Mais de 300 meninos sequestrados há uma semana no noroeste da Nigéria, em um ato reivindicado pelos jihadistas do Boko Haram, e libertados na noite de quinta-feira (17), foram recebidos nesta sexta pelas autoridades antes de encontrarem suas famílias. As circunstâncias de seu sequestro continuam incertas.
Descalços, com o rosto cheio de poeira e exaustos, os meninos foram levados para o gabinete do governador de Katsina, capital da província de mesmo nome, no nordeste do país.
Enquanto isso, suas famílias se reuniam ansiosas em Kankara, cidade onde foram sequestrados, à espera da chegada dos rapazes, observaram jornalistas da AFP.
Sua libertação foi anunciada na quinta-feira à noite, mas as circunstâncias de seu cativeiro e de como foram soltos ainda não estão claras. Não se sabe, por exemplo, se há outros menores que continuam nas mãos dos sequestradores.
"344 deles estão com as forças de segurança", disse à imprensa o governador do estado, Aminu Bello Masari.
Em uma entrevista à televisão NTA, o responsável acrescentou: "acredito que recuperamos a maioria dos meninos, mas não todos".
Na sexta-feira passada, centenas de menores de idade foram sequestrados por homens armados em uma escola para rapazes de Kankara. O sequestro foi reivindicado pelo Boko Haram, o grupo extremista que atua no nordeste do país, ou seja, a centenas de quilômetros do local.
Na quinta-feira, os jihadistas do Boko Haram divulgaram um vídeo dos estudantes sequestrados. Com o rosto coberto de poeira e arranhões, um jovem afirmou fazer parte dos 520 estudantes sequestrados pela "gangue de Shekau", o nome do líder histórico de Boko Haram.
Seu número exato também continua incerto. Inicialmente, as autoridades anunciaram 333 alunos desaparecidos e, na manhã de quinta-feira, falavam de 400.
- "Meninos inocentes" -
No vídeo, o Boko Haram afirmava, por intermédio deste adolescente de em torno de 14 anos, que tinha em seu poder 520 estudantes e que matou alguns deles. Os meninos pareciam exaustos.
Divulgadas pelos canais tradicionais do grupo, as imagens foram gravadas parte em inglês e parte na língua hausa, falada principalmente no norte da Nigéria.
Segundo informações da AFP, este sequestro em massa foi coordenado por grupos armados, alguns deles às ordens do Boko Haram, que aterrorizam a população no norte da Nigéria e realizam sequestros e roubos de gado.
De acordo com vários depoimentos de jovens que conseguiram escapar, os reféns foram divididos em vários grupos na noite do sequestro.
Este ataque lembra o sequestro de mais de 200 meninas em Chibok em 2014, e é um golpe para o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, originário do estado de Katsina.
A Presidência emitiu um comunicado no sábado, condenando o ataque contra "meninos inocentes", e prometeu reforçar a segurança nos colégios. Em vários estados do norte, as escolas estão fechadas, devido à insegurança.
Boko Haram e seu braço dissidente, o grupo Estado Islâmico na África Ocidental (Iswap), ativos no nordeste da Nigéria, causaram mais de 36.000 mortes em dez anos de conflito. Dois milhões de pessoas continuam sem poder voltar para casa.