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O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), voltou a defender a internação compulsória de dependentes químicos que estão em situação de rua. Nesta terça-feira, 21, ele anunciou nas redes sociais que pediu um plano neste sentido ao secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

"Não é mais admissível que diferentes áreas de nossa cidade fiquem com pessoas nas ruas que não aceitam qualquer tipo de acolhimento e que, mesmo abordadas em diferentes oportunidades pelas equipes da prefeitura e autoridades policiais, acabem cometendo crimes", escreveu.

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Embora o texto de Paes não cite expressamente nenhum caso concreto, ele foi publicado dois dias após um caso de grande repercussão em que uma pessoa em situação de rua é acusada de um crime. Na madrugada de sábado para domingo, o turista Gabriel Milhomem Santos, de 25 anos, foi morto a facadas durante um assalto, enquanto dormia na praia de Copacabana, na zona sul da cidade.

Jonathan Batista Barbosa, de 37 anos, preso acusado de ser o autor das facadas, vive em situação de rua no bairro, segundo a polícia. Ele havia sido preso por furto na sexta-feira, 17, e foi libertado no sábado, 18. Horas depois, teria cometido o assassinato.

Durante sua primeira gestão na prefeitura, de 2009 a 2012, Paes chegou a adotar a política de internação compulsória, que acabou suspensa após ação do Ministério Público do Estado do Rio. Em julho passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em decisão liminar que depois obteve apoio da maioria dos integrantes da Corte, proibiu que o poder público remova compulsoriamente pessoas em situação de rua - a decisão é genérica e não trata especificamente de usuários de drogas, mas pode servir como argumento para impedir a internação obrigatória.

O secretário de Saúde considera que as situações são distintas: "a decisão do ministro Alexandre de Moraes foi muito pertinente e importante, porque previne abusos e protege as pessoas em situação de rua, mas não é o caso das pessoas que estão colocando a própria vida em risco", afirmou Soranz ao Estadão.

Segundo a prefeitura, um dos episódios que levaram o prefeito a iniciar o debate sobre a internação compulsória foi a morte de um rapaz de 23 anos que estava em situação de rua e sofreu uma parada cardíaca, supostamente devido à overdose de drogas, quando estava na Rua das Oficinas, no entorno do estádio Engenhão, na zona norte, na segunda-feira, 20.

Ele chegou a ser socorrido pelos bombeiros e levado ao Hospital Salgado Filho, no Méier (zona norte). Ainda conforme a prefeitura, esse rapaz já havia passado por várias unidades de saúde e recebido a indicação clínica de internação, mas não chegou a se internar.

Soranz afirma que situações como essa são cada vez mais comuns, e a internação compulsória se justificaria para oferecer cuidados médicos àqueles que não têm mais condições de buscar auxílio por conta própria.

São Paulo

Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) também defende a internação compulsória em alguns casos, mas a discussão não avançou. Em janeiro, referindo-se a usuários de crack, ele afirmou que "quem está no consumo há mais de cinco anos precisa de um atendimento do poder público. Se o atendimento for a internação involuntária, compulsória, comunidade terapêutica, seja ele qual for, a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado darão o atendimento que ele precisa. A gente não pode ter as pessoas jogadas na rua, se consumindo com o crack, numa situação (de) que elas não conseguem sair sozinhas. Ele vai se debilitando até chegar à morte", afirmou.

Em julho, ele voltou o tema. "é preciso ter um pouco de humanidade e dar uma oportunidade para as pessoas se tratarem", disse à época.

A internação de dependentes químicos - voluntária, involuntária ou compulsoriamente - e a instalação de câmeras com reconhecimento facial na fachada de prédios e residências na região central são algumas medidas que o governo estadual e o poder municipal devem apresentar nesta terça (24) para o tratamento e monitoramento dos usuários de drogas da Cracolândia.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) discutiram o projeto nesta segunda (23), no Palácio dos Bandeirantes. Para facilitar a internação, o pacote prevê a revitalização do núcleo judicial do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), mantido pelo governo estadual no Bom Retiro, região central da cidade.

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Juiz e promotor vão atuar no espaço para tratar principalmente dos casos de internação compulsória, aquela sem o aval do paciente, mas definida pela Justiça.

Outra modalidade prevista no plano é a internação involuntária, aquela em que o consentimento de um familiar e a assinatura de um médico são suficientes para a hospitalização, sem a necessidade da anuência do próprio usuário de drogas. A medida, prevista em lei, foi defendida pelo prefeito de São Paulo, no início do mês, para usuários de drogas há mais de cinco anos.

Programas

Os poderes municipal e estadual, em parceria com o Poder Judiciário, pretendem implantar os programas da Justiça Terapêutica, instrumento da Lei Antidrogas que permite que pessoas flagradas pela polícia com pequenas quantidades de drogas ou que tenham praticado delitos leves não sejam processadas criminalmente desde que concordem com o tratamento para a dependência química.

Com isso, os boletins de ocorrência serão mais simples. "Em vez de encarcerá-lo, a intenção é encaminhá-lo para tratamento, interrompendo o ciclo de reincidência", afirma Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura.

"Nos casos em que o médico decida pela internação, ela será utilizada".

O foco na internação dos usuários representa uma nova fase de atuação do governo na Cracolândia, após a sequência de ações policiais em 2022.

O vice-governador Felicio Ramuth (PSD) será responsável por coordenar as ações e pela interlocução entre os poderes municipal e estadual. Além da internação, o pacote de medidas pretende instalar câmeras com reconhecimento facial em locais públicos e nas fachadas de edifícios e residências. Serão cerca de 300 equipamentos com o recurso de reconhecimento facial. A informação sobre as câmeras foi divulgada inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo.

Eficácia

Especialistas divergem sobre eficácia da internação involuntária e compulsória. Alguns defendem que ela seja uma das etapas do tratamento, quando outras abordagens não derem o resultado esperado ou nos momentos de crises do paciente. Essa linha aposta na abstinência da droga.

Críticos do modelo apontam os traumas das internações e o risco de uma recaída posterior. Eles defendem um tratamento multidisciplinar, com acompanhamento médico ambulatorial, ações assistenciais e políticas de reinserção social para que o dependente reconstrua sua vida com meios de subsistência e apoio para se manter longe do vício.

Um dos principais interlocutores do governo de São Paulo no planejamento das novas ações na Cracolândia é o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O especialista defende o cumprimento da Lei n.º 10.216, de 2001, que prevê que as prerrogativas do médico e do magistrado para a determinação da internação.

"Para isso, o dependente químico deve ser avaliado por uma equipe médica, que vai definir o tratamento adequado. Caso ele não queira a internação, mas seja constatado que não possui domínio sobre sua condição psicológica e física no momento, inclusive com risco à própria vida, o juiz pode determinar a internação", diz Laranjeira, que também é diretor da Unidade de Pesquisa de Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp.

A universidade apresentou no fim do ano passado o Levantamento de Cenas de Uso em Capitais (Leluca) que abrange dados de São Paulo, Fortaleza e Brasília. De acordo com o estudo, que vem sendo citado com frequência por Nunes, o porcentual de chegada de novos frequentadores em 2021 foi o menor da série histórica (20,2%).

Por outro lado, a pesquisa mostrou um aumento na prevalência de usuários antigos (57,4% há pelo menos cinco anos e 39,2% estão na cena há 10 anos ou mais). Esse é o foco das ações do novo pacote de medidas, conforme a gestão municipal.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiu obrigar o governo de Brasília a internar compulsoriamente um dependente químico. Na decisão, proferida na semana passada pela 4ª Turma Cível, os desembargadores entenderam que a internação involuntária não ofende o princípio constitucional da liberdade individual e tem objetivo restaurar a dignidade humana do paciente.

O caso envolveu uma mulher que decidiu procurar a Justiça para internar compulsoriamente seu irmão, que chegou a passar por quatro instituições de tratamento e fugiu de todas. No processo, ela explicou que o dependente tem 35 anos, faz uso regular de crack e de bebidas alcoólicas, come restos de comida que encontra pelas ruas e usa roupas achadas no lixo. Além disso, ela relatou à Justiça que o irmão passou a cometer furtos e se comporta de forma agressiva, sendo alvo de agressões físicas nas ruas.

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No julgamento, por unanimidade, os magistrados entenderam que a internação é uma medida excepcional e deve ocorrer quando métodos de tratamento terapêuticos forem insuficientes para tratar a dependência química. Segundo o entendimento, quando for apresentado prescrição médica e estudos multidisciplinares a favor da medida, a internação deve ser autorizada pela Justiça.

"A despeito da sua dramaticidade, a internação involuntária objetiva resguardar o direito à saúde e o próprio direito à vida. Mais do que isso, é voltada à salvaguarda da dignidade pessoal do paciente e indispensável para que ele, após recuperado o discernimento, tenha plenas condições de autodeterminação", diz trecho de decisão.

Os magistrados julgaram um recurso do governo local para derrubar a sentença que também tinha garantido a internação. Segundo o governo do Distrito Federal, não houve a apresentação de um laudo multidisciplinar para justificar a internação, além de alegar que a medida constrange a liberdade individual dos dependentes.

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) apresentou um habeas corpus pedindo a libertação de um adolescente internado compulsoriamente em um hospital de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. O jovem foi levado para a ala psiquiátrica da instituição devido ao convênio firmado entre a Secretaria de Estado da Saúde e a entidade, que possui atendimentos especializado para pessoas que sofrem de distúrbios mentais decorrentes do uso de drogas.

O MPSP alerta que esse não é um caso isolado e que trabalha desde 2014 para que sejam cumpridas as altas concedidas aos adolescentes que se encontram em situação semelhante. Apesar de liberados pelas instituições após o término dos tratamentos, eles permanecem no local aguardando a liberação da Justiça para que voltem para suas residências. Depois de ter o habeas corpus negado em primeira instância, o Ministério Público recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

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O ministro do STJ Ribeiro Dantas reconheceu a decisão do MPSP sobre a liberação do paciente e reforçou que a decisão do médico não está subordinada à decisão judicial, portanto, o paciente deve ser liberado. 

A Audiência Pública que discutiu a internação compulsória para tratamento de dependentes químicos de álcool e outras drogas no município do Recife mobilizou dezenas de pessoas. Participaram do debate nesta segunda-feira (29) na Câmara dos Vereadores, políticos, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ministério Público (MP), profissionais de saúde e ex-usuários de drogas, que lotaram as galerias do Plenário da Câmara.

Faixas pediam mais atenção aos Centros de Atendimento Psicossociais (CAPS) e aumento de recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS). O vereador, Luiz Eustáquio (PT), autor do Projeto de Lei 17/2013, comentou que sua propostas se baseia na lei federal 10.216, que trata da reforma psiquiátrica, visando atender às pessoas que precisam ser cuidadas e muitas não são.

“Quem tem dinheiro tem como mandar o seu parente para uma clínica, já quem é pobre não tem. Essa discussão, junto com várias instituições e toda a sociedade, busca encontrar uma saída para o problema”, comentou Eustáquio. Já a presidente do Conselho Regional de Psicologia, Maria da Conceição Costa, afirmou que o Conselho é contrário ao projeto porque, segundo ela, fere o princípio da dignidade humana.

“A nação brasileira precisa do fortalecimento do SUS. Nenhuma comunidade terapêutica de Pernambuco tem condições de tratar dependentes de drogas. A família, a sociedade e principalmente  o usuário tem que decidir se quer ou não se tratar”, defendeu.  Outro convidado para a audiência foi o  deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS), membro da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.

Segundo ele, a nossa população está desassistida, sendo preciso dar um resposta imediata a epidemia do crack. “A nossa proposta de internação involuntária prevê que ela seja feita a pedido da família e mediante parecer médico e prazo inicial de 40 dias. A partir daí seria feita uma avaliação”, sugeriu Osmar Terra.

O deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), relator da proposta que altera a Lei Antidrogas (PL 7.663/2010), estará acabando com a internação compulsória. “Acho que não é um juiz que pode decidir isso e sim um médico. A internação voluntária, voluntária autorizada ou involuntária só deve ocorrer num prazo máximo de três meses”.

O parlamentar acrescentou que, na sua opinião, “comunidade terapêutica não pode receber dinheiro do SUS porque não é equipamento de saúde. Até hoje o país não tem discutido a questão da prevenção às drogas e é obrigação do município fazer isso”, concluiu.



*Com informações da Câmara do Recife

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou nesta manhã um projeto que prevê a possibilidade de internação compulsória ou tratamento especializado para usuários de drogas. Isso se dará mediante parecer de uma comissão composta por três profissionais de saúde com experiência em tratamento de dependentes químicos, pelo menos um deles médico.

Inicialmente, o projeto de autoria do senador cassado Demóstenes Torres (ex-DEM) estabelecia a prisão para os usuários de drogas. Quem fosse flagrado usando drogas poderia ficar preso de seis meses a um ano segundo a proposta. O juiz, porém, poderia substituir a pena privativa de liberdade por tratamento especializado.

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A relatora da matéria, senadora Ana Amélia (PP-RS), propôs o substitutivo aprovado e destacou que a comissão avaliou apenas as questões relativas à proteção da saúde dos usuários e dependentes de drogas. "Não serão objeto de análise aprofundada por esta Comissão a matéria penal propriamente dita, nem as questões relativas à constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa da proposição em tela. Tampouco serão analisados os aspectos concernentes aos direitos humanos."

A matéria vai passar pelas comissões de Direitos Humanos e Constituição e Justiça. Depois segue para o Plenário da Casa e então, por se tratar de um Projeto de Lei do Senado, é encaminhado à Câmara dos Deputados. O senador Humberto Costa (PT-PE) e a senadora Ana Rita (PT-ES) já adiantaram que pretendem propor alterações ao texto. Um dos pontos de divergência é a internação compulsória.

O governo de São Paulo deu início às internações involuntárias de dependentes químicos em janeiro deste ano para atender medidas de urgência de viciados que não têm domínio de sua própria saúde e condição física e se negam a receber tratamento. A iniciativa foi seguida pelo Rio de Janeiro, que começou com internações compulsórias de adultos dependentes de crack em fevereiro deste ano.

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