Na manhã desta quarta-feira, dia 19, a advogada de uma das vítimas de Felipe Prior participou do Encontro para falar sobre o caso. Quatro mulheres diferentes acusam o ex-BBB de crimes sexuais e estão lutando na Justiça contra ele. Maíra Pinheiro acompanha o caso há três anos e revela que sofre constantes ameaças.
O programa matinal exibiu algumas das mensagens que a profissional recebe e ela contou:
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- Tem coisa muito pior, sempre com um ingrediente de machismo. Esses xingamentos do tipo v**ia, v******da, que atacam a minha moral apesar de eu estar no exercício da minha profissão. Desde que a gente repercutiu o relato das meninas, que era uma demanda delas de que a história fosse contada, esse tipo de ataque passou a ser bastante frequente. Isso em abril de 2020. Depois passou acontecer de uma forma um pouco mais orquestrada. Às vezes passava de centenas. Por um lado, a gente não quer ler esse tipo de coisa, mas eu sou advogada, eu documento as coisas e provas de violações de direitos. Tenho uma pasta na nuvem com centenas de coisas desse tipo para na melhor talvez adotar medidas jurídicas cabíveis. Não consegui muita coisa até então, porque sou uma advogada autônoma, sou mãe e minha vida é muito corrida.
Foto: Reprodução/TV Globo
Maíra assumiu em 2020 o caso de uma das vítimas do arquiteto. Para ela, as fake news podem ter funcionado como um gatilho para os ataques.
- Os ataques à versão que a vítima apresentou eram muito rasteiros, reproduziam clichês muito machistas de: É oportunista, é porque ele é famoso...Famoso pelo quê? O que essa pessoa fez de relevante para justificar uma teoria de conspiração tão doida dessas? De que quatro mulheres que não se conhecem se juntariam para prejudicar ele por quê? Com qual objetivo? A gente repercutiu os relatos de três mulheres em abril de 2020. A partir das primeiras notícias que saíram, a gente foi procurada por uma quarta vítima. Hoje são quatro processos em andamento e, ao longo desses três anos, parece que as pessoas achavam que ele tinha sido inocentado, não tinha dado em nada e ele seguiu a vida dele normalmente transitando nos espaços.
Ela ainda explicou que a polícia abriu um inquérito para investigar as ameaças recebidas por ela.
- Tem um inquérito policial em tramitação aqui na capital de São Paulo apurando ameaças que recebi em julho de 2021. De madrugada meu telefone tocou. Sou advogada criminal e o telefone toca de madrugada. Eu atendi, era um número oculto e a pessoa falou que era para eu sair do caso, queria saber coisas sobre o caso. Citou nome e sobrenome da vítima, que é uma informação sigilosa e não de domínio público, a gente usa pseudônimos. Ele proferiu ameaças contra mim. Falou que sabia onde eu morava, onde todas as meninas moravam, que ele poderia acabar com a minha vida, com a vida da minha cliente e com a vida da minha filha, que a época tinha sete anos. Registrei um boletim de ocorrência e tenho um inquérito agora. Acho que a delegacia classificou incorretamente, porque é um inquérito de ameaça, só que entendo que o crime é de coação no curso do processo. Porque a finalidade da ameaça era interferir no meu trabalho enquanto advogada. Tem outros quatro advogados homens na nossa equipe que está atuando pelas vítimas, todo mundo de maneira voluntária e eles nunca sofreram nenhum tipo de ataque. É público, nas notas que a gente soltou tem o timbre dos outros escritórios, mas é só contra mim e contra a Juliana, por que será né?
A advogada disse que tenta orientar a filha desde cedo sobre a importância do consentimento.
- Esse é um dos vários casos desse tipo que atuo, recebo ligações e pedidos de ajuda para tratar de situações dessa natureza todos os dias. Quando fui explicar para a minha filha por que eu estava dando entrevista, falei: A mamãe trabalha com tragédias. Busco desde já explicar para ela sobre a importância do consentimento, que ninguém pode tocar nela sem permissão. Aproveito essas histórias que conto até certo ponto para falar sobre como a nossa sociedade funciona, porque entendo que os mesmos atributos que fizeram com que essa cara fosse cultuado e tivesse seis milhões de seguidores, são os atributos que fazem dele um estuprador em série.
Maíra finalizou falando sobre o comportamento de Prior:
- Não é nem um pouco surpreendente que aquele cara que tinha os mesmos comportamentos tenha cometido esses crimes no passado. É o mesmo problema social que levou as pessoas a se sentirem à vontade para tentar constranger uma mulher no exercício da profissão e a acharem razoável embarcar nessa teoria da conspiração de que quatro mulheres se juntariam para prejudicar um homem só porque ele é famoso. Na verdade, antes de ser famoso por ser ex-BBB, era famoso nos meios em que circulava por ter um comportamento predatório contra as mulheres.