As autoridades dos Emirados Árabes Unidos se preparam, neste domingo (3), para receber o papa Francisco, primeiro líder da Igreja católica a visitar a Península Arábica, berço do Islã.
O pontífice chega esta noite em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, para esta visita histórica, que deverá ser dominada pelo diálogo entre as religiões.
Poucas horas antes de embarcar rumo aos Emirados Árabes, o papa pediu no Vaticano, após a oração do Angelus, às partes envolvidas no conflito no Iêmen que "favoreçam de maneira urgente o respeito aos acordos estabelecidos" em favor de uma trégua na cidade portuária de Hodeida, estratégica para a distribuição de ajuda humanitária no país em guerra.
"Faço um apelo a todas as partes interessadas e à comunidade internacional para (...) assegurar a distribuição de alimentos e trabalhar pelo bem da população", declarou. Os Emirados Árabes participam de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que atua no Iêmen.
Em Abu Dhabi, a atmosfera em torno da catedral de São José era agitada esta manhã, constatou um jornalista da AFP.
Muitos fiéis se aglomeravam em frente ao edifício, decorado com as cores do Vaticano e dos Emirados Árabes Unidos, para conseguir os últimos ingressos para a missa papal de terça-feira, considerada a maior reunião a ser realizada no país com mais de 130.000 fiéis.
O padre Elie Hachem, que oficia na catedral, está em êxtase e tem apenas a palavra "histórica" na boca. Segundo ele, o papa vem com "uma mensagem de paz".
Cerca de um milhão de católicos, principalmente trabalhadores asiáticos, vivem nos Emirados Árabes Unidos, onde podem praticar sua religião em oito igrejas.
Doris D'souza, natural de Goa (sudoeste da Índia), diz que "não poderia deixar de aproveitar a ocasião para assistir à missa" de terça, assim que soube da visita do papa.
Shane Gallagher, um irlandês expatriado, também está "empolgado" com a visita do pontífice e com o fato de acontecer em um país muçulmano. "Vamos ter uma ótima semana", acredita.
"Acho que a visita será um testemunho incrível da tolerância dos Emirados Árabes Unidos", acrescenta o americano Collins Cochet Ryan, de 39 anos.
- "Mufti do terrorismo" -
Os líderes da federação insistem neste tema, especialmente com o encontro planejado entre o papa e o imã da Al-Azhar, a principal instituição do islamismo sunita, o xeque Ahmed al-Tayeb.
Os Emirados sempre procuraram projetar a imagem de um país aberto e tolerante, mesmo que pratique uma política de "tolerância zero" em relação a qualquer dissidência e em particular aos seguidores do islã político encarnado pela Irmandade Muçulmana.
Anwar Gargash, ministro das Relações Exteriores, não deixou de fazer referência a esta questão neste domingo no Twitter, onde alfinetou o Catar, boicotado por seu país e três de seus aliados, que o acusam de apoiar islâmicos radicais, o que Doha nega.
Ele enfatizou a diferença entre aqueles que acolhem o "mufti do terrorismo", referindo-se ao religioso Yussef al-Qaradawi, considerado o líder espiritual da Irmandade Muçulmana, que é protegido pelo Catar, e seu país que receberá dois símbolos da "tolerância e do amor", que são o papa e o imã da Al-Azhar.
Anistia Internacional e Human Rights Watch (HRW) pediram que o papa Francisco aproveite sua visita para levantar a questão das violações dos direitos humanos no Iêmen, onde forças de Abu Dhabi intervém militarmente ao lado da Arábia Saudita, e a da repressão de opositores no território dos EAU.
"Apesar de suas declarações sobre tolerância, o governo dos Emirados Árabes Unidos não demonstra interesse real em melhorar seu histórico", disse Sarah Leah Whitson, diretora da HRW para o Oriente Médio e Norte da África.