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João Victor Pacheco, 28 anos, descobriu que tinha hanseníase aos 17 anos, quando trabalhava como padeiro. “Comecei a ter queimaduras, mas não sentia”. A diminuição ou perda da sensibilidade térmica é um dos sintomas da doença. “Desde então, comecei a minha luta, o ativismo” disse, em conversa com a jornalista Mara Régia no programa Viva Maria, da Rádio Nacional.

“Buscar o diagnóstico já é um grande desafio. Os profissionais de saúde não têm o conhecimento necessário, não fazem o que precisa ser feito. Estou no meu terceiro tratamento. Iniciei em 2014, depois, fui reinfectado, em 2017. Em 2019, tratei de novo, com resistência. Mas, se em 2014 tivessem examinado meus familiares, poderia não ter acontecido isso.”

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O jovem mora em Cuiabá, capital mato-grossense. O estado é considerado endêmico para hanseníase e ocupou, por muitos anos, o primeiro lugar no ranking brasileiro de casos. “De que adianta ter bastante caso diagnosticado e não ter serviço”, questiona o rapaz. Sobre o preconceito vivido desde os 17 anos, ele rebate: “Não sofro, mas acontece”.

“O preconceito e a discriminação fazem parte da realidade que a gente está. A gente coloca pra dentro da nossa mente o que é bom. E o preconceito só é bom quando a gente desconstrói esse preconceito. Mas, quando a gente recebe, não é bom não. É um pré-conceito, a pessoa está lá achando que é, mas só a gente sabe o que a gente passa.”

A técnica em nutrição Marly Barbosa de Araújo também denuncia a falta de conhecimento dos profissionais de saúde acerca da doença. Moradora de área nobre na capital federal, ela conta que o diagnóstico tardio veio em razão de falhas no atendimento, já que precisou passar por várias unidades até conseguir uma resposta.

“Digo sempre que eu sofri um ‘preconceito ao contrário’ dos profissionais de saúde. Como eu morava numa quadra de classe média alta em Brasília, eles não pensaram em hanseníase. Isso atrasou o meu diagnóstico. A gente tem que desmistificar que hanseníase é coisa de pobre. Doença não escolhe classe social.”

Marly conta que uma de suas vizinhas chegou a pedir que ela vendesse seu apartamento quando soube do diagnóstico de hanseníase e insinuou que o imóvel poderia ter sido desvalorizado em função da doença da proprietária. “Disse a ela: do mesmo jeito que eu era dona do meu, ela era dona do dela e, se ela quisesse, que vendesse o dela”.

“Mas não vamos querer dizer que o preconceito é falta de informação só não. Se fosse só falta de informação, o profissional de saúde não seria preconceituoso. Ele tem informação sobre a hanseníase e, ainda assim, eu sofri muito preconceito”, disse. “Pessoas esclarecidas também são preconceituosas”, concluiu.

Brasil

Entre janeiro e novembro de 2023, o Brasil diagnosticou ao menos 19.219 novos casos de hanseníase. Mesmo que preliminar, o resultado já é 5% superior ao total de notificações registradas no mesmo período de 2022.

Segundo as informações do Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase, do Ministério da Saúde, o estado de Mato Grosso segue liderando o ranking das unidades federativas com maiores taxas de detecção da doença.

Até o fim de novembro, o total de 3.927 novos casos no estado já superava em 76% as 2.229 ocorrências do mesmo período de 2022. Em seguida vem o Maranhão, com 2.028 notificações, resultado quase 8% inferior aos 2.196 registros anteriores.

Dia Mundial

O Dia Mundial de Combate e Prevenção da Hanseníase é celebrado sempre no último domingo do mês de janeiro.

A hanseníase é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium Leprae, também conhecida como bacilo de Hansen (em homenagem à Gerhard Hansen, o médico e bacteriologista norueguês descobridor da doença, em 1873). O bacilo se reproduz lentamente e o período médio de incubação e aparecimento dos sinais da doença é de aproximadamente cinco anos, de acordo com informações da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Os sintomas iniciais são manchas na pele, resultando em lesões e perda de sensibilidade na área afetada. Também pode acontecer fraqueza muscular e sensação de formigamento nas mãos e nos pés. Quando os casos não são tratados no início dos sinais, a doença pode causar sequelas progressivas e permanentes, incluindo deformidades e mutilações, redução da mobilidade dos membros e até cegueira.

Aos 61 anos, Maria do Socorro, mais conhecida pelos amigos como Tânia, é uma das aprovadas da 37ª edição do Exame de Ordem Unificado, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Após três décadas fora da sala de aula, Tânia resolveu seguir atrás do sonho que tinha desde que era adolescente: ser advogada.

Casada desde os 17 anos, Maria do Socorro teve três filhos e abdicou dos seus estudos, e dos seus sonhos, para cuidar da família. No ano de 2016, já com 54 anos, todos os filhos se casaram e saíram de casa. O vazio que restou, após tantos anos com a casa cheia, deixou Tânia desanimada.

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“Eu engavetei meu sonho, esqueci do meu sonho. Em 2016, meus filhos casaram todos no mesmo ano e eu fiquei sozinha em casa. Fiquei muito triste, entrei em uma depressão horrível. (...) Eu descobri que eu estava sofrendo da síndrome do ninho vazio, que é quando os filhos vão embora e a mãe fica sozinha. Então eu parei e comecei a tentar lembrar, o que eu queria ser quando eu era jovem? E eu lembrei: eu queria ser advogada.”

A princípio, as filhas foram relutantes com a ideia da mãe, por medo que ela pudesse sofrer algum tipo de bullying ou mau trato dentro de sala de aula por conta da sua idade. Porém, Tânia estava determinada a recuperar o tempo perdido dos seus estudos e, no mesmo ano, em 2016, após 35 anos fora das salas de aula, Maria do Socorro voltou a ser uma estudante.

“Eu ingressei na faculdade, fui aprovada em todas as provas, nunca reprovei nenhuma cadeira. Fiz um excelente artigo científico e passei para a trajetória da OAB. Todo mundo dizia que ninguém passava, que é muito difícil… Aí eu disse: ‘mas eu vou estudar e vou passar!’”, declarou a entrevistada.

Tânia começou a estudar para a primeira fase da OAB por conta própria e foi aprovada no 34º Exame, em 2022. Contudo, a idosa contraiu Covid-19 logo em seguida, o que a impediu de realizar a segunda fase e o 35º Exame também, por ainda estar debilitada devido ao coronavírus.

Após o longo período de recuperação, a estudante resolveu se inscrever para o Exame 36 e passou na primeira fase. Na segunda fase, foi reprovada na peça cujo tema era de Mandado de Segurança, mas não desistiu e se inscreveu para repescagem.

Então, Tânia resolveu investir em um curso preparatório. Após conhecer o professor de Direito do Trabalho, Diego Nieto, a quem ela chama carinhosamente de “mestre” e “guru”, a idosa foi aprovada nas duas fases.

Professor Diego Nieto e a advogada Maria do Socorro. Foto: Cortesia.

Diego Nieto conta que Tânia é um exemplo para os outros alunos pela sua entrega e pela sua confiança nos estudos. O professor afirma, ainda, que a maior dificuldade é acreditar nas possibilidades de alcançar os sonhos, mesmo que eles pareçam muito distantes.

“Tânia foi uma aluna muito determinada, resiliente e precisou se reinventar muitas vezes durante o processo para assim chegar ao seu objetivo. Apesar de apresentar algumas dificuldades técnicas de preparação, a aluna nunca duvidou do método ou orientações que estávamos propondo e pouco a pouco foi deixando de lado as “crenças” e formas ineficaz de estudo por um proposta de estudo consistente, o que no final foi determinante em sua aprovação. Dona Tânia, por sua história incrível de vida, e sua estrada como aluna, é um grandíssimo exemplo para todos nós”, disse o docente.

Hoje, advogada, Tânia relembra a dificuldade que passou para poder ir atrás dos seus sonhos da sua adolescência até os seus mais de cinquenta anos. Apesar dos desafios, ela sempre fez de tudo para manter sua família e, agora, ela fez de tudo para manter seu objetivo de ser advogada.

“Quando eu entrei na faculdade foi muito difícil para mim porque eu moro em uma comunidade carente. Quando eu vim para essa comunidade, eu estava desempregada e meu marido desempregado. Eu estava com a minha primeira filha pequena, não tive como arrumar emprego e comecei a vender milho assado na feira. Depois comecei vendendo prestação de porta em porta e fui juntando dinheiro e montei uma loja boa de departamento no bairro onde eu morava”, relembra.

“Eu formei meus filhos. (...) Depois que eu encaminhei eles para a vida, depois de ter enfrentado muita dificuldade, senti a necessidade de voltar a estudar e realizar meu sonho. Eu já estava com 55 anos quando eu entrei na faculdade e muita gente achava que eu não ia conseguir, que eu ia desistir, que não era lugar para mim, que eu não ia passar e eu passei”, conta. Maria afirma, porém, que foi muito bem recebida na faculdade. Nas palavras dela, “depois da minha casa, a faculdade é um lugar sagrado na minha vida”.

Maria do Socorro, advogada recém aprovada na OAB. Foto: Cortersia.

Para o futuro, Tânia conta que deseja se aprofundar na prática criminalista, a qual é apaixonada. “No futuro quero estar fazendo um curso de prática criminal, fazendo audiência já e aprendendo, estudando e estudando. Agora é estudar mais e aprender mais porque agora eu vou ter a responsabilidade de resolver litígios de clientes e não quero, de jeito nenhum, cometer algum tipo de erro na minha advocacia que possa provocar prejuízo aos meus clientes. Quero trabalhar com ética, com responsabilidade, com compromisso, como eu sempre trabalhei, durante toda a minha vida”, afirmou.

Maria do Socorro ao lado de suas duas filhas. Foto: Cortesia.

Em uma foto ao lado de suas filhas, com a placa de advogada pela OAB, Maria do Socorro escreveu: “É disso, sonhos não envelhecem. Esperam e aguardam a hora certa. Mudei a rota, me perdi no tempo, na rotina, esqueci. Mas sonhos não envelhecem, permanecem vivos. Um dia acordei, lembrei-me de um sonho guardado, engavetado. Então verbalizei: ‘Te amo, te respeito e realizarei meu sonho de ser advogada’.”

A 34ª edição do Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) teve um membro aprovado que traz consigo uma grande história de empenho, determinação e superação. A trajetória de Sergio Chaves Pereira (36) até a aprovação na OAB começa quando ele, ainda criança, decidiu fugir de casa e passou a viver nas ruas com 11 anos de idade. Nascido em Imperatriz (MA), após o divórcio dos pais, o menino não se adaptou ao “vai e vem” de morar no Pará com a mãe por um tempo e no Maranhão em outro, com o pai. Não aceitando a separação dos pais, mesmo ainda sendo apenas uma criança, ele decidiu passar a viver por conta própria.

Em uma das viagens entre a casa da mãe e do pai, o maranhense desviou o caminho e ficou na cidade de Jacundá no Pará. De Jacundá (PA), com apenas 4 reais no bolso, ele foi para Teresina (PI) onde morou nas ruas por aproximadamente um ano até que, por não conseguir oportunidade de trabalho ou abrigo, conseguiu carona com um caminhoneiro até Fortaleza (CE).

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No Ceará, Sergio cuidava de carros em troca de moedas e lavava pratos por um de comida. Foi quando no estacionamento do supermercado onde cuidada dos veículos dos clientes que chegavam para as compras, ele conheceu o senhor Nonato que o acolheu em sua casa e lhe deu uma oportunidade de emprego em um lava-jato.

Depois do lava-jato, Sergio foi trabalhar como entregador em três lugares para buscar sua estabilidade financeira, foi quando conheceu sua esposa, ainda estudante do ensino médio. Priorizando os estudos de sua amada, o motoboy a ajudou a pagar um curso de técnica de enfermagem e depois, um curso superior de enfermagem, para aí então retomar sua vida acadêmica.

Os estudos retornaram 20 anos depois, já com a vida estabilizada no Ceará e família construída. Com a terceira série do ensino fundamental, Sergio concluiu o Ensino Fundamental e o Médio em 2017 através do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), criado em 2002 para aferir competências, habilidades e saberes de jovens e adultos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio na idade adequada.

Certificado com ensino médio completo, Sergio deu início ao curso de Direito em 2018 e passou por algumas dificuldades durante a graduação. Tendo que trabalhar e estudar simultaneamente, para driblar a correria ele usava as ferramentas que podia para fortalecer os estudos, desde post its na moto que usava para trabalhar, até anotações na parede de casa, que ele usava para sempre ter acesso aos assuntos que precisava na faculdade.

De acordo com o recém aprovado na OAB, a escolha pelo curso de Direito veio devido a todas as dificuldades que passou enquanto morador de rua. Sergio relembra uma vez que foi a um supermercado e os seguranças o acusaram de furto, mesmo ele estando com a nota de compra para comprovar que pagou pelo item que ele estava na sacola.

Ele relata que foi levado até o banheiro pelos seguranças e lá foi constrangido e acuado.

“Estava com a sacola do supermercado, com a nota de compras, mas mesmo assim os seguranças me acusaram de furto, me levaram para dentro do banheiro perguntando o que eu estava roubando, foi uma vergonha muito grande que passei, me obrigaram até a tirar a roupa para verificar se não tinha nada escondido”, relembrou.

E completou: “Tudo que eu passei na minha vida, todas as humilhações, despertaram em mim a vontade de conhecer os meus direitos, de saber me defender”.

Hoje, já formado, com data de colação de grau marcada para o próximo dia 3 de fevereiro, o homem de infância difícil que conseguiu se tornar membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB torce para que sua história se torne inspiração para outras pessoas.

“Eu torço muito que minha história sirva de inspiração para outras pessoas, para que elas vejam que é possível. Todos têm sua realidade, outros podem estar na mesma realidade, outras nem tanto, e muitos podem achar que não é possível, que já é velho para estudar, mas sempre há tempo, nunca é tarde para recomeçar os estudos e eu sou uma prova viva disso”, colocou.

 

Shakira passou por momentos delicados durante 2022 e fez um saldo sobre este ano durante uma entrevista. Nos últimos 12 meses, a cantora colombiana passou por um divórcio, mudou-se de país e ainda precisou enfrentar uma batalha judicial contra o governo espanhol, que a acusou de fraude fiscal. A artista classificou o período como “difícil de esquecer”. 

Em entrevista ao site Despierta America, Shakira abriu o coração e falou sobre os desafios que precisou enfrentar este ano. "2022 foi um ano que dificilmente poderei esquecer, já que enfrentei tantos desafios, assim como [tive] amigos de verdade. A música foi uma boa companhia, mas vocês ainda mais”, disse.

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Ela também aproveitou para agradecer pelo apoio dos fãs e amigos e disse que espera poder continuar contando com seu apoio nos próximos meses. “Quero agradecer a todos por me escutarem e permitirem que eu me expresse. Que em 2023 que possa seguir correspondendo a todo o apoio e carinho que vocês me dão, e trazer a vocês mais novas músicas e muito, muito mais", concluiu.


 

Ranulfo Costa, de 60 anos, é morador de rua da cidade de Taubaté, interior de São Paulo, desde 2017. Em fevereiro deste ano, Ranulfo foi aprovado em um concurso público da prefeitura em 10º lugar como pintor e iniciou o trabalho esta semana.

Acompanhado pelos trabalhadores do Centro POP, Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, Ranulfo recebeu apoio junto com outros moradores de rua para estudar para o processo seletivo. Ministrando uma sala de 35 alunos, os professores do Centro POP conseguiram ajudar 3 pessoas a serem aprovadas.

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Ranulfo Costa contou à TV Vanguarda que ficou extremamente feliz com a notícia. O homem acabou na rua por causa do vício do álcool e passou por uma depressão. Hoje ele está em tratamento e já tem esperança de um futuro melhor, com o novo trabalho ele pretende adquirir uma casa, primeiramente, e ajudar os filhos.

"Tive depressão, tédio e momentos em que ninguém pensava em mim. Sofri com bebida demais e longe da família. Quase dei um salto mortal igual moleque (quando descobriu a aprovação). A assistente social me procurou para falar sobre isso e foi uma alegria imensa", revelou.

Além de Ranulfo, os outros dois aprovados passaram para vaga de gari e de cuidador. O centro de ajuda deu auxílio para realização da inscrição, além de dar reforços duas vezes na semana e kits de materiais escolares. Os alunos alcançaram uma média satisfatória acertando mais da metade das perguntas, com uma média de 15 a 22.

A fisioterapeuta Roberta Perez, especializada na área cardiorrespiratória, tinha a vida profissional com que sonhou, mas às custas do abandono da saúde e do autocuidado, como ela conta. “Estava há anos sem ir ao médico, só me consultava quando caía gripada entre um plantão e outro. Vivia um estresse constante, me alimentava super mal e tinha péssimos hábitos”. 

Mas, ao ler uma publicação na internet, de uma conhecida contando que estava com câncer de mama aos 26 anos, ela ficou assustada. “Decidi que marcaria alguns médicos. Enrolei muito e fazia o autoexame como forma de me sentir menos culpada, mas esse gesto fez toda a diferença na minha vida.”

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Um dia ela sentiu um nódulo. “Na mesma hora acendeu o alerta. Procurei um mastologista que, na avaliação, por eu ser jovem e sem histórico familiar, não se preocupou tanto com o caso, mas levou em consideração a minha angústia e pediu uma biópsia. Foi assim que descobri um câncer de mama aos 27 anos.”

Durante o tratamento de quimioterapia, em 2016, ela decidiu que mudaria de hábitos. “Comecei a caminhar na quinta sessão e terminei a 16ª sessão com corrida de 8 quilômetros. Descobri na atividade física uma maneira de me empoderar como paciente e de esquecer um pouco dos problemas.” 

Ela fez a mastectomia bilateral e três cirurgias nas mamas. Também teve um tumor benigno no ovário, que resultou na perda do órgão e de uma trompa. “Tive depressão pós-tratamento, porque me sentia perdida e não me encaixava mais na vida que eu tinha. Compreendi que o maior desafio que já enfrentei era o propósito da minha vida e, em 2018, fiz uma transição de carreira e comecei a trabalhar na causa do câncer”. Hoje, aos 33 anos, ela é empreendedora na causa do câncer e fundadora do Portal Vai por mim, que oferece acolhimento e informação aos pacientes de câncer. 

Roberta conta que, como não queria ter filhos, optou por não congelar óvulos. Além disso, e por conta do tratamento e com os problemas ginecológicos, os médicos a alertaram, em 2020, que ela não teria condições de engravidar. “Não sei se me impressionei com a notícia, mas sonhei que tinha uma filha chamada Helena. Três meses depois desse sonho, tentando evitar uma gravidez, engravidei de forma natural. Optamos por descobrir o sexo apenas no parto, e no dia 12 de setembro de 2021 meu sonho virou realidade e dei à luz a minha sorridente Helena.”

Sintomas

O nódulo, como o que a Roberta encontrou no autoexame, é um dos sintomas do câncer de mama. Qualquer alteração notada na palpação ou autoexame das mamas como nódulos e áreas endurecidas são sinais que devem ser investigados. Outros sintomas são: alterações no formato da mama como abaulamentos, inversão do mamilo e retração de pele. Saída de secreção transparente ou com sangue pelo mamilo, já as secreções amareladas, esverdeadas ou amarronzadas tendem a ser benignas. 

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos.

Há vários tipos de câncer de mama. Enquanto alguns tipos têm desenvolvimento rápido, outros crescem lentamente. O câncer de mama apresenta vários estágios da doença, que variam desde tumor inicial microscópico, tumores acometendo toda a mama, e tumores que invadem outros órgãos, como tecido linfático, fígado, pulmão e ossos. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. 

A maioria dos casos, quando tratados adequadamente e precocemente, apresentam boa evolução, mas cada um deve ser avaliado individualmente. “O tratamento do câncer de mama apresenta diversas etapas, o objetivo é destruir o tumor atual, evitar que células tumorais se espalharem para outros órgãos e reduzir as chances do tumor voltar no futuro. O tratamento inicia-se pela quimioterapia ou pela cirurgia; algumas caraterísticas tumorais irão guiar o mastologista nessa decisão”, explica a mastologista e ginecologista Laura Penteado, também obstetra e diretora clínica da Theia, clínica centrada na saúde da gestante, que utiliza tecnologia para revolucionar a saúde da mulher.

Mamografia

A detecção precoce, que pode ser feita por meio da mamografia, é o principal exame para rastrear pacientes sem sintomas aparentes, explica a médica especialista em radiologia mamária, Maria Helena Louveira, também professora da Escola Brasileira de Medicina. 

“O exame de mamografia é o principal e o único eficaz nos rastreamentos do câncer em pacientes assintomáticas. Embora tenhamos muitos estudos em desenvolvimento e novas tecnologias na busca pelo câncer, ainda assim, a mamografia é o principal método. Sabemos que existe um certo desconforto em relação à compressão das mamas no equipamento, porém, é um desconforto rápido, que dura em torno a três segundos, algo bem tolerável”.

A especialista reforça que o benefício supera o incômodo. “Mesmo com esse incômodo momentâneo, pois a mama é um órgão sensível mesmo, o benefício é infinitamente maior ao fazer o exame e, eventualmente, detectar um câncer e, com isso, salvar vidas. A dica é nunca deixar de fazer o exame e buscar sempre a prevenção precoce, pois ela salva”.

Quando diagnosticado no início, a taxa de cura do câncer de mama é alta. “Se diagnosticado precocemente, o câncer de mama apresenta uma alta taxa de cura, mais de 90% em cinco anos”, completa a mastologista Laura Penteado. Iniciado logo após o diagnóstico, o tratamento aumenta a sobrevida e as chances de cura da paciente.

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a mamografia de rastreamento anual a partir dos 40 anos para mulheres de risco habitual e a partir dos 30 anos para mulheres de alto risco. O Ministério da Saúde recomenda mamografia de rastreamento a partir dos 50 anos e anual a partir dos 35 anos para mulheres de alto risco. Mas, a mamografia diagnóstica, aquela que é solicitada para elucidação de alterações palpáveis, deve ser realizada em qualquer idade sempre que necessário.

Em casos específicos, porém, o mastologista pode recomendar outros exames além da mamografia. “Atualmente, com os avanços da tecnologia, alguns centros oferecem a tomossintese, um exame 3D que apresenta maior sensibilidade e deve ser realizado em conjunto com a mamografia - exame 2D - sempre que possível. Para as mulheres que apresentam alto risco para a doença, também realiza-se a ressonância magnética das mamas como exame de rotina. O ultrassom é indicado como rastreamento somente em alguns casos específicos, como o de mamas muito densas”, completa a mastologista Laura Penteado.

Histórico familiar

Dois ou mais parentes de primeiro grau (pais, irmãs ou filhas) ou de segundo grau (neta, avó, tia, sobrinha, meio-irmão) com câncer de mama e/ou de ovário já indicam alto risco para câncer de mama. Ou seja, o histórico familiar é um indicativo para começar a prevenção o quanto antes. 

É o caso da Ana Clara Varela, modelo e influenciadora digital, de 30 anos. Em 2010, a mãe dela teve câncer na faixa dos 40 anos, e na mesma época ela havia descoberto dois nódulos chamados tumor filoide. A mãe se tratou e ela fazia os exames anualmente. “A cada ano um nódulo novo aparecia, totalizando oito nódulos benignos e devidamente acompanhados. Não quis tirar pois sempre tive medo de cirurgias”.

Apesar da vida regrada e de praticar esportes desde 2019, a rotina da modelo ficou paralisada com o início da pandemia. “Em maio de 2020 eu havia engordado 10 quilos e resolvi voltar a minha rotina de esportes e dietas. Procurei uma clínica de medicina do esporte e fiz uma série de exames. Na hora de realizar o ultrassom, avisei ao médico que havia oito nódulos que eram acompanhados pela minha mastologista. E aí ele achou o nono, disse que era diferente dos outros e que era para eu acompanhar. Como já tinha o caminho das pedras, peguei o atalho e fui direto fazer a biópsia”, conta.

“Com 28 anos fui diagnosticada com carcinoma invasivo do tipo não especial (Luminal B). Origem completamente hormonal pela produção exacerbada de estrogênio. Descobri tão no início que não precisei de quimioterapia e nem radioterapia. Após a cirurgia, fui direto para o Tamoxifeno, que é um tratamento complementar via oral. Graças ao diagnóstico precoce, as chances de cura aumentam até 90%! Meu nódulo não era palpável, somente os exames de rotina poderiam detectá-lo”.

Diagnosticada no primeiro ano da pandemia, ela conta como foi se tratar na época. “Todo o processo até a cirurgia foi muito delicado, pois eu não poderia me contaminar em hipótese alguma devido a minha imunidade baixíssima. Mas, fiz todo o processo, operei e dois dias depois fui pra casa”. Ana fez a adenomastectomia bilateral com reconstrução imediata das mamas, cirurgia para mulheres que necessitam de mastectomia, mas que possuem a pele livre para a realização de uma reconstrução mamária imediata. 

“Mulheres com histórico familiar de câncer de mama são consideradas pacientes de alto risco para desenvolver o tumor e por isso necessitam de um acompanhamento e de uma investigação mais detalhada. Recomenda-se que essa mulher realize ressonância magnética anual após os 25 anos e mamografia após os 30 anos. Geralmente, em famílias com mutações genéticas que favorecem o aparecimento do câncer de mama (por exemplo, mutação BRCA 1 e 2) o tumor tende a surgir em idade mais precoce do que nas gerações anteriores”, alertou a mastologista.

Prevenção

Para o câncer de mama existe a prevenção primária, ou seja, reduzir os riscos de surgimento da doença, a qual está muito correlacionada com os fatores hormonais da mulher. “Ter filhos, amamentar, não usar anticoncepcional hormonal, não realizar terapia de reposição hormonal são fatores protetores para as mulheres”, explica a mastologista. Já a prevenção secundária são exames de rastreamento para detecção precoce da doença. 

Ela explica como se dá o fator protetivo da amamentação. “Quando você tem filhos e amamenta, estimula o desenvolvimento das glândulas mamárias e pela alteração hormonal da gestação, o que acaba protegendo a mama contra alterações celulares cancerígenas”.

“Quanto à reposição hormonal na menopausa, outro fator que predispõe ao câncer de mama, ela aconselha a usar com muita parcimônia. “Em alguns casos a mulher tem muita sintomatologia e realmente necessita de uma reposição hormonal, mas os casos tem que ser individualizados, porque está correlacionado com o aumento de câncer de mama. Principalmente as mulheres que têm alto risco familiar para desenvolvimento de câncer de mama, precisa ser muito bem ponderado o uso da reposição hormonal”.

Para as mulheres que optam por não ter filhos, ela recomenda a prevenção secundária, mas alerta. “Realizar mamografia todo ano não vai impedir que a doença apareça, mas aumenta a chance de detectar tumores em estágios precoces, o que aumenta a cura”.

Hábitos saudáveis são protetores

Os hábitos saudáveis também são protetores e auxiliam a reduzir o risco do câncer de mama, assim como de outras doenças. “A ingesta de bebida alcoólica, o sobrepeso e a obesidade, o sedentarismo e a exposição à radiação ionizante são fatores correlacionados a aumento de taxas da doença. Assim, reduzir a ingestão de álcool, praticar atividade física e ter uma alimentação saudável para manter-se em um IMC [índice de massa corpórea] adequado são hábitos recomendados para evitar a doença”.

A médica explica como a obesidade está correlacionada a um aumento do câncer de mama. “As células de gordura produzem estrogênio. Então a mulher obesa tem mais estrogênio circulante e a gente sabe que alguns tipos de tumores de câncer de mama se alimentam desses hormônios. Então quanto maior o nível, maior a predisposição aos surgimentos de câncer de mama”.

Manter atividade física regular e a alimentação saudável reduzem os riscos de aparecimento de cânceres e diminui também outras doenças como hipertensão, diabetes e tumores. 

Por isso, desde o surgimento do câncer de mama, a fisioterapeuta Roberta Perez não se descuidou mais. “Embora biologicamente eu esteja curada, uma vez que você descobre a doença, nunca mais sua vida será igual. E quanto mais jovem você descobre, mais chance você tem de desenvolver o câncer de novo. Hoje, faço acompanhamento anual. Mudei péssimos hábitos que tinha e, quando vou à academia vejo como parte do tratamento. Quando me alimento bem e, de forma saudável, faz parte do meu cuidado. Sempre temos uma atenção especial quando se descobre uma doença como essa. Agora, vou fazer uma renovação dos meus exames genéticos, pois está muito avançada a pesquisa genética, para ver se tenho alguma mutação e, assim ajudar meus familiares de primeiro grau, mãe e irmã”.

Impacto da pandemia

Revista Brasileira de Cancerologia de julho de 2022, apontou dados em relação à falta de busca das mulheres pela mamografia durante a pandemia. O Data SUS, que é o sistema de informação dos exames realizados pelo sistema único de saúde, revelou um déficit de mais de 1,7 milhões de mulheres que deixaram de fazer o exame em 2020 com relação a 2019. Essa queda significa quase 40% no número de exames realizados em pacientes assintomáticas (mamografias de rastreamento) em 2020 em comparação a 2019, enquanto, em pacientes sintomáticas, ou seja, com alguma queixa clínica relativa às mamas, a redução foi em torno de 20% nesse mesmo ano.

“Além do aumento na incidência, é preciso dizer que o câncer de mama é uma doença evolutiva. A falta de diagnóstico e de tratamento precoce reflete em menores chances de cura e em tratamento mais complexo e agressivo. E aquele grupo de mulheres que apresentou sintomas suspeitos de câncer mamário durante a pandemia, e que tiveram seu atendimento e diagnóstico atrasados, provavelmente sofreram com o avanço da doença, que pode ter alterado seu estadiamento) processo para determinar a localização e a extensão do câncer presente no corpo de uma pessoa) e, eventualmente, também sua expectativa de vida”, lamenta a especialista em radiologia mamária Maria Helena Louveira. 

Conselhos

A modelo Ana Clara ainda dá o seu conselho para as mulheres jovens. "Mulheres, se toquem! Conheçam seu próprio corpo. Não tenham medo de investigar algo incomum por conta do resultado. Sua vida, sua saúde estão a um toque de distância! O diagnóstico precoce aumenta em 90% das chances de cura! Idade não é regra e autocuidado nunca sai de moda".

A fisioterapeuta Roberta Perez também tem seu conselho. “Quanto mais jovem, temos em nosso subconsciente que vamos morrer velhinhos, e isso dá uma margem para certas prioridades, como colocar trabalho na frente de saúde, lazer na frente de autocuidado, e isso não pode. Aos 27 anos, era muito imatura, workaholic [alguém que trabalha muito], e sei que, parte do meu câncer ter sido diagnosticado em fase avançada se deve a isso. Estava há quatro anos sem ir ao médico e acabei negligenciando meu cuidado. Mulheres, a dica que dou, eu que passei por isso é, revejam suas prioridades, olhem com carinho para você emocionalmente e fisicamente. Olhar para a finitude pode levar à reflexão de como estamos vivemos e sempre é hora de mudar”.

Para a especialista em radiologia mamária, Maria Helena Louveira, as campanhas de conscientização, como as relacionadas ao Outubro Rosa, têm contribuído de forma significativa para difundir informações verdadeiras acerca do câncer de mama, e têm influenciado positivamente as mulheres na busca do exames de mamografia. 

“Temos que incentivar a busca pelos exames de detecção, mas, antes disso, fortalecer os vínculos entre as mulheres, para que olhem para suas companheiras  - tias, mães, irmãs que estão desassistidas - e insistam para que falem o que sentem, se percebem algo suspeito em suas mamas, algum nódulo palpável que passou despercebido, para que procurarem o atendimento médico o quanto antes”, aconselha.

Alto risco para câncer de mama

- Dois ou mais parentes de primeiro grau (pais, irmãs ou filhas) ou de segundo grau (neta, avó, tia, sobrinha, meio-irmão) com câncer de mama e/ou de ovário; 

- Câncer de mama antes dos 50 anos (pré-menopausa) em um parente de primeiro grau;

- História familiar de câncer de mama e de ovário;

- Um ou mais parentes com dois tumores (de mama e de ovário ou dois tumores mamários independentes);

- Parentes do sexo masculino com câncer de mama.

O ano era 2015. Cansado de ter o seu potencial desacreditado e cheio de força de vontade para dar a volta por cima, Eduardo Oliveira, 25 anos, decidiu que havia chegado a hora de empreender. Com talento, mas sem recursos, conseguiu convencer o seu namorado Isaias Santana, 22 anos, a investir o pouco dinheiro que tinha no seu negócio. 

Na época, foi o suficiente para que o casal comprasse alguns cabelos sintéticos para atender a demanda que chegava. Na cozinha de uma casa bastante simples, localizada no bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, eles começaram a dar forma ao “Negros Trançados”. 

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Como não poderia ser diferente, enfrentaram muita dificuldade para fazer o negócio decolar. Além dos poucos recursos, tiveram que bater de frente com o racismo das pessoas. Quando a gente começou, o pessoal falava: ‘olha, aqueles meninos que trabalham com o cabelo de boneca’. Era um preconceito que a gente passava junto com o pessoal que usava [o cabelo sintético]”, lembra Eduardo. 

Isaías também recorda que durante bom tempo, alguns clientes pediam para não ficar “parecendo com uma ‘nega maluca’, associando o cabelo crespo dela a algo que foi imposto no passado”, diz.

Dois anos de persistência e superação foram suficientes para que o casal afroempreendedor transformasse o Negros Trançados em algo maior. Em 2017, conseguiram sair da cozinha e alugar uma loja no local mais movimentado da comunidade. No entanto, mantendo os pés no chão e buscando novidades para os seus clientes, queriam investir em algo maior. Não queriam só fazer tranças na Bomba do Hemetério, o sonho agora era se tornar referência na venda - em atacado e varejo - de cabelos sintéticos, naturais, orgânicos e perucas. 

“Nós trouxemos uma diversidade para melhorar a visão que tinham sobre os apliques de descendência afro. Isso proporcionou o nosso crescimento”, garante Eduardo. 

E conseguiram. 2019 foi o ano em que os afroempreendedores alçaram novos voos e  tiveram como direção a área central da capital pernambucana. Quem começou com poucos pacotes de cabelos num salão improvisado, hoje conta com três lojas, sendo uma para a venda dos produtos, um salão de beleza e uma loja que serve apenas para estocar as mercadorias. 

Tudo isso para atender cerca de 100 clientes que passam pela loja e salão todos os dias. Para dar conta de tudo e oferecer a maior variedade possível, o casal acredita ter disponível cerca de cinco toneladas dos mais diversos tipos de cabelos. ”A vontade é crescer ainda mais”, garantem.

Saiba mais sobre Eduardo, Isaias e o seu Negro Trançados

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Preto que cresce, não cresce sozinho

Segundo último levantamento do SEBRAE, 10% dos afroempreendedores do Brasil são responsáveis por empregar entre 6 a 19 pessoas. Isaías e Eduardo fazem parte desse grupo seleto, já que 8 pessoas pretas trabalham no Negros Trançados atualmente. Três delas com a Carteira de Trabalho assinada e as outras cinco colaborando como pessoas jurídicas.

O casal está possibilitando mais trabalho que 7% dos empreendedores brancos do país. 

“Isso também agrega para que o nosso crescimento seja voltado ao público periférico e jovens que a gente dá muita oportunidade”, destaca Isaias Santana. 

“Eu olho para trás e vejo todo o percurso que a gente percorreu, com estoque pequeno e apenas uma pessoa trabalhando. Hoje, a gente tem uma equipe. Ver todo esse crescimento é muito emocionante e todo meu esforço foi válido”.

Negros trançados possibilitou oportunidades para Francielly. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Francielly Carvalho, 21 anos, foi a primeira funcionária trancista do Negros Trançados. Para a jovem, fazer parte da equipe colaborou na autoaceitação. Mas nem sempre foi assim. Francielly lembra que a primeira vez que teve o cabelo alisado com produtos químicos foi aos 10 anos e durou por boa parte de sua adolescência. 

Tanto alisamento resultou na queda dos seus cabelos. A partir daí veio a transição. "Eu tinha muita vergonha. Eduardo sempre dizia para eu colocar o cabelo, mas eu tinha muita vergonha do que iriam achar", destaca.

A parceria com o Negros Trançados facilitou que a trancista não só entendesse e aceitasse os seus traços, como a colocou em uma situação de destaque, sendo uma das responsáveis por auxiliar que outras garotas se enxerguem e contemplem a própria beleza negra. 

"É muito satisfatório trabalhar nessa área. Chega muita gente triste, com muito desânimo. Mas a gente está aqui para auxiliar. É um prazer imenso trabalhar aqui", pontua.

Onde encontrar?

O Negros Trançados está localizado na rua do Riachuelo, 105, Edif. Círculo Católico, loja 7. 

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Comemorado no domingo (8), o Dia das Mães está entre as datas especiais mais esperadas do ano. No mês de maio, multiplicam-se as homenagens para aquelas que, mesmo diante das adversidades, buscam oferecer o melhor para os filhos, sendo exemplos de força, resiliência e amor. Nesta reportagem, em tom de celebração, o LeiaJá Pará apresenta relatos de mães que enfrentam e superam desafios diariamente.

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Daniela Teixeira, 46 anos, é autônoma e tem uma filha portadora de paralisia cerebral. Ela conta algumas das histórias que viveu e ainda vive como mãe de Suellem Lobato, de 22 anos. Desde o nascimento da filha, Daniela enfrentou muitos desafios - segundo ela, por ser muito nova na época da gravidez e estar cercada de desinformações.

Suellem, ainda pequena, passou alguns anos na Fundação Pestalozzi, onde começou a participar de sessões de fonoaudiologia e aprendeu a conviver com outras crianças. Pouco tempo depois, era levada pela mãe para realizar musculação, fisioterapia e hidroterapia no ginásio da Universidade Estadual do Pará – UEPA. Daniela diz que, apesar dos momentos difíceis, não desistia e apoiava bastante a filha.

Ao observar que Suellem tinha potencial para estudar, Daniela visitou diversas escolas em busca de alguma que a aceitasse, explicava a situação e dizia que, caso necessário, poderia ficar lá durante as aulas. Quando conseguiu uma vaga para a filha, a diretora da escola já havia sido sua professora na UEPA. “A Suellem ficou até a sétima série porque ela parou devido às dores e viagens também. Ela a aceitou, foi maravilhosa, foi coisa de Deus”, conta.

Aos 30 anos, Daniela sofreu um acidente vascular cerebral e teve o lado direito do corpo todo paralisado. Com isso, a autônoma precisou aprender novamente a realizar algumas tarefas. “Foi muito difícil. A coisa que eu mais pedia para Deus era que não levasse a minha consciência, que era a coisa mais importante para mim, na minha vida, era lembrar de tudo que eu passei com a minha filha”, relembra.

Daniela teve dificuldades em lidar com algumas condições de Suellem, que faz suas atividades com os pés, mas descobrir e compreender o diagnóstico da filha foi fundamental para o processo de aceitação. “Hoje, eu tenho esse pensamento muito mais concreto na minha cabeça, que a gente tem que lutar, mas temos que saber até onde lutar e até onde buscar, e entender verdadeiramente nossos filhos”, enfatiza.

Atualmente, Suellem é blogueira e faz parte do universo de digital influencers. A mãe revela que, depois de todos esses anos, consegue enxergar que o esforço realmente valeu a pena. “Ela consegue escrever, compreender, raciocinar, para ela poder chegar aonde chega”, complementa.

Por cuidar da filha o tempo todo, Daniela não trabalha, mas vende cestas de café da manhã. Além disso, a família consegue se manter graças ao salário de Suellem, conta a autônoma. “Temos gastos com fraldas, com remédios, e o pai dela já é falecido. Não tenho ajuda do pai dela, nem do pai do Diego (irmão de Suellem)”, diz.

Mãe: "profissional" incansável

A publicitária Mônica Lopes, 35 anos, é mãe de três filhos: Asaf Ben, de 13 anos, Liah Ohana, 9, e Oliver Micah, 5. Ela diz que conciliar trabalho e filhos é uma tarefa muito árdua e que é preciso ter equilíbrio emocional para lidar com tudo. “Para mim, maternidade é uma profissão também. É necessário dedicação, constância e é algo que você não tira férias. Acredito que, até depois que os filhos se casam, a maternidade continua. É uma profissão para a vida toda, muito valiosa, muito prazerosa”, descreve.

O filho mais velho de Mônica, Asaf, possui o Transtorno do Espectro Autista – TEA. A publicitária afirma que um filho demanda atenção, sabedoria, ensino e dedicação, mas ter um filho dentro do Espectro Autista exige mais ainda. “O maior desafio é o equilíbrio emocional para você conseguir dar conta de tudo e não se cobrar demais, não deixar a desejar demais. Esse equilíbrio, eu diria que é tudo”, acredita.

Depois que Asaf nasceu, em 2008, Mônica lembra que foi difícil retornar ao trabalho porque via a necessidade estar com ele, mas na época a lei não permitia uma licença maior que quatro meses. Quando deu à luz Ohana, voltar a trabalhar foi ainda mais difícil, conta a publicitária. “Foi muito complicado, porque a gente não encontra muitos trabalhos com flexibilidade”, observa.

Após Oliver nascer, a publicitária adoeceu e ficou sem trabalhar por um pouco mais de dois anos. Ela revela que nunca teve uma pessoa em casa para limpar e cozinhar, e reafirma que conciliar ser mãe, profissional, esposa e dona de casa é complicado. Mônica conta que preferiu, inclusive, não trabalhar por querer estar perto dos filhos.

“Hoje, eu já me considero em casa, porque eu trabalho muito em home office. Eu faço coisas pontuais no trabalho, mas eu diria que 50% ou até mais do meu horário de trabalho é em casa. Eu consigo, ainda, estar aqui de olho neles, fazendo parte do dia a dia deles. Isso, para mim, é importante”, relata.

Mônica afirma que o mercado de trabalho é preconceituoso com as mães e que poucas são as empresas que fazem programas para atender às profissionais durante a maternidade. Ela acredita, ainda, que em comparação com os homens que são pais, o peso da responsabilidade é maior para as mulheres. “Espero que a nossa sociedade, um dia, consiga fazer com que essa balança seja equilibrada e que as mães consigam ter esse valor social, para o mercado, esse valor emocional”, acrescenta.

A publicitária afirma que ser mãe é uma dádiva e que, ao olhar para trás, não faria nada diferente. Mônica enfatiza que leva a sério essa "profissão" da qual não tem pressa para tirar férias.

“Eu sonho em vê-los grandes, constituindo família, em ter netos, em continuar caminhando com eles e eu só consigo ser grata a Deus e dizer: ‘Senhor, muito obrigada por ter me escolhido para ser mãe da Ohana, do Oliver e do Asaf. Eu realmente não sou merecedora de tamanho presente’. Meus filhos são maravilhosos, não sei o que eu faria da minha vida sem eles”, conclui.

Os desafios da dupla jornada

A confeiteira Kathleen Sabrina Silva, 29 anos, tem aprendido a lidar com o trabalho e o cuidado com os filhos, Gustavo e Henrique, e a criar uma disciplina no dia a dia. “O primeiro momento foi bem enlouquecedor, imagina conciliar duas crianças pequenas com o emprego. Quando eu comecei [a trabalhar], o Henrique tinha 5 anos e o Gustavo estava com 3 anos, e foi bem difícil. Agora já está bem melhor porque eles já estão maiores”, relembra.

Para ela, o maior desafio de ser mãe é dividir o tempo de estar com eles e de trabalhar. Além disso, fazer com que os filhos entendam essas circunstâncias. “Eles me veem em casa e querem estar juntos, e eu falando que ainda não é o momento. O maior desafio é conciliar o momento e aprender a dizer ‘não’, para poder cumprir com o meu papel de mãe e empreendedora”, explica.

A confeiteira fala sobre os problemas que surgiram no período em que trabalhou em Marituba, saindo cedo e chegando tarde em casa – época em que Gustavo rejeitava ser amamentado. “Eu precisei continuar trabalhando. Eu trabalhei fora de casa até ele completar os 2 anos de idade, então eu saía de casa e eles estavam dormindo, eu chegava e eles estavam dormindo. Isso foi bem dolorido pra mim”, diz.

Kathleen quase adoeceu e vivenciou momentos de estresse que acabavam afetando a paciência com os filhos. Por trabalhar em departamento financeiro e com vendas, a cobrança era grande. “Eu decidi sair para ficar com eles, cuidar da minha saúde, ter um relacionamento saudável com eles e pra mim foi a melhor coisa que eu fiz”, afirma.

Sobre a relação das mães com o mercado de trabalho, Kathleen argumenta que, por mais que se diga que existem benefícios e regalias, na verdade não existem. Segundo a confeiteira, dentro desse mercado, só se faz o que é obrigatório pela lei e não porque queiram ter mães trabalhando.

“No meu ponto de vista, a mão de obra feminina é inegociável. Mulheres são mais detalhistas. Por mais que queiram substituir pelo público masculino, eles não conseguem, até porque, se conseguissem, eles fariam essa substituição para não terem os 'gastos' de uma mãe trabalhando em suas empresas”, defende.

Para Kathleen, ser mãe é um sonho realizado. Apesar dos desafios, a maternidade é algo que proporciona muitas alegrias à confeiteira. “Ser mãe é algo inexplicável, é o maior tesouro que já tive na vida. Posso ter sucesso na minha carreira e na minha vida, mas o maior reconhecimento que posso ter é o dos meus filhos, é ouvi-los dizer que são felizes em serem meus filhos, ou felizes em me ver bem”, finaliza.

Por Isabella Cordeiro (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

Desembargadores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais receberam, ao longo de 2021, subsídios que ultrapassam em mais de dez vezes o teto remuneratório do funcionalismo público, de R$ 39,3 mil. Os vencimentos brutos dos 260 magistrados, incluindo desembargadores da ativa (140), aposentados e convocados para atuar temporariamente na Corte, custaram R$ 252,5 milhões entre janeiro e novembro - os valores de dezembro ainda não estão disponíveis no Portal da Transparência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O TJ de Minas Gerais é o segundo maior do País, com 27.334 servidores. Fica atrás apenas de São Paulo, conforme dados do CNJ.

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O desembargador Dárcio Lopardi Mendes se aposentou em agosto e recebeu, de uma vez, R$ 563,6 mil brutos - o maior contracheque do ano. Em seguida aparecem os desembargadores Alberto Henrique Costa de Oliveira, com R$ 442,9 mil brutos em setembro, e Paulo Cezar Dias, com R$ 394,5 mil brutos em maio, também por causa de aposentadorias.

Em agosto, quando parcelas significativas foram depositadas a título de "direitos eventuais", 95 magistrados receberam mais de R$ 300 mil brutos cada. O segundo mês com maiores holerites foi abril, quando 176 desembargadores ganharam acima de R$ 200 mil brutos. Em todos os 11 meses com dados disponíveis, houve holerites superiores a R$ 79 mil brutos - o dobro do teto.

'Proporcionalidade'

Em nota ao Estadão, o TJ de Minas afirmou ser "comum" que magistrados "deixem de gozar as férias-prêmio durante toda sua carreira, optando por receber em espécie o valor correspondente, por ocasião de sua aposentadoria". "Os subsídios dos magistrados mineiros são pagos de acordo com a legislação vigente e guardam proporcionalidade com os pagos aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Alguns juízes e desembargadores podem receber, eventualmente, valores adicionais referentes a férias, férias-prêmio não gozadas e acumuladas ou reposições salariais", disse o TJ mineiro.

Ainda de acordo com o tribunal, "trata-se de passivo devidamente reconhecido na Casa, que vem sendo pago, parceladamente, observada a disponibilidade orçamentária/financeira" da Corte. "A suspensão de férias regulamentares ocorre por necessidade do serviço e, não havendo possibilidade de fruição, são indenizadas, observada resolução do CNJ."

Auxílios

A Constituição limita o holerite do funcionalismo público ao que recebe um ministro do Supremo, mas magistrados recebem auxílios que não entram no cálculo. São verbas indenizatórias (como auxílios para transporte, alimentação, moradia e saúde) e vantagens eventuais (como 13.º salário, reembolso por férias atrasadas e serviços extraordinários prestados) contadas fora do teto, abrindo caminho para os chamados "supersalários".

Levantamento do Centro de Liderança Pública mostrou que o Brasil poderia economizar R$ 2,6 bilhões por ano cortando valores recebidos acima do teto constitucional.

Para o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, os "privilégios" do Judiciário são "praticamente intocáveis". Especialista no monitoramento de gastos públicos, ele considera as férias de 60 dias e o direito de venda do período de descanso como os direitos mais "problemáticos", porque funcionam, na prática, como uma "complementação salarial". "Uma reforma administrativa justa deveria reduzir privilégios não só no Executivo, mas no Legislativo e no Judiciário, a começar pelos supersalários", afirmou Castello Branco.

No TJ-AM, remuneração de mais de R$ 200 mil

No Tribunal de Justiça do Amazonas, 20 dos 26 desembargadores receberam em novembro passado um contracheque de mais de R$ 100 mil líquidos. Somando todos os magistrados, foram pagos R$ 3,5 milhões líquidos, média de R$ 135,5 mil para cada um naquele mês.

O magistrado que mais recebeu no mês de novembro ganhou R$ 237 mil brutos. Ao vencimento de R$ 35,4 mil somaram-se "direitos eventuais, indenizações e direitos pessoais".

O TJ do Amazonas disse, em nota, que a remuneração dos magistrados "observa estritamente o teto constitucional" e que verbas "porventura agregadas" são pagas nos "exatos termos da lei e de resoluções" do CNJ.

Aos 13 anos, Débora Costa e Silva começou a cantar e a tocar violão. Ela participava de grupos de percussão, corais, bandas e chegou a se apresentar em alguns bares. "Mas depois que comecei a trabalhar, fui parando e deixando a música para trás", lembra a copywriter (profissional que produz textos de marketing digital). E quantos sonhos e desejos abandonamos no meio do caminho por necessidades impostas pela vida?

Pouco mais de duas décadas depois, ela resgatou o amor pela música para driblar a depressão na pandemia de covid-19. Em outubro, ela lançou o single Resistir, inspiração após série de lives caseiras que fez com amigos durante o isolamento social.

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Em março de 2020, a jornalista, de 35 anos, entrou em home office. Bateu o medo de morrer, de perder as pessoas. "Parecia que o mundo estava acabando. Isso me deu uma sensação de urgência de viver. Pensei: 'Daqui a pouco posso morrer e eu não estou fazendo aquilo que mais gostava de fazer'. Comecei a me arriscar, fazendo vídeos primeiro e depois lives", diz.

Débora decidiu organizar transmissões ao vivo, caseiras, com amigos nas redes sociais. Nos vídeos, voz e violão eram parceiros fiéis, mas os cenários variavam entre sala e varanda do apartamento. "Foi uma forma de encontrar motivação, de me divertir. A vida tinha virado somente trabalho e isolamento. E, de repente, as lives se tornaram um motivo para viver, me realizar, ter um pouco de alegria. Foram superimportantes para me manter bem e sã", ressalta.

Nas primeiras apresentações, ela escolheu repertórios nostálgicos, que misturavam pop nacional, pagode e MPB, além de divas internacionais como Madonna e Shakira. Uma das lives, em junho de 2020, foi intitulada como Bailinho da Débora. Era uma alusão aos antigos bailes em que os jovens dançavam com a vassoura, caso não conseguissem um par na pista.

Em um post no Instagram, Débora brincou: "Gente, no sábado, farei mais uma live, dessa vez só tocando aqueles hits internacionais românticos que todo mundo já ouviu no elevador, mas tem vergonha de admitir que gosta".

As apresentações, transmitidas pelo Instagram, Facebook e YouTube, começaram a se destacar pela linguagem divertida e interação com os internautas e amigos.

Aos poucos, Débora foi perdendo o medo: "Acho que foi minha tábua de salvação, porque eu via muitos amigos entrando em depressão. Ocorreu comigo o contrário. Eu ficava ensaiando para as próximas lives e usava meu tempo livre, em vez de ficar com medo, em depressão, para pensar nos projetos, que viraram uma fonte de alegria".

As lives temáticas inspiradas em canções de Marisa Monte, Rita Lee e Cássia Eller, esta última com 350 views, foram as de maior audiência e engajamento. Conexões instáveis de internet e tempo limitado de transmissão não a desanimaram. Eventuais desafinações também não foram capazes de tirar a confiança de Débora, que encontrou energia também para compor músicas próprias.

Resistir, o primeiro single profissional gravado por ela, é fruto desse período de pandemia. "Por estar mais tempo em casa e sozinha, eu me dei a permissão de criar mais. Por 'travas' minhas, não conseguia me soltar, fazer coisas próprias. Nunca tinha pensado que iria conseguir, pois sempre toquei música dos outros. Ao longo desse tempo, fui maturando a ideia de gravar", afirma.

GRAVAÇÃO

No trabalho de estúdio, Débora contou com a ajuda da professora de canto Vivi Rocha, que explicou o passo a passo para ela de como gravar um disco. Além disso, ela chamou um amigo, que é fotógrafo, para registrar o "making of" da gravação. "Eu banquei tudo: a produção musical, os profissionais, as fotos e os vídeos. Foi um dia muito legal."

Todos os envolvidos na produção passaram por testes de covid. O resultado do esforço é uma bela composição estética que combina cores, iluminação, algumas falas de bastidores e, claro, música boa, feita com amor.

Cantar e tocar, agora, é um caminho sem volta para Débora, que pretende lançar um EP em 2022. "O single foi mais uma forma de registrar e tornar pública essa música. Não tenho pretensão de investir na carreira artística como principal fonte de renda, nada disso. É um hobby que levo a sério. Pretendo gravar outras músicas que já escrevi para lançar um EP no ano que vem. Mas sem pretensão de tocar em rádio, nada disso", afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

De vendedora de lanches à técnica judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), Maiara Rocha Moreira atravessou as barreiras do acesso à Educação no Brasil em uma trajetória coroada em plena pandemia. Após decepções e sacrifícios, ela se orgulha dos quatro anos de estudo que garantiram a estabilidade financeira da família.

“Eu era semianalfabeta. Eu nem fiz o Ensino Médio, meu Ensino Médio foi pelo Enem, e eu resolvi estudar e mudar”, reforça a servidora empossada no dia 22 de janeiro deste ano. “Ano passado, nesse mesmo período, eu tava no meio da rua vendendo lanche e hoje estou aqui escolhendo uma cidade para dar o meu melhor. Então, eu agradeço a Deus”, disse no dia em que escolheu ser remanejada de São José do Egito para Trindade, municípios do Sertão de Pernambuco.

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Revisão no banco do shopping

Surpreendida com a ligação do TRE-PE enquanto produzia doces para vender no dia seguinte, Maiara lembra que viajou de ônibus de Fortaleza ao Recife e estudou nos bancos do Shopping RioMar, na Zona Sul, para revisar a matéria antes da prova. “Quando a gente tá estudando, a gente não acha que é tão satisfatório, mas é muito. Minha família não imaginava que seria tanta benção”, celebra.

Nascida em Areião, no Interior da Bahia, foi criada até os cinco anos ao lado da irmã, pelos avós. Após a morte do avô, ela foi mandada para a casa onde a mãe era doméstica, em Fortaleza, como única opção para fugir da escassez no Sertão. “Eu sempre estudei em escola pública e me alimentava com a merenda porque não tinha dinheiro para comprar outros lanches. Apesar disso, soube aproveitar o que tinha à minha disposição”, aponta.

Maiara chegou a trabalhar de babá no Rio de Janeiro com apenas 12 anos e, durante sua batalha em busca de oportunidades, pediu para participar de uma seleção de menor aprendiz, mesmo sem os R$ 10 da inscrição. “Sempre fui muito pidona porque não tinha condições mesmo. Cheguei no local e disse que não tinha o dinheiro para pagar, mas que eu precisava fazer aquela prova porque eu iria passar”, disse confiante.

A apostila do passageiro

Ela foi aprovada no curso técnico e, por anos, sustentou a família com o salário que recebia na confecção. Dentro de um ônibus, em 2012, observou um homem que lia uma apostila, que lhe respondeu, “se você estudar e passar em uma prova, você fica rico. Ganha dinheiro e estabilidade”. Nesse momento, a costureira traçou uma meta que mudaria completamente sua vida.

Decidida a prestar Concurso Público, a rotina na confecção não permitia que ela reservasse um tempo para estudar. “Eu sentava na máquina, ia trabalhando e assistindo a vídeo-aula. Quando largava meia-noite é que eu parava um pouco e lia as apostilas durante a madrugada [...] como eu não sabia de nada, optei em começar por vídeo porque eu tinha facilidade de aprender escutando”, comenta.

Após dois anos, realizou sua primeira prova, a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas não passou. Nesse momento, Maiara confessa que se sentiu incapaz. Contudo, ao invés de desistir, se inscreveu para o concurso do TRE e largou o trabalho para intensificar sua busca pelo sonho.

Por elas e para elas

Além de estudar grávida, a servidora comenta que perdeu etapas da infância das filhas, hoje com 12 e 5 anos, para continuar com o plano de melhoria para toda a família. “Eu passava o dia inteiro trancada no quarto. No final do dia, brincava com elas um pouco e logo voltava para o quarto e ia estudar novamente”, recorda.

Nomeada em meio à desconfiança, Maiara superou a matéria que tinha mais tinha dificuldade, a Língua Portuguesa, e hoje pode escrever capítulos mais agradáveis da sua história ao lado da família.

O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 já está liberado. Aos que já viram o desempenho individual e estão pensando "tirei nota baixa e não vou conseguir passar", este momento é bastante comum e causa, na maioria dos vestibulandos, um sentimento de frustração.

Entender que se dedicou ao máximo e, mesmo assim, não obteve o resultado esperado, pode gerar um decepção. Mas, a pedido do LeiaJá, professores enviaram mensagens de apoio para ajudar os estudantes a saberem lidar com esses sentimentos e dicas do que fazer se a nota tirada foi baixa. Confira:

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O professor de português e redação Diogo Xavier pontua que a nota não define a dedicação e o tempo aos estudos que os vestibulandos deram. “Para quem tirou nota baixa, a questão é saber que aquela nota não representa a sua capacidade, já que o Enem tem muitos fatores que influenciam”, comentou. Ele reforça que neste momento, o importante é fazer um balanço geral e entender no que pode melhorar.

“É importante tirar um tempo considerável para fazer um balanço e poder traçar um plano de ação para este ano, e também, um cronograma com base nas dificuldades e naquilo que deu certo, para assim fazer um plano de organização de estudo mais eficiente”, explica.

Lourdes Ribeiro, também professora de redação e Linguagens, acredita que os estudantes podem rever as áreas que "se deram mal' e fazer um cronograma de estudos. O importante para ela é não desanimar. “Refazer as questões para apurar mais ainda o que realmente tem dificuldade e levar essa prova como aprendizado e não como uma derrota. O grande segredo é esse. Se organizar para dividir o horário de estudo, mas também dar um descanso. É necessário fazer esse cronograma pensando no equilíbrio”, aconselha.

Em uma mensagem de apoio, o professor de geografia e psicólogo clínico, Dino Rangel, fala: "Queria dizer para você nesse momento difícil que eu posso imaginar o que você está passando. Tem um ditado que diz: ‘só sente a dor do calo quem calça o sapato’, e é verdade. Só você sabe o que fez ou deixou de fazer. Essa expectativa que nós criamos, nem sempre acontece como esperamos.”

Segundo o docente, há pontos importantes que valem refletir. “Primeiro, você não conseguiu? Não quer dizer que você não vai conseguir mais. Segundo, a sua vida é muito mais do que uma prova, é um conjunto de situações, e se você está vivo, você tem esperança e pode seguir em frente. Terceiro, para alcançar um objetivo, uma meta, é necessário traçar planos e estratégias eficazes que requerem dedicação e descanso. Nós temos agora uma nova oportunidade em 2021. O que você pode fazer diferente por você que não tenha feito antes? Já parou para pensar sobre isso? Como já dizia Renato Russo, quem acredita sempre alcança. Então acredite, você vai alcançar!", finalizou.

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Saúde, amor e renovação. Esse é um dos vários desejos para a chegada de um novo ano dito por milhares de brasileiros, sobretudo para quem passou por um ano tão turbulento quando 2020. Assim também é para a operadora de telemarketing Daleth Dantas, 24 anos, que meio a pandemia da SARS Covid-19, infectada pelo vírus e sem saber o que o futuro reservava, afirma que o ano novo começou mais cedo e tem significado de renascimento e gratidão.

Moradora do bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, Daleth, que é estudante de jornalismo, diz ter sentido os sintomas do novo coronavírus em 13 de abril, logo no início da pandemia, durante o expediente na empresa que trabalha. “Neste dia, todos ao meu redor na sala de treinamento no trabalho estavam gripados e foram direcionados ao ambulatório da empresa e os que estavam se sentindo mal foram direcionados a procurar atendimento médico, como eu achava que era apenas uma crise não fui ao médico”, explica a operadora de telemarketing.

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Após esse episódio, pensando ser apenas o princípio de uma gripe, Daleth foi para casa e a noite os sintomas foram mais fortes. “Quando chegou a noite o corpo amoleceu e começou a febre. E fui levada para a Upinha 24h Moacyr André Gomes na Avenida Norte, lá identificaram que eu era de risco estava mantendo contato com uma profissional de saúde, na época nem tinha os testes e eu só fiz por ser filha de profissional de saúde”, relatou.

Por ser filha da enfermeira Ana Dantas, 52 anos, Daleth diz que teve acesso facilitado ao exame para confirmar a infecção pelo vírus, realizado no dia 15 de abril, na unidade de saúde Mário Ramos, localizada no bairro de Casa Amarela, Zona Norte. No entanto, nos dias seguintes, o quadro de saúde da recifense piorou. “Era sábado, comecei a ficar letárgica (lenta ou esmorecida) e voltei ao Hospital dos Servidores do Estado (HSE), desta vez fizeram um raio-x e identificaram uma infecção no pulmão, mesmo assim me mandaram para casa”, relembrou com pesar.

Dias depois, Daleth voltou a ser socorrida, dessa vez ela não conseguia respirar e foi levada para o Hospital Agamenon Magalhães (HAM), que tornou-se a unidade de referência em atendimento aos contagiados pela Covid-19. Assim a operadora de telemarketing, que estava afastada do trabalho, foi internada e entubada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

“Lembro de perguntar o que a médica estava falando, minha mãe não quis responder e eu insisti até a médica me falar o que era. Daí eu me lembro de poucas coisas, entrei em coma induzido na madrugada do dia 22 e acordei no dia 1º de maio”, contou à reportagem do LeiaJá.

Ao longo do ano de 2020, enquanto ocorriam agravamentos do quadro de saúde de Daleth, o número de infectados pelo vírus também avançava. Com quase dez meses convivendo com a Covid-19, Pernambuco totaliza 222.166 casos confirmados da doença, sendo 29.377 graves e 192.789 leves, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), até o dia 31 de dezembro de 2020.

Após dez dias em coma induzido, respirando com ajuda de aparelhos, Daleth passou por mais momentos de incertezas. “De repente faltou ar. Não tinha mais ar. Tentei puxar o tubo no impulso, me seguraram e o ar voltou, seria a segunda parada... Na primeira eu passei quatro minutos desacordada, fizeram massagem cardíaca e usaram desfibrilador para me reanimar”, descreveu Daleth, com emoção.

Para a sorte e conforto da paciente, sua mãe Ana Dantas, pode manter as visitas mesmo em outro hospital. Um afago no coração de Daleth, mas que a maior parte esmagadora de pacientes não puderam desfrutar, devido às restrições impostas pela Covid-19. Até o último dia do ano de 2020, o Estado totalizava 9.654 mortes pelo vírus. No país, o Brasil contabiliza quase 195 mil mortes.

A recuperação e o nascer de uma nova vida

Mesmo depois de viver momentos de terror, agora, respirando e se alimentando por conta própria, Daleth conta que uma dor na perna esquerda ficou e essa sequela da Covid-19 permanece até hoje. “Comecei a me alimentar sem sonda e tive que caminhar na UTI, para ver se essa dor na perna não era com relação ao tempo parada. Mas a dor não passava”, explicou.

Daleth disse que a perna doía menos quando ela ficava sentada, mesmo com medicação. E assim passou mais um noite. “Informamos a médica do plantão que a dor não passava e suspeitaram de dor neuropática, passaram a medicação, eu dormi de novo sentada e chegaram para me buscar”, contou.

No dia 5 de maio de 2020, Daleth foi a primeira paciente a sair da UTI. “A dor foi embora, mas a não sensibilidade ficou e até hoje uma grande parte da minha perna esquerda não tem sensibilidade, eu não sinto nada além de formigamento… Eu não tive muito tempo para lidar com isso, eu só fui sobrevivendo”, detalhou a reportagem.

Apesar de todo sufoco vivido por Daleth, durante dois meses de internamento, o ano novo tem significado de gratidão. No entanto, na visão dessa jovem guerreira que venceu a batalha contra a Covid-19, “desde que eu saí do hospital pra mim já era ano novo”. Ela saiu do hospital no dia 12 de maio de 2020.

“Com a esperança da vacina para este ano (2021) que está vindo, o significado para mim é gratidão por eu conseguir ter permanecido, de Deus permitir que eu vencesse essa doença tão triste”, reforçou a recifense com entusiasmo.

E para 2021, Daleth só deseja voltar para faculdade - que seguiu trancada no sétimo período do curso de jornalismo-, viajar durante as férias, além de poder ir a um jogo do Náutico, seu clube de futebol do coração. “Vou comemorar o meu renascimento”, afirmou Daleth, que diz ter sido abençoada pela vida.

 

O documentário “Movido a Futebol- A Campanha” integrará a programação do 11º Cinefoot, festival de cinema realizado entre os dias 20 a 27 de novembro, de forma online e gratuita. O filme, que possui exibição marcada para o dia 22, conta a história do time de futebol amador Milan dos Coelhos, fundado no Recife por Evinho Bonfim- que sofre de paralisia cerebral espástica.

A produção contou apenas como recursos próprios e com o trabalho voluntário da equipe de filmagem e edição, tendo ocorrido por iniciativa de Rafael Dourado. É ele, aliás, o responsável pela campanha Movido a Futebol, uma iniciativa para levantar fundos e parcerias, no sentido de patrocinar projetos amadores e sociais. “No início era para ser só uma campanha, mas a gente acabou virando membro da família de Evinho”, brinca Dourado.

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O filme expõe as precárias instalações do futebol de várzea no Recife e só pôde ser gravado a partir de uma série de ajustes de horários da equipe, que possui outros empregos. A produção ainda cita a dificuldade de conduzir Evinho Bonfim, em sua cadeira de rodas, para os locais de filmagem, dados os obstáculos ao deslocamento de pessoas com deficiência.

“Nós queríamos mostrar um pouco mais da história de Evinho e do Milan dos Coelhos e fazer com que ela chegasse mais longe, queríamos que mais gente conhecesse essa história. Dessa forma, esperamos realmente fazer a diferença. Estou muito feliz com a nossa seleção para o festival”, comenta Dourado. A exibição da versão mais longa do documentário ocorrerá na TV Futura, no dia 20 de novembro.

Em julho de 2019, o Padre Marcelo Rossi passou por um incidente inusitado e inesperado. Ao celebrar uma missa em Cachoeira Paulista, em São Paulo, o religioso foi empurrado por uma mulher e caiu do altar. A experiência traumática deu origem ao livro Batismo de Fogo, no qual o padre relata o ocorrido e conta como a experiência mudou-lhe a vida. 

Em Batismo de Fogo, o padre Marcelo detalha o dia e os eventos que lhe renderam muitas dores e algumas escoriações. Em entrevista ao G1 ele falou sobre o incidente. "Quando eu fui empurrado, eu não perdi a consciência. Essa não foi uma experiência de morte, mas foi uma dor tremenda. Eu passei dias com espasmos. Mas havia uma força dentro de mim que me dizia". 

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O religioso escolheu esse momento de pandemia para o lançamento do livro por ver um paralelo entre o atual contexto e a situação vivida por ele no passado. “Esse é um momento de reflexão para um resgate. Somos frágeis. É um novo nascimento para todos nós. A pandemia é o nosso batismo de fogo”. O livro já está à venda em todo o país. 

Uma jovem de 19 anos resolveu celebrar a perda de peso de uma forma diferente. Estudante de Letras, Hannah Martins, decidiu doar para famílias carentes a mesma quantidade de quilos perdidos, em arroz. Para cada cinco quilos queimados ela comprou um pacote de arroz - de peso equivalente - para distribuir entre famílias da cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, que perderam a renda durante a pandemia da Covid-19.

Ao todo, foram 36 quilos perdidos por Hanna. Antes de fazer a doação, ela chegou a tirar foto com sete pacotes de arroz para ilustrar a conquista. A imagem chamou atenção dos internautas e acabou viralizando nas redes. Foram 10 meses entre dietas e exercícios, para conseguir chegar ao peso desejado. 

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Em novembro do ano passado, a jovem pesava cerca de 100 quilos. Foi nesta época que decidiu começar uma rotina de exercícios e reeducação alimentar para tentar chegar ao índice de massa corporal (IMC) adequado. Cinco meses após o início do projeto, a estudante já tinha atingido 75 quilos. No Instagram, diversas pessoas têm compartilhado mensagens de apoio e incentivo.

Além de ter a pandemia como um obstáculo para para acompanhar as aulas, Alan Somavilla, de 11 anos, precisou enfrentar outro problema, em Estrela Velha, na Região Central do Rio Grande do Sul (RS). A ausência de internet obrigou que seu pai, Odilésio Somavilla, construísse uma barraca com madeira e lona em meio a uma lavoura para que ele conseguisse sinal e assistisse às aulas virtuais, segundo informações do G1 Sul.

A família mora em uma área rural da cidade de pouco mais de 3,6 mil habitantes. Alan está no 6º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Itaúba. Até pouco tempo atrás, a família não tinha nem um telefone celular.

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A diretora da escola em que o garoto estuda, Giovana Dalcin, publicou nas redes sociais que “estamos vivendo um momento único na história e precisamos nos reinventar e foi o que esta família fez, se reinventou, buscou alternativa”.

Em entrevista ao G1, Giovana comentou que o colégio fornece material impresso aos estudantes. Porém, para acompanharem as explicações dos professores, eles precisam acessar às aulas na plataforma Google Classroom, e outras crianças, além de Alan, relataram problemas semelhantes. "É um lugar com muitos morros, onde o sinal da internet é ruim, e, em muitos desses lugares, inexistente. Tem alunos que precisam pedir sinal emprestado a vizinhos, subir em morros, subir em árvores", relatou.

Giovana ainda contou que foi professora de Alan e, conversando com o pai, soube que a casa onde o menino mora é longe da escola ou da residência da tia para assistir às aulas online. A solução da família foi comprar um celular usado, já que um notebook era mais caro, e aderir a um plano de dados limitados de R$ 40.

"Eu venho aqui acompanhar as explicações das professoras, as aulas, porque antes eu não tinha nem o telefone", conta Alan. O menino saiu pelo terreno até encontrar um lugar onde tivesse sinal. Próximo ao rio Jacuí foi que Odilésio construiu uma sala de aula improvisada para que filho acompanhar as videoconferências.

"Nós compramos um telefone para ter acesso à internet, mas como o sinal lá em casa não pegava bem, eu tive a ideia de fazer a barraca aqui perto da lavoura, onde o sinal é melhor. Construí com pedaços de madeira e coloquei uma lona por fora para quando, se é frio ou chuva, o Alan possa vir estudar. A gente, como pai, ajuda como pode", disse Odilésio Somavilla em entrevista ao G1. 

"É muito emocionante e gratificante para nós educadores a atitude desse pai, em construir para o seu filho um meio para que ele possa dar continuidade ao estudo, pois são atitudes como esta que nos dão força, que nos dão energia para seguirmos em frente", conclui Giovana.

Quem diria que uma crise de saúde possibilitasse o autoconhecimento e apresentasse novas perspectivas? Muito antes da pandemia da Covid-19, a vida de João Stanganelli, de 64 anos, sofreu uma reviravolta após um infarto. Sem se abater, aprendeu no repouso as habilidades do crochê com a esposa Marilena e reverteu a condição em um projeto pessoal de representatividade. Hoje, o artesão é um exemplo de ‘empreendedorismo de superação’ e exporta suas peças para o mundo.

Morador de Bragança Paulista, município do interior de São Paulo, João trabalhava no setor culinário e cumpria viagens pelo Brasil até sofrer o infarto em 2016. Portador do vitiligo, ele se entregou à agulha de crochê durante a recuperação e conta que a clareza das instruções da esposa fez com que aprendesse rapidamente os pontos de linha.

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O artesão lembra que logo cansou de reproduzir peças genéricas e idealizou um presente especial para a neta se sentir próxima enquanto estivessem distantes. "Queria fazer alguma coisa que marcasse e me representasse, e aí surgiu a Vitilinda. Eu fiz essa boneca e apanhei. Levei cinco dias para fazer uma bonequinha, que hoje a gente faz rapidamente [aproximadamente em um dia]", relembra ao LeiaJá.

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O amor por cada etapa do processo de criação e o cuidado em fazer um produto com identidade, diferente da tradição do mercado, trouxe reconhecimento para as manchas da boneca Vitilinda e, consequentemente, uma enxurrada de encomendas. A variedade dos pedidos estimulou o lado empreendedor de João, que se preparou para ampliar os horizontes e abordar a representatividade em suas obras. "A minha boneca tem personalidade mesmo porque a gente procura fazer como a pessoa é. Tem gente que só tem uma mancha no rosto, só nos braços ou nos pés [...] Ela é personalizada em cima de uma foto que a pessoa manda e, dentro dos limites do crochê, a gente tenta aproximar ao máximo", explica.

Com muita determinação, João estudou abordagens além do nicho dermatológico e hoje confecciona bonecas cadeirantes, traqueostomizadas, com alopecia, limitações visuais e toda a infinidade de possibilidades que a imaginação e a crochetagem podem reproduzir. "O mundo tem que ter isonomia e ser igualitário", reitera.

Como aproveitar o tempo livre?

O talento tornou-se um negócio lucrativo e já lhe rendeu experiências e agradecimentos inimagináveis. Analisando a trajetória e os motivos que o fizeram entrar no crochê, o faz concordar que 'após a tempestade, vem a bonança' e a pandemia deve ser encarada como oportunidade.

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"Esse espaço que a vida está nos concedendo é interessante para pensar em fazer coisas que você achava que não poderia. É um momento para você extravasar toda sua criatividade e procurar novas formas. Esse momento acaba sendo muito rico", aconselhou.  

Embora confesse que a paralisação decorrente da Covid-19 desacelerou as vendas, João garante que as agulhas seguem a todo vapor e usa o tempo como ócio criativo para planejar novas criações. "Tá tudo parado. Eu tenho bonecas prontas para mandar para Alemanha e Estados Unidos, até já estão pagas, mas ainda tô esperando abrir os Correios internacional. Mesmo assim a gente não parou de trabalhar, diminuiu bastante, mas não deixamos", ressalta ao destacar que pretende investir no ateliê para ampliar a produção.

Para a maioria dos aprovados em universidades públicas do país, o primeiro passo para um futuro promissor está sendo dado agora, ainda na adolescência. Porém, o reconhecimento que acontece quando idosos superam suas limitações e conseguem ingressar junto aos jovens em um curso superior, mostra que não existe idade para correr atrás dos sonhos.

Carlos Augusto Saré de Melo, agricultou no município Magalhães Barata, região Nordeste do Pará, foi aprovado no curso de filosofia na Universidade Do Estado Do Pará (UEPA). O assunto ganhou destaque nas redes sociais, e, aos 65 anos, ele comemora sua aprovação à moda paraense, “Aqui nossa comemoração é emocionada, exagerada, alegre e contagiante. O paraense ENDOIDA! Aqui estão algumas fotos de alguns calouros, espero que elas transmitam a vocês a energia boa que o Pará inteiro está emanando!”, diz o texto ao lado de sua imagem publicado na página do Instagram do O Lado Bom das Coisas.

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Após 50 anos longe das salas de aula, o agricultor prova as pessoas que não há idade certa para conquistar seus sonhos. Carlos estudou no cursinho solidário em sua cidade e emocionou internautas com sua história. O assunto ganhou destaque na internet: “Hoje é dia de felicidade em Belém do Pará! Saiu o resultado das duas universidades públicas, a UEPA e UFPA. Aqui o listão sai na rádio, o coração acelera, a gente se arrepia, a emoção é muito grande pra todo mundo”, diz um trecho do texto da publicação no Instagram.

Outro exemplo de conquista, Alcyr Ataíde Carneiro, chegou na terceira idade convicto em ingressar em uma universidade. Em 2020, conquistou o terceiro lugar no curso de enfermagem na Universidade Federal do Pará (UFPA). Essa aprovação foi divulgada nas redes sociais e repercutiu entre os internautas.  

O perfil ainda publicou sua imagem com a seguinte legenda: “Nunca é tarde para estudar!! Este senhor acaba de passar em enfermagem na UFPA!! Mais uma prova de que nunca é tarde para correr atrás dos nossos sonhos”.

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Quem vê a bailarina Gemille Sales nem imagina o que ela já passou. Sempre com um sorriso no rosto, Gemille é daquelas pessoas que gostam de conversar e o otimismo está em tudo o que fala. “Quero passar sempre uma expressão positiva para as pessoas”, diz. E nem um câncer de mama a fez mudar.

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Em 2018, ela foi diagnosticada com a doença. Gemille lembra que fez os exames de rastreamento em junho de 2017 e não tinha nada. Em fevereiro de 2018, ela percebeu um nódulo no seio, mas só procurou médicos em março. O diagnóstico foi confirmado em abril. A operação foi em junho, seguida de quimioterapia. Hoje, a bailarina está curada. 

“O câncer me ensinou que a gente não sabe o dia de amanhã. Sempre me cobrava demais, tinha que dar conta de tudo, era ansiosa demais. Hoje, sou mais calma, não me cobro excessivamente, mas vivo intensamente o hoje e não adio mais o que eu sinto vontade de fazer, meus sonhos. Se quero viajar, não espero pelo próximo ano, já programo e vou”, ensina. “Eu procuro levar uma vida normal. Eu quero mostrar para todo mundo que minha vida não parou por causa do câncer”, afirma.

A rotina de Gemille inclui caminhar, ministrar aulas de dança e frequentar academia para fazer musculação. Aos sábados, ela mantém um grupo de dança do ventre, formado por mulheres em tratamento contra o câncer. 

Gemille lembra que só parou de frequentar a academia durante a quimioterapia, que era muito forte e ela ficou com resistência muito baixa. Mas manteve a prática de atividade física em casa - fazia alongamentos e enviava os vídeos para as amigas da academia.

Nesse período também começou a participar de bate-papos com grupos de mulheres, onde relatava sua experiência desde o diagnóstico, e incentivava a prática de atividades físicas.

Iniciar uma atividade física é fundamental para a melhor qualidade de vida. Recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática regular de exercícios traz inúmeros benefícios para o corpo e mente e contribui consideravelmente para o aumento da expectativa de vida da população.

Neste mês, a campanha Janeiro Dourado, idealizada pela Sociedade Paulista de Medicina Esportiva, incentivaa a prática de atividades físicas com acompanhamento médico. É o mês da saúde do atleta.

Para especialistas como Maxwell Maltz e Charles Duhigg, autor do livro “O Poder do Hábito”, são necessários no mínimo 21 dias para que uma velha imagem mental se dissolva e uma nova imagem ocupe o seu lugar. Já no quesito fisiologia, o corpo necessita de 8 a 12 semanas para se adaptar a essa nova rotina e aos estímulos. No entanto, cerca de 64% das pessoas abandonam a prática nos primeiros três meses, antes mesmo de obter uma resposta neuromuscular.

“Não podemos desistir, principalmente quando pensamos em uma vida com mais qualidade e longe de doenças graves, como o câncer”, destaca a oncologista Paula Sampaio, do Centro de Tratamento Oncológico (CTO).

A prática de atividade física regular é a medida mais eficiente e completa no combate ao câncer. A ciência já comprovou que os exercícios diminuem a incidência de 20 tipos diferentes de câncer.

Para a prevenção de câncer, as pessoas devem se exercitar entre 2,5 a 5 horas por semana, em atividades com intensidade moderada, ou 1,25 a 2,5 horas de atividade intensa.

“A atividade física tem papel fundamental em todos os momentos e para todas as pessoas. Para quem está em tratamento do câncer, se exercitar melhora autoestima e ajuda a tolerar melhor os efeitos colaterais do tratamento”, explica a oncologista Bianca Lastra. “Para quem já terminou o tratamento do câncer, reduz a recidiva da doença e para quem está em tratamento paliativo, melhora consideravelmente a eficácia do tratamento e qualidade de vida do paciente”, complementa a médica.

A atividade física também diminui sintomas de depressão no paciente em tratamento. Isso ocorre por vários motivos: liberação de endorfina, melhor tolerância ao tratamento, melhora da autoestima. Pacientes que adotam hábitos saudáveis e tornam-se fisicamente ativos melhoram o seu condicionamento; traçam novas metas, o que ajuda a mudar o foco e esquecer pensamentos negativos relacionados ao tratamento e a doença.

 “Como pretendemos que nossos pacientes tenham uma vida longa e principalmente com qualidade, o tratamento multidisciplinar com médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos e outros profissionais se torna fundamental para que nossos pacientes possam enfrentar adequadamente este momento, retirando o máximo de benefício, sem nenhum risco a saúde, para torná-los pessoas saudáveis, com estilo de vida e pensamentos muito melhores que em outros momentos de suas vidas”, avalia Paula.

Com informações de Dina Santos, da assessoria do CTO.

 

 

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