eletrônica de São Paulo (http://www.ssp.sp.gov.br/bo/default.aspx). A inclusão de mais esses crimes na lista dos delitos que podem ser registrados pelo computador da vítima faz parte de um plano da Delegacia Geral de Polícia para melhorar o atendimento dado à população.

Até junho, os roubos de veículos também vão poder ser registrados na internet - atualmente, são somente os furtos (quando o ladrão age sem violência). No caso dos roubos, ao fazer o registro eletrônico, a vítima ganhará uma senha, a fim de comparecer mais tarde à polícia e tentar reconhecer os ladrões. "A ideia é ampliar o serviço paulatinamente", disse o delegado-geral Marcos Carneiro Lima.

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Atualmente, 26% dos BOs do Estado são registrados por meio da internet. A Polícia Civil espera fechar o ano com até 40%. Além dos roubos de carros, é possível que até o fim do ano todos os tipos de furtos possam ser registrados pela internet - além dos carros furtados, hoje só é possível fazer isso com celulares, documentos e placas de veículos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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