Tópicos | sarna

Um dos autores do estudo que apresenta a hipótese do surto de coceira na Região Metropolitana do Recife (RMR) estar associado ao uso indiscriminado de Ivermectina na pandemia, o professor Alfredo Dias, do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), aponta que podemos estar vivendo uma epidemia de sarna.

Casos semelhantes da lesão cutânea foram registrados anteriormente no Litoral de São Paulo e um alerta epidemiológico foi emitido em Belo Horizonte, na última quarta-feira (24), para monitorar a doença de pele misteriosa.

##RECOMENDA##

Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, o pesquisador aponta que o surto já era previsto por cientistas, já que o uso excessivo de medicação antimicrobiana, como antibióticos, antifúngicos e antiparasitários, como ocorreu na pandemia, cria microorganismos mais resistentes.

“Os parasitas são tão expostos àquele antimicrobiano, que eles aprendem a sobreviver e a substância acaba perdendo efeito sobre eles”, explicou Alfredo, que defende a Ivermectina como uma medicação segura e eficaz quando ministrada de forma correta. Inclusive, lembra que há 20 anos ela "já era o tratamento para quando a sarna fosse resistente".

O professor anuncia já podemos estar vivendo uma epidemia sem saber.

“É possível sim, podemos. A gente até discutiu no grupo de pesquisa porque nós não queríamos estar certos disso”, lamentou.

Por que primeiro no Recife?

A justificativa da disparada recente de casos no Recife pode estar relacionada à aptidão histórica que a cidade tem para monitorar quadros epidemiológicos e, dessa forma, ampliar a vigilância diante das primeiras notificações.

“Recife tem uma tradição epidemiológica de vigilância, inclusive têm institutos formadores de epidemiologia há décadas. Talvez [o surto] seja pela própria busca ativa e por considerar o problema relevante já de cara”, explica Dias.

Nesse sentido, a teoria de que o surto ocorre apenas na capital e, até o momento, se expandiu por seis cidades vizinhas significaria uma comunicação alinhada entre a rede de saúde e as secretárias, que recebem as informações e já iniciam a investigação dos casos.

Diagnóstico lento

Apesar dessa capacidade, a doença segue como um mistério e não tem prazo para ser esclarecida pelas autoridades sanitárias. O cientista explica que o diagnóstico lento seria uma medida de precaução.

“Existem várias doenças que se assemelham ao que tá aparecendo. Então eles precisam, de fato, fazer biopsia com material de várias pessoas para emitir a certeza sobre a causa do surto”, ensina.

Sintomas associados

Os pacientes relataram as mesmas queixas de manchas na pele, que geralmente se tornam feridas por conta da coceira intensa, características da doença. Contudo, também há relatos de sintomas não reconhecidos no quadro da escabiose como febre, inflamação na garganta e diarreia.  

Mas isso não descarta ainda a tese de ser mesmo um surto de sarna, já que os outros sintomas podem ser resultado de doenças adquiridas devido às fissuras abertas na pele. "Podem servir de ponto de entrada para infecções oportunistas", complementa o pesquisador.

Pesquisa

O principal fator que pode explicar o surto de lesões cutâneas na pele, caso confirmada a relação com o parasita Sarcoptes scabiei, causador da sarna, foi a disparada do consumo do remédio em doses elevadas e a repetição do uso em um curto intervalo por pacientes que se automedicavam ou foram mal orientados por médicos, como publicado em agosto.

Alfredo Dias e os demais pesquisadores analisaram mais de 50 estudos sobre resistência à medicação e aumento da incidência de sarna em todo o mundo.

“(Para se criar a resistência) precisava haver consumo alto de Ivermectina e quando foi registrado, havia se consumido o dobro. A gente teve 10 vezes mais uso na medicação (no Brasil”, revela.

A disseminação também já era prevista por pesquisadores do grupo composto pela também professora do ICF, Sabrina Neves, e pelos alunos Lucas Bezerra e Natalia Alves. Na visão destes, o surto poderia ser provocado pelo confinamento e questões socioeconômicas como a pobreza e a baixa escolaridade, que garantiriam uma "tempestade perfeita" para o ácaro.

Os casos das lesões cutâneas, que causam coceiras nas pessoas, só estão aumentando no Grande Recife. Esse surto, que começou com 79 casos no Recife, já passa dos 300, em seis cidades da região. Como tratar de algo que ainda não se sabe o que é? A dermatologista Márcia Horowitz fala sobre os cuidados que os pacientes devem ter.

Evitar ao máximo coçar

##RECOMENDA##

Márcia salienta que deve-se evitar ao máximo coçar. “Pode lesionar a pele, criando uma porta de entrada para a contaminação por bactérias, podendo ter que fazer o uso de antibióticos por conta dessa infecção”, diz.

Também deve-se evitar passar álcool, usar sabonete de aroeira e sabão amarelo, já que esses produtos podem acabar irritando a pele e ocasionar uma lesão por cima da coceira, atrapalhando o diagnóstico e o tratamento médico. 

Evitar a automedicação

A dermatologista detalha que de nenhuma forma os pacientes devem se automedicar. “Principalmente com pomadas com corticóide, porque elas vão tirar um pouco a vermelhidão, o inchaço das lesões e nós, dermatologistas, trabalhamos com a hipótese e diagnóstico justamente observando as lesões”, explica.

Como diminuir as coceiras

Até conseguir uma ajuda médica, Márcia Horowitz aconselha que o paciente procure por locais mais arejados, porque o calor pode piorar as lesões. Além disso, também é indicado fazer compressas frias nos locais, sem gelo, para uma sensação de maior alívio. 

No entanto, a especialista aponta que é essencial que as pessoas procurem uma ajuda médica para poder ser prescrito o tratamento indicado para os sintomas. 

“Esse tratamento deve ser a base de antialérgicos, que vai depender do quadro do paciente e, principalmente, excluir outros tipos de coceira como a própria escabiose, infecção por fungo ou dermatite”, salienta a dermatologista. 

Qual profissional devo procurar?

Márcia orienta que qualquer médico está apto a tratar essas lesões cutâneas que estão acontecendo, mas é importante que o paciente se dirija a uma unidade de saúde, mesmo que esteja medicado, para que o profissional notifique a Secretaria de Saúde, que está investigando os casos.

Com sintomas muito parecidos aos da sarna, o surto que se alastra na Região Metropolitana do Recife (RMR) pode ter sido motivado pelo uso indiscriminado de Ivermectina durante a pandemia. Pelo menos 264 moradores de seis cidades já apresentam lesões cutâneas, que ainda estão sendo investigadas pelas secretarias de saúde municipais.

Espalhados em Olinda, Jaboatão, São Lourenço, Camaragibe, Paulista e Recife, os pacientes se queixam de uma forte coceira que se intensifica à noite e evolui para feridas, mesmo com o uso de antialérgicos. 

##RECOMENDA##

A Ivermectina, medicamento antiparasitário, foi incluso no polêmico "kit covid" defendido pelo Governo Federal, junto com outras substâncias sem nenhuma evidência científica que indicasse seu uso contra a Covid.

Alguns profissionais continuaram prescrevendo a substância, mesmo após o próprio fabricante reprovar essa indicação. Pessoas também tomaram o remédio por conta própria, confiando na suposta eficácia propagada por alguns planos de saúde e também por integrantes do "gabinete paralelo", que teria sido formado para aconselhar o presidente Jair Bolsonaro

Pesquisa alertou para possível surto em agosto

Um estudo publicado no dia 15 de agosto deste ano, por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), deu sinais de que o uso indiscriminado do remédio pode ter desenvolvido a super resistência do Sarcoptes scabiei, ácaro responsável escabiose, também conhecida como sarna humana. 

Além de questões de climáticas e socioeconômicas, os fatores que podem ter contribuído para a evolução do parasita se relacionam ao aumento da dosagem e uso repetitivo da Ivermectina em um curto intervalo. Por isso, também não está descartado o aumento da resistência de outros parasitas, como piolhos.

“Fatores como evidências de resistência do Sarcoptes scabiei à ivermectina e intensificação de fatores relacionados à incidência de escabiose como pobreza, baixa escolarização, confinamento familiar e aumento de compartilhamento de artigos domésticos podem levar à manifestação de surtos de escabiose. Este aumento pode ser especialmente danoso para pacientes pediátricos de baixa renda, além dos riscos à saúde da população em geral", apontou o estudo liderado pelo professor Alfredo Dias, que já alertava sobre a possibilidade do surto antes do primeiro registro em Pernambuco.

O estudo também citou que a partir de junho de 2020, as vendas de ivermectina no Brasil aumentaram consideravelmente, passando de R$ 44 milhões em 2019 para R$ 409 milhões, uma alta de 829%. Há quem diga que foi mais.

Pode ser ainda mais grave

Comprovada ou não a relação entre o surto e o uso indiscriminado de Ivermectina, o fato é que a doença causa preocupações ainda maiores do que uma coceira ou danos à pele.

"A persistência e difusão da escabiose pode causar aumento de mortalidade em crianças devido a infecções secundárias, e prejudicar seu desenvolvimento pois leva a distúrbios do sono, reduzindo a sua capacidade de concentração e produtividade, além dos riscos à saúde da população em geral", conclui o estudo conduzido na UFAL.

Sem prazo para a confirmação

Ainda classificada como "lesão cutânea a esclarecer", outra linha de investigação aponta a possibilidade da doença ser causada por mosquitos. 

A Secretaria de Saúde do Recife, primeira a registrar o surto, acompanha os casos desde o início de outubro e emitiu alerta epidemiológico para controlar as ocorrências junto ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). A pasta não deu prazo para confirmar a causa da doença.

A Secretaria Estadual de Pernambuco destacou que as secretarias municipais ficam responsáveis pelas investigações.

LeiaJá também:

-->Recife em alerta para surto de doença de pele misteriosa

-->PE: jovem está há 2 meses com a doença de pele misteriosa

-->Recife enfrenta crescimento de casos de lesões na pele

 

O cantor Zé Felipe e seu pai, Leonardo, foram diagnosticados com sarna nessa segunda-feira (31). Nos stories do Instagram, Virginia Fonseca, esposa de Zé Felipe, revelou que os dois foram comprar uma casa abandonada há pelo menos dez anos e acabaram contraindo a doença.

Zé Felipe se pronunciou e disse ter procurado um dermatologista por conta de uma coceira intensa que pegou por conta de passar no meio dos matos que estavam na altura do peito e acabou tendo o diagnóstico.

##RECOMENDA##

“Pegou sarna aqui do lado (apontando pra barriga). Vocês não sabem o que é coçar”, disse de forma bem humorada.

Virginia contou que a ida a casa foi um dia antes do nascimento de sua primeira filha, Maria Alice e só não foi a visita junto, porque seu sogro, Leonardo não deixou.

"Eu preciso agradecer a Deus em primeiro lugar e depois a Leonardo, porque, se não, eu estaria aqui cheia de sarna", completou.

Virginia tranquilizou seus seguidores, dizendo que a dermatologista alegou não ser contagiosa a doença, portanto Zé Felipe pode continuar próxima a esposa e a filha recém-nascida.

Leonardo

No caso de Leonardo, sua esposa Poliana Rocha, também divulgou nos stories como está o cantor, publicando vídeo dele coçando as costas com uma colher de pau e mandando recado para seu filho, Zé Felipe.

“Lipe, o bicho está pegando aqui, olha. Seu pai também está com sarna, e olha o que ele está usando para coçar essa sarninha... essa colher de pau. Ninguém vai comer aqui em casa mais, amor", brincou.

Foi constatado que 180 presos do Centro de Detenção Provisória (CDP), do Distrito Federal, estão com escabiose, conhecido popularmente como sarna. O único medicamento para tratamento da doença de pele está em falta no sistema. Por conta disso, o presídio liberou que visitantes levem o remédio aos presos até que a compra emergencial do medicamento seja feita pelo sistema prisional.

A sarna se espalhou no Complexo Penitenciário da Papuda, localizado no Distrito Federal. A identificação aconteceu quando promotores do Núcleo de Controle de Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri) encaminharam ofício à Gerência de Saúde Prisional da Secretaria de Saúde para que a doença não se espalhasse.

##RECOMENDA##

Segundo o Correio Braziliense, uma equipe do Centro de Detenção Provisória realizaram um mutirão de atendimento, além de higienização das celas, alas e o início do processo administrativo para implementação de lavanderias no sistema.

O ator Cássio Scapin, mais conhecido pelo personagem Nino do 'Castelo Rá Tim Bum', afirmou que pegou sarna, após usar um figurino nas gravações da novela bíblica 'O Rei e o Lázaro', da Record. Cássio acredita que a peça não foi devidamente higienizada.

Em entrevista ao site UOL, ele relatou que percebeu uma irritação e vermelhidão na pele, logo procurou um médico. “Eu comecei com uma coceira, uma irritação, vermelhidão na pele. Fui ao médico e foi aí que ele me falou que eu estava com sarna”, contou. Depois do diagnóstico, Scapin passou por um longo tratamento e redobrou os cuidados com a higiene. O caso aconteceu em agosto de 2017, mas o ator não tinha confirmado o episódio.

##RECOMENDA##

LeiaJá também

--> Participantes deixam 'A Casa' após contraírem conjuntivite

As unidades penitenciárias do Piauí estão sofrendo com um surto de escabiose, patologia conhecida popularmente como sarna. Em um dos presídios mais atingidos, Esperantina, até o diretor da unidade contraiu a doença. A superlotação das unidades e a falta de higiene são as principal suspeitas de impulsionar o número de casos. 

Segundo números oficiais, 1620 presos contraíram a sarna, um total de 39% da população carcerária piauiense, composta de 4100 presos – o Estado possui apenas 2230 vagas. O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí (Sinpoljuspi) contabiliza 98% da população carcerária infectada. “A secretaria [de Justiça] se baseia apenas naqueles em que foi detectada a sarna de forma externa, só que quando o detento está infectado ele passa para todos os outros com quem ele tem contato, então todos os presos que estão na carceragem foram atingidos sim”, argumenta o presidente do sindicato, José Roberto.

##RECOMENDA##

O presidente do sindicato conta que os primeiros casos datam de novembro de 2016, mas só em abril houve a explosão de casos. “Já cobramos o tratamento desses presos no ano passado. A Secretaria de Justiça até tentou fazer sua parte, encaminhou um ofício, mas dependia dos medicamentos da Secretaria de Saúde. Apenas após a gente fazer denúncias, procurar os direitos humanos, a Secretaria de Saúde começou a liberar os medicamentos a conta-gotas”, critica. 

A Secretaria de Justiça informou que já está realizando o tratamento dos detentos. De acordo com a pasta, foram adquiridos e distribuídos mil frascos de benzoato e dois mil comprimidos de ivermectina. Mais mil frascos de benzoato foram solicitados para dar continuidade ao tratamento e prevenção.

As penitenciárias que registraram casos de escabiose foram Casa de Custódia, Casas de Detenção de Altos e São Raimundo Nonato, Colônia Agrícola Major César, Irmão Guido e Esperantina – com maior incidência nas duas últimas citadas. Como parte do tratamento, a Secretaria de Justiça afirma que os presídios também estão sendo higienizados e que estão avançando na implementação da Política de Saúde Prisional. Com o fim do período chuvoso, os casos estariam diminuindo.

O Sinpoljuspi não sabe precisar quantos agentes também foram atingidos. “Os detentos querem externar o problema. O agente evita dizer que está com problema por causa do orgulho. Mas em Esperantina, que tem 30 agentes, um terço contraiu a doença, sendo um deles o próprio diretor da unidade”, destaca José Roberto. 

Além de manchas vermelhas, a sarna causa bastante coceira. “A coceira é tão grande que o cara não consegue tirar um minuto de cochilo. No período noturno é que é pior, que é o período de reprodução do ácaro. Os presos estão passando por uma vida de cão. Eles não vão sair melhor do que entraram”, conclui o presidente do sindicato. 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando