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A Federação de Quadrilhas Juninas e Similares de Pernambuco (Fequajupe) está empenhada em uma ação de solidariedade aos brincantes desta tradição nordestina. A campanha Pau de Arara está arrecadando alimentos e kits de higiene, para ajudar aos quadrilheiros e quadrilheiras a enfrentarem esse momento de pandemia, bem como a seus familiares e comunidades. A campanha já doou mais de 200 cestas básicas e pretende arrecadar ainda mais nessa rede de colaboração. 

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A Pau de Arara foi dividida em três etapas e deve durar até o começo do mês de julho. Neste sábado (16), o fim da primeira fase da campanha marca a doação de 220 cestas básicas. Inicialmente, o projeto acolheu 300 famílias de toda a Região Metropolitana do Recife mas, para as demais fases, outras serão contempladas com os alimentos e kits de higiene arrecadados. O objetivo da Fequajupe é arrecadar outras 600 cestas até o fim da campanha. 

 Os interessados em colaborar podem fazer sua doação através da conta bancária de número 5821662-6; Agência: 2811-8 do Banco do Brasil; CNPJ: 05.821.662/001-46. A presidente da Fequajupe, Michelly Miguel, falou ao LeiaJá sobre a ação. “Esperamos conseguir alcançar (a meta) com o apoio de toda a população, e empresas que puderem nos ajudar. A Fequajupe vai até  você  e recolhe a doação, ou pode ser doado via conta bancária. Estamos em busca de ajudar nossos quadrilheiros”. 


 

O ano de 2020 ficará marcado na história da humanidade como um dos mais difíceis desde que o mundo é mundo. A pandemia do coronavírus, que assolou o planeta, deixará um rastro de mortes e enlutados, sem falar nos novos hábitos e medos da população mundial. No Brasil, a crise de saúde veio acompanhada por uma grave crise política, com reflexos notáveis  na economia e no desenvolvimento do país. Além disso, a necessidade de se fazer o isolamento social, como estratégia de contingência ao vírus, impactou o modo como estudamos, trabalhamos e até nos divertimos. Com a realização de shows, espetáculos e festas proibidos, uma das características mais marcantes dos brasileiros foi tolhida: a alegria. 

Para os nordestinos, então, esse momento ficará marcado como o ano em que não houve São João, uma das festas mais esperadas e amadas por essas bandas do país. O ciclo junino foi o primeiro grande evento sociocultural  brasileiro diretamente impactado pelo coronavírus e sua não realização vem sendo sentida desde o  fim do Carnaval, quando ainda nem se sabia ao certo como estaríamos em meados de maio e junho. Para aqueles que fazem as festas juninas acontecerem de fato, como os quadrilheiros e quadrilheiras, ‘pular’ esse período do ano tem sido ainda mais sofrido e a consciência da importância dessa pausa divide espaço com a dor que ela causa em cada um deles. 

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Quadrilha Junina Lumiar, conhecida como a Broadway do São João. Foto: Cortesia. 

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Anarriê

Quando chegou de fato à terras pernambucanas, o coronavírus encontrou quadrilhas juninas em plena preparação para o São João 2020. Os grupos costumam passar meses em uma preparação que começa com bastante antecedência, tão logo acabe o Carnaval. A Junina Lumiar, do bairro do Pina, por exemplo, abriu sua temporada de ensaios ainda no ano anterior, no dia oito de dezembro. 

Com  o avanço da crise de saúde, a  vencedora do Concurso de Quadrilhas Juninas promovido pela Prefeitura do Recife de 2019- conhecida como a Broadway do São João,  se viu obrigada a parar as atividades. “A Lumiar já vinha num processo bem adiantado do seu espetáculo 2020  e lamentavelmente, a gente teve que interromper por esse motivo;  o mundo tá se deparando com essa situação desagradável. Nós já estávamos iniciando produção de figurino, já estávamos em estúdio de gravação, já tínhamos feito praticamente toda a base do repertório e tudo foi interrompido”, diz Fabio Andrade, marcador e presidente do grupo, há pouco mais de duas décadas.  

Fabio é marcador e presidente da Junina Lumiar. Foto: Cortesia

Assim como a atual campeã, cerca de 90% dos demais grupos pernambucanos já tinha seus espetáculos em processo adiantado de desenvolvimento. A necessidade de interromper as atividades foi um baque para todo o movimento junino, como comenta Michelly Miguel, presidente da Federação de Quadrilhas Juninas e Similares de Pernambuco (Fequajupe) e da União Nordestina de Entidades Juninas (Unej). “Foi muito doloroso ter que parar todos os trabalhos e ainda mais sem saber quando voltaríamos. A primeira parada foi a suspensão dos ensaios, ali já começou a aflição”. Fabio complementa: “Quando iniciou o processo mais forte da pandemia e vieram os decretos, foi bem difícil e complicado. Tivemos que parar tudo, os trabalhos e os ensaios. Inicialmente, houve uma comoção muito grande, uma saudade já dos ensaios, porque é um dos períodos mais importantes pra quem dança quadrilha”. 

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Caminho da roça

O calendário anual desses brincantes foi totalmente modificado pela pandemia. Além da paralisação da produção dos espetáculos e dos ensaios, as apresentações e eventos que começam a partir do mês de maio - como os pré-juninos, lançamentos de temas de cada quadrilha e festas que levantam recursos financeiros para a manutenção dos grupos -, foram todos cancelados. O fim do ‘sonho junino’ de 2020 repercutiu até na saúde emocional dos brincantes. “Hoje nós temos quadrilheiros com depressão, com crise de ansiedade, quadrilheiros tristes em casa. tá sendo bem complicado, bem pesado”, lamenta a presidente da Fequajupe. 

Mas os impactos vão além da frustração pessoal e tristeza de cada brincante. A paralisação das quadrilhas juninas também causa um forte impacto econômico em suas comunidades. Cada grupo movimenta uma cadeia produtiva que envolve os mais diversos profissionais, como costureiras, maquiadores, coreógrafos, marceneiros, designers, músicos, cabeleireiros e soldadores, entre outros. Os próprios ensaios, que acabam sendo verdadeiros eventos, e as festas, geram renda, de maneira direta e indireta, com a comercialização de alimentos e bebidas, entre outros. “A gente tem um peso enorme no comércio do grande Recife em relação ao material que a quadrilha usa. Tem quadrilhas que usam 100 mil reais em material então, tudo isso tá parado”, diz Michelly. 

Alavantú

Parar o sonho de um ano inteiro, de maneira tão abrupta e ainda por cima, diante do contexto de uma pandemia como esta, pode repercutir seriamente na saúde mental de uma pessoa. O psicólogo Claudio Marinho de Albuquerque fala sobre os problemas que esse momento podem gerar e como é possível atravessá-lo de forma mais saudável. 

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Preparar para o viva

Michelly Miguel é presidente da Fequajupe e da Unej. Foto: Cortesia.

Para minimizar o sofrimento, e a falta que o ciclo junino já está fazendo entre os quadrilheiros, as redes sociais serão fortes aliadas. “Com certeza (vai haver) muitas postagens, muitas lives, deve acontecer muita coisa pra tentar acalentar o coração, pra gente não perder a esperança”, diz o marcador da Lumiar, Fabio. Essas coisas já vêm sim, acontecendo, como a exibição de pré-juninos passados e lives nas redes da Fequajupe. Em junho, o canal no YouTube da federação terá uma programação especial, inclusive com um seminário online e um workshop para os amantes da cultura junina. 

O ano de 2020 ficará marcado na memória de cada quadrilheiro e quadrilheira como um período duro e triste, mas certamente, as lembranças não serão mais fortes do que o amor que cada um deles tem por sua quadrilha e por essa tradição nordestina tão forte em nossa cultura. É o que se pode sentir pela fala de Fabio: “Nós somos muito apaixonados pelo que  fazemos, é muito visceral, é de dentro pra fora. A vontade, o desejo que 2021 chegue rápido são conversas que acontecem diariamente. Isso tá acontecendo no movimento todo. Acredito que quando isso passar, que a gente tiver oportunidade de voltar, a coisa vai ser muito linda, vai ser muito forte. Vai ser uma festa linda, o quadrilheiro vai delirar, ele vai levar alegria pro mundo”.




 

Bailarinos, músicos, dançarinos e produtores culturais do Recife estão bastante insatisfeitos com o atraso do recebimento de cachês que deveriam ter sido pagos pela Prefeitura desde o ciclo junino de 2014. Segundo eles, várias apresentações ainda não foram pagas, mesmo após 7 meses da sua realização.

Integrantes do Balé Popular do Recife afirmam que o grupo ainda não recebeu cachês do São João, quando realizou várias apresentações. "A Prefeitura está em débito com a gente desde o São João. O que eu acho engraçado é que eles pagam aos artistas nacionais, mas aos locais não, por sermos pouco conhecidos", opina o bailarino Adriano Silva, do Balé Popular. Ele afirma que não há sequer informações sobre o prazo de pagamento.

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Uma integrante do Balé Popular do Recife que prefere não se identificar explicou à reportagem do LeiaJá que essa situação é constante e se repete a cada evento que o grupo realiza com o governo municipal. "Estamos aguardando o pagamento desde junho de 2014. Já depositaram o cachê de 3 apresentações, mas ainda faltam 6", conta. Ela explica que está esperando mais informações da Prefeitura: "Os responsáveis pelo financeiro mandaram eu ir lá na última semana de janeiro e aguardar mais detalhes".

Em outubro de 2014, na abertura do Festival Internacional de Dança do Recife, diversos representantes de quadrilhas juninas realizaram um protesto na frente do Teatro de Santa Isabel, centro do Recife. Cerca de 10 representantes protestavam pelo atraso no recebimentos dos cachês das apresentações realizadas no São João.

Na época do protesto, a reportagem do LeiaJá conversou com Michelly Miguel, presidente da Federação das Quadrilhas Juninas do Estado de Pernambuco (Fequajupe). "Estamos aqui para chamar atenção para a nossa necessidade. Muitas quadrilhas têm dívidas por causa das apresentações de junho e o dinheiro da prefeitura é de extrema importância para pagá-las", declarou Michelly. A Prefeitura do Recife prometeu receber o grupo no dia seguinte ao protesto.

Em janeiro de 2015, 3 meses após o ato, a situação ainda não está resolvida. A presidente da Fequajupe informou que grande parte das apresentações ainda não foram pagas. "Fizemos cerca de 390 apresentações, que foram dividas entre 6 produtoras. Apenas uma produtora recebeu 80 % do cachê do ciclo junino", esclarece Michelly. Ela conta que eles alegam problemas na documentação. "Nós entregamos tudo que nos foi solicitado. Eles aceitam e quando se passam 15 dias, pedem todos os papéis de novo. Falam que o jurídico está atrasando o pagamento e também justificam que ultrapassaram o orçamento no São João", declara.

A presidente da Fequajupe ainda afirma que existem muitos grupos musicais, bandas e trios de pé de serra que ainda não foram contemplados com o pagamento do São João 2014 do Recife. Em uma planilha, Michelly mostra que a soma dos cachês de todas as apresentações beira o valor de R$ 500 mil. "Por enquando a gente vai tocando nossos projetos porque não dá para ficar dependendo da Prefeitura do Recife", finaliza.

Dayvson Dance, bailarino independente que realizou apresentações para diversos grupos, também contou ao LeiaJá que não recebeu cachês do São João. "A gente fez todo um trabalho para representar a cultura do Nordeste, nos comprometemos a sermos profissionais nas apresentações, mas a Prefeitura não fez o mesmo", diz. "Além das apresentações do ciclo junino, eu também participei junto com o grupo Pernas de Palco da abertura do mundial de Handebol no Recife, em julho de 2014, e ainda não recebi o meu pagamento", declara o bailarino.

Prefeitura do Recife nega débitos

A prefeitura do Recife, no entanto, rebate as afirmações que dão conta dos débitos referentes ao São João 2014. Segundo o governo municipal, não há pendências relativas ao ciclo junino.

Ao LeiaJá, Camerino Neto, assessor de imprensa da Secretaria de Cultura do Recife, afirmou que não há registro de débito desta época no balanço da prefeitura. "O que constatamos é que não há dívidas da Prefeitura com estes grupos. Para regularizar qualquer situação financeira, os responsáveis devem ir à sede da Prefeitura do Recife", concluiu.

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