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 Neste domingo (28), o rapper Rico Dalasam foi às passarelas do no São Paulo Fashion Week 2019 (SPFW) e fez um protesto contra o público do evento. A manifestação aconteceu por conta da decisão da produção do SPFW em prosseguir com programação normalmente, após a morte do modelo Tales Cotta Soares, de 26 anos, que teve um mal súbito enquanto desfilava no sábado (27).

“Não era pra ninguém estar aqui. O garoto acabou de morrer e vocês estão aqui como se a vida não valesse nada. Não era pra ninguém estar aqui. Enquanto os ricos não lamentarem a morte dos negros, dos brancos e da humanidade das pessoas, a agonia vai estar no travesseiro de todo mundo”, falou o rapper.

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Ele foi contratado pela marca Cavalera. No Instagram do artista, internautas ‘aplaudiram’ o posicionamento dele. “Arrepiada pelo o que vc disse no SPFW ... parabéns ! O mundo precisa de pessoas como você”; “Parabéns pelas palavras durante a SPFW, não devemos nunca nos calar diante de tanta desumanidade”; “Orgulho de vc, pelo seu posicionamento na SP Fashion week”, comentaram.

Durante o evento, modelos que desfilavam para a grife Ponto Firme exibiram cartazes com as palavras “amor” e “luto”.

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"Vai ter bicha no rap, sim", é o que bradam os representantes da cultura queer que vêm construindo uma nova cena dentro do Hip Hop. São artistas homossexuais, transgêneros e travestis que escolheram mostrar suas vivências e sua arte rimando.

O Queer Rap já tem um cenário bastante consolidando fora do Brasil e, nos últimos anos, vem cavando seu lugar dentro da música nacional. Um movimento que, a depender da vontade e do talento de seus porta vozes, veio para ficar.

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Em países como os Estados Unidos, o Queer Rap já é uma cena consolidada com artistas como Mykki Blanco, Le1f, Cakes da Killa e Zebra Katz. Já pelas bandas tupiniquins, o movimento ainda pode ser visto com aquele frescor de coisa nova.

Desconstruindo padrões e peitando a normatividade, rappers e MCs LGBT brasileiros estão produzindo em quantidade e com bastante qualidade. Certamente, um sopro de inovação que sabe como se fazer ouvir e notar, até porque, como disse em entrevista o cantor Criolo, um dos grandes nomes do rap nacional: “Não somos nós que vamos dizer a cara do novo, ele que vai mudar nossa cara".

Um dos primeiros a apostar na 'novidade' foi o rapper paulista Rico Dalasam, em meados de 2014. E ele já chegou abrindo um show do tradicional grupo de rap Racionais MC's. Na plateia, cerca de cinco mil pessoas testemunharam Dalasam, de saia e salto alto, mandar suas rimas: "Vem e aceita que onde ninguém foi eu vou tá/ Vê bem e vem/ Que pra variar/ Esse close eu dei". Em 2017, aos 25 anos, Rico lançou seu primeiro EP, 'Modo Diverso', com letras que versam sobre aceitação e mesclam diversas referências estéticas.

De lá para cá, outros nomes do Queer Rap ingressaram no rol de artistas do segmento, como a drag Gloria Groove - que agora envereda por um universo mais pop -, a MC Alice Guel - com rimas diretas e sinceras em seu EP 'Alice no País que Mais Mata Travestis' -, Danna Lisboa, Rosa Luz, JUP, Monna Brutal e MC Dellacroix.

Dellacroix, MC de São Paulo, enveredou pelo mundo do hip hop após alguns anos de pesquisas em teatro, dança e performance. A música foi a expressão que faltava para mandar seu recado. Ela explica sobre o que se trata esta cena: "Juntamente com o rap, o queer rap quer explorar as novas narrativas marginais e outras possibilidades de corpos, narrando e criando trajetória de corpos transvestigeneres pretos do gueto. Eu expresso meu trabalho na música de forma muito orgânica, e acho que o queer rap tá aí para nomear e tornar palpável todo esse movimento entre nós, as bixa preta, as travestis do rap", explica, em entrevista ao LeiaJá.

A MC fala sobre segmentar o Hip Hop: "Essa segmentação já foi criada a partir do momento que o rap/hip hop se torna machista quando os homens dominam a cena. Essa segmentação pode ser classificada como resistência". E, demonstrando seu empoderamento e confiança, declara sem arrodeios: "A gente não precisa mais de aval de macho pra rimar, e eu sigo Dellacroix, travesti preta no rap rimando pra incomodar sim, e se incomodou é porque atingiu quem eu queria impactar e questionar com a minha fala, meu proceder e minhas rimas".

Dellacroix afirma que ela e as demais artistas que compõem a cena ainda são "um tapa na cara", mas que tem sido bem aceita entre o público e se sente respeitada no meio do rap. Além disso, ela se preocupa em trabalhar com profissionais LGBT: "É importante e é necessário para corpos como o meu. Somos uma equipe composta por minas, monas, os mano também. Aprender e entender e ter noção de lugar nesse meu corre independente, se ligar em showbiz e a indústria da música. É aprendizado constante com todas as pessoas que eu fecho parcerias".

A MC está planejando seu primeiro álbum para o segundo semestre de 2018, além de projetos de audiovisual e uma turnê pelo país para "Conhecer minhas manas de todos os cantos e tecer cada vez mais redes: de afeto, de fortalecimento, de potência".

Quebrada Queer

Outro grupo que já chegou fazendo barulho é o Quebrada Queer. Formado por cinco MC's: Guigo, Murillo Zyess, Harlley, Lucas Boombeat e Tchello Gomez, o grupo deixou claro a que veio em sua primeira música lançada: "Quebrando armários, extermínio à normatividade. Revolução!/ Vamo assistir você ouvindo a nossa realidade/Tirando nossas capas de invisibilidade/ As monas unidas pro combate e olha no que deu".

'O que deu', e o que está dando, ao que tudo indica, é a estruturação de um movimento que traz inclusão e diversidade a uma cena, até então, tida como fechada e com padrões normativos bem estabelecidos. As portas do armário estão se abrindo, não à toa, com força, coragem e resistência; e tomando emprestados os versos do Quebrada Queer para o assunto: "Não é só close, é luta/ Então vê se me escuta/ Aceita, atura ou surta".

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A cada dia os padrões de gênero vão sendo deixados mais e mais de lado. Atualmente, muitas pessoas sentem a necessidade de se desprender das amarras nascidas a partir da construção social do que é ser homem ou mulher, e dos estereótipos atribuídos a cada um.

No mundo artístico, há inúmeros representantes dessa revolução de papeis, que representam a causa LGBT e levantam a bandeira da liberdade de gênero. Conheça um pouco sobre a história e carreira alguns dos artistas brasileiros que desafiam os limites de gênero:

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Pabllo Vittar é hoje a drag queen mais assistida no YouTube, tendo ultrapassado a americana Rupaul, maior referência mundial no assunto. A maranhense de 22 anos é dona de hits como ‘Open Bar’, ‘Todo Dia’ e ‘K.O.’, que juntos já somam mais de 81 milhões de visualizações. Pabllo já afirmou que se considera 'genderfluid', isso é, transita entre os gêneros feminino e masculino. “Sou homem, gay, gender fluid, drag, não gosto de me rotular”, disse em entrevista à Billboard. Recentemente, lançou uma música em parceria com Anitta e com o trio de DJs gringos Major Lazer, intitulada ‘Sua Cara’.

 

Liniker é uma figura artística que brinca com símbolos da masculinidade e da feminilidade. “Isso é natural para mim, eu posso ser uma mulher de barba e isso não tem problema. Eu posso ser uma mulher de barba que usa batom. Eu posso ser uma mulher que se vista assim hoje. Esse sou eu”, disse em entrevista ao Estadão, e afirmou ter tirado as rotulações de gênero da sua vida. A cantora ou o cantor, segundo Liniker, tanto faz. Ela (ou ele) é a voz por trás do EP “Cru”, de Liniker e os Caramelows. Estes, que em seu show introduzem os vocais gritando “Nos vocais ele, ela, ili: Liniker!”.

 

Rico Dalasam é o único rapper assumidamente gay no Brasil e atua como representante do movimento “queer rap”. Ele afirma que seu sobrenome artístico, Dalasam, é acrônimo para “Disponho Armas Libertárias a Sonhos Antes Mutilados”. Rico não tem medo de estar nesse universo tão pouco explorado por homens abertamente homossexuais e nem de esbanjar uma certa feminilidade em seu estilo pessoal. Às vezes aparece usando saias, cabelos grandes com penteados mais femininos e até requintes de maquiagem, como em sua participação no clipe da música “Todo Dia”, sua parceria com Pabllo Vittar. Assim como Liniker, ele não se limita aos padrões de gênero.

 

Thammy Miranda nasceu mulher, e ficou famosa aos 16 anos pela sua beleza, que se destacou nos shows da sua mãe, nos quais se apresentava como bailarina. Aos poucos Thammy foi liberando o seu 'eu interior', a começar pela homossexualidade que assumiu em 2006. Em 2014 a mudança foi mais drástica e a então filha de Gretchen fez uma cirurgia de remoção das mamas. Pouco depois, começou a tomar hormônios masculinos e se tornou cada vez mais próxima da figura de um homem. Hoje, Thammy é “ele”, já apareceu inúmeras vezes mostrando o seu novo corpo e até publicou foto da sua nova certidão de nascimento, que já conta com a troca de gênero. Recentemente estreou no teatro vivendo seu primeiro personagem masculino na peça “T.R.A.N.S”. 

 

Jaloo é um DJ queer, cantor e compositor paraense. Ele gosta de misturar gêneros tanto na sua música, ao unir o indie, o eletrônico e o tecnobrega, quanto na sua vida pessoal, ao declarar sua fluidez em relação às definições de gênero. Ele algumas vezes se refere a si como homem, outras como mulher. Seu corpo é masculino, mas muito dos detalhes do seu visual são femininos. “Gosto dessas contradições e de usá-las a meu favor”, disse ele em entrevista ao Huffpost Brasil. Seu foco principal é propagar sua música pela internet. Segundo o DJ, a TV e o rádio não despertam seu interesse.

 

Laerte é uma das mais importantes cartunistas do Brasil. Estudou na USP nos cursos de Comunicação e Artes, apesar de nunca ter se formado em nenhum dos dois. Ao longo de sua carreira, já fez colaborações com tradicionais jornais brasileiros, participou de diversas publicações como Balão, O Pasquim, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo e revistas como a Veja e Istoé. Criou personagens como os 'Piratas do Tietê', 'Overman' e 'Fagundes'. Ela é adepta ao crossdressing e se considera transgênero, apesar de também nunca ter feito cirugia para retirada dos seus órgãos masculinos. Em 2017, foi lançado o documentário "Laerte-se", que trata da identidade da cartunista e dos seus dramas íntimos.

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