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Diretor do elogiado Bacurau, do Som ao Redor e um dos mais importantes cineastas brasileiros na atualidade, Kléber Mendonça Filho publicou carta aberta para a governadora Raquel Lyra, neste domingo (19). No documento, ele demonstra preocupação com o Cinema São Luiz, uma das mais tradicionais e antigas salas de cinema do Brasil.

O cineasta lembra que o São Luiz está fechado para reformas desde junho de 2022 e que Raquel Lyra tem promovido um desmonte na equipe do cinema público e não deu prazo para reabertura da sala. "Parte importante da valiosa equipe que cuida do Cinema São Luiz foi demitida", conta Kléber Mendonça Filho.

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Fazendo um resgate do histórico recente da sala de cinema, incorporada ao Estado no governo de Eduardo Campos, Mendonça Filho diz que o cenário é "perturbador" e cobra respostas da governadora sobre o destino do Cinema São Luiz.

Confira a carta na íntegra:

UMA CARTA ABERTA

Para a Sra. Governadora Raquel Lyra

Sra. Renata Duarte Borba, Presidenta da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe.

Sr. Silvério Pessoa, Secretário de Cultura.

Amigas, amigos e colegas do audiovisual,

Conselhos do Audiovisual e de Cultura

Vereadores, Deputados que lutam pela Cultura. Bom poder compartilhar isso com todas vocês.

Uso esse espaço para externar algumas preocupações com o Cinema São Luiz. A nossa grande sala na Rua da Aurora fechou para uma reforma em julho do ano passado, ainda no governo do Sr. Paulo Câmara, e já estamos chegando em abril na vossa administração sem que existam informações concretas sobre a reabertura do São Luiz.

Quando o São Luiz reabre?

Nos últimos dias, circula a informação confirmada de que uma parte importante da valiosa equipe que cuida do Cinema São Luiz foi demitida. Essa equipe é composta por João Bosco, Miguel Tavares, Arthur Abdon, Arthur Frederick (Tuca), Gustavo Coimbra, Eliane Muniz, Bruno Alves, Joyce Suelen, Wilma Carvalho, Maria das Graças, Ione Jesuina, Inaldo Inácio, Alexandre Amorim, Luiz Gustavo Fernandes, Adriano Mota e Edmilson Severino de Barros.

Foram quatro demitidos da equipe principal. Três colaboradores dos serviços gerais foram supostamente transferidos para a Casa da Cultura, e há ainda a possibilidade de um corte de 50% nos vigilantes.

Em janeiro, já nesta gestão, o programador Luiz Joaquim, profissional de competência reconhecida nacionalmente, foi exonerado.

Luiz Joaquim substituiu Geraldo Pinho, que fez um trabalho histórico no São Luiz ao longo da última década. Geraldo esteve à frente dessa equipe que está agora sendo desmontada.

Geraldo Pinho faleceu em dezembro de 2021, uma perda trágica para o audiovisual pernambucano. Era um formador de público, assim como Luiz Joaquim, também um formador de público. Formar, seja numa escola, numa orquestra ou num cinema, passa por generosidade e senso de cidadania.

O aparente desmonte dessa grande equipe do São Luiz é perturbador. Quando em 2006 o SL deixou de ser uma sala comercial do Grupo Severiano Ribeiro - que inaugurou o cinema em 1952 - e foi adquirido pelo Governo Eduardo Campos no final da década de 2000, os desafios eram grandes. Como manter uma sala de mil lugares no centro do Recife, na era do shopping center e do multiplex?

A resposta foi construída aos poucos, e sem jamais seguir uma lógica de mercado, pois não seria nunca o caso. O São Luiz é um outro tipo de espaço, é um investimento do estado num nascedouro de idéias, um espaço de convívio que inspira o respeito à história da cidade e do Cinema. É um prédio histórico.

Esse cinema virou palco e tela para o cenário audiovisual pernambucano e a sala sozinha vendeu perto de 100 mil ingressos em dez anos somente para filmes produzidos em Pernambuco, filmes em lançamentos comerciais. Até antes da pandemia, o São Luiz era um caso já sendo estudado e observado, um micro clima isolado com uma programação aberta para o mundo, para a Cultura do Brasil e para o Cinema feito em Pernambuco.

Importante destacar que os equipamentos de projeção e som do São Luiz, com projeção 4K anos antes de o termo virar padrão técnico reconhecido, é melhor do que a maior parte das salas comerciais que cobram ingressos quatro ou cinco vezes mais caros nos shoppings.

Nos segundos semestres dos últimos 12 anos, uma sequência de festivais e mostras de audiovisual, realizados por produtoras e produtores pernambucanos, em grande parte incentivados pelo Funcultura, trazem grandes públicos para ver centenas de filmes. Com diversidade e um olhar democrático para a sociedade.

Cada festival tem a sua própria rede de trabalhadoras e trabalhadores da cultura, cada um tem seu público, e há um público que parece frequentar todos os eventos, interagindo com cineastas de todo o Brasil e do exterior que vêm ao Recife para estar no São Luiz.

Quais os ganhos de sociabilidade e cidadania para uma cidade como o Recife ao vermos mil pessoas saírem do São Luiz para a Rua da Aurora numa das suas sessões, com outros mil espectadores esperando a próxima sessão? E no centro da cidade, uma área que ainda aguarda o respeito que merece para além das estruturas temporárias do carnaval.

Observo ainda que, num carnaval tão maciçamente filmado e fotografado, a fachada do edifício Duarte Coelho acima do São Luiz - totalmente degradada - expõe o nível de abandono que não mostra preocupação nem com a cosmética de um centro de cidade que recebe visitas do país inteiro.

Essa equipe que está sendo desmontada é milagrosa porque desde que o São Luiz passou a ser uma sala pública via Governo de Pernambuco, falta um pensamento consistente de sustentação desse cinema como projeto de Cultura e espaço de investimento, algo que precisa ser resolvido o quanto antes. Isso significa que as deficiências e obstáculos do dia a dia do cinema caem nos ombros dessa equipe que ama o São Luiz e que, de fato, opera milagres.

Às vezes eu acho que o São Luiz, e o trabalho ali feito, impressionam tanto que muitos parecem achar que esse cinema é mágico, que vive de oxigênio e anda sozinho. O São Luiz é como uma pessoa idosa, que exige cuidados especiais, que precisa de dinheiro para sobreviver, que precisa de respeito e de amor. A equipe é toda formada por excelentes cuidadores que amam aquele lugar. Demitir a equipe é como uma punição para uma boa ação.

O que significam as demissões desta semana? Arthur Frederick (Tuca, trabalhador da bilheteria) gravou mensagem de video sobre o seu trabalho no São Luiz durante 12 anos, postado no YouTube. Suas palavras traduzem sentimentos complexos.

Como cidadão, eu imagino os desafios que existem num novo governo. E sei que há um pensamento corrente de que a Cultura fica em segundo plano quando comparada à Economia, à Saúde, à Segurança e à Educação. Isso me parece uma compreensão equivocada. Em Pernambuco, a Cultura é um tesouro de valor inestimável para o estado. A Cultura molda a imagem desse estado e manifesta-se em todas essas áreas ditas prioritárias. A Cultura é Economia, Saúde, Segurança e Educação.

A escrita desta carta tem o objetivo de lhes perguntar o que exatamente está acontecendo com o Cinema São Luiz?

Quais os planos?

Qual a data de reabertura?

Quais a idéias para a Cultura em Pernambuco nessa nova gestão?

Como se dará um diálogo com os que fazem o audiovisual em Pernambuco, reconhecido dentro do próprio São Luiz, no Brasil e internacionalmente? No último mês de setembro, o São Luiz completou 70 anos, e de portas fechadas.

Agradeço a atenção e lhes escrevo como Cidadão e Artista pernambucano, Roteirista, Cineasta e Formador de Público programando filmes.

Kleber Mendonça Filho

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O jornalista Luiz Joaquim é o novo programador do Cinema São Luiz. O nome do professor e crítico cenográfico foi escolhido pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para assumir o cargo no espaço. Luiz recebeu a incumbência de ser o responsável pela escolha dos filmes a serem exibidos na sala de cinema, localizado na Rua da Aurora, área central do Recife.

"O tamanho da responsabilidade é proporcional a minha alegria em assumir essa nova função num dos templos não só do cinema nacional, como da arte brasileira. Vai ser algo ainda mais desafiador essa minha chegada aqui no São Luiz justamente quando o cinema completa 70 anos", declarou Luiz Joaquim, que também é professor.

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De acordo com Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe, a decisão de escolher Luiz para a missão se deu por conta da entrega dele no setor cultural: "Foi algo natural pensar num nome como o dele, que tem muitos anos acumulados no Cinema da Fundação e tem o respeito da classe aqui em Pernambuco e no Brasil. Ficamos muito felizes por ele ter aceitado o convite". Luiz Joaquim será apresentado à equipe do São Luiz ainda nesta segunda-feira (10).

Com passagem pelo Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, Luiz Joaquim também vai assumir a gestão do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe), que tem o seu acervo concentrado na Casa da Cultura. Desde 2006, ele integra o corpo docente da pós-graduação Estudos Cinematográficos na Universidade Católica de Pernambuco.

O jornalista e crítico Luiz Joaquim anunciou, nesta terça-feira (31), seu desligamento da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), deixando de ser coordenador interino de cinema. A informação foi divulgada por meio de nota, em que Luiz ressalta que a razão de sua saída se deve ao seu desejo que seguir outros caminhos profissionais. Atuante na instituição desde 2001, Luiz chegou a trabalhar como programador de cinema, e substituiu Kleber Mendonça Filho de forma interina, depois que o cineasta entregou o cargo de gestor do Cinema da Fundação, no ano passado.

Em janeiro deste ano, foi anunciado que a jornalista e fotógrafa Ana Farache assumiria o cargo de diretora da Fundaj. Embora não tenha sido mencionada no texto, a efetivação pode ter sido umas das razões que motivou Luiz se demitir. A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) chegou a elaborar um abaixo-assinado pedindo que Luiz Joaquim assumisse a direção da Fundaj, que inclui cuidar da programação do Cinema da Fundação e do Cinema do Museu. 

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O documento ressalta a contribuição dele como programador ao longo de uma década e meia, e o torna mais capacitado para assumir o cargo. O texto também pede uma reavaliação da decisão tomada pela Fundação Joaquim Nabuco e pelo Ministério da Educação, ao qual o órgão é vinculado. 

Em nota divulgada em sua página no Facebook, Kleber Mendonça critica a indicação de Ana Farache e que almeja a nomeação de Luiz: "Nesses anos, eu sempre tive Luiz como um colaborador de primeira grandeza sem nunca me impor como chefe ou exigir hierarquias, mas oficialmente ela existia. Com a minha saída, ele deve passar a ocupar o meu lugar, natural e justamente. Luiz é não apenas uma pessoa de cinema, mas um servidor exemplar em cargo comissionado que dá orgulho ao serviço público, já proficiente nas peculiaridades dessa instituição federal. Ele deve ser estimulado pois o trabalho realizado no Cinema da Fundação foi todo construído no amor pelo próprio cinema", escreveu.

Na carta aberta, Luiz Joaquim salienta seus anos de trabalho e menciona Kleber com agradecimento especial, referindo-se ao cineasta como irmão e ressalta sua contribuição para o crescimento da Fundaj, nos últimos 16 anos. A Fundaj não quis se pronunciar sobre o assunto. Confira a carta aberta, na íntegra:

"Recife, 31 de janeiro de 2017.

Venho, por meio desta, anunciar meu desligamento da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). A decisão é pessoal e chega neste momento pelo particular desejo de me lançar a novos desafios profissionais.

Deixo a instituição federal com a convicção de que ofereci o melhor de meus esforços para disponibilizar ao bem público e à população, que é sua usuária e beneficiária em primeira instância, um serviço dedicado, adequado e, por que não dizer, amoroso com a função que me foi confiada em abril de 2001.

Cheguei à Fundaj em 1998 como estagiário para atuar numa coordenação que ainda estava em gestação. Na avaliação, fui entrevistado por servidores da casa, como Moacir dos Anjos (então coordenador e curador de Artes Visuais) e Silvana Meireles (diretora do então Instituto de Cultura da Fundaj), para assessorar Kleber Mendonça Filho, com quem já mantinha, há cerca de um ano, uma relação amigável com a afinidade própria de dois cinéfilos.

Em 2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso e já atuando como profissional do jornalismo, fui convidado por Silvana Meireles a dividir com Kleber Mendonça o mesmo cargo de coordenador do Cinema da Fundação. Entre outros objetivos, Silvana desejava um interlocutor para Kleber na construção do conceito curatorial do cinema como também para dividir as funções administrativas.

Naquele 2001, o Cinema da Fundação, na unidade do Derby, estava com pouco mais de dois anos de seu funcionamento desde sua inauguração. Conquistando aos poucos o seu espaço no Recife, mas com segurança, a sala do Derby fizera em 2000 um público anual de 23.744 pagantes. Já ao final de 2001, a contabilidade anual foi de 48.043 espectadores. Em termos percentuais, o espaço havia aumentado o seu fluxo de freqüentadores em 100,023% em relação ao ano anterior.

Não havia segredo para explicar esse resultado. Havia o acerto de um trabalho dedicado realizado por uma pequena equipe com a junção de dois coordenadores afinados, resolutos e apaixonados pela ideia de transformar o Cinema da Fundação num lugar referencial em termo de qualidade técnica e programação cinematográfica.

Em 2005, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma reestruturação geral no organograma de funções, no âmbito federal, que abarcou a Fundaj, disponibilizando um novo cargo e criando uma hierarquia na Coordenação de Cinema. A novidade beneficiava, com justiça, Kleber Mendonça mas, como já foi dito por ele próprio, ela [a hierarquia} existiu apenas oficialmente, nunca na prática.

Em dezembro de 2016, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco – já com duas salas, tendo a segunda sido inaugurada na unidade Casa Forte há apenas 17 meses, durante o governo Dilma Rousseff – atingiu o impressionante número total de 815.159 espectadores durante todo o período, até então, de seus 18 anos e sete meses em atividade.

Importante registrar que o êxito e o benefício do Cinema da Fundação à sociedade não devem ser mensurados apenas por números. Desde o início fazendo parte de um cenário proficiente na criação cinematográfica, que projetou o cinema feito em Pernambuco para o mundo, o espaço da Fundaj foi personagem ativo nesse desenvolvimento como local de formação para realizadores. Guardo comigo uma particular satisfação por saber que contribuí, nos últimos 16 anos, ajudando na moldura dessa realidade.

Quero agradecer ao presidente da Fundaj, Luiz Otávio Cavalcanti, com quem tive uma relação cordial, por confiar a mim a gestão interina da Coordenação do Cinema nos últimos três meses. Encerro oferecendo meu maior agradecimento a minha equipe durante todos esses anos e, particularmente, à turma atual encabeçada pelas dedicadas Vera Cavalcanti, Paula Guerra, Rosy Silva, Selme Galvão e João Ferreira, assim como aos talentosos estagiários Juliana Soares Lima e Thiago Monteiro. Todos pilares sobre o qual se sustenta o Cinema da Fundação.

O especial agradecimento é a Kleber Mendonça Filho, que não era apenas um colega na Fundaj, mas um irmão com quem aprendi no período em que crescemos profissionalmente e no amor pelo cinema.

Desejo sucesso à nova gestão do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, instituição que admiro.

Obrigado.

Luiz Joaquim"

Um novo circuito de salas de cinema, com programação focada nos filmes de arte, está prestes a se formar no Recife. A capital, cuja relação com a sétima arte não comercial é de dar inveja a outras cidades do Brasil, deve ganhar três espaços de exibição até o fim do próximo. “Acredito que em 2015 teremos o melhor cenário de distribuição de filmes que Recife já teve. A rede daqui será melhor do que a de cidades como Belo Horizonte e Salvador”, explica Paulo Cunha, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e responsável pela implantação de um cinema no campus da UFPE, na Cidade Universitária.

Paulo Cunha tem motivos para tanto otimismo. Se em 2014 a capital pernambucana acolhe apenas dois equipamentos culturais do tipo - o Cinema São Luiz, na Boa Vista, e o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Derby -, a expectativa é que no ano que vem o Recife conte ao todo com cinco cinemas de arte. Além do Cinema da UFPE, na Cidade Universitária, as novidades são o Cinema do Museu, em Casa Forte, e o Cinema do Porto, no Bairro do Recife. Neste novo cenário, apenas a Zona Sul do Recife não será atendida diretamente por um cinema alternativo.

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Sétima Arte no campus da universidade

O primeiro a ser instalado na Zona Oeste do Recife, o Cinema da UFPE é um projeto com mais de dois anos de existência e orçado em R$ 2 milhões. O equipamento será implantado num dos galpões do Centro de Convenções da UFPE, e a previsão é que seja inaugurado entre setembro e outubro deste ano. Além disso, a proposta é o valor das entradas ser abaixo do que cobram os cinemas comerciais.


De acordo com Paulo Cunha, o projeto já conta com a parte física, faltando apenas a instalação dos pisos, alguns ajustes na estrutura e a implantação dos equipamentos. “O prédio tem condições adequadas para receber um equipamento do porte, com boa altura, largura e tamanho e fundo da tela. O projeto surgiu de uma decisão, representada pelo reitor Anísio Brasileiro. A UFPE, que já ocupou um papel preponderante na cultura local, tem feito uma reformulação de suas políticas culturais”, ressalta o professor. 

O Cinema da UFPE contará com um café na entrada, equipamento de projeção DCP 4K, som Dolby 7.1, 230 poltronas e uma tela com 7m de largura. “O pé direito do Cine UFPE terá uma inclinação excelente, ou seja, as pessoas da frente não atrapalham as que estão atrás. Estamos também tendo cuidado com as questões de acessibilidade. Neste sentido, posso adiantar que teremos sessões com audiodescrição e sinalização em braile, entre outras coisas”, revela Paulo Cunha.

No que diz respeito à integração do equipamento neste novo circuito de cinema no Recife, a UFPE está em diálogo com outras instituições. “Já conversei tanto com o Luiz Joaquim como com o Kleber Mendonça, curadores do Cinema da Fundaj, para que possamos participar dos próximos festivais. Nada impede que façamos parte da Janela Internacional de Cinema, por exemplo. Mas também estamos em diálogo com o Governo do Estado, sobre o Cinema São Luiz, e com o Porto Digital, que vai implantar em breve uma sala do Portomídia. Futuramente, vamos conversar também com a Prefeitura de Olinda, a respeito do Cine Olinda”, explica o professor.

Ainda segundo o professor da UFPE, alguns detalhes da gestão do equipamento já foram resolvidos, mas ainda assim será necessário um investimento em profissionalização de mão de obra. “Teremos que realizar treinamento técnico de projeção, som, gestão financeira, cursos de curadoria. Vamos contratar curadores profissionais, mas também colocaremos pessoas novas para montar a programação. Vamos também treinar as pessoas daqui da universidade porque a mão de obra voltada para operacionalização de cinemas está bastante escassa”, adianta Cunha.

Cinema de arte em Casa Forte

Também integrante desta nova leva de cinemas no Recife, o Cinema do Museu, que está em construção do Museu do Homem do Nordeste, faz parte de uma iniciativa da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) para dar vazão ao Cinema da Fundaj, instalado no Derby. Orçada em R$ 950 mil e com recursos do Ministério da Cultura, a obra no bairro de Casa Forte envolve compra de equipamentos e readequação do auditório do Museu do Homem do Nordeste para receber a telona. 

Segundo Luiz Joaquim, responsável pelo Cinema da Fundaj ao lado de Kleber Mendonça Filho, a inauguração deste equipamento cultural é uma das prioridades da Fundação Joaquim Nabuco. “A gente quer acreditar que a inauguração será realizada entre novembro e dezembro deste ano. A ideia é que a sala seja uma referência, e não digo apenas a nível estadual, mas uma referência em todo o Brasil”, comenta Luiz Joaquim, dando pistas de que haverá de fato uma rede colaborativa entre os cinemas alternativos do Recife. “Extraoficialmente houve uma conversa preliminar entre a UFPE e a Diretoria de Memória, Educação e Arte (MECA) da Fundaj. Agora é aguardar que os termos de colaboração sejam assinados”, revela.

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A sala terá 180 poltronas, projetor DCP 4k, som Douby 7.1, projetor 33mm e possivelmente um projetor 16mm. “A inclinação obedece a legislação para auditórios de cinema e a tela será um pouco maior que a sala do Derby, que tem 6,5m de largura e 2,80m de altura” explica o responsável pelo equipamento. A cabine de projeção conta com um detalhe especial, um vidro que transparece o trabalho do projecionista – profissão pouco conhecida pelo público em geral. 

O modelo de gestão do Cinema do Museu é um tema em estudo pela Fundaj, mas possivelmente será o mesmo em uso no Derby, onde uma terceirizada é responsável pela operacionalização do espaço. Em relação à programação, o diferencial deste equipamento é a exibição de trabalhos voltados à memória e história, o que não o impede de receber outros títulos. 

Cinema high tech no Bairro do Recife

Como parte da estruturação do Portomídia, o Porto Digital vai implantar o Cinema do Porto no 16° andar do Edifício Vasco Rodrigues, um dos prédios do parque tecnológico no Bairro do Recife. Segundo Francisco Saboya, presidente do Porto Digital, os investimentos giram em torno de R$ 1,5 milhão, com recursos do FINEP, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Comunicação e Governo de Pernambuco. Além disso, a previsão é de que o espaço seja inaugurado no segundo semestre de 2015.

“Do nada ou do muito pouco criamos um circuito de cinema, excetuando a Zona Sul, que pra mim poderia ser atendida pelo Parque Dona Lindu. É transformar aquele teatro (Luiz Mendonça) em cinema para poder atender aquela região”, opina Saboya. “Estão acontecendo várias coisas que não envolvem ações do governo. Acho que a Prefeitura é moralmente obrigada a pegar um espaço como aquele e transformar em cinema”, conclui.

De acordo com o presidente do Porto Digital, a experiência de uso híbrido de equipamentos culturais já deu bons resultados. “O Teatro Ribeira, por exemplo, funcionava como cinema de arte durante boa parte da década de 90. Era onde se via filmes que não estavam no circuito comercial”, pontua Saboya. Segundo ele, o Cinema do Porto terá uso híbrido e poderá também ser utilizado como auditório. “Vamos utilizar a experiência do Teatro Ribeira aqui. Será definido posteriormente como será este calendário”, explica.

Da parte técnica, já está certo que o espaço terá 185 poltronas e um projetor DCP 4k. Em relação ao som, o Porto Digital contratou um consultor para saber qual o melhor equipamento a ser adquirido. O tamanho da tela também é outro detalhe que será definido posteriormente. Seguindo a linha das iniciativas do Porto Digital, não haverá venda física de ingressos. “A entrada será comprada através de um sistema eletrônico, por um site ou aplicativo”, revela Saboya.

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E o Cinema do Porto também vai buscar um diálogo com as outras novas salas de cinema não comerciais. “Já que o Recife passa a ter cinco cinemas, eles precisam conversar. O que eu vejo no mapa é que teremos um circuito de cinema que atende metade da cidade, faltando a Zona Sul. Vamos buscar a integração com as demais salas e nos esforçar pra ter um diálogo com a Fundaj, com a UFPE, com o Governo do Estado, para criar um circuito que compartilhe de uma programação minimamente consensuada”, comenta o presidente do Porto Digital.

No que diz respeito à profissionalização neste campo, o Portomídia continuará investindo em pós-produção. “Não vamos investir em operação. Uma coisa é ser um iluminador, e outra coisa é ser um corretor de cor. Nossos cursos são realmente muito avançados. Este é o papel que o Porto Digital trouxe pra si. Trazer coisas mais sofisticadas para ajudar a puxar o setor para cima. Em novembro, por exemplo, começamos a implantar um estúdio de produção que atenderá quatro áreas: Cinema e televisão, música (gravação), stop motion e motion capture”, conclui Saboya.

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