O absurdo conseguiu ser ainda maior do que todos imaginavam. Os detalhes do sequestro e morte de Maria Alice Seabra, 19 anos, foram revelados pela Polícia, na tarde desta quinta-feira (25), na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, na Zona Oeste do Recife. Durante quase três horas de depoimento, Gildo Xavier, padrasto da vítima, confessou o crime e admitiu: planejava estuprar a garota, por quem alimentava desejo sexual há três anos.
Segundo Gleide Ângelo, delegada responsável pelo caso, o homem planejou tudo. Pediu um adiantamento no trabalho de R$ 300, sob a falsa história de que a filha teria sido atropelada, utilizou o dinheiro para alugar um carro, juntou todas as suas coisas que estavam em Gravatá (município em que trabalhava) e veio para o Recife. Na última quinta (18), afirmou que tinha conseguido uma entrevista de emprego para a enteada, no bairro da Encruzilhada. Na sexta (19), apanhou a garota por volta das 16h para uma viagem sem retorno.
“Ele premeditou tudo. Alugou o carro e ainda passou em uma loja, na Avenida Recife, para por películas no veículo. Comprou um vidro de Rupinol (utilizado para dopar em casos como o “boa noite, cinderela”). No caminho, perguntou à menina por que tinha feito uma tatuagem. Alice disse que não era da sua conta. Neste momento, parou o carro na altura do Sítio do Pica Pau, em Paulista, agrediu a menina na cabeça e começou a dopá-la. O celular tocou (era a mãe de Alice), a jovem começou a gritar e Gildo agrediu muito ela. Ela começou a vomitar, convulsionar, e ele estuprou ela ali mesmo, no carro, ainda viva, quando depois percebeu que ela estava agonizando”, contou, emocionada, a delegada Gleide Ângelo.
Para garantir que a vítima morresse, o réu confesso admitiu ter utilizado o cinto de segurança do carro para estrangulá-la. Quando a percebeu sem vida, jogou o corpo em canavial na cidade de Itapissuma. Segundo a delegada, Gildo Xavier ainda voltou ao local, dez minutos depois de ter jogado o corpo, e tentou reanimar Alice, arrependido pelo crime cometido. Sem sucesso, pegou o carro e seguiu para o município de Aracati, no Ceará, onde estava foragido desde então.
Acusado manteve contato com a Polícia pelas redes sociais
No outro estado, Gildo Xavier confessou ter entrado nas redes sociais e visto a repercussão do sumiço da menina. Começou a dar informações à Polícia, pelo Whatsapp, mas como as investigações não surtiram efeito, resolveu voltar, se entregar e ajudar na procura pelo corpo. Preso em flagrante, o homem será indiciado por quatro crimes: sequestro qualificado, estupro, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. O homem pode ser condenado a 48 anos, se somadas às possíveis penas máximas de cada crime.
O corpo da garota foi encontrado pela Polícia com uma das mãos decepadas, coincidentemente a do mesmo braço no qual a vítima tinha feito a tatuagem. “Ele diz que nunca mutilaria Alice, não confirma que fez isso. Apenas a perícia irá dizer se foi algum animal, já que o corpo estava em estado de decomposição”, explicou a Gleide Ângelo, ao lembrar que os exames periciais ainda demorarão certo tempo para serem divulgados.
Jovem já havia sido agredida pelo padrasto no Carnaval
A obsessão do padrasto por Alice foi acentuada no momento que a menina saiu de casa. No início do ano, ela descobriu que o “pai” com quem ela convivia desde os quatro anos estava traindo a mãe com uma amante. O fato resultou na separação do casal, mas o homem pediu para voltar e a mãe aceitou. “Alice disse à mãe que, se Gildo voltasse, ela sairia de casa. E fez. Ela estava morando há dois meses com uma tia, em Igarassu”, assegurou a delegada do caso.
O comportamento agressivo do acusado já pôde ser identificado no mês de fevereiro deste ano, durante o Carnaval. Numa brincadeira realizada pelo tio de Alice, o padrasto teve um ataque de ciúme e partiu para cima da garota, agarrando-a pelo pescoço. Mesmo assim, em nenhum momento a mãe deu parte na Polícia e disse nunca ter suspeito do desejo sexual do marido com a própria filha. O homem preso garante que nunca tentou abusar a enteada durante todos esses anos. Depois do depoimento, o homem foi levado ao Instituto de Medicina Legal (IML) e, de lá, para o Cotel, em Abreu e Lima.
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