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Um dos desafios mais constantes da medicina é encontrar tratamentos e curas para doenças, e outros quadros clínicos, como câncer, dores crônicas, entre outras. Além do sofrimento do paciente, as famílias também ficam desestabilizadas, e sem saber se os medicamentos utilizados serão, de fato, eficazes. No entanto, estudos e pesquisas vêm aprofundando e levantando o debate sobre o uso da cannabis sativa, substância própria da maconha, para fins medicinais, e já apresentam resultados satisfatórios para que a regulamentação possa ser estudada e realizada no Brasil. 

Mas nem sempre foi assim, e muitas famílias passaram por dificuldades para lidar com um quadro de doença grave de um ente querido. Foi o que aconteceu na família do advogado Sergio Eduardo Urt. Seu pai, de 89 anos, apresentava um quadro generalizado de câncer de próstata, metástase óssea e infiltração no fígado, há sete anos. No momento em que ele estava mais debilitado, chegou a perder 25 kg pois não conseguia ingerir nada. O quadro de seu pai era considerado terminal, sem grandes chances de recuperação, quando Sergio foi apresentado à possibilidade de realizar um tratamento com óleo de cannabis. 

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“Primeiro passo foi tentar adquirir o óleo, na associação [de pacientes que utilizam o óleo da cannabis para tratamentos]. O segundo passo foi informar os médicos que ele iria começar o tratamento, mas não foi pedir autorização”, relembra. À época, no primeiro trimestre de 2020, seu pai era acompanhado por um neurologista, um oncologista, um clínico geral e um urologista. 

Sergio conta que o produto, importado dos Estados Unidos, custou caro, e ainda havia o risco de não chegar, devido às proibições do consumo de produtos derivados da cannabis no Brasil. “Tive de comprar ‘na tora’, correndo risco. Meu pai semi-morto em casa, eu comprei sem autorização, sem nada. Falo abertamente, até porque depois que eu vim organizar legalmente a situação. Mas eu comprei o óleo mais forte que tinha [em concentração de THC], e eu nem sabia se ia mesmo chegar. Gastei na época R$ 3 mil, de um fornecedor que eu nunca vi”, ele conta. 

“Você vê seu pai, ou filho, mãe, parente, alguém que você ama, você vai fazer qualquer coisa. E chegou meio que na última consulta, que a médica foi lá em casa, a geriatra dele, sendo que não tinha o que fazer, ia começar a aplicar morfina nele, já não tinha resposta de mais nada”, continua. 

O episódio aconteceu, Sergio relembra, exatamente no dia 23 de março de 2020, cerca de uma semana da determinação do “lockdown”, devido à pandemia da Covid-19. A médica saiu da casa dele, e no mesmo dia, no final da tarde, a encomenda internacional chegou, e ele começou a aplicar as gotas de óleo imediatamente. O jurista percebeu uma melhora em seu pai em poucos dias, e hoje, três anos depois do início do tratamento, ele apresenta quadro de remissão do câncer, e não há risco de outra doença grave. 

Os resultados alcançados com o uso do óleo de cannabis fizeram Sergio se voltar para a causa, já que no Brasil ainda existem leis e regras que impedem a produção e comercialização, em larga escala, do medicamento. Para debater com mais profundidade o assunto, médicos e especialistas no assunto se reuniram, nesta sexta-feira (8), na I Jornada Regional da Cannabis Medicinal, com agenda que se estende até o sábado (9). O evento é voltado para médicos e demais profissionais da saúde, para debater e compreender os mais recentes estudos e resultados do uso da cannabis sativa, substância própria da maconha, para o tratamento de doenças e outros quadros clínicos. 

Para Rafaela Asfora, diretora médica do Instituto Sativa, a jornada é um marco para o desenvolvimento da pesquisa do uso da cannabis. “A gente pode ver profissionais se disponibilizando a entender, aprender um pouco mais sobre a cannabis, sobre a medicina cannabinoide, buscando oferecer o melhor pros pacientes, oferecer uma melhor qualidade de vida pra eles. Então esse evento é muito importante pra nossa cidade, eu acredito em um tratamento eficaz, eu acredito em um tratamento natural, então a gente percebe que com a cannabis, a gente trata o paciente, o paciente tem menos reações adversas, quando comparado quando faz um tratamento com medicações alopáticas”, afirmou. 

O evento acontece em um hotel localizado no bairro de Boa Viagem, zona sul da capital, e contou com a participação, na mesa de abertura, de profissionais e especialistas no assunto, além do deputado estadual João Paulo (PT), autor do Projeto de Lei (PL) 3098, sancionado em dezembro de 2022, que permite o cultivo e o processamento da cannabis sativa para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais. 

“Mantemos uma articulação através do [Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco] Lafepe, para que possa ser um órgão estatal que pudesse produzir. Articulamos também o governo federal, através da produção do [Sistema Único de Saúde] Sus, e tivemos também contato com as comunidades indígenas, para que a gente pudesse garantir a produção, e consequentemente estamos articulando também, além do governo federal, com as comunidades, e eu criei uma frente parlamentar que vai discutir o segundo passo, que seria reforçar, articular, a produção da medicação, e também de fins, não só do cânhamo, que tem uma produção industrial. Então além do sofrimento de humanos e animais, você pode também ter uma base de sustentação econômica levando renda para essas comunidades indígenas”, afirmou o parlamentar. 

 

A senadora Teresa Leitão (PT-PE) defendeu, em pronunciamento no Plenário nesta terça-feira (28), a implementação de políticas públicas de saúde no Brasil com base em estudos científicos sobre os benefícios do uso medicinal da cannabis. Ela destacou que a Fiocruz, também respaldada em pesquisas, reconhece os benefícios terapêuticos dos canabinoides, como o CBD e o THC, no tratamento de uma variedade de condições médicas, desde dor crônica até transtornos neuropsiquiátricos, como a doença de Parkinson.

"Precisamos produzir políticas públicas baseadas em evidências científicas. Se a ciência aponta a segurança e os benefícios do uso de canabinoides para o tratamento de determinadas doenças, talvez seja preciso encarar o fato de que a substância não é um problema moral, mas sim pode ser a agenda e a legislação atuais, como muitos estados estão fazendo", avaliou a senadora.

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Teresa ressaltou a importância de projetos de lei em andamento no Congresso, como o PL 4.776/2019 que trata do uso medicinal da planta, e fez um apelo para a aprovação das matérias. A senadora enfatizou que o tema, tratado com “preconceito e desinformação”, necessita de uma abordagem cautelosa e de profissionais de saúde preparados para auxiliar nos tratamentos. Teresa reforçou que o país precisa regular a produção nacional de medicamentos à base de cannabis e garantir o acesso gratuito à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

"É preciso ampliar a capacitação de médicos e de outros profissionais de saúde para que possam ter o conhecimento atualizado, prescrever e tratar com mais confiança essa medicação [...]. Para que possamos produzir esses medicamentos no nosso território, como faz o Uruguai, é preciso antes regular essa possibilidade. Não pode ser uma coisa aleatória, tem que ser regulada com a finalidade de uso medicinal, porque isso só vem sendo viabilizado por decisões judiciais", concluiu a senadora.

*Da Agência Senado

A I Jornada Regional da Cannabis Medicinal Norte-Nordeste (JRCMed), que acontece nos dias 8 e 9 de dezembro, no Mar Hotel, na zona Sul do Recife, receberá pesquisadores, professores e profissionais da medicina para debater os tratamentos e usos da Cannabis Sativa, maconha, para fins de saúde. O evento é realizado por uma empresa paulista que busca aprofundar os estudos sobre a substância para tratamento de doenças e outros quadros clínicos.  

Além de palestras e debates, a JRCMed também irá promover um curso de formação para prescritores, ministrado por Hélio Mororó, médico e professor de Medicina da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), que também fará a abertura do evento. Poderão participar dentistas, enfermeiros e médicos formados em todas as especialidades, inclusive veterinária. 

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A escolha pelo Recife para sediar a primeira edição da JRCMed se deu pelo aporte que a cidade possui em saúde e pesquisas na área médica, como comentou Breno Luz, advogado e diretor da EventMed, empresa responsável pelo evento, e coordenador-geral da Conferência Internacional da Cannabis Medicinal (CICMed) e da JRCMed. “Não temos dúvidas que a capital pernambucana irá atrair profissionais de todo o país para discutir o presente e o futuro da Cannabis medicinal. A cidade é reconhecida como polo de excelência em saúde, não só pela infraestrutura técnica, mas pela alta especialização dos seus profissionais”, afirma. 

Na JRCMed também estarão presentes representantes de associações nacionais que assumiram a missão de desmistificar os riscos da aplicação da Cannabis na medicina. Entre eles, o diretor científico da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide, Flávio Geraldes Alves; a diretora médica do Instituto Sativa, Rafaela Espósito Asfora, que é médica voluntária do Ambulatório Canábico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e o psiquiatra Wilson Lessa Jr., professor na pós-graduação de Cannabis Medicinal do Grupo Anima/Inspirali, We Cann Academy e Manole, e membro de várias instituições internacionais de pesquisa e aplicação da Cannabis Sativa na saúde. 

SERVIÇO 

I Jornada Regional da Cannabis Medicinal Norte-Nordeste (JRCMed) 

Data: 8 a 9 de dezembro de 2023. 

Abertura: 14h (dia 8) e das 8h30 às 18h (dia 9). 

Local: Mar Hotel, Boa Viagem, Recife. 

Com informações da assessoria

Em meio as permanentes discussões sobre a flexibilização da legislação sobre o uso da maconha no país, ultimamente, a utilização da cannabis medicinal vem adquirindo grande destaque no âmbito da saúde ao ser aplicada no tratamento de diversas doenças. No entanto, o assunto que é defendido por uns, e criticado por alas conservadoras da sociedade, ainda gera diversos questionamentos sobre como os pacientes, que recorrem as terapias com a planta, podem utilizar esses medicamentos sem precisarem enfrentar problemas na Justiça.

Polêmicas

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Um caso de grande repercussão no país e que gerou revolta nas redes sociais, foi de um paratleta, de nome não revelado, que em fevereiro deste ano ficou preso, por uma semana, acusado de tráfico de drogas mesmo com autorização para o cultivo medicinal de cannabis em Itanhaém, no litoral do estado de São Paulo. Durante o cumprimento de mandado de prisão, os policiais chegaram a mudar as direções das câmeras de monitoramento da residência do homem para evitar que a ação fosse gravada.

Já no dia 29 de setembro, Cleuza Ladário, conhecida pelo ativismo na luta pelo acesso à cannabis para fins medicinais, enfrentou um mandado de busca e apreensão, no qual os policiais civis levaram todas as plantas, que estavam em processo de secagem para extração do óleo, usado no tratamento de saúde do seu filho, o pequeno Samuel. Além disso, celulares de seus familiares foram apreendidos, e o seu marido ficou preso por um dia.

O remédio caseiro é o único capaz de proporcionar qualidade de vida a Samuel, que é portador do transtorno do espectro autista (TEA) e tinha cerca de 60 convulsões por dia antes de iniciar o tratamento canábico.

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Autorização para o plantio

Para João Guedes, bacharel em direito, é "inadmissível" casos como os do paratleta e o da família de Samuel pois "ações judiciais que autorizam o plantio devem ser respeitadas". Ele afirma que a “população precisa ficar ciente de que a Anvisa já permite a importação de produtos com princípios ativos extraídos da planta e a venda de produtos em farmácias”.

“Mesmo com a decisão da Anvisa e as ordens conquistadas na Justiça, muitas famílias ainda sofrem denúncias anônimas vindas de vizinhos e enfrentam despreparo policial em analisar cada caso. Quando chega uma denúncia, a primeira coisa a se fazer é ir atrás da história da família, saber cada detalhe, e investigar para identificar o motivo daquele plantio. Não estamos lidando com pessoas que cultivam a planta para o tráfico. Estamos lidando com mães e familiares que lutaram por anos na Justiça para conseguir o tratamento de patologias. A análise deve ser justa, respeitando decisões judiciais”, afirma João Guedes.

O especialista ainda relembrou, durante entrevista ao LeiaJá, que no ano passado a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu a três pacientes que eles pudessem plantar a cannabis sativa em suas residências, com a finalidade de extraírem o óleo medicinal para fins medicinais.

Em 2021, ministros do Superior Tribunal Federal (STF) decidiram que o governo de São Paulo teria de custear o tratamento à base de canabidiol para um jovem com epilepsia e encefalopatia crônica. Depois desse fato, a Justiça de outros estados brasileiros começaram a discutir outras solicitações e, na maioria dos casos, os pacientes tiveram ganho de causa, apesar dos inúmeros protestos e recursos judiciais de entidades que temem que essas decisões impulsonem a liberação da maconha para o uso recreativo.

Atualmente, ainda não existe uma política de fornecimento gratuito de produtos à base de canabidiol por meio do Sistema Único da Saúde (SUS), mesmo com projetos em tramitação no Congresso Nacional para beneficiar pacientes que precisam dessas terapias. Sendo assim, só existem três formas de acesso ao canabidiol: por meio de associações, em farmácias ou por importação.

 

 

O deputado estadual de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT), diagnosticado com a doença de Parkinson ainda no final do ano passado, publicou um vídeo em suas redes sociais, nesta terça-feira (19), na companhia de seus três filhos, Supla, André Suplicy e João Suplicy, demonstrando apoio ao uso da cannabis medicinal para o tratamento do pai. 

O parlamentar afirma que o apoio deles “tem sido fundamental para eu me sentir seguro e forte, pronto para me tratar com a cannabis, contribuindo para que ela seja gratuita e acessível pelo SUS e continuar a minha luta pela renda básica de cidadania”. 

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Suplicy está em um estado inicial da doença, e ao fazer uso da substância já notou algumas melhoras. "Eu não me dei conta de que tinha Parkinson. Só mais tarde, conversando com a doutora [neurologista do núcleo de cannabis medicinal do hospital Sírio-Libanês] Luana Oliveira, é que fui percebendo alguns sintomas. Eu estava com certos tremores nas mãos, especificamente na hora de comer, de segurar os talheres, de tomar uma sopa. Tremia um pouco. Tinha também dores musculares na perna esquerda", afirmou, durante uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. 

Além de utilizar o óleo da cannabis, produto que importou de outro país, o deputado faz uso do medicamento tradicional utilizado no Brasil para o tratamento do Parkinson, o Prolopa. Ele é defensor do projeto que permite a distribuição do óleo medicinal pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

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“Faz nove anos que eu nunca mais precisei levar minha filha para o pronto socorro por causa de convulsão”. O relato é de Cidinha Carvalho, mãe de Clárian Carvalho, hoje com 19 anos, e que trata a Síndrome de Dravet com uso do óleo de cannabis, remédio extraído da cannabis sativa, planta popularmente conhecida como maconha. Na última terça-feira (31), foi sancionada a Lei 17.618/2023, que institui a política de fornecimento gratuito desses medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo.

A partir de agora, o governo paulista terá de regulamentar e estabelecer regras para distribuição dos medicamentos. Em 30 dias, a partir da publicação no Diário Oficial, deverá ser composta uma comissão, formada por técnicos, associações de pesquisa e representantes de pacientes e familiares, que ficará responsável por formular as diretrizes. A lei deve entrar em vigor em 90 dias.

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Antes, os remédios só eram fornecidos pelo governo paulista por meio de decisão judicial. Em nota, o governo diz que a medida “minimiza os impactos financeiros da judicialização e, sobretudo, garante a segurança dos pacientes, considerando protocolos terapêuticos eficazes e aprovados pelas autoridades de Saúde”.

Para a psiquiatra Clarisse Moreno Farsetti, especializada em terapia canabinóide, a lei é um avanço, sobretudo para quem não tem condições de comprar a medicação. “A gente começa a ter um meio para que pessoas, que não tem condições financeiras de arcar com o tratamento, muitas vezes nem a papelada mesmo, a compra dos primeiros produtos. Provavelmente, depois da regulamentação, isso vai ser possível”.

Clárian e a Síndrome de Dravet

A notícia é também um alento para os pacientes que dependem dos medicamentos à base de cannabis e que, atualmente, só conseguem obtê-los por meio de medidas judiciais, associações da sociedade civil e outros mecanismos privados. Moradores na Vila Formosa, zona lesta de São Paulo, Cidinha Carvalho e o marido, Fábio Carvalho, descobriram que Clárian era portadora da Síndrome de Dravet quando a filha era bebê e apresentou um quadro de convulsão. Doença genética rara, a síndrome, também conhecida como Epilepsia Mioclônica Grave da Infância (EMGI), é progressiva, incapacitante e não tem cura. Caracteriza-se por crises epilépticas que podem durar horas e atraso do desenvolvimento psicomotor e cognitivo.

Antes de iniciar o tratamento com óleo de cannabis, Cidinha conta que a filha era apática, não interagia e convulsionava por mais de uma hora, com crises generalizadas. Não conseguia elaborar frases completas e sem coordenação motora: não corria, não pulava, não transpirava e sequer subia escadas sozinha. Durante o sono, tinha episódios de apneia, distúrbio que afeta a respiração, fazendo com que parasse de respirar uma ou mais vezes ao longo da noite.

De acordo com a mãe, com o óleo, a saúde de Clárian apresentou melhora significativa. As crises diminuíram em 80% e ficaram mais curtas, com duração de menos de um minuto. Após quatro meses de uso, ela começou a transpirar. E em oito meses, pulou em uma cama elástica pela primeira vez. O equilíbrio, o tônus muscular e o sistema cognitivo estão melhores, e a apneia durante o sono desapareceu. Clárian, inclusive, conseguiu iniciar o processo de alfabetização.

Habeas corpus

Até descobrirem os benefícios do óleo de cannabis para o tratamento da filha, Cidinha e Fábio passaram por uma longa jornada de aprendizado e de luta contra o preconceito. Foram muitos passos: primeiro, tinham que importar o remédio a um alto custo  (cerca de 500 dólares, na época); em seguida, conseguiram uma doação mensal da medicação por meio de uma “rede secreta” no Brasil; assumiram o risco de cultivar a planta sem autorização; aprenderam a extrair o óleo com uma organização chilena; e, por fim, conseguiram a autorização da Justiça para cultivar em casa a cannabis com fins medicinais.

Em 2016, o casal entrou com pedido na Justiça para ter o direito de cultivar e extrair o óleo em casa para fins medicinais. Nessa época, contaram com o apoio da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas (Rede Reforma).

Dois anos antes, pacientes e suas famílias já tinham iniciado a luta para conseguir esse direito, já que o Estado brasileiro não fornecia o medicamento e havia a ameaça de serem presos por cultivar a planta em casa, apesar de destinada para fins medicinais. No mesmo ano em que Cidinha e Fábio ingressaram com o pedido, um fato marcou essa jornada: um dos fundadores da Rede Reforma, do Rio de Janeiro, foi preso por ter cultivo de maconha para fins terapêuticos em sua residência. A partir desse caso, a rede passou a usar o habeas corpus preventivo, o mecanismo jurídico utilizado para proteger aqueles que já tiveram a liberdade coagida ou aqueles que estão sob a iminência de serem presos, para que as famílias tivessem o direito de cultivo.

“É assim que surge a tese, da junção da criatividade dos nossos fundadores com a sensibilidade contra as injustiças causadas pela Lei de Drogas, que começou a afetar a saúde de tantos brasileiros, prejudicando o acesso a essa saúde, à dignidade humana”, explica a advogada da Rede Reforma, Gabriella Arima. A tese foi replicada para milhares de outros casos. Hoje, estima-se que existam cerca de 2 mil salvos-condutos no Brasil, grande parte concedido pelo Tribunal Federal de São Paulo (TRF3).

Com o habeas corpus em mãos, Cidinha e Fábio passaram a cultivar a planta e a extrair o óleo em casa. E junto nasceu a Cultive – Associação de Cannabis e Saúde, com a missão de representar os anseios de quem necessita da cannabis como tratamento e defender a reforma das leis e políticas sobre drogas, de acordo com o site da associação liderada pelo casal.

Sobre a sanção da lei paulista, Cidinha diz que o mais importante é que seja cumprida. “Tão importante quanto a regulamentação é o estado cumprir. Nós temos três estados que já sancionaram, mas não estão cumprindo. Então, espero que São Paulo faça a diferença, mas para isso precisa ter uma regulamentação”.

Próximos passos

Segundo a advogada Gabriella Arima, Goiás, Rio de Janeiro e Paraná já dispõem de leis semelhantes à sancionada em São Paulo, porém ainda há entraves ao acesso aos remédios.  “Ainda há uma dificuldade dos pacientes obterem esses medicamentos via SUS, o que torna essas leis inócuas”, aponta.

Sobre como a Lei paulista pode contribuir para o avanço do debate sobre a política de drogas no país, a especialista lembra que a legislação trata do acesso, o que beneficia a população de baixa renda, mas não traz mecanismos que estimulem a produção nacional desses medicamentos, reforçando a dependência pelos produtos importados, mais caros. “De um lado, acho que a gente caminha para uma desmistificação do tema, está caminhando para uma política pública que, teoricamente, abrangeria os mais pobres, pensando que hoje o tratamento com cannabis é caríssimo. Mas a gente não tem uma produção interna dos óleos. Então, dependemos de um mercado externo”, explica.

A psiquiatra Clarisse Farsetti espera que, na rede pública, os medicamentos à base de cannabis cheguem também para pacientes que sofrem de epilepsias, doenças neurológicas e para os que estão em cuidados paliativos. “Em outros estados, isso está acontecendo e a tendência é que, com o tempo, se fixe cada vez mais na nossa sociedade, e outras pessoas também tenham acesso ao tratamento”.

Já Cidinha deseja que o processo de regulamentação seja feito em conjunto com a sociedade civil, principalmente com os familiares, pacientes, médicos e advogados pioneiros nessa luta. “É preciso capacitar os médicos do SUS, não somente na prescrição, mas no atendimento, no acompanhamento de pacientes que fazem uso de canabinóides. É preciso fazer uma reeducação na parte policial, apenas para entender a necessidade do paciente, que precisa do uso da cannabis”, afirma.

A cannabis medicinal passou a ser notada no Brasil também pelos dentistas, que começam a se organizar em grupos de estudos sobre casos clínicos e pesquisas científicas para melhor embasar seus métodos e aplicações em clínicas espalhadas pelo País. Vale ressaltar, porém, que poucos profissionais da área já prescrevem tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CDB) e apenas uma pequena porcentagem dos mais de 180 mil pacientes de cannabis medicinal no Brasil é derivado da odontologia.

Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a cannabis medicinal no País, médicos e cirurgiões-dentistas receberam as mesmas permissões de prescrição e uso. Porém, por haver muito mais pesquisas a respeito da efetividade da planta na Medicina do que na Odontologia, a primeira acabou por se desenvolver muito mais depressa. Estima-se que 2.100 dos 502 mil médicos em atividade hoje no Brasil prescrevam a substância. Não há dado oficial, mas uma porcentagem bem menor dos cerca de 550 mil dentistas a prescreve.

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Neste ano, a Anvisa incluiu o campo "CRO", referente ao Conselho Regional de Odontologia, nos formulários de pedidos de importação pela RDC 660. Até o ano passado, os dentistas tinham de usar seus números de registro no campo "CRM (Conselho Regional de Medicina)", o que dificultava o processo de importação. Conselhos Regionais de Odontologia, como os de São Paulo, Rio, Alagoas e Distrito Federal, criaram grupos de trabalho para criar mais debate sobre o tema. Organizações de profissionais, como a Sbocan (Sociedade Brasileira de Odontologia Canabinoide), também existem com o propósito de fomentar a troca de ideias.

Pioneira

A presidente da Sbocan, Endy Lacet, é reconhecida como a primeira dentista no Brasil a utilizar a terapia canabinoide na Odontologia, em 2015. Ela foi uma das fundadoras da Abrace, uma das mais consolidadas associações de pacientes de cannabis medicinal do País. Endy ainda estava na faculdade quando atendeu uma criança autista, que saía correndo pelo hospital sem deixar que a equipe tirasse o raio X de sua boca. Ela apresentou a proposta de entrar com a terapia canabinoide. O garoto, medicado com azeite de maconha, permitiu que lhe fossem feitas três restaurações na sessão seguinte. "A mãe chorou. Nunca tinha visto um remédio que acalmasse o filho a tal ponto de ele não sentir medo."

Silvana Vasconcellos sofre de esclerose múltipla há 16 anos e é paciente de Endy por causa de uma neuralgia do nervo trigêmeo, que, há cinco anos, a faz padecer de uma dor facial intensa. "Comecei a usar a cannabis no início do ano e notei grande melhora. Diminuiu minha medicação para a neuralgia de 900 mg para 300 mg por dia", comemora.

Segundo Endy, dá para usar a cannabis como coadjuvante ou adjuvante, sem excluir, necessariamente, outros medicamentos.

Conselho

"É importante que o profissional tenha a formação de base, que conheça os endocanabinoides produzidos pelo nosso corpo e os fitocanabinoides encontrados na cannabis antes de prescrever", orienta João Paulo Tanganeli, presidente do grupo de trabalho de canabinoides na odontologia do CRO-SP.

A maior entidade de classe do setor, o Conselho Federal de Odontologia (CFO), apoia a utilização da cannabis, mas reforça a necessidade de qualidade da formação recebida por quem administra. "Se o profissional conhecer o medicamento, souber como trabalhar com ele, não há problema de usá-lo. Isso vale para todos os medicamentos, não apenas para a cannabis", diz Evaristo Volpato, diretor do conselho da entidade desde 2018.

Uso vai de restauração a alívio pós-operatório

Como na Medicina, a cannabis vem demonstrando versatilidade em seus possíveis usos na Odontologia, podendo ser empregada antes, durante ou após o tratamento. Ela pode ser utilizada em procedimentos como restaurações, na modulação de sedação e como analgésico pós-operatório ou para osteoindução - a formação de um novo osso pela influência de agentes indutores.

O THC é responsável por tratar casos de dor, enquanto o CDB é mais indicado para inflamações. Considerados igualmente importantes pelos dentistas, os dois canabinoides e a centena de outros que os acompanham nas versões full spectrum da planta têm apresentado bons resultados para bruxismo, dores dentárias ou neuropáticas, enxertos, DTM (disfunção da articulação temporomandibular), inflamações, cicatrizações, periodontite e controle bacteriano.

Embora a terapia canabinoide aplicada à Odontologia não seja novidade no mundo, ela ainda não se popularizou. EUA e Canadá são os países que se destacam nessa área, desde o atendimento clínico até a criação de produtos para a higiene bucal, como pastas de dente e enxaguante à base da planta.

Efeitos colaterais

Guilherme Martins, vice-presidente da Sbocan e dono do canal Odontologia Canabinoide no YouTube, já conseguiu cerca de mil autorizações na Anvisa para prescrições. Segundo ele, os possíveis efeitos colaterais são pequenos, facilmente reconhecíveis e dimensionados na terapêutica.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A discussão sobre Cannabis medicinal e psiquiatria tem várias impropriedades, alertou, em entrevista à Agência Brasil, o diretor da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro e filiado à Associação Brasileira de Psiquiatria, Marcelo Allevato. No caso da doença de Alzheimer, que é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade, por exemplo, Allevato descartou que haja relação com a Cannabis medicinal.

“É uma demência, e a Cannabis não tem possibilidade nenhuma de tratar demência. Pode tratar, teoricamente, algumas alterações de comportamento, mas não tem nenhuma evidência consistente disso ainda não. É só uma possibilidade.” 

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Segundo Allevato, existem muitas impropriedades sobre “medicamentos” à base de Cannabis. Ele disse que, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), existe apenas um medicamento à base de Cannabis, mas destacou que há produtos à base da planta, que são registrados com autorização provisória, com duração de cinco anos, que podem ser usados quando se esgotam todas as possibilidades terapêuticas disponíveis no mercado brasileiro. 

Tudo isso está englobado na Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa (RDC 327), que regula os produtos de Cannabis no Brasil. “Então, falar de medicamentos é impropriedade, demonstra desconhecimento do assunto. O que é triste é que muitos médicos desconhecem também e são presas fáceis de mensagens comerciais que não têm a menor consistência, na realidade”, advertiu o médico psiquiatra. 

Desenvolvido em várias fases, da concepção da ideia até os testes clínicos, e depois comercializado, o único medicamento à base de Cannabis existente no Brasil é o Mevatyl, liberado como adjuvante no tratamento de espasticidade na esclerose múltipla, causada por danos ou lesões na parte do sistema nervoso central (cérebro ou medula espinhal) que controla o movimento voluntário. “Este é o único medicamento à base de Cannabis existente no Brasil. Chamar produto à base de Cannabis de medicamento é uma impropriedade”, reiterou o médico.

  Confirmação

A assessoria de imprensa da Anvisa confirmou à Agência Brasil que, até o momento, o único medicamento à base de Cannabis registrado no Brasil tem o nome comercial de Mevatyl.

De acordo com a Anvisa, o Mevaty é um medicamento, pois passou pelos mesmos requisitos técnicos aplicados a todos os demais registrados na agência, o que envolve estudos clínicos e comprovação de segurança e eficácia, entre outras exigências. O Mevatyl foi registrado em 9 de janeiro de 2017 com indicação no tratamento sintomático da espasticidade moderada a grave relacionada à esclerose múltipla. 

Os demais itens regularizados pela Anvisa são categorizados tecnicamente como produtos derivados de Cannabis, um segmento específico criado em 2019 (Resolução RDC 327), que não tem indicação terapêutica específica e cuja análise de benefício deve ser feita pelo médico, de acordo com o caso de cada paciente. 

Segundo a Anvisa, os produtos derivados de Cannabis recebem autorização sanitária, e não registro, para que possam estar à disposição dos pacientes. “Ou seja, a indicação e a forma de uso dos produtos derivados de Cannabis são de responsabilidade do médico que assiste o paciente, que faz tal indicação a partir da avaliação de que seu paciente pode se beneficiar do tratamento, especialmente em casos para os quais não há opções terapêuticas disponíveis”. Atualmente, existem 20 produtos autorizados pela Anvisa. A lista completa pode ser consultada aqui. 

Sem liberação

Allevato afirmou que não há, em lugar algum do mundo, medicamento à base de Cannabis liberado para uso psiquiátrico. Legislações de alguns países permitem o uso de derivados da Cannabis em situações excepcionais, em algumas enfermidades. Isso ocorre, por exemplo, em Israel e na maioria dos estados norte-americanos. “Mas tudo dentro de um controle muito rígido, após se esgotarem as possibilidades terapêuticas”. 

O médico disse que, no Brasil, o que houve foi uma “tentativa de disseminar um uso que é completamente contrário ao que é preconizado. Na verdade, é disseminar um uso de maneira indiscriminada, ou seja, tenho ansiedade, vou tomar canabidiol”. O mesmo se aplica para depressão, insônia, Alzheimer, autismo. O médico sustentou que não há evidência científica sólida para isso. 

Ele admitiu, porém, que, em casos em que o paciente não responde a nada, o médico pode usar esses produtos. É o chamado uso compassivo. 

De acordo com o psiquiatra, uma corrente que defende os produtos derivados da maconha sustenta que a divulgação das supostas propriedades medicinais da Cannabis reduz a percepção de risco recreacional. Para ele, o uso recreativo da Cannabis implica riscos que têm sido cada vez mais avaliados, principalmente em pacientes vulneráveis geneticamente, ou que estão em janelas críticas do desenvolvimento. Nesses casos, a Cannabis pode levar ao desenvolvimento de psicoses, de dependência e gerar alterações no desenvolvimento cerebral, muitas das vezes irreversíveis. 

Momento complicado

Já a presidente da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas (Abead), Alessandra Diehl, destacou que o mundo vive hoje um momento complicado, em que interesses financeiros muitas vezes se sobrepõem ao interesse individual e coletivo. “Esse lobby de ter algo que funcione para tudo, para mim, já soa como um alerta. Como uma substância vai servir para tantas coisas ou tantas condições assim?”, questionou Alessandra, em entrevista à Agência Brasil. 

Alessandra disse que há uma desinformação crescente, porque se reforça que algo possa servir para tudo, quando, na verdade, sabe-se que tem apenas condições específicas em que existem evidências comprovadas. Não se trata, segundo a psiquiatra, da Cannabis medicinal em si, mas de um componente que seria o canabidiol (CBD). 

A psiquiatra ressaltou que o sistema do canabinoide precisa ser desvendado, porque aí pode estar o segredo do desenvolvimento de medicamentos, até para se saber um pouco mais de determinadas doenças. Segundo Alessandra, não se pode dizer que o canabidiol funciona para tudo, porque ele pulou o caminho do desenvolvimento dos fármacos, que tiveram que passar por regulações que lhe garantem condições de segurança, bioequivalência, biodisponibilidade, qualidade, dose terapêutica. 

Outra visão

Visão diferente tem o médico Nelson Goldenstein, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Goldenstein disse à Agência Brasil que ficou estarrecido com a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proíbe médicos de prescrever Cannabis in natura para uso medicinal, bem como quaisquer outros derivados que não o canabidiol. O CFM vedou também a prescrição de canabidiol para indicação terapêutica diversa da prevista na resolução, com exceção de estudos clínicos previamente autorizados pelo sistema formado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e Conselhos de Ética em Pesquisa. 

O psiquiatra afirmou, entretanto, que seguirá a resolução do CFM. Ele admitiu que o uso da Cannabis precisa de regulamentação, mas considerou que voltar no tempo é inadmissível. Goldenstein salientou que há descrições na literatura do uso medicinal da Cannabis na China e na Índia há cerca de 6 mil anos, descrevendo a planta com efeito medicinal polivalente, benéfico e terapêutico para várias condições. 

Tais efeitos foram confirmados no século 19 por médicos da Rainha Vitória, em expedições realizadas nas colônias do Reino Unido, cujas publicações comprovaram o uso terapêutico e polivalente da Cannabis no tratamento de problemas como epilepsia, ansiedade e insônia. Até o início do século 20, não havia proibição alguma para o uso de Cannabis, disse Goldenstein. As farmácias de manipulação, inclusive no Brasil, preparavam as fórmulas prescritas pelos médicos à base de Cannabis. Segundo o médico, o laboratório Lille, dos Estados Unidos, vendia na década de 1920 uma tintura de Cannabis para asma brônquica, diminuição da pressão arterial, insônia e ansiedade. 

Goldenstein destacou que, em 1960, Raphael Mechoulam e sua equipe descreveram os até então inéditos canabidiol e tetrahidrocanabinol (THC), abrindo espaço para que pesquisadores americanos identificassem o sistema endocanabinoide (SEC) na década de 1990. O SEC é considerado um importante aliado da regulação e do equilíbrio de uma série de processos fisiológicos no corpo humano. O sistema oferece as condições naturais para que o organismo se beneficie das propriedades terapêuticas da Cannabis no enfrentamento de uma série de doenças. 

O psiquiatra ressaltou que os perigos do uso indiscriminado e em doses elevadas da maconha já eram falados pelos chineses 3.700 anos A.C. (Antes de Cristo), portanto há 6 mil anos. É um risco que existe também com a anfetamina e a morfina, entre outras substâncias. Para Goldenstein, ser contra evidências de 6 mil anos “é desconhecimento”, o mesmo ocorrendo em relação a estudos efetuados desde os anos de 1960, que atestam o uso polivalente e medicinal da Cannabis.

A agência reguladora nacional do Marrocos que supervisiona o uso de cannabis para uso terapêutico reuniu-se pela primeira vez nesta quinta-feira (2), em uma das últimas etapas antes da legalização.

A planta é cultivada em larga escala no nordeste do país, maior produtor mundial da resina de cannabis, segundo a ONU. Em 2021, o Marrocos aprovou uma lei que autoriza “os usos lícitos da cannabis medicinal, cosmética e industrial”, sob o controle de uma agência nacional criada com esse fim.

Durante sua primeira reunião em Rabat, o conselho de administração da Agência Nacional de Regulação das Atividades Relacionadas à Cannabis aprovou o seu organograma e orçamento para o ano de 2022. O órgão ficará responsável por controlar todas as etapas da cadeia produtiva, desde a importação das sementes até a comercialização dos produtos.

Em breve, deve iniciar o processo de concessão de licenças aos operadores nacionais e internacionais e lançar as primeiras cooperativas de transformação e fabricação, compostas por agricultores locais.

A regulação pretende que o Estado obtenha benefícios desse cultivo lucrativo, atualmente nas mãos de traficantes, embora não afete o uso recreativo da cannabis, ainda proibido. Além disso, segundo a agência oficial MAP, a regulamentação irá aumentar a renda dos pequenos agricultores da região montanhosa do Rif, que ficam atualmente com “4% do faturamento final no circuito ilegal”, e poderão alcançar “12% no mercado legal”.

Claudia Rodrigues usou suas redes sociais, nesta quarta (25), para fazer um verdadeiro desabafo. No post, a atriz defendeu o uso da cannabis medicinal e revelou como o medicamento vem ajudando no seu tratamento de esclerose múltipla, uma doença degenerativa. 

Claudia vem fazendo o uso de canabidiol, um óleo extraído da planta, há um certo tempo. Segundo ela, o medicamento tem feito diferença na sua vida. “Vocês sabem que eu luto com a esclerose múltipla há mais de 20 anos e a medicina integrativa me ajudou muito nesse tempo todo. Eu uso a cannabis medicinal há um tempo e me ajuda muito e por isso quero compartilhar com vocês”.

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A atriz também frisou que a medicação não cura a doença, mas ajuda o paciente a ter um pouco mais de conforto e melhor qualidade de vida.  “É importante saberem que  a cannabis medicinal não trata a doença em si e também não evita a sua progressão mas ajuda na melhora do sono e na redução de tremores, nas náuseas e ansiedade".


 

Batizadas como "plantas-mãe", as mostras da "Cannabis Medicinal" que serão clonadas para uso futuro estão sendo cultivadas em uma localização secreta de uma indústria medicinal de maconha, na Austrália. O país legalizou o uso da erva em 2016 e, de acordo com o chefe executivo do Grupo Cann, Peter Crook, nesta nova indústria estão sendo implementados todos os requisitos para que os pacientes que necessitam da erva para algum tipo de tratamento possam ter acesso o mais rápido possível à "Cannabis Medicinal".  

Pesquisadores acreditam que este mercado interno poderia movimentar mais de 75 milhões de dólares por ano. No entanto, a erva ainda é vista por muitos como uma droga ilegal. Ainda assim, desde a legalização no país, cerca de uma dúzia de licenças foram emitidas, permitindo cultivar, pesquisar e fabricar a "Canabis Medicinal", se tornando um incentivo para a indústria da Austrália.

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Veja mais detalhes no vídeo:

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O comitê ministerial de Israel aprovou neste domingo (5) um projeto de lei para legalizar a exportação de cannabis para uso medicinal, anunciou o gabinete da ministra da Justiça, Ayelet Shaked.

A adoção do texto por este comitê, que reúne parte dos ministros do governo, significa que o projeto agora poderá ser referendado pelo governo, mas ainda não foi divulgada nenhuma data para uma primeira leitura.

Embora o uso recreativo da cannabis seja proibido em Israel, nos últimos 10 anos seu uso terapêutico foi não só permitido, mas encorajado.

Em 2015, os médicos prescreveram a erva para cerca de 25.000 pacientes que sofrem de câncer, epilepsia, estresse pós-traumático e doenças degenerativas.

Em janeiro passado, o ministro da Agricultura anunciou um investimento de oito milhões de shekels (cerca de dois milhões de dólares) em projetos de pesquisa sobre a cannabis.

No ano passado, o gigante do tabaco americano Philip Morris investiu US$ 20 milhões na empresa israelense Syke, que produz inaladores para a cannabis medicinal.

No mês passado, o ministro israelense da Segurança Pública, Gilad Erdan, anunciou seu apoio à descriminalização do uso recreativo da maconha, adotando as conclusões de uma comissão criada para estudar o assunto que recomendou a mudança na legislação.

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