Quem observa hoje Sofia, que em breve irá completar 5 anos de idade, olhando nos olhos de quem fala com ela, demonstrando seus sentimentos com contato físico como um abraço e sorridente, não imaginaria que há um ano e meio a menina tinha atitudes totalmente diferentes. O comportamento atual de Sofia parece comum em qualquer criança, mas, não no caso dela, que possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA), mais conhecido como autismo. O TEA, ainda pouco conhecido, revela um problema muito maior: o preconceito, um mal que se perpetua e que faz, muitas vezes, famílias isolarem os seus filhos autistas.
No Dia Mundial da Conscientização Autista, comemorado neste domingo (2), é a oportunidade de contar e se espelhar na história de superação dela. Aos três anos, a pequena não olhava nos olhos de ninguém e parecia se isolar em seu próprio mundo. É que o autismo tem essa característica de afetar o desenvolvimento no sentido das habilidades de comunicação social e comportamentos antissociais, entre outros sintomas.
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O que muitos desconhecem é que o amor incondicional da sua mãe Andréia Pereira, do seu pai Pedro Colaço, e dos familiares, com a certeza de que um autista é uma pessoa como qualquer outra, além dos tratamentos terapêuticos, fizeram toda a diferença.
Não se sabe, ao certo, as causas que ocasionam o TEA. Muitos especialistas contam que o fator é genético. Outros acreditem no fator ambiental, ou seja, uma criança que esteja em um ambiente onde não se há estímulo pode gerar uma pré-disposição.
Andréia relembra que, até 1 ano e 3 meses de idade, Sofia teve um desenvolvimento normal. Segundo ela, a criança começou a regredir na fala e em outros aspectos, após tomar a vacina tríplice viral. “Mas não se sabe se esse foi o motivo, mas muitas mães que conheço passaram pelo mesmo. Com o tempo, começamos a perceber que tinha alguma coisa diferente, só não sabíamos o que era”.
A certeza do diagnóstico aconteceu, por volta dos dois anos, quando Sofia foi matriculada no colégio. A mãe conta que, após alguns meses, os professores a convidaram para uma reunião e informaram que a menina se isolava e recomendaram levá-la a um neurologista. Foi quando descobriu. Foi um choque para Andréia, mas a tristeza não podia demorar. “Eu sabia que não podia perder tempo com o luto para não aumentar a regressão dela. Tinha que ser rápida. Do luto eu fui para a luta”, ressaltou.
A primeira atitude foi ir atrás dos tratamentos necessários. No SUS, não obteve sucesso. Os profissionais, entre outras dificuldades, faltavam. Precisou procurar plano particular, que não quis se responsabilizar pelos diversos tratamentos necessários. Foi para a Justiça e venceu. Ao todo, Sofia passa por um tratamento multidisciplinar intensivo de, no mínimo, 40 horas por semana. Entre eles, o terapêutico, fonoaudiólogo quatro vezes por semana, psicólogo e acompanhamento biomédico de suplementação para verificar os nutrientes necessários para ela. Ela também é acompanhada para desintoxicação de metais pesados no organismo porque o autismo também traz comorbidades associadas como intestino inflamado, segundo Andréia.
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A mãe de Sofia salienta que esses estímulos devem acontecer 24 horas por dia, com persistência. “É uma batalha diária. O importante é nunca desistir. Você nasce todos os dias. Os pais, às vezes, perdem a identidade para dar o melhor tratamento. No final, tudo é prazeroso porque você está vendo a evolução dela, que vai dando força para continuar sempre buscando mais”, ressaltou.
Ela reconhece que a filha está inserida em um quadro animador pelas possibilidades que possui para enfrentar o TEA. Questionada sobre as famílias que não têm condições de oferecer o mesmo tratamento dado a Sofia, ela foi direta. “Eles se tornam autistas severos. Eles vão regredindo por falta de atendimento”, lamentou.
Autistas severos ao que se refere se trata dos tipos causados pelo transtorno. De acordo com a nova edição do Manual Diagnóstico e Estatísticas de Transtornos Mentais (DSM), elaborado pela Associação de Psiquiatria Americana, existem três tipos: leve, moderado e severo, no caso deste último, uma das maiores preocupações é a autoagressão, por exemplo, bater a própria cabeça na parede causando um sofrimento ainda maior para a família.
Andréia pede por mais amor na sociedade e menos preconceito, o que é fundamental para a saúde mental dos pais. “Os autistas são pessoas normais, o que não é normal é o preconceito. Para os pais, o dia 2 de abril são todos os dias, mas para a sociedade é um momento importante para lembrar que o preconceito que é um transtorno, uma doença viciante. Antes de julgar, a melhor forma é ter o conhecimento sobre o assunto”, pediu.
Segundo os especialistas, os autistas podem apresentar habilidades criativas extraordinárias até mesmo serem superdotados, quando uma pessoa possui uma capacidade mental acima da média. Um superdotado possui uma aptidão, seja artística, esportiva ou mental que parecem ser inatas, ou seja, não se explica como aprendeu. Outros portadores tem uma sensibilidade sensorial fora do comum sendo em um ou em mais dos cinco sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar.