Cinco jornalistas morreram em menos de três semanas na Ucrânia, um testemunho da violência dos combates e dos ataques indiscriminados contra civis.
Na terça-feira (15) morreram dois jornalistas da rede de televisão americana Fox News: o franco-irlandês Pierre Zakrzewski, um veterano dos campos de batalha, e a ucraniana Oleksandra Kuvshinova.
No domingo a vítima fatal foi o americano Brent Renaud, o que mostra "a extrema periculosidade do cenário ucraniano", disse o ministro francês da Defesa, Jean-Yves le Drian.
A situação no país é "extremamente volátil, sem linha de frente clara há dias", disse à AFP o repórter Sébastien Georis, enviado especial da emissora belga de rádio e televisão RTBF.
Um veterano com décadas de experiência em conflitos, o fotógrafo francês Patrick Chauvel, de 72 anos, acaba de voltar da Ucrânia e relata uma guerra "muito, muito complicada de cobrir".
"Há combates de artilharia (...), uma bomba de 250 quilos tem um raio letal de 50-60 metros, pode cair em qualquer lugar", disse este jornalista, na segunda-feira (14), no programa francês "Quotidien".
"As pessoas estão muito paranoicas, têm o gatilho fácil", acrescentou, referindo-se aos ucranianos que temem os "sabotadores" russos.
Nesse contexto, os jornalistas parecem ter virado "alvos" da guerra, disse recentemente à AFP o secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire.
"É pior do que outros conflitos? Difícil dizer", comenta o secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), Anthony Bellanger.
"Temo (...) que o balanço vá ser ainda mais macabro", afirmou, acrescentando que "o Exército russo bombardeia às cegas".
- Situação precária e sem formação -
A decisão russa de recorrer a reforços sírios e chechenos "como uma forma de fazer a guerra e um respeito pelo direito internacional humanitário que não se parece muito com a nossa maneira" leva a antecipar um agravamento da situação, disse uma fonte diplomática europeia à AFP.
Do lado ucraniano, três jornalistas morreram, entre eles Evgueni Sakun, morto no bombardeio russo à torre de televisão em Kiev. Além disso, há inúmeros jovens inexperientes que se apresentam como "repórteres de guerra", denuncia no Twitter Laura-Maï Gaveriaux, correspondente do jornal "Les Echos", de Dubai.
Alguns viajam para a Ucrânia "sem fazer cursos de formação na Cruz Vermelha", sem seguro e sem material, relata esta jornalista, que diz se sentir "indignada" com a recusa de algumas redações a pagar coletes à prova de balas (cerca de US$ 500), ou capacetes (em torno de US$ 700).
Recém-chegado à Ucrânia, o enviado especial do jornal espanhol "El Mundo", Lluís Miquel Hurtado, também critica a responsabilidade de alguns veículos de comunicação, que "deixaram de investir no jornalismo".
Ciente de que há "milhares de jornalistas" trabalhando na Ucrânia em condições precárias, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês) anunciou que entregará 125 capacetes e coletes à prova de balas com a inscrição "imprensa".
A distribuição será feita pelo centro de imprensa recentemente aberto pela Repórteres Sem Fronteiras em Lviv e pela FIJ. Dos 46 jornalistas mortos em 2021, 18 faleceram em zonas de conflito, de acordo com a RSF.