"Vai parecer meio bobo o que vou dizer", ressalva Marcos Caruso, antes de começar a falar. Ele responde a perguntas que dão conta de sua trajetória profissional: a história de quem, há 40 anos, trocou o diploma da Faculdade de Direito do Largo São Francisco pelos palcos.
Mas, afinal, como dar conta de décadas em palavras? "Se tivesse que resumir tudo isso eu diria o seguinte: o teatro é a minha praia. Eu posso pegar uma onda na televisão, no cinema, como autor de novelas. Mas, depois que essas ondas todas passam, o lugar para onde eu volto, onde finco a minha prancha e coloco os meus pés na areia é nessa praia", comenta o ator. "Não saio dessa praia porque a fiz um lugar enorme, em que atuo, escrevo, dirijo. É nela que eu faço os meus túneis. Nela que construo e destruo os meus castelos de areia. Minha vida nesses 40 anos? Foi basicamente e absolutamente o teatro."
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Marcos Caruso está sentado no foyer do Teatro Guaíra. Veio para a capital paranaense apresentar "Em Nome do Jogo", espetáculo selecionado para a mostra oficial do Festival de Curitiba e que abre temporada quinta-feira, em São Paulo.
Escrito em 1970, o texto de Anthony Shaffer é uma peça policial que estreou em Londres. Dois anos depois, chegou à Broadway e aos cinemas, dando origem ao filme estrelado por Laurence Olivier e Michael Caine. No Brasil, o título ("Sleuth", no original) também já embasou montagens renomadas: Antunes Filho dirigiu uma versão com Ney Latorraca, em São Paulo. No Rio, o público acompanhava Paulo Gracindo e Gracindo Jr. nos papéis principais.
Com a estrutura intrincada própria dos romances policiais, a obra retrata o perigoso jogo estabelecido entre o reconhecido escritor Andrew Wyke (Marcos Caruso), e o amante de sua mulher, Milo Tindolini (Erom Cordeiro). A proposta que Milo recebe é estranha: deve roubar as joias de seu antagonista para que ele receba o seguro. Como prêmio, leva a mulher de Andrew, Marguerite, e uma quantidade de dinheiro mais do que suficiente para bancar seus luxos e extravagâncias. "Milo vem para resolver a sua situação e acaba envolvido nesse jogo. É humilhado. Mas, depois, volta para dar o troco, duelar com as mesmas armas do outro", comenta Erom Cordeiro sobre o seu personagem.
Para livrar-se dos anglicismos e de todas as referências que pudessem soar desnecessárias, Caruso assina, ao lado do diretor Gustavo Paso, uma adaptação do texto. "Mas nunca poderia imaginar que uma história como essa faria sucesso hoje", comenta o ator. "Primeiro, porque não temos a tradição do teatro policial no Brasil. Depois, porque vivemos em uma época de imagens. Hoje, o que se vê é sempre mais importante do que o que é dito."
Caruso tornou-se notório por sua habilidade com papéis e tramas cômicas. Começou no engajado Teatro Popular União e Olho Vivo, em 1973. Em 1985, estreou, em parceria com Jandira Martini, "Sua Excelência, o Candidato". "Porca Miséria", "Operação Abafa", "Jogo de Cintura": por todos esses títulos Caruso alcançou reconhecimento como autor. Nenhum deles, porém, teve a repercussão ou a lucratividade de "Trair e Coçar, É Só Começar". "Matematicamente programada para fazer o público rir de 30 em 30 segundos", a peça segue em cartaz há 27 anos. Caso único na história do teatro nacional. E difícil de conceber em uma época em que as temporadas se tornam cada vez mais curtas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
EM NOME DO JOGO
Teatro Jaraguá (R. Martins Fontes, 71). Tel. (011) 3255-4380. 6ª., 21h30. Sáb., 21 h, dom., 18 h. De R$ 70 a 30. Até 30/6. Estreia 4/4.