Tópicos | Chico Mendes

A ex-senadora Marina Silva (Rede) questionou, nesta segunda-feira (15), o que chamou de “ideologias autoritárias e negacionistas” que ignoram a contribuição de nomes nacionais como o do educador Paulo Freire e o ambientalista Chico Mendes para o desenvolvimento do país.

“De que planeta são essas pessoas que não conhecem a contribuição de Paulo Freire, Chico Mendes e tantos outros?”, indagou a ex-candidata à Presidência da República.

##RECOMENDA##

“O perigo das ideologias autoritárias e negacionistas tão em voga é sua ignorância em reconhecer outras formas legítimas de pensar, ser e estar no mundo”, acrescentou Marina.

A indagação da ex-senadora surge dois dias depois do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) ir às redes sociais dizer que “falta o pessoal da esquerda agora dizer quem é Paulo Freire e o seu legado na educação nacional”. A fala gerou críticas ao filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e um debate em torno da “ignorância” sobre o considerado patrono da educação brasileira.

No momento em que desastres naturais e crimes ambientais atingem o Brasil, a exemplo dos recentes temporais no Rio de Janeiro e do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, o nome de Chico Mendes vem à tona como um dos grandes defensores na natureza, no País.

Tanto no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como em outros vestibulares, Chico Mendes é figurinha carimbada. Na edição de 2013 do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), uma questão de Ciências Humanas trouxe o nome do seringueiro como base para responder à alternativa correta. Na proposição, o estudante deveria escolher uma entre a cinco possibilidades. Confira a questão abaixo:

##RECOMENDA##

Segundo o professor de geografia Carlos Lima, a resposta correta é a letra “b”. “Uma das grandes lutas de Chico Mendes era contra a precariedade das relações de trabalho. A questão de Chico Mendes não era só de luta pelo meio ambiente, mas lutava também pela melhoria das condições de trabalho da floresta Amazônica, no setor extrativista, o primeiro setor da economia”, explicou.

Quem foi Chico Mendes

Nascido em 15 de dezembro de 1944, no Xapuri, cidade do Acre, Francisco Alves Mendes Filho foi um grande defensor na Amazônia. Ele era filhos de cearenses, que resolveram ir para a floresta em busca de uma vida melhor do que a do Nordeste, à época uma das regiões mais esquecidas pelo poder federal.

Como não havia escolas, Chico Mendes só foi alfabetizado aos 16 anos. Na sua infância e adolescência, acompanhou os pais nos seringais. Mendes entrou no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia como forma de lutar contra o desmatamento que atingia os seringais e ameaçava as atividades dos trabalhadores.

No ano de 1976, Mendes foi um dos encabeçadores do “empate às derrubadas”: consistente em reunir as famílias dos seringueiros, na área de acampamento dos trabalhadores que atuavam no desflorestamento, e derrubar as barracas e parar as motosserras. Por conta disso, o líder do sindicato, Wilson Pinheiro, foi morto na sede da associação em 1980, na Brasileia.

Matriz ideológica

O grande legado de Chico Mendes para a história foram as Reservas Extrativistas (Resex), consistentes em áreas preservadas ecológica e culturalmente. A ideia das reservas é assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da área, por meio de agricultura de subsistência e pecuária com criação de animais de pequeno porte. 

As Resex são de domínio público, com concessão às populações extrativistas tradicionais. Entre anos de 1987 e 1988, Chico Mendes ganhou o 'Global 500', prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos. Esse feito o fez ser reconhecido no mundo inteiro.

Morte

Apesar de toda a repercussão de suas ações, Chico Mendes não obteve proteção por parte do Estado. O seringueiro e grande nome da defesa do meio ambiente foi morto em uma emboscada, nos fundos da sua própria residência, pelo grileiro Darly Alves, em 22 de novembro de 1988.

A reverberação da sua morte ganhou proporções nacionais e internacionais, o que refletiu na imprensa da época a necessidade de trazer a história e a luta do seringueiro à tona. Em 1990, os acusados pela morte de Chico Mendes foram julgados e condenados. O fato, segundo o Instituto Chico Mendes, foi histórico para a justiça rural do Brasil.

Abordagem nos vestibulares

De acordo com o professor Carlos Lima, Chico Mendes é um personagem fundamental  para o entendimento do homem com o meio ambiente na questão Amazônica. “Normalmente em vestibulares, quando se cita Chico Mendes, normalmente é citado aquele Chico que lutava pelos direitos do trabalhador nos seringais, aquele trabalhador que tinha salários precários e não conseguia manter uma qualidade de vida digna. Pode ser citado também o Chico Mendes que lutava pela melhoria na preservação na região Amazônica”, pontua o docente.

Nos relatos do seringueiro, segundo Lima, ele deixava clara a relação entre a qualidade do trabalhador e a preservação da floresta. “Então ele é uma das figuras das mais importantes da história do Brasil e é fundamental para a gente entender essa relação que existe entre o homem e o meio, onde ele pregava uma relação harmoniosa, de interdependência entre esses dois aspectos”, concluiu o professor Carlos Lima.

Polêmica

Recentemente, o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, teve sua fala repercutida nas redes sociais. Em entrevista a um programa de televisão, Salles disse: “Que diferença faz quem Chico Mendes nesse momento?”, quando questionado sobre sua relação com o seringueiro.

O líder da pasta revelou que desconhecia a história de Chico Mendes e apenas tinha escutado relatos sucintos sobre sua vida. “Do lado dos ambientalistas, mais ligado à esquerda, há um enaltecimento do Chico Mendes. As pessoas que são do ‘agro’, que são da região, dizem que o Chico Mendes não era isso que é contado”, posicionou-se.

O líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Humberto Costa, fez duras críticas nessa terça-feira (12) à fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, contra o seringueiro Chico Mendes. Salles afirmou, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que Mendes usava a causa dos seringueiros para se beneficiar.

“Quem é esse idiota de Ricardo Salles para criticar Chico Mendes?”, perguntou Humberto Costa sobre o ministro do meio ambiente. Na opinião do senador, Chico Mendes - que é um ecologista premiado pela ONU e foi assassinado com tiros numa emboscada no quintal da própria casa, no Acre, nos anos 1980 - foi um dos maiores defensores dos direitos humanos no Brasil.

##RECOMENDA##

Já para Ricardo Salles, é plausível questionar a real importância de Chico Mendes tem nos dias atuais. “Ouço comentários dos ambientalistas mais ligados à esquerda, que o enaltecem. E também ouço pessoas do agro, que dizem que ele não era isso tudo que contam”, disse Salles durante a entrevista.

Em seu posicionamento, Humberto Costa ainda frisou a luta do seringueiro contra os poderosos na Amazônia, disse que ela foi reconhecida mundialmente e que essa história “não pode ser queimada por um ministro que faz joguete nas mãos do agronegócio, junto com a bancada ruralista, e é inimigo do meio ambiente”.

Por fim, o senador afirmou que é preciso medir Salles e Mendes pela régua da política, das lutas e da história. “Chico Mendes não caberá lá. É um gigante. Já esse tal de Salles não poderá ser medido. Só pode ser visto em microscópio”, finalizou.

 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi sabatinado na noite dessa segunda-feira (11) no programa Roda Viva, da TV Cultura, e soltou declarações polêmicas. Salles aproveitou seu tempo para alfinetar o líder seringueiro Chico Mendes, que é considerado mundialmente como uma das maiores referências da causa ambiental do Brasil.

O ministro confessou que não conhecia a fundo a história de Chico Mendes, mas que ouve relatos de todos os lados. “Ouço comentários dos ambientalistas mais ligados à esquerda, que o enaltecem. E também ouço pessoas do agro, que dizem que ele não era isso tudo que contam. Dizem que ele usava os seringueiros para se beneficiar”, disparou Salles.

##RECOMENDA##

As declarações de Ricardo Salles foram alvo de muitas críticas nas redes sociais logo após o fim do programa. Muitos internautas fizeram questão de lembrar do legado vivo deixado por Mendes, mesmo trinta anos após sua morte. A deputada federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, Talíria Petrone, disse que “Chico Mendes foi trabalhador, ativista, líder social, seringueiro, parlamentar, perseguido político, exemplo de luta. Deu sua vida pelo meio ambiente e foi covardemente assassinado pelo sistema. Respeite Chico Mendes, ministro”.

[@#video#@]

Ainda durante a entrevista, o ministro também confessou que não conhece a Amazônia e questionou o que importava quem era Chico Mendes atualmente. O ministro do Meio Ambiente também aproveitou o espaço para defender licenciamentos mais ágeis e até mesmo os auto-licenciamentos de empresas que vão atuar em áreas de preservação ambiental ou que suas atividades ofereçam riscos.

Os jornalistas presentes confrontaram o ministro com o fato de que as tragédias de Mariana e Brumadinho, ambas e Minas Gerais, aconteceram depois de licenciamentos relâmpago. Mas, segundo Salles, a ideia é adotar uma política de licenciamento que haja objetividade. Assim, segundo a lógica do ministro, os empreendimentos que ofereçam riscos, como os de mineração, vão ser melhor executados.

Questionado sobre possíveis punições aos responsáveis pelas tragédias ambientais e sobre respostas mais lúcidas em respeito aos familiares das vítimas, Ricardo Salles afirmou que a resposta está sendo dada através da presença de autoridades nos locais das tragédias. “O respeito às vítimas é essa resposta rápida, objetiva e a presença do governo em peso. Três ministros estiveram em Brumadinho no primeiro dia. O próprio presidente foi ao local”, finalizou o ministro.

Uma portaria do Ministério da Segurança Pública, divulgada no Diário Oficial de hoje, autoriza a utilização de homens da Força Nacional para atuar em auxílio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O pedido de ajuda foi feito pelo ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte.

A portaria autoriza que a Força Nacional opere por 180 dias na fiscalização das unidades de conservação federais, para coibir o desmatamento na região amazônica.

##RECOMENDA##

“O prazo do apoio prestado pela Força Nacional poderá ser prorrogado, se necessário”, diz o texto da portaria. Atualmente, 96 agentes da Força Nacional já atuam em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Chico Mendes, ativista político e ambiental brasileiro, recebe uma homenagem do Google nesta terça-feira (15), quando completaria 71 anos de idade. Ele aparece na página inicial do buscador em um desenho, extraindo látex de uma árvore. Aos nove anos, o garoto Francisco Alves Mendes Filho, natural de Xapuri, no Acre, entrou para a profissão de seringueiro. Indignado com as condições de vida dos trabalhadores e dos moradores da região amazônica, tornou-se um líder do movimento de resistência pacífica.

Ele organizou os trabalhadores para protegerem o ambiente, suas casas e famílias contra a violência e a destruição dos fazendeiros, ganhando apoio internacional. O ativista também lutou pela construção de escolas nos seringais. Ele acreditava que só o estudo era fundamental para conscientizar as pessoas sobre seus direitos. Chico só aprendeu a ler com 20 anos.

##RECOMENDA##

Em 1977, o líder seringueiro elegeu-se vereador pelo MDB em Xapuri. No ano seguinte, passou a receber ameaças dos fazendeiros locais, descontentes com sua atuação sindical. Em julho de 1987, Chico recebeu o Prêmio Global 500, concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU) às personalidades que mais se destacaram na defesa do meio ambiente. Na noite de 22 de dezembro de 1988, sete dias após ter completado 44 anos, foi assassinado na porta de casa. O crime foi presenciado por sua esposa e os seus dois filhos.

Com informações da Agência Brasil

Xapuri (AC) - A identificação na entrada da cidade é uma referência clara da luta dos seringueiros. “Xapuri, Cidade de Chico Mendes”. Com pouco mais de 16 mil habitantes, o município localizado na região do Alto Acre, a cerca de 180 quilômetros da capital Rio Branco, ainda conserva as características do interior. 

 

##RECOMENDA##

A cidade natal de Chico Mendes tem ruas estreitas, a maioria de blocos de pedra. Poucas são asfaltadas. Seu filho mais ilustre é lembrado em praticamente todos os cantos. Logo na entrada, está a fábrica de preservativos masculinos Natex, construída em parceira pelos governos estadual e federal. Criada para escoar a produção do látex, atualmente a empresa  não garante plenamente o retorno financeiro aos antigos soldados da borracha, que recebem pouco mais de R$ 7 pelo quilo do produto.

 

Perto do centro, a casa onde Chico Mendes viveu e morreu virou um ponto de cultivo à memória do seringueiro. Ao lado, foi erguido o Museu Chico Mendes, que abriga fotos, textos e objetos usados pelo líder sindicalista. A cidade também guarda traços dos conflitos que há 25 anos provocaram a morte de Chico Mendes e líderes sindicalistas.

 

Ao longo dos ramais, como são chamadas as estradas de chão batido que dão acesso às propriedades rurais – as colocações - é constante o cenário de áreas desmatadas para criação de gado. E os números confirmam: nos últimos 15 anos, o rebanho bovino no Acre saltou de 900 mil cabeças para mais de 3 milhões de animais.

 

“Hoje a questão da pecuária adentrou as comunidades rurais dos antigos seringais em função das necessidades. Na época, junto com Chico Mendes, os seringueiros defendiam a posse da terra, mas não estava definido que tipo de atividade econômica ia ser eterna. Naquele momento, era o extrativismo, porque propiciava o básico do básico do que se consumia na época”, disse a vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Xapuri, Dercy Teles.

 

Sentado à frente da casa de Chico Mendes, como costuma fazer quase todos os dias, o ex-seringueiro Luiz Targino de Oliveira, 81 anos, teme pelo futuro da floresta. “Quero ver daqui a alguns anos, quando não tiver mais nenhuma árvore e a seca comendo. Porque a briga é pelo dinheiro. O fazendeiro não está satisfeito em possuir mil cabeças de gado, quer possuir 5 mil e destruir. Porque, para ele criar muito gado, ele tem que destruir a natureza. Onde tem o único pulmão de floresta é na Amazônia”.

 

No Seringal Cachoeira, onde Chico Mendes viveu boa parte da vida, a criação de gado e a retirada seletiva de madeira fazem parte do dia a dia dos extrativistas. Os longos percursos, antes feitos a pé, hoje são desbravados por motos. A escola idealizada por Chico Mendes evita que os filhos dos homens da floresta precisem ir até a cidade para estudar. 

 

“Ninguém produz riqueza, mas vive com a barriga cheia e corpo coberto. Hoje, vemos nossos filhos ir para a escola e voltar porque a escola está aqui na casa dos seringueiros. A cada três horas de caminhada tem escola e também temos ônibus escolar. Então, é suficiente para a gente viver com a barriga cheia, corpo coberto e tranquilidade. Hoje, boa parte [das pessoas] tem geladeira e televisão. É uma vida que nem se compara com a vida que nós tínhamos aqui há dez, 20, 50 anos”, disse Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes.

Se estivesse vivo, Chico Mendes provavelmente estaria decepcionado com a situação das grandes cidades brasileiras. A deflagração do meio ambiente e o descaso dos governos com a questão da sustentabilidade seriam repudiados pelo ex-líder seringueiro. No próximo domingo (22), completa-se 25 anos da morte do ativista ambiental, como muitos na história, seu legado não é tão reconhecido pela sociedade.

Francisco Alves Mendes Filho foi morto na porta de sua casa, em Xapuri, no Acre, no dia 22 de dezembro de 1988. O crime foi cometido pelo fazendeiro Darly Alves da Silva e o seu filho Darci, acusado de ter disparado. Ao todo, os dois só passaram nove anos na prisão.

##RECOMENDA##

Nascido em dezembro do ano de 1944, Chico Mendes ganhou a vida extraindo látex das seringueiras da floresta amazônica. Por ser pobre e analfabeto, ele não teve outra opção a não ser entrar para o mesmo ofício do seu pai – até a década de setenta as escolas não existiam na região. Por conta disso, ele só começou a ter contato com a leitura aos vinte anos de idade. Na história, há relatos que o futuro líder seringueiro, aprendeu a ler por incentivo de comunistas que participavam das movimentações políticas do País.

Engajado nas ideias sócio-comunistas, Chico Mendes atuou na luta pela posse de terra contra os latifundiários da Região Norte. Ele chegou a sofrer ameaças de morte. A perseguição ao líder seringueiro ocorreu no contexto da ditadura militar. Acabou sendo preso e torturado. Na época, sua causa não teve tanta adesão dos pequenos agricultores, que eram ameaçados pelos fazendeiros locais.

“A trajetória de Chico Mendes é de suma importância para a região Norte e para o restante do País. Não só como sindicalista e seringueiro, foi ativista da preservação/difusão da Amazônia (coisa óbvia por seringueiro e ter consciência sobre seu trabalho). No meio político, representativo, foi vereador (MDB) e fundador do PT, na qual foi dirigente. Além da preservação da natureza, havia a luta por justiça social que culmina até hoje como uma grande escola para se organizarmos socialmente”, explicou o historiador Michel Chaves.

Em 1985, Chico Mendes liderou um movimento que ficou conhecido internacionalmente. No Encontro Nacional dos Seringueiros, sua luta ficou sendo mais conhecida pelo mundo, principalmente depois da ideia de se unir aos índios através da proposta chamada “União dos Povos da Floresta”.

“Não é fácil se contrapor e colocar um caminho alternativo, mas o Chico fez isso, vinculando-se a conceitos que estão atuais hoje, no outro século. Os que pensavam em acabar ou enfraquecer a sua causa, terminaram, de certa forma, produzindo um efeito contrário”, ressaltou o historiador.

Na semana passada, um senhor de 78 anos dava entrada num hospital de Rio Branco, no Acre, vítima de atropelamento. O acidente poderia ser apenas mais um na desordenada cidade da Amazônia se o paciente com a bacia fraturada não fosse uma figura conhecida da história da devastação da floresta, o fazendeiro Darly Alves da Silva, condenado por mandar matar o líder seringueiro Chico Mendes. Darly, no leito 119 do hospital, logo após uma cirurgia, disse que o processo do assassinato ocorrido há 25 anos foi uma experiência "dolorosa". "Crime nenhum compensa", disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo no domingo. "Não desejo que ninguém sente na cadeira de réu para ouvir um processo."

A entrevista ocorreu numa situação peculiar. Um filho dele acompanhou com irritação a conversa. O clima se tornava mais tenso nos momentos em que o fazendeiro falava do crime. Darly, no entanto, queria falar. Magro e voz firme, ele está lúcido. "Não era para eu ter morrido?", perguntou, referindo-se ao atropelamento. "Sempre foi assim: eu caio e levanto, consigo sobreviver."

##RECOMENDA##

Chico Mendes foi morto aos 44 anos com um tiro de escopeta calibre 22 no peito na noite de 22 de dezembro de 1988 em sua casa em Xapuri, quando abria a porta para se banhar no chuveiro que ficava no quintal. A Justiça condenou Darly e o filho Darci - acusado de ser o autor do disparo - a 19 anos de prisão. Três anos depois, eles fugiram da cadeia. Em 1996, voltaram a ser detidos. Cumpriram seis anos da pena em regime fechado, depois passaram para o semiaberto e o regime domiciliar.

"Não foi só o Brasil que se levantou contra mim, foi o mundo inteiro", lembra Darly. Ele não superdimensiona o que ocorreu naquela sessão de júri em Xapuri, a 175 quilômetros de Rio Branco. Foi o julgamento brasileiro de maior repercussão no exterior. TVs e jornais dos Estados Unidos e da Europa montaram links e estúdios nas ruas de terra da pequena cidade. O líder seringueiro era uma referência condecorada pelas Nações Unidas.

Hoje Darly vive na Fazenda Paraná, propriedade de 3 mil hectares na margem da BR-317, em Xapuri. É pai de 22 filhos. O filho Darci vive no Pará. No hospital, Darly lembrou o assassinato de um irmão na adolescência, quando a família morava em Minas Gerais. Foram anos de sede de vingança. Só deixou de lado a "questão" em 2006, ao sair da prisão pela morte de Chico Mendes. "Dispensei o cara. Ele está vivo até hoje."

'Conversa mentirosa'

Para ele, o que fez está pago. Quando Darly ensaia falar de Chico Mendes, o filho se irrita: "Isso já passou, chega. É coisa velha". "Já estou terminando", diz o pai. O fazendeiro reclama que promotores lhe atribuíram crimes ocorridos no Paraná, onde viveu até 1974, que não teria cometido. "Quando fui preso, disseram que matei tantas pessoas. Tudo conversa mentirosa", reclama. O filho tenta interromper a entrevista. "Já passou. É defunto velho de 20 anos."

Darly conta que pensou em ser morto na prisão. "Certa vez chegou um tenente. Ele viu que a porta estava aberta e fechou com cadeado. No meu entender, naquela noite o pessoal ia me matar", afirma. "Disseram para o meu irmão que eu poderia ser morto. Meu irmão disse: ‘Não acredito que alguém quer fazer algum mal contra ele, porque a família do finado (Chico Mendes) não faz mal para o meu irmão’."

Darly diz que sua disputa com Chico Mendes não era política. "Eu não entrei em guerra com o PT. Eu não era político." Ele não se diz inocente, mas reclama da condução do processo. "Não existia testemunha. Uma pessoa apareceu e falou de coisas de 20 anos atrás. Não foram ver se aquilo era verdade", afirmou. "Ninguém sabe quem eu sou. Ninguém", disse Darly, chorando. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Jornada de Luta por Reforma Agrária no Recife, começa nesta segunda-feira (15), com três dias de exibições de filmes e debates no cinema São Luiz e Teatro Arraial. O evento é uma parceria entre MST e Fundarpe/Secult e conta com a participação de cineastas e de João Pedro Stédile (direção nacional do MST), debatendo agroecologia e luta pela terra.

O mês de Abril para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) é um mês de manifestações. No dia 17 de Abril de 1996 ocorreu um dos mais cruéis massacres ao movimento, dezenove sem-terra foram assassinados, no município de Eldorado dos Carajás, decorrente da ação da polícia do estado do Pará. A data se tormou o Dia Internacional de Luta pela Reforma Agrária e o mês, Abril vermelho.

##RECOMENDA##

A programação envolve filmes que tratam as questões de conflito na luta pela terra, do agronegócio e agrotóxicos, bem como os que trazem discussões mais filosóficas sobre a temática. Na segunda (15) às 19h, é exibido no Cinema São Luiz, o longa-metragem de ficção Eles Voltam, filme do diretor Marcelo Lordello, possui uma cena filmada no assentamento Chico Mendes. Sobre esse mesmo tema será o debate com João Pedro Stédile no Teatro Arraial, após a exibição do filme O Veneno está na Mesa, do cineasta Silvio Tendler, às 19h.

O evento também conta com uma feira de produtos orgânicos de assentamentos da região metropolitana e apresentações musicais de repentistas e música nordestina em geral, na quarta (17), às 11h, na Casa da Cultura.

Confira a programação da Jornada de Luta por Reforma Agrária:

Segunda (15) | 19h - Cinema São Luiz

Eles Voltam, com apresentação do diretor Marcelo Lordello

Terça (16) | 19h - Teatro Arraial


O Veneno está na Mesa Debate com João Pedro Stédile 

Quarta(17) | das 11h às 14h - Casa da Cultura

Feira de Produtos Orgânicos da Reforma Agrária

 

Apresentações musicais:

Talis Ribeiro

Edilson Ferreira e Antônio Lisboa

Adriana e Nelson

Quarta(17) | 19h - Teatro Arraial

Raiz ForteVidas Cheias

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando