Em café de manhã com jornalistas, a presidente Dilma Rousseff avisou que seu governo "não tem nenhum compromisso com qualquer prática inadequada". "É tolerância zero", afirmou, referindo-se a possíveis malfeitos dentro do seu governo. Ela evitou citar especificamente o caso do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, novo alvo de denúncias de tráfico de influência. Assegurou que "não há dois pesos e duas medidas" no tratamento das denúncias e na demissão de ministros. "O que ocorrer dentro do governo não será tolerado", garantiu.
Para a presidente, não houve momento de desgaste por conta da troca recorde de ministros em seu primeiro ano de governo. "Foi um momento de dificuldade. Não acho que foi um momento de desgaste. Lamento. Muitos ministros eram pessoas que eu considerava capazes. Mas o governo superou isso", afirmou. Sobre a demissão do então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, Dilma disse que ele saiu do governo porque quis. Ela lembrou que em muitos casos a pressão é tão forte que o próprio ministro decide sair.
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Reforma ministerial - Não haverá redução de pastas com a reforma ministerial que a presidente pretende fazer no início do ano. Ela chegou a ironizar as notícias que saem na imprensa sobre as mudanças. "Vocês vivem falando que vai ter reforma". Ela fez questão de descartar a possibilidade de serem extintas pastas que ela considera estratégicas, como as secretarias de Igualdade Social e de Políticas para as Mulheres.
"Não é isso que faz a diferença no governo. Cada ministério tem um determinado tipo de responsabilidade imensa. Quem não enxerga isso é porque não conhece o governo internamente", disse. Dilma ironizou ainda notícias de que ela privilegia encontro com alguns ministros, como Guido Mantega, da Fazenda, Fernando Haddad, da Educação e Alexandre Padilha, da Saúde. "Acho isso engraçadíssimo. São diferentes demandas", afirmou.
Reajuste do Judiciário - Dilma afirmou ainda que o aumento dos salários do Judiciário "é uma questão do Congresso". A presidente justificou, ainda, que o País ficaria fragilizado se tivesse uma política de gastos sem controle. Por isso, disse que "não é hora de dar reajuste a ninguém", em referência ao aumentos salariais do funcionalismo público. "Não coaduna com o momento. Ninguém é melhor do que ninguém", defendeu.
Questionada se o dinheiro para o reajuste não sairiam de uma mesma fonte do Tesouro Nacional e que o governo não teria como impedir que fosse concedido, a presidente evitou polemizar, falando que não faz análises sobre outros poderes. "Não compete a um presidente fazer isso", disse. Dilma ressalvou, no entanto "que não é crime pedir aumento salarial. É algo que as categorias podem pedir".
Crise e cenário econômico - O Brasil está em uma situação melhor para enfrentar a crise no atual momento "porque temos recursos próprios. Temos mais do antes", avaliou Dilma. A presidente informou que o Brasil aprendeu muito com a crise de 2009 e comentou críticas que o governo vem recebendo de que poderia enfrentar problemas no crédito. "Dizem que vamos ter problemas de crédito", disse a presidente, explicando, no entanto, que o Brasil tem usado crédito para enfrentar a crise.
"Passamos de R$ 400 bilhões para quase R$ 2 trilhões. Na verdade, foram quase R$ 1,94 trilhão e nós não recorremos ao orçamento", disse a presidente, lembrando que o governo tem instrumentos com o alto volume de depósitos compulsórios. "Temos margem de manobra na política monetária", reagiu a presidente. "Temos capacidade de investimento, tanto do ponto de vista do governo, quanto da iniciativa privada", declarou.
Ao falar sobre cada um dos setores da economia, a presidente Dilma destacou o empreendedorismo do brasileiro e disse que o Brasil tem uma indústria. "Ela não foi sucateada", afirmou, lembrando que "algumas estão intactas e a outras apenas falta um elo. Outras empresas terão de progressivamente agregar valor". "Este governo tem uma política industrial", ressaltou.
A presidente acredita que o mercado brasileiro não tem de ser necessariamente fechado. "Uma parte do mercado tem de estar aberto para não criar feudos que são ineficazes e ineficientes", afirmou. "Temos de olhar a crise como oportunidade para acelerar o nosso crescimento. Confio muito na iniciativa privada", disse.
Ela vê o cenário para 2012 como de crescimento do Produto Interno Bruto(PIB) de 4,5 a 5. "A meta é 5%. A meda do Guido (Mantega, ministro da Fazenda) é 5% , de toda a área econômica é 5%. Tenho certeza que a inflação fica sob controle e manterá a trajetória de curva descendente suave", afirmou a presidente, em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto.