Nem sempre é possível dimensionar a paixão de um torcedor por seu clube de coração. De tão extremo que é esse sentimento em algumas ocasiões, há quem se impressione pelos feitos de muita gente só para ver de perto o time jogar. Não é só futebol. É um elo firme, criado entre os brasileiros e passado de geração em geração, não sendo raro encontrarmos filhos seguindo a equipe de coração do pai, ou amigos compartilhando a torcida por uma agremiação em comum. No mundo da bola, histórias de amor se cruzam e mostram que o futebol, ainda hoje, vai além de mídia, dinheiro e violência.
Prova viva do sentimento de um cidadão com seu clube aconteceu na última quinta-feira. Era jogo do Sport na Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife. Bem mais do que isso, foi a realização de um sonho, após décadas de uma paixão construída em nome do futebol. Um recifense de 55 anos viu seu time jogar, pela primeira vez, direto de um estádio. Se grande foi a experiência de Fernando Antônio de Souza Lima, o Nando, maior ainda é a emoção que tomou conta de outros torcedores e jogadores.
##RECOMENDA##
Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostrou Nando no estádio, mesmo com dificuldades de mobilidade em cima de uma maca, recebendo o carinho de outros torcedores do Sport. Com a ajuda de amigos e familiares, o rubro-negro realizou o sonho de ver uma partida do Sport das arquibancadas e realçou a necessidade de manter viva a paixão pelo futebol, além da importância do respeito às diferenças entre torcedores de todo o Brasil. Nos corredores da Arena, Nando venceu e falta de mobilidade e se tornou um verdadeiro campeão.
A médica Maria Celina Lima, irmã de Nando, explica que o torcedor sofreu falta de oxigênio no cérebro ao nascer e, durante seu desenvolvimento, foi diagnosticado com paralisia cerebral. No caso específico dele, a lesão foi apenas de área motora. “Mentalmente ele é sadio, tem uma perspicácia incrível, percebe tudo! Afetivamente é incrível também”, explana. De acordo com Maria Celina, a admiração de Nando pelo Sport começou ainda na juventude, a partir da convivência com um vizinho que também era rubro-negro.
[@#video#@]
Amiga da família há 17 anos, Luciene Maria Francisca conta que Nando sempre acompanhou os jogos do Sport pela televisão. Mesmo quando as partidas são realizadas no final da noite, ele se mantém acordado e assiste aos jogos sem ser vencido pelo sono. Para Luciene, é um amor verdadeiro e que comprova a paixão dele pelo Leão. Ela também foi com Nando para o jogo na Arena de Pernambuco.
“Quando a gente saiu, tinha um monte de rubro-negros cantando ‘Cazá Cazá! Além do jogo ter sido muito emocionante, acho que emocionou ele também o fato de as pessoas esperarem ele sair, porque é uma pessoa especial e Nando ficou muito feliz. Pensei até que era uma celebridade, olhei para trás e não vi ninguém. Foi quando percebi mesmo que era todo aquele carinho com ele. No dia a dia, muitas vezes todo mundo vai dormir e ele fica ouvindo ou assistindo o jogo. Ele ama o Sport de todo jeito, ganhando ou perdendo”, relata Luciene.
A mãe do torcedor rubro-negro também destaca o amor dele com o Sport. Segundo dona Amélia Maria de Souza Lima, Nando gosta de todos os jogadores, mas tem um carinho especial pelo goleiro Magrão. “É um amor que surpreende, porque desde pequenininho ele ama o Sport. Se apaixonou por cada jogador, mas o amor grande mesmo é por Magrão. Ele assiste aos jogos até o fim e, às vezes quando tem uma briga entre os jogadores, ele elogia Magrão porque é o único que separa a confusão. Nando também tem medo que Magrão sofra contusão. Fico muito feliz com todo esse carinho dos torcedores e também pelo respeito às diferenças. Nando é minha vida”, diz dona Amélia.
Depois de toda a repercussão do vídeo que mostra os momentos de felicidade de Nando na Arena de Pernambuco, o clube rubro-negro promoveu uma visita especial. Os jogadores Thomás e Patrick foram à residência do torcedor, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, e conheceram a história de Nando. Maria Celina agradeceu a visita e, ainda em entrevista ao LeiaJá, exaltou uma reflexão importante para o universo esportivo.
“Acho importante e toda essa dimensão tem duas coisas bem marcantes: primeiro a acessibilidade, porque é a hora de a gente divulgar, em nome da aceitação das pessoas que são diferentes e contra o preconceito. Segundo, é muito importante ver o lado bom do futebol. Somos um país muito sofrido e o futebol ainda é uma das poucas coisas que trazem alegria para a nossa população. Isso precisa ser cultivado, porque não podemos perder o brilho do futebol em detrimento da violência”, destaca a irmã de Nando.