Aliados que estiveram, ontem, com o presidente Michel Temer, tanto no Palácio Jaburu, a residência oficial, quanto no Planalto, local de despacho, revelaram que ele está com uma baita disposição de resistir até o fim, mesmo sabendo das imensas dificuldades e barreiras a enfrentar. “Encontrei um presidente com fome de briga, um leão”, relatou um parlamentar.
O que motivou a mudança de postura, na verdade, foi a colaboração da base no Congresso. Temer pediu e os senadores trabalharam quase o dia inteiro de ontem na Comissão Especial da Casa, onde, em meio a agressões morais e até no campo físico, deram como lido o relatório da reforma trabalhista já aprovada na Câmara. Presidente da Comissão, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) se preparava para passar a palavra para o relator Ricardo Ferraço fazer a leitura, quando Lindbergh Farias (PT-RJ) foi em direção ao relator dizendo que a oposição não ia permitir a leitura.
Houve, então, gritaria, empurrões e os senadores ficaram exaltados. Lindbergh Farias e Ataídes Oliveira (PSDB-TO), mais exaltados, precisaram ser contidos por colegas e até seguranças. Parlamentares contrários à reforma se dirigiram à mesa e fizeram um cordão de isolamento para impedir a leitura do relatório.
Nesse momento, Ataídes e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) trocaram acusações. O senador tucano, gritando, precisou ser contido por Otto Alencar (PSD-BA). A sessão foi suspensa pelo presidente da comissão. Algumas pessoas que estavam na plateia acompanhando a reunião da comissão gritavam palavras de ordem contra o presidente Michel Temer. A confusão continuou mesmo após a suspensão da sessão. Senadores tentam acalmar a plateia da comissão.
Enquanto senadores se agrediam, fora do Congresso lideranças da base se reuniam para discutir uma saída para a crise. Numa eventual renúncia do presidente Temer, o nome mais cogitado no dia de ontem, na bolsa de apostas, era o do próprio Tasso, que, na Comissão, tentava acalmar as feras e acabou dando o relatório como lido, sob os protestos furiosos da oposição, que obstruía.
O nome de Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo, estaria descartado por uma razão simples: seu escritório de advocacia atende, hoje, a um grande número de políticos e empresários envolvidos na operação Lava Jato. Quanto a um nome do Supremo, tanto a presidente Carmem Lúcia quanto o ministro Ayres Brito, opções levantadas por segmentos da mídia, seriam cartas fora do baralho, porque eleger um membro do Judiciário seria atestar a intervenção de um poder em outro.
Tasso já teria sinalizado que toparia o desafio desde que viesse a ser objeto de um processo não traumático, sem disputa, de forma consensual. Ex-governador do Ceará, Tasso é um empresário bem-sucedido, reformou seu Estado e acabou com a política dos coronéis. Foi também presidente nacional do PSDB e agora assumiu, novamente, o comando do partido com o afastamento de Aécio. É um nome com trânsito fácil no Congresso e respeitado.
AÉCIO QUER VOLTAR– A defesa do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) apresentou, ontem, recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra decisão que o afastou do mandato após abertura de inquérito para investigá-lo por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. A investigação foi autorizada pelo ministro relator da Lava Jato, Luiz Edson Fachin, após delação dos donos do frigorífico JBS, Joesley e Wesley Batista na operação. O ministro determinou ainda o afastamento de Aécio do mandato de senador. Fachin também apreendeu o passaporte de Aécio e o proibiu de ter contato com outros investigados. O ministro negou o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para prender Aécio. A PGR recorreu da decisão.
Armando também lembrado– O senador pernambucano Armando Monteiro Neto (PTB) teve seu nome também especulado, ontem, pela mídia nacional, como uma alternativa numa eleição indireta para presidente da República, caso ocorra a vacância no cargo numa eventual renúncia do presidente Temer. Ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) por oito anos, ministro da Indústria Comércio (MDIC) no Governo Dilma Rousseff e hoje líder do PTB no Senado, Armando é um nome com ampla interlocução com o setor industrial e goza de respeitabilidade no Congresso, além de trânsito político no Congresso. Segundo avaliação de colunistas nacionais, o maior impedimento de Armando seria o fato de ter sido ministro de Dilma.
Foto como prova – O ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, protocolou, ontem, por meio de seus advogados, petição na qual cita provas de três encontros com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele já havia mencionado esses encontros em depoimento ao juiz Sérgio Moro em 5 de maio. No documento de Duque, há também uma foto em que os dois aparecem lado a lado, registrada, segundo a defesa do ex-diretor da Petrobras, em 2012, no Instituto Lula, em São Paulo. Esse encontro não foi mencionado por Lula no depoimento que deu ao juiz federal Sérgio Moro.
Fim do sigilo – A Ordem dos Advogados do Brasil pediu, ontem, ao Tribunal Superior Eleitoral, o fim total do sigilo da Ação Judicial de Investigação Eleitoral que pede a cassação da chapa Dilma/Temer, eleita em 2014. Em petição ao ministro relator da ação, Herman Benjamin, o presidente da Ordem, Claudio Lamachia, alega ‘interesse público e a preservação da Carta da República’ para solicitar o levantamento do sigilo e que seja disponibilizada a íntegra do processo. A OAB vai protocolar, amanhã, na Câmara dos Deputados, pedido de impeachment do presidente Michel Temer, a quem a entidade máxima da Advocacia atribui crime de responsabilidade, em violação ao artigo 85 da Constituição.
Estrelas no São João de Limoeiro– O prefeito de Limoeiro, João Luis Ferreira, o Joãozinho (PSB), divulgou, ontem, a grade do São João com atrações que devem atrair muita gente para os festejos juninos naquele município. Entre tantos artistas consagrados, Geraldinho Lins, Cristina Amaral, Josildo Sá, Ribeiro Filho, Almir Rouche, Spock e Orquestra Forrobodó, Brucelose, Paulinho do Acordeon e Pegada do GB. O lançamento oficial do São João de Limoeiro está marcado para a próxima sexta-feira, às 19 horas, num palhoção montado na Rua da Alegria.
CURTAS
O PIOR– Do vereador Professor Marcelo, da bancada do PTB de Olinda, em resposta ao ex-vereador de Casinhas, Walter Borges, que afirmou, em nota neste blog, na defesa do governador, que o senador Armando Monteiro teria sido o ministro do desemprego: “Não adianta ir contra os fatos: Paulo Câmara é o pior governador de nossa história”.
ENCONTRO– Em meio à crise política que atinge o Governo Michel Temer após a delação da JBS, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reuniu na manhã de ontem com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia. O encontro ocorreu na Corte e não constava na agenda oficial dos dois.
Perguntar não ofende: Ao botar o Congresso para funcionar, ontem, Temer deu uma demonstração de que está vivinho da silva?