Tópicos | Cortes na educação

O Governo Federal anunciou um corte de R$ 4,2 bilhões no Ministério da Educação (MEC) para a Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021, redução que se refletiu no orçamento de universidades e institutos federais do País. Esses grupos podem perder cerca de R$ 1 bilhão no seu orçamento discricionário. 

Em uma entrevista coletiva realizada na tarde desta terça-feira (18), no Recife, os reitores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) informaram que, juntas, as três instituições de ensino podem perder até R$ 64 milhões de orçamento para despesas discricionárias (não obrigatórias, utilizadas para manutenção), inviabilizando o funcionamento de todas elas. 

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A PLOA é a proposta de orçamento que o governo encaminha ao Congresso Nacional todos os anos para aprovação, estipulando o orçamento de cada instituição e órgão público controlado por ele. Se não houver desistência do Executivo, apenas os legisladores podem impedir a redução orçamentária, rejeitando a proposta em votação no plenário. 

Cortes 

Caso a proposta de corte seja aprovada, a UFPE perderá cerca de R$ 31 milhões de seu orçamento para o próximo ano, o que segundo o reitor Alfredo Gomes, é o mesmo valor de que a universidade dispunha em 2011. "Inviabiliza o funcionamento da universidade no próximo ano, são recursos essenciais para assistência, para nossos estudantes, para que nossos cursos de graduação possam continuar funcionando normalmente e também nossos cursos de pós-graduação", disse ele. 

A perda de orçamento do IFPE para o próximo ano, caso o governo mantenha o corte, será de R$ 20 milhões. "É uma redução de 20% em um cenário extremamente difícil. Inviabiliza o funcionamento (...)  Atendemos 29 mil alunos. Essa situação orçamentária inviabiliza, não é uma situação de manutenção dos nossos contratos. Tudo isso fica prejudicado principalmente com aumento de matrículas, inviabilizado pela redução do orçamento", disse o reitor José Carlos de Sá. 

Segundo o reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Marcelo Carneiro Leão, a instituição já sofre com perdas orçamentárias há alguns anos e, caso a proposta do governo se concretize, a redução será de R$ 13 milhões. “Eu queria ressaltar que se fossem 18,23% num orçamento que nosso orçamento viesse aumentando ou se mantendo, já seria grave, mas o orçamento da UFRPE em 2012 era 308 milhões em valores atualizados. Esse ano o orçamento foi de 70 milhões, mais ou menos. Com esse corte, teremos orçamento de 57 milhões. Vai inviabilizar contratos terceirizados, vigilância, limpeza, bolsas dos estudantes, energia, todas as funções da universidades vão ser impactadas”, disse o reitor.  

Impactos orçamentários

Os reitores pernambucanos contaram que estão em uma articulação local e também nacional com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), para buscar a reversão da medida de corte orçamentário junto ao governo. 

Segundo o reitor da UFRPE, a maior luta tem sido travada com o Ministério da Economia. “Há uma compreensão do MEC através da Secretaria de Ensino Superior de estar junto nessa luta para recompor o orçamento. O problema é o Ministério da Economia, de irredutibilidade desse corte”, afirmou ele. 

Caso a proposta siga inalterada, o reitor da UFPE, Alfredo Gomes, explica que a articulação terá de ser ainda mais forte junto ao Congresso Nacional. “Nessa primeira etapa, a luta é com o Executivo. Caso avance para o Congresso, temos que transferir o campo de luta e temos também conversado com os parlamentares do Estado para dar ciência das atividades das universidades para manter essas instituições de grande relevância em pleno funcionamento nesse período que estamos vivendo. Temos conversado com os parlamentares do Estado, não interessa a filiação política e partidária”, disse o reitor.

Em caso de aprovação do corte orçamentário também no Legislativo, as universidades e institutos federais terão que fazer cortes de gastos internos para se adequar à nova realidade financeira. Questionado sobre como seria esse processo de escolha de prioridades para gastos, Alfredo afirmou que ensino, pesquisa, extensão e inovação sofreriam com as reduções de despesas. 

“Se não conseguimos fazer manutenção predial, isso reflete na atividade fim. Se não mantemos a segurança, impacta. É uma decisão difícil escolher onde cortar. São as atividades essenciais da Universidade que têm impacto. Se interrompemos o desenvolvimento de uma pesquisa, no fundo isso impacta nessas ações”, declarou o reitor da UFPE. 

O reitor da UFRPE afirmou que a assistência estudantil, tão necessária na pandemia de Covid-19 diante do desemprego e perda de renda das famílias, também será duramente impactada se o orçamento for cortado. “Tem uma rubrica que refere-se a quase 17% que é assistência estudantil. Hoje sem medo de errar temos quase 80% dos jovens em situação de vulnerabilidade em universidade pública. Caiu o mito que universidades públicas só entrava quem era de elite. Quando reduzir 18% de um orçamento que 17% se refere a assistência estudantil, causará impacto a 15 mil alunos que terão dificuldade de continuar os estudos”, disse Marcelo Carneiro Leão. 

Já o reitor do IFPE, José Carlos de Sá, apontou para uma redução na qualidade dos serviços prestados pelo Instituto causado pela redução de postos de trabalho para funcionários terceirizados, através de uma revisão de contratos forçada pela redução do orçamento. “Os contratos não são calculados aleatoriamente, tem que calcular pelo serviço, a redução reduz a oferta e qualidade do serviço. Todas as áreas serão afetadas, isso impacta diretamente ensino, pesquisa, e extensão”, disse ele.

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A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) comunicou, em nota, que os estudantes da Prioridade 2 terão refeições suspensas por tempo indeterminado. De acordo com a instituição, o motivo seria o contingenciamento na educação, decretado pelo governo Bolsonaro.

O fornecimento será suspenso a partir do dia 1º de junho. Os estudantes que tiverem créditos com vencimento posterior ao dia 31 de maio receberão reembolso pelo valor excedente. Já os discentes da Prioridade 1 continuarão realizando as refeições normalmente, já que os recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que subsidiam esta modalidade, não foram contingenciados.

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A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Univasf, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno.

O deputado federal Silvio Costa Filho (PRB) afirmou, nesta terça -feira (21), que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “erra” ao estimular as manifestações do próximo dia 26 em defesa do governo.

Os atos são apontados como uma espécie de resposta aos protestos organizados por estudantes em mais de 170 cidades do país, no último dia 15, contra o corte de verbas anunciado pelo Governo Federal para as universidades.

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Na avaliação de Silvio Filho, o presidente deveria focar na agenda econômica do país. “Estimular as manifestações de rua é um erro do presidente Bolsonaro e de alguns aliados. É preciso que ele gaste as energias tocando a agenda econômica do país com a aprovação das reformas”, declarou o parlamentar, que também é vice-presidente da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a reforma da Previdência.

O deputado pernambucano também salientou que “esse tipo de movimento é contraproducente e não ajuda o Brasil”. Para ele, “é importante ter foco na retomada do crescimento e na geração de emprego e renda”. Os atos estão sendo estimulados por aliados do presidente, inclusive pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro e a deputada Carla Zambeli, ambos do PSL.

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A noite do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, não foi tão tranquila nesta terça-feira (26). Durante a abertura do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica (FMEPT), no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, Janine ouviu gritos de dezenas de manifestantes que criticam os cortes financeiros feitos na educação pelo Governo Federal. Os grupos protestantes eram ligados a movimentos estudantis e de apoio a professores.

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“Ministro mão de tesoura” foi um dos principais gritos dos manifestantes. Em alguns momentos, o barulho fez Renato Janine interromper sua fala. Mesmo assim, o ministro conseguiu concluir o discurso e disse aceitar as críticas com naturalidade. “Protesto a gente recebe naturalmente. Nós respeitamos, como parte do processo democrático”, declarou.

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Questionado sobre os cortes na educação, o ministro reconheceu que o atual cenário da economia está prejudicando os investimentos na educação. “Ninguém gosta de cortes. Mas o fato é que a economia não está suportando neste momento o que nós gostaríamos de fazer. O que devemos fazer: estamos com vários critérios, analisando o que pode ser alongado e o que pode ser desenvolvido no próximo ano, para este ano garantir o funcionamento do sistema de ensino federal”, disse Janine.

O ministro também falou sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), destacando o investimento do PIB na educação. De acordo com Janine, até 2024, o percentual do PIB para atividades educativas no Brasil será de 10%. “Isso não é um compromisso do MEC. Isso é um compromisso do Brasil”, garantiu.

Segundo um dos manifestantes, o estudante de segurança do trabalho, Jessé Samá, o grupo estudantil queria participar da mesa de abertura do Fórum, porém, não foi permitido. Assim, segundo ele, os estudantes resolveram protestar. "A gente teve que marcar nosso espaço como movimento estudantil. Eles não podiam nos calar", disse Samá. 

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