Tópicos | música de pernambuco

A cantora e compositora pernambucana Dani Carmesim celebra seus primeiros 10 anos na estrada com um novo álbum: Resumo da Ópera. Muito embora o título do trabalho sugira uma sintetização do que a roqueira tem feito até então, as 12 faixas do disco trazem, de fato, um pouco das novidades e experimentações que indicam o que a artista está disposta a fazer nos próximos anos. O lançamento acontece na próxima sexta (15), nas principais plataformas digitais.

Resumo da Ópera chega seis anos após o álbum de estreia de Carmesim, das Tripas Coração, lançado em 2015. A novidade marca uma década de trabalho da pernambucana, sintetizando sua obra e apresentando sua nova fase estética e sonora. Com produção musical, mixagem e masterização assinados por Fernando S., do Home Studio 51, o disco traz melodias mais dançantes, flertando diretamente com o synthwave, porém, sem deixar de lado o genuíno rock’n’roll. 

##RECOMENDA##

LeiaJá também

--> Um ano para celebrar 10: o rock de Dani Carmesim em festa

Além disso, o álbum, totalmente autoral, passeia por temas bastante urgentes como preconceito, a atual crise política do país e as incertezas advindas dos últimos acontecimentos no mundo. Para as gravações, realizadas entre o final de 2018 e meados de 2021, Dani contou com sua banda - composta por André Insurgente no baixo, Fernando S na guitarra e sintetizador e Tiago Marditu na bateria -, e os músicos convidados, André Oliveira, Rafael Bandeira, Neilton Carvalho, da Devotos. Kira Aderne, da Diablo Angel e o cantor Fernandes. 

Para preparar o público para a chegada de Resumo Ópera, Dani ‘remodelou’ o pré-save criando um 'boletim informativo’, uma espécie de newsletter na qual é possível receber em primeira mão algumas notícias sobre a chegada do trabalho. Os assinantes poderão, também, participar de sorteios. As inscrições podem ser feitas através do Instagram da cantora.  


 

Pernambuco é conhecido em todo o país - e em boa parte do mundo - como um grande exportador de boa música. Dos ritmos mais tradicionais aos mais contemporâneos, é possível encontrar no Estado vários representantes que fazem valer sua fama de ‘grande celeiro cultural’. São artistas que estão espalhados pelos mais de 98 mil quilômetros de extensão de terras pernambucanas, provando que não é preciso estar na capital para produzir bons trabalhos. 

Do interior pernambucano não param de sair artistas inquietos e criativos que com muito trabalho e persistência conseguem superar dificuldades das mais diversas ordens. Nomes como Ciel Santos, de Bezerros; Bella Kahun, de Garanhuns; Neto Sales e a banda Hanagorik, esses dois últimos de Surubim, são apenas alguns dos exemplos da multiplicidade de cenas e artistas que integram essa seara. 

##RECOMENDA##

Não à toa, os exemplos citados acima vêm todos de uma região específica do Estado, o Agreste, que vem renovando sua musicalidade e escoando, cada vez mais, talentos que em nada deixam a dever a qualquer um que porventura esteja mais próximo dos grandes centros.

"O interior tem, força, tem voz, e tem muita gente produzindo, é difícil mas não é impossivel". Luanda Luá - Foto: Divulgação

Luanda Luá é uma dessas artistas que conhece bem a cena do Agreste. No ‘corre’ há 18 anos, a artista que começou a cantar na igreja, ainda criança, é fruto direto da influência musical da cidade onde foi criada, Surubim. Motivada pela Hanagorik, que, segundo ela,  “foi inspiração para todos os jovens roqueiros da época” por lá, Luanda formou, em 2003, a Mennarca HC, banda de punk rock e hardcore. Porém, inquieta dentro de seus anseios artísticos e pessoais, iniciou em 2021 um projeto solo, pelo qual já lançou o primeiro EP, C.O.R.P.O. 

Em sua música, Luanda imprime parte de sua vivência enquanto mulher, gorda, e cria do interior. Desconstruindo estereótipos e rompendo com o senso comum, ela aprendeu na lida a conviver com eventuais impedimentos à sua arte. “No interior, basta você ser diferente que já tem preconceito. Ainda mais, você sendo mulher, cantando em banda de rock, cantando gutural, eu venho carregando esse preconceito desde o comecinho da Mennarca. Mas essa nova geração é muito acolhedora, me sinto bem acolhida com os jovens, bem mais do que com os mais velhos. A gente vai conquistando aos poucos”. 

[@#video#@]

Além de já ter aprendido a lidar com tais percalços, a pedrense criada em Surubim também já conhece bem parte do caminho das pedras para manter um trabalho artístico sendo e estando no interior. Além de lidar com a já natural dificuldade de se viver de arte no Brasil, profissionais como ela precisam enfrentar ainda algumas limitações impostas pelas distâncias geográficas.

No entanto, Luanda revela um dos trunfos dos artistas do interior: “coletividade”. “Os artistas se ajudam, a gente termina virando um grande coletivo que as pessoas nem imaginam que esteja trabalhando em rede. Um vai indicando outro, vai ajudando, trocando ideia, é muito importante esse trabalho de rede. Não sei se nos grandes centros existe isso tão bem amarrado; não está tão bem amarrado porque não tem estrutura financeira , mas a vontade tem demais”. 

Essa coletividade também é mencionada por Yannara, nascida e criada em Surubim. Cantora, compositora, bailarina, coreógrafa, atriz, produtora e diretora dos próprios trabalhos, ela decidiu abraçar de vez a música, no início da pandemia, e em 2021 lançou o primeiro álbum, Força Motriz. “Querendo ou não, a gente compartilha do mesmo pensamento, somos todos interioranos, então já cria-se um apoio mútuo, de lutar junto porque aqui grande parte dos artistas se conhece; a gente frequenta o Reduto Coletivo e a gente faz muita troca, tem esse espaço de fortalecimento”, disse em entrevista ao LeiaJá

"Quando a gente escreve sobre a gente, não tem como não levar as referências, porque se é inteiro, se é real, é nosso, não tem como" , Yannara -  Foto: Divulgação.

Em sua música, Yannara traz parte das vivências de uma mulher nascida na zona rural do Agreste e criada em um bairro periférico de Surubim - conhecido como Rua do Açude e que ela carinhosamente chama de “RDA”. Como Luanda, ela também precisou enfrentar alguns olhares tortos, mas, otimista, afirma que o eventual conservadorismo relegado ao público do interior está ficando cada vez menor. “Desde meu trabalho com dança, meus trabalhos sempre ‘causaram’. A gente tá numa cidade do interior, querendo ou não as demandas, o que a gente recebe, o que é consumido, acho que é um pouco menor do que tem nas cidades maiores, então isso acaba limitando a visão, o pensamento ou a aceitação do diálogo. Mas acho que Surubim tem passado por uma fase de boas aceitações, até porque é uma cidade que tem uma movimentação artística por causa do Sesc, a gente sempre movimentou a arte na cidade, então acho que a galera tá se abrindo mais”. 

Transitando pelas culturas pop, hip hop e, claro, popular, Yannara quer, com sua música, dialogar com as mais diferentes pessoas, sobretudo mulheres e público LGBTQIA+, mostrando que no interior existem vivências que precisam ser conhecidas e reconhecidas. A despeito das dificuldades, sejam elas geográficas, pandêmicas ou as já bem conhecidas de qualquer artista independente em qualquer ponto desse país, a pernambucana está empenhada em levar à frente a sua voz “interiorana”, sendo mais uma das várias representantes que movem esse caldeirão de arte e cultura. “A gente tem uma luta, tem uma luta nossa. De alguma forma essa luta acrescenta em alguma coisa, nos dá mais força e impulso”.

[@#podcast#@]


 

O Carnaval de 2020 terminou deixando lembranças nada agradáveis para alguns músicos pernambucanos. A intervenção policial em alguns shows, que ocorreram em polos oficiais da folia recifense, causou estranhamento em artistas e no público, uma vez que não há registro de ações semelhantes na história recente do Carnaval.  

As bandas Devotos e Janete Saiu para Beber relataram que PMs em serviço durante seus shows tentaram encerrar as apresentações quando músicas de Chico Science foram tocadas no palco, sobretudo Banditismo por uma Questão de Classe. Segundo integrantes da Janete, um dos militares chegou a dizer: "Não pode tocar Chico Science. Chico é som de briga". Já o cantor China quase viu uma invasão policial, no palco da Lagoa do Araçá, para que o show fosse encerrado com a justificativa de que o tempo de apresentação havia se excedido. 

##RECOMENDA##

LeiaJá também

--> Onde está a música de protesto?

Agora, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) instaurou um inquérito civil para investigar as denúncias. Segundo o MPPE, o caso pode configurar violação dos direitos humanos à cultura e à liberdade de expressão e artística dos músicos. Fato é que as ocorrências assustaram, não só os artistas, mas também o público, e a palavra censura voltou a figurar nas redes sociais. 

Pernambuco é conhecido por ser um celeiro de bons músicos e bandas com uma produção que sempre teve um pé bem fixado na resistência, com músicas e projetos que questionam a sociedade e os temas que lhe são relevantes. Para ilustrar isso, o LeiaJá preparou uma playlist que traz alguns nomes que usam sua arte para 'botar o dedo nas feridas'. Ouça.

Banditismo por uma questão de classe - Chico Science

A música que teria ocasionado as ‘confusões’ nos palcos recifenses foi gravada em 1994, no disco de estreia de Chico Science & Nação Zumbi, Da Lama ao Caos. A letra da canção aponta abusos policiais, como no verso: “em cada morro uma história diferente que a polícia mata gente inocente”.

Arquitetura de Vertigem - China

Outro artista envolvido nas denúncias também tem músicas que tocam em pontos delicados da sociedade. Em Arquitetura de Vertigem, China fala sobre especulação imobiliária e verticalização das cidades, inspirado pela movimento Ocupe Estelita, movimento criado pela sociedade civil em defesa do Cais José Estelita, localizado no Recife.  O clipe da música, inclusive, foi feito com imagens de participantes do movimento no local. 

Lêju II - Zaca de Chagas

Aqui, o rapper Zaca de Chagas sinaliza como a cor da pele pode ser significativa na hora de uma abordagem policial. A música também mostra a preocupação de uma mãe quando o filho negro vai para a rua: “Antes de sair, minha mãe sempre me dá um beijo/Ainda diz: ‘Meu filho, cuidado com o baculejo’”

Futuro Inseguro - Devotos

A Devotos, ‘nascida e criada’ no Alto José do Pinho, periferia do Recife, costuma imprimir em suas letras a realidade vivenciada nessa região da cidade, que sofre com pobreza e violência. Em Futuro Inseguro, a banda fala sobre a importância de defender as crianças que, muitas vezes, desde cedo, já são expostas a uma vida bem difícil. 

Atiça - Eddie

Em meio a seus ritmos animados e festivos, a Eddie também aponta problemas sociais. Em Atiça, a banda fala sobre como a violência está próxima e como ela choca ao ser denunciada através do desenho de uma criança. 

Bela, recatada e do lar - Lady Laay

As gerações mais jovens de artistas pernambucanos também demonstram a mesma sede de falar sobre assuntos relevantes. A rapper Lady Laay é uma das vozes que está sempre questionando sobre protagonismo feminino, respeito e equidade de gênero. 

Manifesto - Plugins

A Plugins é outro exemplo de banda que sobe ao palco para tocar em assuntos delicados e, muitas vezes necessários. Em Manifesto, o grupo questiona sobre autoridade e fala sobre a necessidade e importância de reagir ante às dificuldades.  

Cerca de Prédio - Karina Buhr

Karina Buhr também reserva momentos para botar o dedo na ferida. Em cerca de Prédio, ela questiona a verticalização da cidade e a mudança de cenário mediante ao crescimento desenfreado do concreto. 

Eletrochoque de gestão - Mundo Livre S.A.

A Mundo Livre S.A., uma das precursoras do movimento Manguebeat, também usa sua arte para apontar e denunciar. O próprio Manifesto Mangue, escrito pelo líder da banda, Fred Zero Quatro, já demonstrava essa característica com afirmações como a de que a cidade do Recife estaria com as artérias da cultura “bloqueadas”, sendo assim, estaria “morrendo” econômica e culturalmente. 

Margot - Parem de nos matar

Outra representante da nova geração, Margot versa e rima como gente grande. Ela também é uma das vozes que engrossa pelo fim da violência contra a mulher e pelo protagonismo feminino. 

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando