O Papa Francisco visitará pela primeira vez a Terra Santa, de 24 a 26 de maio, em uma viagem "intensa e carregada", que será marcada pelo diálogo entre as três grandes religiões monoteístas: católica, judaica e muçulmana. O Papa, que em três dias visitará a capital jordaniana Amã, Belém, nos Territórios Palestinos, e Jerusalém será acompanhado por um líder religioso muçulmano e um rabino em uma região emblemática, abalada por conflitos.
"Não há reuniões específicas programadas entre as religiões, mas a presença durante a viagem de membros das diferentes religiões é significativa", declarou nesta quinta-feira o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
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O rabino de Buenos Aires, Abraham Skorka, e o líder muçulmano Omar Abboud, presidente do Instituto do Diálogo Inter-religioso da capital argentina, "dois amigos", acompanharão Francisco em sua primeira visita à Terra Santa.
"São pessoas que o Papa conhece muito bem, com quem cultiva uma amizade desde a Argentina. Portanto, não será necessário fazer discursos sobre o diálogo inter-religioso", explicou Lombardi.
Com a viagem, o Papa argentino comemora o histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Ortodoxo Atenágoras I de Constantinopla, em 5 de janeiro de 1964, em Jerusalém, uma reunião que revogou a excomunhão de 1054 que causou a divisão entre as igrejas do Oriente e do Ocidente.
O Papa se reunirá em quatro ocasiões com o Patriarca Ortodoxo, com quem vai rezar no Santo Sepulcro, em Jerusalém.
"Um evento histórico", considerou Lombardi, já que esta é a primeira vez que os representantes de várias correntes cristãs, incluindo a greco-ortodoxa, a armênio-ortodoxa e dos franciscanos católicos rezam todos juntos e publicamente neste local sagrado para o cristianismo.
"Naquele lugar todos sempre rezaram separadamente", lembrou Lombardi, sem mencionar os difíceis confrontos no passado recente entre essas comunidades para ter horários fixos de oração.
- Veículos sem blindagem -
Durante sua primeira viagem como pontífice a esta região conflituosa, Francisco, originário de um país com uma grande comunidade judaica, viajará de helicóptero ou em um veículo comum, sem blindagem e, em alguns casos, em um SUV conversível, sem se limitar por razões de segurança.
"Ele vai se locomover em um carro normal. É o seu desejo", indicou Lombardi.
No domingo, 25 de maio, em Belém, o Papa vai saudar os palestinos católicos atravessando a cidade em uma picape, da sede da Presidência até a Praça da Manjedoura, onde celebrará uma missa.
Esta é uma das poucas ocasiões em que Francisco estará em contato com as multidões, já que os católicos são uma minoria no Oriente Médio.
O papa latino-americano, que pronunciará 14 discursos, todos em italiano, visitará um campo de refugiados, almoçará com famílias pobres da região, e irá ao Memorial do Holocausto Yad Vashem e ao Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados do judaísmo.
O rabino Skorka e o líder islâmico Abboud devem acompanhar o Papa na maioria dos 20 eventos programados, como membros da delegação do Vaticano, algo sem precedentes.
Francisco também visitará a Esplanada das Mesquitas e o Domo da Rocha acompanhado pelo Grande Mufti de Jerusalém, Mohammed Hussein, mas não chegará a ir à Galileia, apesar dos "inúmeros pedidos".
"É um programa aprovado pelo Papa. Não esperamos surpresas", assegurou Lombardi.
Como seus antecessores, João Paulo II (2000) e Bento XVI (2009), Francisco deixará uma mensagem no Muro das Lamentações.
Para se preparar para este programa "desgastante", Francisco, de 77 anos, adiou uma visita a uma paróquia de Roma, prevista para domingo, uma decisão tomada "com serenidade" e que não deve provocar alarde, de acordo com Lombardi.