A promotoria do Tribunal Supremo espanhol anunciou nesta segunda-feira (8) que investigará se existe responsabilidade criminal do rei emérito Juan Carlos em uma trama de supostas comissões pela concessão de um contrato de linha férrea de alta velocidade na Arábia Saudita.
A Justiça investigava esses eventos desde 2018, mas apenas o Tribunal Supremo pode investigar diretamente as supostas responsabilidades do monarca, embora apenas por fatos cometidos após junho de 2014, quando ele abdicou e perdeu a imunidade como chefe de Estado.
A promotoria do tribunal superior reconhece que assume a investigação uma vez que "uma das pessoas envolvidas nos eventos investigados era o então rei, hoje rei emérito, Juan Carlos de Borbón" e é necessária "a prática de novos procedimentos que afetam diretamente" sua imagem.
"Esta investigação se concentra, precisamente, na delimitação ou exclusão da relevância criminal dos eventos que ocorrem após o mês de junho de 2014, quando o rei emérito não estava mais protegido pela inviolabilidade", acrescenta a promotoria em seu comunicado.
O caso teve início em setembro de 2018, como resultado do vazamento de gravações por sua ex-amante, Corinna Zu Sayn-Wittgenstein, que assegurava que Juan Carlos I havia cobrado, por meio de uma intermediária iraniana, uma comissão pela concessão da licitação de trem de alta velocidade entre Meca e Medina a um consórcio de empresas espanholas.
"Seria um possível crime de corrupção em transações comerciais internacionais cometidas por espanhóis ou estrangeiros fora do território nacional", afirmou a promotoria na época.
Reconhecido por décadas como uma figura-chave na transição democrática da Espanha, o legado do monarca (1975-2014) foi obscurecido nos últimos anos por suspeitas de manter uma fortuna opaca, principalmente devido a seus laços com as monarquias do Golfo.
Recentemente, várias notícias circularam na imprensa que levaram seu filho e herdeiro, Felipe VI, a retirar dele a verba da Casa Real, que, segundo a mídia espanhola, somava mais de 194.000 euros por ano (cerca de US$ 219.000).
O jornal suíço Tribune de Gèneve publicou no início de março que Juan Carlos recebeu, em 2008, US$ 100 milhões do rei Abdullah da Arábia Saudita, em uma conta na Suíça de uma fundação panamenha.
Em meados desse mês, o jornal britânico The Daily Telegraph indicou que Felipe VI também era beneficiário da fundação.
A Casa Real assegurou que o monarca pediu a Juan Carlos que cancelasse a designação como beneficiário e renunciou a qualquer herança de seu pai.