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Homeopatia, acupuntura e psicanálise já foram extintas de sistemas públicos de saúde de outros países e carecem de evidências científicas sobre sua eficácia, mas ainda são populares no Brasil, inclusive com algumas delas sendo ofertadas no SUS e regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A tolerância de órgãos de classe e governos brasileiros com essas e outras práticas controversas fez a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), e o jornalista Carlos Orsi, diretor da entidade, se debruçarem sobre estudos que testaram esses métodos. A conclusão foi que essas terapias não funcionam melhor do que um placebo e ainda causam danos. Os resultados estão em um novo livro, lançado nesta semana, sobre 12 práticas classificadas pela maioria da comunidade científica como pseudociências ou crenças sem fundamento.

Por que vocês decidiram escrever um livro sobre esse tema e por que acreditam que tantas pessoas ainda se deixam levar por terapias sem comprovação científica?

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As pseudociências, em geral, têm uma ligação emocional, histórica, familiar com a pessoa, então não é algo que passa toda vez por um crivo de racionalidade e de compreensão do processo científico. Muitas vezes as pessoas gostam daquela pseudociência porque tem uma ligação afetiva com ela, e daí se incomodam quando alguém expõe que aquilo não passou pelo crivo da ciência. O que a gente espera é que as pessoas leiam o livro antes de criticar, o que já não está acontecendo porque o livro nem tinha sido lançado ainda e já tinha nota de repúdio (o livro recebeu notas de repúdio de associações de homeopatia e do Conselho Regional de Medicina de Goiás).

Você acha que isso indica dificuldade de diálogo?

Acho que realmente mostra uma falta de abertura para aceitar novas evidências, dentro também do que a gente explica na introdução do livro, do que seria uma atitude científica, definida pelo filósofo Lee McIntyre, que é um filósofo da ciência. Ele define uma atitude científica como a capacidade de mudar de ideia diante de novas evidências ou da crítica dos nossos pares. E as pseudociências não apresentam uma atitude científica, elas não estão dispostas a mudar de ideia diante das evidências ou da crítica dos pares ou elas já teriam feito isso porque a gente tem evidências científicas mais do que de sobra de que, por exemplo, os princípios da homeopatia são contrários aos princípios da química e da física. A homeopatia foi testada exaustivamente e falhou miseravelmente em todo teste bem conduzido, sem mostrar um efeito maior do que o placebo.

Sobre a homeopatia e acupuntura, elas são reconhecidas como especialidades médicas pelo CFM e são oferecidas no SUS. O que a gente tem de evidência hoje sobre elas?

As evidências que a gente tem, no caso da homeopatia, são bastante contundentes dentro de um consenso científico internacional. A gente traz várias referências de revisões sistemáticas, de meta-análises, que mostram que se você juntar os melhores trabalhos feitos com a melhor metodologia sobre homeopatia, você vê que a homeopatia não passa de um placebo. Outra coisa que você vê, e isso vale para homeopatia e acupuntura, é que quanto melhor a metodologia, menor o efeito. Os trabalhos que mostram algum efeito carecem de rigor metodológico. Para a homeopatia, isso está muito bem documentado. E reunimos também as evidências de todos os países que já tomaram providências de políticas públicas em relação à homeopatia justamente por causa desse grande repositório de referências que mostra que a homeopatia não funciona além do placebo. Então a gente traz também no capítulo as declarações de diversos países quando eles tiraram a homeopatia de seus serviços públicos. A gente mostra também, para homeopatia e medicina tradicional chinesa, que nenhuma dessas práticas é inofensiva, essas práticas são perigosas. Elas podem mascarar sintomas, atrasar diagnósticos, afastar pessoas de tratamentos que realmente funcionam, então efetivamente muitas vezes elas matam gente. Essa é uma das razões pelas quais a gente escreveu o livro. Existe no imaginário popular um folclore muito forte de que, 'se não funciona, também não faz mal, então deixa'. E isso não é verdade. Pode fazer muito mal. E muitas pessoas que usam isso nem sabem o que são. A gente mostra uma pesquisa feita nos Estados Unidos que perguntava para as pessoas o que elas acham que era homeopatia, e elas diziam que era remédio natural, remédio de plantas. Muitas pessoas ficaram muito indignadas quando foi explicado o que realmente era. As pessoas têm o direito de saber o que elas estão escolhendo. Em relação à acupuntura, é a mesma coisa que a homeopatia: quanto melhor a metodologia dos trabalhos, mais fica claro que ela não funciona. A plausibilidade biológica também é extremamente questionável porque requer que existam coisas como meridianos e energia, que é algo que nunca foi comprovado e que provavelmente não existe. Você precisaria que essas coisas existissem para que a acupuntura fizesse sentido.

Foto: Pixabay

O livro traz capítulos sobre curas naturais, energéticas, dietas da moda. Como você vê o fenômeno crescente de algumas pseudociências se apropriarem das recomendações de adotarmos um estilo de vida mais saudável e utilizarem isso para vender essas terapias e produtos naturais sem eficácia comprovada ou até para negar medicamentos ou vacinas?

No capítulo de curas naturais, a gente explica bem o conceito que é conhecido como falácia do natural, que seria 'tudo que é natural é bom, tudo que é sintético é ruim'. Essa falácia do natural tem sido apropriada por muitos grupos de interesse para vender produtos e serviços que seriam ditos naturais. E o mais perigoso é quando ela entra nesse esquema de rejeitar tudo que é sintético - medicamentos, vacinas - e você passa a achar que, se seguir um estilo de vida natural, próximo da natureza, comendo alimentos orgânicos, fazendo exercícios físicos, você não precisa de vacinas e medicamentos. E isso é falso. É claro que ser saudável e se alimentar bem é algo bom para a saúde, mas a pessoa pode ser acometida por uma doença infecciosa grave da mesma maneira que outras pessoas, então esse estilo garante saúde, mas não garante vida eterna.

A respeito da psicanálise, que é uma prática também muito aceita ainda, o que vocês acharam nessa revisão de literatura que fizeram para o livro?

A psicanálise já foi completamente desbancada em países como Estados Unidos, onde nenhuma escola de psicologia vai ensinar psicanálise, a não ser como uma curiosidade histórica, enquanto que no Brasil, Argentina e França, a psicanálise ainda é levada muito a sério, inclusive por classes intelectualmente muito fortes, que têm uma erudição. Talvez porque a psicanálise tenha, historicamente, uma influência grande nas artes e na literatura. Agora, nada impede que a psicanálise continue presente na literatura, mas seja devidamente explicada, dentro da ciência, como uma prática que não tem respaldo científico para o tratamento psicológico de pessoas. Então é isso que a gente mostra no livro, que, dentro da ciência da psicologia, a psicanálise não é aceita como prática científica com comprovação de que funciona. E demonstra que os pais da psicanálise, principalmente (Sigmund) Freud, têm um histórico muito grave de fraudes e de conduta antiética que muita gente não sabe. Muita gente acha que ele simplesmente era um gênio. Isso é algo bastante comum no livro como um todo. Ele mostra como, infelizmente, as pessoas têm uma tendência muito forte de eleger grandes gênios que jamais poderiam estar errados. Por isso talvez seja difícil demonstrar como se constrói uma evidência científica e por que tal prática não tem evidência, porque as pessoas não querem olhar as evidências científicas, elas simplesmente não querem que falem mal do gênio que elas escolheram. Então acaba sendo uma postura um pouco mais pessoal e quase religiosa em relação a pseudociências que são muito queridas, que a gente fala que são as pseudociências de estimação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A cientista Natalia Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), mostrou nesta sexta-feira (11) em projeções no telão uma série de estudos científicos reconhecidos, de diversas partes do mundo, mostrando que a cloroquina e outros medicamentos do chamado "tratamento precoce" não funcionam contra a covid-19.

“A cloroquina, infelizmente, nunca teve plausibilidade biológica para funcionar. O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio, porque nas células do trato respiratório, o caminho é outro. Então ela já nunca poderia ter funcionado. Ela nunca funcionou para viroses. A cloroquina já foi testada e falhou pra várias doenças provocadas por vírus, como zika, dengue, chikungunya, o próprio Sars, Aids, ebola... Nunca funcionou”, asseverou a cientista. 

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Pasternak acrescentou no telão outros estudos, detalhando como se deram as pesquisas sobre a cloroquina, devido à pressão política de alguns países em torno dela. Estas pesquisas demonstraram a impossibilidade de o medicamento ter eficácia contra a covid-19.

“A cloroquina já foi testada em tudo! Foi testada em animais, em humanos. Foi testada de todas as formas e não funcionou. Inclusive de 'tratamento precoce', que são os estudos de PEP e PrEP. PEP é a exposição profilática pós-exposição, ou seja, a pessoa foi exposta ao vírus e já começa o tratamento — não dá pra ser mais precoce do que isso. Não funcionou! Aí a gente teve os PrEP, que é profilático. 'Vamos dar para profissionais de saúde', porque eles são muito expostos: também não funcionou! Estamos há pelo menos 6 meses atrasados em relação ao resto do mundo, que já descartou a cloroquina”, lamentou.

Efeitos colaterais

A pesquisadora ainda abordou que o chamado "kit-covid", além de não funcionar contra a covid-19, pode ter consequências mais graves para quem o consome.

“O 'kit covid' não têm nenhuma base científica, pelo contrário. No caso da hidroxicloroquina, ela junto com a azitromicina não tem um teste de segurança, e são dois medicamentos que podem ter como efeito colateral o aumento das complicações cardíacas. A hidroxicloroquina também nunca foi testada em conjunto com azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e outros que aparecem no 'kit covid'. Estes medicamentos nunca foram testados em conjunto. E podem ter, em conjunto, interações medicamentosas que podem ser nocivas para os rins, para o fígado e podem levar pessoas à fila do transplante, como tem ocorrido com usuários deste kit”, denuncia.

Estudo do Amazonas 

Natalia Pasternak defendeu o estudo de abril de 2020 da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com a Fiocruz e a USP, um dos primeiros no mundo a evidenciar a ineficácia da cloroquina contra a covid-19. O estudo tem sido atacado por defensores do "tratamento precoce", como senador Luis Carlos Heinze.

“Foi uma pesquisa de excelência, premiada internacionalmente como um dos melhores trabalhos publicados em 2020. Uma pesquisa extremamente bem conduzida, um estudo de segurança de dose. Que testou duas doses diferentes para pacientes hospitalizados, e concluiu que a dose alta era perigosa, não deveria ser usada. E que a dose baixa não alterava a carga viral, não trazia nenhum benefício. O professor Marcus Lacerda [condutor da pesquisa] foi quem mostrou que aumentar a dose não era seguro, e que a dose baixa não servia”, afirmou Natalia Pasternak.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), qualificou a viagem de uma comissão do governo brasileiro para Israel em março, visando tratar sobre um spray nasal, de "um evidente caso de desperdício de recursos públicos". Pasternak também explicitou que ficou surpresa com as tratativas.

“O spray nasal, quando a comitiva brasileira foi visitar, estava numa fase tão inicial de pesquisas que surpreendeu inclusive os pesquisadores israelenses. Ficaram surpresos que o Brasil tivesse interesse num medicamento que ainda estava na Fase 1, no comecinho dos estudos clínicos. É um remédio que está numa fase muito inicial, e que não tinha nenhum motivo para atrair tanto interesse de qualquer governo”, expôs.

Números de mortes 

A senadora Katia Abreu (PP-TO) quis saber quantas mortes poderiam ter sido evitadas, caso o governo brasileiro tivesse feito o "dever de casa" no que tange ao controle do vírus. Natalia citou um estudo do epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), publicado na prestigiosa revista científica medicinal inglesa The Lancet, dando conta que ao menos 3/4 das mortes no Brasil eram evitáveis.

“São os dados do pesquisador e professor Pedro Hallal, publicados na The Lancet, de que três de cada quatro mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média mundial de controle da pandemia. Ou seja, quando atingirmos 500 mil mortes, isso quer dizer que 375 mil mortes poderiam ter sido evitadas com um melhor controle da pandemia”.

Renan questionou se o governo deveria ter feito campanhas de esclarecimento e de prevenção desde o início da pandemia para proteger a população. Pasternak, que coordena o Instituto Questão de Ciência (IQC), voltado à divulgação científica, qualificou de "desastrosa" a ausência de política de comunicação por parte do governo .

“Há exemplos de países, como Alemanha e Nova Zelândia, onde esta comunicação foi feita diariamente pelos líderes. Falando com a população de forma clara e transparente. Estes países se saíram muito bem ao chamar a população como colaboradora. Já aqui o presidente da República se comporta de forma contrária à ciência, e isso confunde a população. Pessoas o seguem e acreditam nele. E quando ele aparece sem máscaras, desdenhando da pandemia, fazendo pouco das pessoas que morreram e mostrando total falta de empatia, ele confunde as pessoas, leva a uma ilusão de que está tudo bem”, declarou.

Investigações

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), a CPI está no rumo certo ao aprofundar as investigações em torno da cloroquina.

“Tem muita gente ganhando dinheiro com isso. Só a venda em farmácias dos medicamentos do kit covid, entre março do ano passado e março deste ano, foi de 52 milhões de comprimidos. Só da cloroquina foram mais de 32 milhões de comprimidos; a azitromicina cresceu 50% nas farmácias, com o agravante de que é um antibiótico. Tem gente que ganhou muito dinheiro com a ivermectina, por exemplo, e que financiou grupos de profissionais para defender a ivermectina, para prescrever ivermectina. Isso é grave, é muito grave.”, disse Humberto Costa, que também é médico.

O senador ainda mostrou preocupações com a vinda de uma 3ª onda ao país, e que projeções internacionais já apontam que o Brasil pode chegar a 750 mil mortos por covid-19 em agosto.

Defesa do governo

Alguns senadores buscaram se contrapor às falas da cientista. Para Luis Carlos Heinze, a ivermectina "já tem comprovação científica" no combate à covid-19.

“Há cinco metanálises favoráveis, sendo duas já publicadas, uma em maio pelo dr. Pierre Kory, e a outra agora em 6 de junho pelo dr. Timotheus, tendo um preprint da dra. Tess Lawrie, uma das maiores especialistas do mundo em medicina baseada em evidências, e do dr. Andrew Hill. Há ainda uma pesquisa recente do dr. Smruti Karale, da famosa clínica Mayo dos Estados Unidos”, disse.

Na resposta, voltou a negar a eficácia dos medicamentos promovidos como "tratamento precoce" à covid-19. Pasternak afirmou que boas metanálises devem incluir "os melhores estudos feitos sobre aquele assunto".

“Se a gente fizer uma metanálise só com estudos fracos, a gente vai ter uma metanálise fraca, e daí vão poder dizer que algo funciona, quando na verdade o conjunto das evidências que foi contemplado naquelas metanálises é um conjunto de evidências fracas. Então precisamos ter metanálises bem feitas. O grupo Cochrane é um grupo que faz isso muito bem, reúne metanálises de qualidade, feitas classificando os melhores trabalhos que foram feitos com a melhor metodologia, e analisando o poder estatístico de todos os trabalhos. As metanálises, principalmente as do grupo Cochrane e alguns outros grupos, que são metanálises de qualidade, é que devem ser levadas em conta”, declarou a especialista, lembrando que o consenso científico é constituído a partir de inúmeras pesquisas, de diferentes níveis de qualidade.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) foi outro que defendeu as ações do governo contra a pandemia, especialmente o repasse de verbas.

“Nunca se investiu tanto em saúde. Só no ano passado foram R$ 79 bilhões investidos na rotina do SUS, mais R$ 33 bilhões para a covid. O saldo agora em março das prefeituras e dos estados, foi de R$ 9,5 bilhões nos Estados e R$ 14,9 bilhões nos municípios. Sem falar em insumos e equipamentos comprados, o que dá R$ 46,5 bilhões e R$ 11,2 bilhões”, declarou.

*Da Agência Senado

 

 

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, a médica microbiologista Natalia Pasternak classificou a desinformação com relação a pandemia da covid-19 como algo que possa ter contribuído com o número de mortes pela doença no País.

Mas, segundo ela, não é possível "mensurar quantas pessoas morreram de desinformação".

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Ela criticou a falta de adoção, principalmente do presidente Jair Bolsonaro, do uso de equipamento de proteção, como máscaras, para tentar conter a disseminação do vírus.

Para a microbiologista, quando o presidente aparece sem máscara, cena comum para Bolsonaro em aparições públicas, ele "confunde as pessoas", fazendo com que assumam um "comportamento de risco" ao copiar o exemplo do chefe do Executivo e também dispensar seu uso.

Em sua fala inicial na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Natalia Pasternak adotou um tom crítico ao uso de medicamentos sem a eficácia comprovada para o tratamento precoce da Covid-19. A especialista, que foi ao colegiado munida de uma apresentação, apontou erros na defesa da cloroquina contra Covid devido à falta de evidências científicas a favor do medicamento e afirmou que o fármaco nunca teve a probabilidade de funcionar contra a doença.

A especialista foi enfática ao defender que a ciência não é uma questão de opinião, mas que a mesma funciona por meio de fatos. Ao comentar sobre a cloroquina, Pasternak afirmou que o medicamento não tem "plausibilidade biológica" para funcionar, tendo sido testado e falhado na tentativa de atribuir imunidade a outras viroses, como zika, dengue e a chikungunya.

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Pasternak afirmou que testes pré-clínicos realizados com o medicamento em animais, feitos normalmente em camundongos e macacos, não funcionou. "Não funciona em células do trato respiratório, não funciona em camundongos, não funciona em macacos e também já sabemos que não funciona em humanos", disse, afirmando que foram esgotadas as opções de testes para o medicamento. "A gente só não testou em emas porque elas fugiram", provocou Pasternak em menção a um episódio em que o presidente Jair Bolsonaro foi fotografado correndo atrás do animal com uma caixa do medicamento.

A microbiologista enfatizou que a insistência no medicamento é uma "mentira orquestrada pelo governo federal", afirmando que os estudos apresentados são suficientes para descartar a ideia de uso do medicamento para o tratamento da doença. "Estamos pelo menos seis meses atrasados em relação ao resto do mundo, que já descartou cloroquina", disse.

A "evidência anedótica", afirmou Pasternak, comentando sobre casos em que pessoas tomam o medicamento e apresentam uma melhora, "não são evidências científicas", sendo apenas casos, disse. "O plural de evidências anedóticas não é evidência científica, é só um monte de evidências anedóticas", afirmou. "Não interessa quantas pessoas a gente conhece que usaram cloroquina e se curaram, isso não se transforma em evidência científica, isso precisa ser investigado", afirmou.

Para ilustrar que causa não é efeito, a especialista apresentou um gráfico, baseado em fatos reais, que mostram que existe uma correlação entre o consumo de queijo mussarela nos Estados Unidos e o número de bolsas de estudos concedidas para Engenharia Civil. "Se a gente for olhar a correlação da cloroquina assim, a gente pode concluir que o problema das bolsas de estudo com a graduação é muito fácil de se resolver, é só as pessoas comprarem mais queijo".

A CPI da Pandemia recebe na sexta-feira (11) os cientistas Natalia Pasternak e Claudio Maierovitch. A sessão está marcada para começar as 9h, e os internautas poderão enviar perguntas e comentários para a reunião por meio do portal e-Cidadania.

Quem são os depoentes?

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Natalia Pasternak é formada em ciências biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Também é PhD com pós-doutorado em microbiologia na área de genética molecular de bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP).

A microbiologista é diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência. Também é colunista do jornal O Globo, das revistas The Skeptic (Reino Unido) e Saúde e autora do livro Ciência no Cotidiano, além de ser a editora responsável pela revista Questão de Ciência. 

Pesquisadora visitante do ICB-USP no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV) e professora convidada na Fundação Getulio Vargas na área de administração pública, Natalia tornou-se membro, em 2020, do Committee for Skeptical Inquiry (EUA). Foi agraciada com o prêmio internacional de promoção do ceticismo The Ockham Award (Navalha de Ockham) e dirigiu no Brasil o festival internacional de divulgação científica Pint of Science — Um Brinde à Ciência, coordenando palestras em 85 cidades. A convite da ONU, integra a Equipe Halo, um time de cientistas que promove esclarecimentos sobre vacinas no TikTok.

Cláudio Maierovitch é médico sanitarista, especialista em políticas públicas e gestão governamental e mestre em medicina preventiva e social. Também coordena o Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília. Foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 2003 a 2008 e diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde (entre 2011 e 2016).

Requerimentos

A vinda de Pasternak e Maierovitch atende a requerimentos aprovados dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Humberto Costa (PT-PE) e Marcos do Val (Podemos-ES) — este último, apenas no caso de Natalia Pasternak.

Os parlamentares citam a trajetória pública e acadêmica nacional e internacional dos profissionais nas justificativas, afirmando que os cientistas têm condições de esclarecer o país sobre a melhor forma de enfrentamento à pandemia de Covid-19.

*Da Agência Senado

Durante entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, nesta quarta-feira (17), a microbiologista do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak, fez considerações sobre a atual fase da pandemia no Brasil, a qual ela considera um “tsunami” de casos da Covid-19. Após um ano enfrentando a doença, o país se encontra no pior momento, com mais de 250 mil mortos e aumento no número de mortes que já ultrapassa os 20%.

Para a especialista, essa “segunda onda” é ainda mais preocupante e pode levar ao colapso do sistema funerário. “Se você achar que pode esquecer do vírus e fingir que ele não existe, vamos ver corpos empilhados nas ruas, vamos colapsar o sistema funerário. Se colapsar o sistema funerário, vamos ter outros problemas sanitários para resolver. Sem dispor de corpos de maneira adequada, vamos ter contaminação de lençol freático e outras doenças”, comentou durante o encontro.

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A médica ainda comenta que “não é humanamente aceitável perder três mil vidas por dia e achar que pode ignorar isso” e completa dizendo que as pessoas podem até ignorar o vírus, mas o vírus não irá ignorá-las.

Segundo a cientista, o lockdown segue sendo essencial para evitar situações ainda mais extremas e conter os avanços do vírus. Para ela, o colapso na saúde já é uma realidade latente, mas que o Brasil deve recorrer às restrições enquanto a quantidade de vacinas ainda for insuficiente.

“Lockdown é um consenso científico, é uma medida que funciona e que não é momento de ficar discutindo falsa dicotomia entre economia e vidas. Até onde sei, gente morta não movimenta a economia. A não ser o serviço funerário”, afirmou.

A microbiologista considera que a alta de mortes pela Covid-19, que chegou a quase 3 mil registros nas últimas 24 horas, pode não ser o cenário mais grave da pandemia. Segundo ela, sem uma mudança de postura na Saúde e o fim do “negacionismo da ciência”, a situação tende a piorar, e a escritora critica ainda a postura do novo responsável pela pasta da Saúde no Brasil, Marcelo Queiroga, pela insistência do médico em negar a eficácia das medidas restritivas.

Na última segunda (29), a microbiologista Natalia Pasternak falou, em entrevista, sobre a eficácia dos testes rápidos de Covid-19. Segundo ela, os testes vendidos em farmácias têm eficácia duvidosa e podem confundir a população que não está preparada para interpretá-los. 

Pasternak foi a convidada do programa Roda Viva e falou sobre diversos aspectos relativos ao atual momento de enfrentamento ao coronavírus pelo qual o Brasil passa. Segundo a cientista, os testes rápidos vendidos nas farmácias mais podem atrapalhar do que ajudar. “A maioria desses testes rápidos de farmácia não é bom. Eles são ruins. Além de tudo a qualidade deles é duvidosa, a sensibilidade deles é baixa, eles podem dar muito erro de falso-positivo, como de falso-negativo".

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Doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, ela  também assinalou a dificuldade da população em interpretar os resultados dos testes e deixou um alerta para o público. “Eles não servem para nada, não comprem. Não deveria ser vendidos em farmácias, mais confunde a população do que ajuda, as pessoas não sabem interpretar os testes".

Reabertura

Natália também comentou sobre a decisão de alguns estados de reabrir o comércio. De acordo com ela, o momento não é favorável para essa etapa e as consequências podem ser muito graves. Confira. 

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