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As reformas estruturantes do País estão andando devagar - daí a lentidão na recuperação econômica -, e a única medida que o governo pode tomar para que o PIB cresça de forma mais expressiva é acelerar essa agenda. Ainda assim, a economia brasileira não vai mais repetir números superiores a 3%, pois a população não cresce mais como antes, segundo o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper. "Tudo indica que o Brasil não vai voltar a crescer 3% de forma sustentável. O que aprendemos no passado é que, se a gente consegue sinalizar que o Brasil está enfrentando com rigor a questão fiscal, isso dará maior segurança sobre o futuro da economia", diz ele, que foi secretário de política econômica entre 2003 e 2005.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

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As reformas estão avançando, mas ainda não há um resultado prático na vida das pessoas...

Opa, parou de piorar.

Não deveríamos esperar um resultado mais significativo?

Não. Fizemos muito pouco até agora. Olha a questão do déficit dos Estados. O que fizemos para resolver isso? A agenda está andando muito devagar.

Com mais velocidade nas reformas, sairemos da estagnação?

Tem de fazer muita reforma. Primeiro: o Brasil vai crescer menos daqui para frente. O Brasil tinha uma população que crescia 4% ao ano. Agora, cresce menos de 1%. Se você quer crescer 3%, a produtividade tem de crescer 2%. A produtividade do Brasil não cresce isso há 40 anos. Uma série de intervenções pioraram a produtividade. A incerteza sobre os investimentos aumentou. Você começa o projeto e não sabe quais serão suas obrigações. Olha o fracasso das concessões dos aeroportos no governo Dilma. A área de infraestrutura não consegue investir hoje no Brasil. Segundo: desde o segundo governo Lula, você voltou a fechar a economia. Terceiro: em vez de fazer reforma da Previdência lá atrás, o Brasil começou a inventar maneiras de aumentar a arrecadação para fechar as contas. Em vez de se fazer reformas para corrigir problemas estruturais e de aceitar as regras da competição - que é melhor ter acesso a máquinas mais eficientes do exterior, porque isso ajuda a produtividade interna -, fomos pelo caminho oportunista. O problema foi ficando maior e o ambiente de negócios, pior.

Mas aumentar a velocidade das reformas é suficiente para o Brasil crescer mais?

A sociedade não quer fazer reforma. A culpa é nossa. Como não fizemos a reforma da Previdência dos Estados agora? A parte tributária: o setor privado resiste, porque grupos isolados têm receio de pagar mais. Abertura comercial: setores de bens de capital resistem.

Se há necessidade de reformas, mas a sociedade resiste, o PIB poderá crescer mais de 1%?

Não vou fazer previsão. Se o País quiser um crescimento de 3% sustentável, tem de fazer reformas, o que implica perdas para alguns grupos. O Brasil hoje é o resultado de uma sociedade que acha normal a distribuição de benefícios: política de proteção regional, barreiras comerciais, incentivos tributários... A boa notícia é: não tem problema novo. Todos esses problemas já existiam antes, alguns há 20 anos, como o da Previdência. Quanto mais demora, pior a situação fiscal. A conversa de abertura comercial começou, mas não andou. Tem muitas medidas que estão na mão do secretário de Comércio Exterior (Marcos Troyjo) que poderiam estar sendo tomadas, como redução de restrições não tarifárias.

A agenda micro está parada?

Isso podia estar andando. A grande degradação do País é (nas áreas) tributária, de comércio exterior e de previsibilidade para investimento em infraestrutura. A da infraestrutura está andando mais. O ministro Tarcísio de Freitas está fazendo um trabalho de normalizar o processo. Se acertar, vai ser um salto para o País.

Mas as concessões devem demorar para impulsionar o PIB, não?

Nada é rápido. Esse tipo de agenda de reforma para crescimento demora muitos anos. A Inglaterra fez a reforma rápido, com (a primeira-ministra Margaret) Thatcher. Foram três anos de sofrimento, mas depois o crescimento foi rápido. Austrália e Nova Zelândia preferiram fazer essa agenda lentamente para não criar muita dor no caminho. Mas tiveram seis, oito anos de crescimento medíocre.

Para aliviar essa situação no curto prazo, não se deve adotar alguma medida?

Deve-se acelerar a agenda de reformas.

Mas as reformas não vão ter impacto já. Enquanto isso, há 13 milhões de desempregados...

Não sei o que fazer nesse caso. Estamos atrapalhando a redução do desemprego ao demorar para fazer o ajuste. Consigo imaginar várias medidas de estímulo no curto prazo, mas que vão piorar a economia no médio prazo.

Liberação do FGTS prejudica no curto prazo?

Está batendo um pouco de ansiedade porque o diagnóstico estava otimista. Tudo indica que o Brasil não vai voltar a crescer 3% de forma sustentável nos próximos anos. O que aprendemos no passado é que, se a gente consegue sinalizar que o Brasil está enfrentando com rigor a questão fiscal, reduzindo gastos obrigatórios e enfrentando a situação dos Estados, isso dá maior segurança sobre o futuro da economia. Isso auxilia a retomada da produção e do emprego.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirma que uma possível suspensão da reforma da Previdência por causa da intervenção no Rio deve agravar ainda mais o quadro de degradação da política pública. Na avaliação dele, as consequências da falta de reformas (especialmente a previdenciária) já estão espalhadas pelo Brasil inteiro, com a piora da segurança pública e a infraestrutura precária. "É um quadro que já está aí e vai se agravar. Haverá piora progressiva da qualidade da política pública."

A avaliação do mercado é que a intervenção no Rio deve enterrar a reforma da Previdência. Quais os reflexos disso?

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Está cada dia mais difícil. Quanto mais se demora para fazer as reformas necessárias, maior é o quadro de degradação da política pública. A segurança falha (como no Rio); a manutenção de viadutos não é feita; problemas de infraestrutura em vários lugares vão surgindo, como falta de acesso à água; há atraso de salários, de aposentadorias e de pagamento de fornecedores.

Há um prazo limite para se fazer a reforma da Previdência?

Não é que haja uma data limite, mas a medida que você não faz as reformas - e a Previdência é a mais importante -, o dinheiro vai acabando e você tem de cortar em algum lugar. E começam cortando a manutenção. O que vai ocorrer é que, na medida que o dinheiro vai acabando, você vai cortando ciência e tecnologia, manutenção de estrada, investimento em saneamento. Os relatos estão pipocando e estamos vendo uma série de casos espalhados pelo Brasil, com uma infraestrutura deficiente.

A tendência é piorar?

É um quadro que já está aí e que vai se agravar. Haverá uma piora progressiva na qualidade da política pública com a falta do dinheiro. Quando você para de fazer manutenção em estradas e em saneamento, você está criando um problema para o futuro. O viaduto que caiu (semana passada) em Brasília não é resultado de apenas um ano sem investimento, mas de vários. Sem dinheiro, corta-se a manutenção. Já estamos vendo as consequências da crise fiscal. A degradação da violência e das estradas é o retrato disso.

E onde isso pode chegar?

O que tem agora é o debate em torno da regra de ouro. Chega uma hora em que a despesa obrigatória do governo federal fica maior que a receita corrente líquida. Se não há recursos extraordinários, como os do BNDES neste ano, o governo precisa de empréstimo para pagar a despesa corrente. No fundo, ele estará tomando empréstimo para pagar a Previdência. A regra de ouro proíbe essa prática. Se começa a fazer isso, perde-se o controle. É insustentável a médio prazo.

Deixar a reforma para o próximo governo significaria ter uma reforma mais rígida?

Vai ser cada vez pior. O gasto da Previdência cresce acima do PIB por causa do envelhecimento da população. Quanto mais demora, mais grave fica o quadro. A questão é que, embora a Previdência seja a mais importante, é preciso fazer outras coisas para equilibrar as contas públicas.

A retomada econômica pode ser interrompida?

De um ano e meio para cá, houve uma inflexão grande da política econômica, que terminou com maior responsabilidade para enfrentar o problema fiscal. Teve a PEC do Teto, a reforma trabalhista, melhora na governança da Petrobrás e da Caixa. Houve uma agenda importante que permitiu a queda dos juros e da inflação. Na hora que houve melhora na condição da política econômica, o mercado passou a acreditar que o futuro não seria tão ruim. Hoje, estamos colhendo os frutos da melhora da política econômica iniciada no fim de 2016. Este ano seria de alívio e de recuperação da economia. O risco é perder a oportunidade de continuar essa trajetória boa. A melhora pode ter fôlego curto. Se tem um desequilíbrio fiscal deste tamanho, como vai fazer ajuste? Vai aumentar imposto? Vai cortar despesas? Se você não sabe como vai ser o ajuste, como vai investir?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirma que o uso da Caixa para financiar Estados e municípios repete a estratégia equivocada do passado, que faz com que o banco estatal sempre necessite de aportes do Tesouro Nacional.

O governo está retomando o uso dos bancos públicos para financiar Estados e municípios?

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Acho equivocado dar esses empréstimos. Nós já vivemos no Brasil vários momentos de bancos públicos em dificuldade por terem concedido crédito de forma exagerada, inclusive, no passado recente, para os próprios Estados e municípios. Na medida do possível, os Estados devem conseguir recursos no mercado pelas suas próprias pernas. A Caixa já atravessa um momento difícil, teve a sua rentabilidade prejudicada pelas operações estimuladas pela política dos últimos anos. Esse momento já deveria ter passado.

As indicações recentes mostram a repetição de um erro?

Tudo indica que sim. Acho inclusive que temos que começar a discutir se vale a pena ter banco público no Brasil, dado o fracasso que tem sido a utilização deles por parte dos gestores de política pública.

Qual é o risco das operações feitas sem garantia da União?

A gente está assistindo agora. A Caixa concedeu créditos, está com problemas para satisfazer requisitos regulatórios e ela está tendo que ter acesso a recursos da sociedade, nesse caso a proposta, que na minha visão é mais um equívoco, via recursos do FGTS.

Quando tem garantia da União, o Tesouro reembolsa o banco em caso de inadimplência. Sem garantia, é mais difícil?

Mas de qualquer maneira, a União é responsável pela solvência da Caixa. Se a Caixa tem problemas, quem tem que aportar recursos é a União. Isso já aconteceu várias vezes no passado, nos anos 90 a gente já atravessou problemas como esse. Agora mesmo estão usando um subterfúgio, que é um empréstimo do FGTS que é completamente equivocado, não é papel do FGTS emprestar recursos para a Caixa enfrentar dificuldades pela sua política equivocada de crédito.

É uma imprudência neste momento?

Acho que em qualquer momento. Bancos públicos, sobretudo quando é empréstimo para o poder público no Brasil, têm sido fonte de problemas. Acaba dando por razão errada, não porque é uma boa oportunidade, não porque é rentável ou tem boa política para ser executada, e com frequência resulta em problemas para o próprio setor público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na semana em que o governo reviu o rombo fiscal de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões, o presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, diz que, ao contrário do que muitos esperam, a medida não evitará alta de impostos. "Não vamos escapar disso. Demoramos demais a fazer as reformas e vai faltar dinheiro para políticas essenciais." A seguir, trechos da entrevista.

Como o sr. avalia a mudança na meta fiscal?

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Reflete a severidade da situação do País. Não foi uma surpresa. O preocupante é que a causa dessa situação é o aumento recorrente das despesas obrigatórias, por força de lei, como as regras de reajustes, que vêm aumentando há quase três décadas nos governos federal e estaduais. Esse gasto cresce mais que o PIB há muito tempo. Esse imenso conjunto de leis e obrigações diz quanto e como gastar. Ou fazemos discussões profundas sobre reformas estruturais para interromper esse crescimento ou teremos aumentos recorrentes da carga tributária.

De 2014 a 2020, vamos acumular um déficit de R$ 818 bilhões. O que isso significa para o País?

Haverá perda de espaço para a política pública, para o investimento, carência de recursos para áreas como ciência e tecnologia, para programas sociais. Isso prejudica o País e a volta do crescimento. Poderemos ver a falta de capacidade de aumentar o salário mínimo, de fazer políticas que são comezinhas em qualquer lugar porque acabou o dinheiro. O mesmo ocorre com governos estaduais. Sofrem funcionários, universidades e se espalha. Está no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Brasília. E outros Estados terão dificuldades.

Como chegamos a esse ponto?

Para além do problema estrutural, houve incontáveis erros de política econômica. O governo anterior expandiu subsídios, desonerações, criou políticas públicas sem avaliar impactos. O atual, no ano passado, com a maior recessão da história e o maior desemprego desde os anos 70, concedeu aumento para servidores e agora tem de voltar atrás. Além disso, errou na avaliação de como a economia ia se recuperar. E não errou sozinho, pois diversos economistas falavam em uma recuperação mais rápida. Há uma recuperação, mas não como se esperava. O governo errou, por fim, em se comunicar mal com a sociedade. Deveria ter explicado melhor sobre o tamanho do problema - por exemplo, sobre a Previdência -, a necessidade de ajustes e como fazê-los.

O que mais o governo poderia fazer para conter o rombo?

Essa forma de tratar os problemas, um de cada vez, pode ter vantagens na execução, mas perde na clareza. Por exemplo, quando se fala de Previdência, assistência social e dos servidores, não é um tema só. Há leis específicas, programas sociais que somam e alguns que fracassam. Não seria a hora de fazer uma avaliação e terminar ou rever o que não funciona? Programas de incentivo a conteúdo nacional funcionam? Os setores que o governo apoiou mais fortemente no passado hoje estão em grave dificuldade: óleo e gás, indústria naval, a intervenção no setor elétrico. O governo passado atendeu a pedidos de diversos setores. O resultado é a crise em que eles se encontram. Mas eles não podem reclamar muito porque são sócios da culpa, foram cúmplices do projeto e o resultado a gente está assistindo.

Elevar imposto é uma saída?

Não vamos escapar disso. Demoramos demais para fazer as reformas. E mesmo aumentando a meta faltará dinheiro para políticas essenciais. Seria melhor que não fosse assim, mas é o custo por demorarmos a reconhecer os problemas. Todos teremos de ir para o sacrifício. Teremos de pagar mais imposto e trabalhar mais para nos aposentar. A questão é como fazer o processo de maneira socialmente justa e equânime, tratando iguais como iguais e protegendo os vulneráveis.

O sr. acha que a reforma da Previdência vai avançar?

A população aposentada cresce 3,5% ao ano. A que trabalha está crescendo 0,7% e em poucos anos vai parar de aumentar. A estimativa é de que em três décadas haverá 6% a menos pessoas trabalhando e 250% a mais de pessoas recebendo benefícios da Previdência. Um número menor de trabalhadores vai sustentar um número duas vezes e meia maior de aposentados. A reforma é urgente.

Por que há tanta resistência?

O que me surpreende é como os grupos resistem em participar do sacrifício para tirar o País da crise. Há uma série de privilégios disseminados na economia. Tem gente com acesso a crédito subsidiado do BNDES, que paga pouco imposto, que é protegido da concorrência externa. Há pessoas que podem se aposentar mais cedo, que têm benefícios maiores, outras que pagam seu aluguel, sua educação. E há pessoas que, além do salário, recebem auxílio-moradia. É um país onde é disseminada a meia-entrada. É preciso ficar claro que, se preservar o privilégio de A, os demais vão pagar.

A resistência em relação à nova taxa de juros do BNDES, a TLP, vai nessa mesma linha?

Vários grupos empresariais se manifestaram contra, ao mesmo tempo em que reclamam de aumento do imposto. Estamos numa crise fiscal, está faltando dinheiro para coisas essenciais, mas tem gente que não quer pagar mais imposto, não quer que tire o subsídio do BNDES. Conceder subsídios via BNDES à empresa privada tira dinheiro do resto da sociedade.

O pacote fiscal deve ser aprovado?

Depende da capacidade do governo em prestar contas e explicar o planejamento fiscal. Boa notícia é que acordou para o problema e começa a enfrentá-lo. Má notícia é que vai precisar de muito mais medidas para sairmos de onde estamos.

Que cenário podemos esperar daqui para frente?

Se iniciarmos a agenda fiscal e as reformas, poderemos começar uma agenda republicana de igualar as regras, reduzir distorções. Há muitas oportunidades de crescimento. Há uma produtividade latente que pode crescer. A gente consegue construir um ambiente tributário saudável, com impostos simples e claros e ter um período longo de crescimento. Ou podemos insistir nos erros do passado. Os anos 50 deram a crise dos anos 60. Os anos 70 deram a crise dos anos 80. Os últimos 10 anos deram a crise atual. Podemos repetir pela quarta vez o mesmo caminho.

A proposta de emenda constitucional que estabelece um limite para o crescimento dos gastos públicos "é um começo", mas não resolve por completo a necessidade de maior responsabilidade na gestão das contas, segundo avaliou o presidente do Insper, Marcos Lisboa. Ele participou de evento da Associação Paulista de Supermercados (Apas) nesta manhã, em São Paulo.

Para Lisboa, a limitação de gastos deveria ser algo "óbvio" na gestão pública, mas se tornou necessária porque decisões irresponsáveis vêm sendo tomadas nos governos. "O que a proposta diz é apenas que, se o governo do Maranhão quiser construir uma refinaria, vai ter que dizer o que é que vai cortar do orçamento para isso", ponderou.

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Para ele, o teto pode ser o começo de uma agenda de responsabilidade, a qual depende de que a população se mobilize em prol de medidas duras.

O economista destacou, por exemplo, a necessidade de uma compreensão mais profunda pela população da proposta de reforma da Previdência. "Quanto mais a sociedade se engajar e entender, maior a chance de a janela atual ser aproveitada e retomarmos a trajetória de crescimento sustentável", disse.

Para Lisboa, o tema da dívida dos Estados passa pela Previdência. "Os Estados estão quebrando por causa da Previdência e não tem outra forma, precisa delimitar a idade mínima", comentou. O presidente do Insper considerou ainda que o Brasil permite uma acumulação de benefícios por uma mesma pessoa, algo que também afeta as contas públicas.

O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e diretor vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, defendeu em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que, para retomar a confiança dos agentes na economia brasileira, o próximo governo, independente de quem seja o presidente, terá de resgatar os fundamentos internos. Segundo ele, "a falta de confiança reflete os fundamentos econômicos que têm sido fragilizados desde a crise de 2008/2009".

O economista afirmou que o Brasil sofreu mais que outros países com a crise financeira mundial. "A crise reduziu (a capacidade de crescimento) dos emergentes, mas o Brasil sofreu muito mais", disse, destacando que, desde a crise, o Brasil está mais volátil e mais frágil em relação ao ambiente externo. De acordo com o vice-presidente do Insper, o mundo e a América Latina cresciam 4%, em média, antes da crise e, hoje, avançam 3%, enquanto o Brasil, que crescia 4%, atualmente sobe menos de 2%, em média.

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Lisboa destacou também a importância de se recuperar a credibilidade da política monetária, que, na avaliação dele, foi "desgastada" ao longo da campanha eleitoral deste ano. "Eu tenho afirmado que há problemas fáceis de resolver, difíceis e muito difíceis. Política monetária é um dos fáceis", disse. De qualquer forma, a avaliação dele é de que o governo atual, se reeleito, terá uma vida mais difícil, por ter fragilizado a política monetária.

Uma das receitas para resolver o problema da credibilidade, apontou, é retomar uma política fiscal crível, sem "mascarar" os números. Segundo destacou o economista, o superávit primário necessário para estabilizar a relação dívida pública/PIB seria de 2,5% a 3,5%. "O problema verdadeiro agora é resgatar um superávit primário consistente", ressaltou.

Bancos públicos

O vice-presidente do Insper criticou ainda a política do governo federal de expandir o papel dos bancos públicos no financiamento de empresas. A presidente Dilma Rousseff reiterou que não vai incorporar "algumas coisas" no seu programa "nem que a vaca tussa" e citou como exemplo a redução da participação dessas instituições no crédito. "O Governo fez uma aposta de 2008 para cá, estimulando a demanda com crédito, para reativar a economia, mas infelizmente deu errado", afirmou.

Ele ponderou que, apesar de os bancos públicos terem aumentado a participação no crédito, os investimentos não cresceram. Sobre o diferencial entre a taxa de juros nominal (Selic) e a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), Lisboa afirmou que a distorção é sempre prejudicial para a economia. Hoje, a Selic está no patamar de 11% ao ano e a TJLP, em 5%. Todavia, de acordo com o economista, diante da quantidade de crédito subsidiado, com taxas de até 4%, "a TJLP perdeu a relevância".

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