Tópicos | testemunhos

Enfermeira na Policlínica de Florianópolis, Adriane Sônia Martins, de 41 anos, usava seu conhecimento sobre a Covid-19 para proteger os parentes. Militante das medidas de prevenção, não imaginava que veria o problema atingir sua família. Em outubro, ela e o marido, Antônio Martins Filho, se contaminaram. Adriane teve sintomas, mas se recuperou em casa. Ele foi para o hospital e não resistiu.

O relaxamento das estratégias restritivas para conter a pandemia - que vem resultando em mais casos e mortes pela Covid-19 no Brasil - expôs quem tinha conseguido se cuidar nos primeiros meses de pandemia. De Norte a Sul do País, familiares de vítimas relatam angústia.

##RECOMENDA##

Com 43 anos, Martins Filho era motorista do Departamento de Trânsito da prefeitura de Florianópolis, sem comorbidades e "jogava os 90 minutos" de futebol toda semana. Por medo do vírus, tinha se afastado do esporte. Lavava todas as compras do supermercado e era visto pelos amigos como medroso.

Ao ser contaminado, desenvolveu hipoxemia silenciosa, sem sintomas nem falta de ar. "Agravou de um dia para o outro, com febre. Na tomografia, o resultado deu 50% do pulmão comprometido sem ele sentir nada. No dia seguinte, a saturação começou a cair", diz Adriane.

"Foi a pior notícia da minha vida, eu tinha muita esperança na recuperação dele. Pelos meus conhecimentos, sabia que poderia ficar com sequelas, mas tudo parecia reversível", conta a viúva.

"Trabalhei tanto pela conscientização e tive essa grande perda na minha vida." Martins Filho passou 17 dias entubado na UTI do Hospital Baía Sul, na capital catarinense, lutando contra a infecção que sufocou o pulmão e os planos da família.

Ainda afastada do trabalho, a enfermeira diz que não sabe como vai ser a volta às atividades. "Tenho ódio de olhar as pessoas nas ruas se aglomerando e pena dos meus colegas, que estão esgotados. Eu sempre escutei muitas piadinhas de pacientes, tipo: 'essa doença é coisa para derrubar o governo'; 'é coisa da mídia lixo'. Isso já me deixava muito triste."

Na família Carvalho, em Belo Horizonte, a esperança de que seria possível vencer o novo coronavírus durou só algumas horas. "O médico ligava toda noite para dar notícias. Um dia disse: 'o quadro é favorável'. Na madrugada do dia seguinte: 'ele não resistiu'". O professor e administrador público João Victor Teodoro Carvalho, de 22 anos, relata assim os últimos momentos do pai, o consultor de material de construção José Márcio de Carvalho, de 58 anos.

Dos quatro integrantes da família, pai, filho e mãe - a dona de casa Bernadete Júnia, de 56 anos - ficaram doentes no início de dezembro.

Na segunda semana de sintomas, o pai apresentou febre alta e palpitação. José Márcio, que era diabético e tinha sobrepeso, já tinha ido ao hospital, mas resolveu consultar o médico de novo. "Na segunda vez, já mediram a saturação e viram que estava baixa. O levaram para o oxigênio, depois para o CTI, mas na madrugada do dia 27 teve parada cardiorrespiratória e morreu. É uma doença traiçoeira", lamenta João Victor.

Em Manaus, 17 dias separaram a morte do casal Miguel da Silva Peixoto, de 74 anos, aposentado, e Rose Arcângela Silva, de 59, funcionária pública federal. "Nossa família foi totalmente destruída", diz Anne Gabrielly, a filha mais velha.

Quando todos em casa tiveram febre, dor de cabeça e cansaço, a família recorreu a um kit comumente receitado no Amazonas durante a crise sanitária, com vitaminas, inalação, ivermectina e azitromicina. Essas medicações não têm eficácia cientificamente comprovada para a Covid-19. Os filhos tiveram sintomas leves, mas Rose acordou mal em 3 de setembro, quando foi levada ao hospital e imediatamente internada, já com 70% dos pulmões comprometidos. Hipertenso e diabético, Miguel teve piora e morreu logo depois.

Primeiro veio a fumaça branca, seguida por uma explosão laranja e, pouco depois, uma nuvem preta. Essas são as últimas imagens de Rony Mecattaf antes de acordar com apenas um olho e uma Beirute destruída pela explosão.

"Perdi toda a visão lateral e talvez a imagem de mim mesmo. Quando me olho no espelho, não vejo a percepção que tinha de mim com os dois olhos", afirma este psicoterapeuta de 59 anos.

A explosão brutal de 4 de agosto no porto da capital libanesa causou pelo menos 177 mortes e mais de 6.500 feridos, a maioria deles por cacos de vidro.

Dessas pessoas, pelo menos 400 sofreram lesões oculares, mais de 50 precisaram de cirurgia e ao menos 15 ficaram com apenas um olho, segundo dados dos hospitais da região de Beirute.

Dez dias após a tragédia, Mecattaf ainda enxuga o sangue que às vezes emana de uma grande cicatriz que atravessa verticalmente sua pálpebra direita.

- "Intervenções angelicais" -

Mecattaf estava na varanda de um amigo, com vista para o porto, quando a explosão o jogou para a porta de entrada como "um grão de poeira". Ele ainda não sabe se foi a porta ou um pedaço de vidro que mutilou seu olho.

Seus médicos afirmaram que poderia ter sido simplesmente a onda da explosão, o que tornaria difícil repará-lo.

Ele sobreviveu graças a uma "série de intervenções angelicais" nas horas seguintes ao drama, com a ajuda de desconhecidos que o levaram a dois hospitais - já que o primeiro estava completamente danificado pela explosão.

"A cidade era uma visão do inferno", lembra Mecattaf, que finalmente conseguiu ser operado em Sidon, no sul do Líbano, graças a um amigo. Mas, após duas horas de esforços, os médicos não conseguiram salvar seu olho.

- "Meio cego" -

Em um hospital ao norte de Beirute, Maroun Dagher faz sua revisão semanal. Para este cientista da computação de 34 anos, a explosão "mudou tudo".

Seu rosto ficou colado a uma janela em uma rua muito próxima do porto e um caco de vidro de dois centímetros perfurou seu olho esquerdo.

Nos primeiros dias após a explosão, a dor "era apenas física". Mas a agonia não parou por aí. Alguns dias depois, ele soube que sua visão provavelmente foi afetada de forma permanente.

"Tenho sonhos em que consigo ver tudo, mas depois acordo", conta. "Nesse momento sinto emoções ruins [...] Você simplesmente acorda meio cego", lamenta.

- "O lugar mais seguro" -

Makhoul al Hamad, de 43 anos, vivia na cidade de Manbij, no norte da Síria. Este operário, que mora em Beirute desde 1995, achava que seu bairro, Mar Mikhael, era "o lugar mais seguro do Líbano" e definitivamente mais seguro do que seu país em guerra.

Por esse motivo, em 2016 ele levou a esposa e quatro filhos para Beirute, entre eles sua filha Sama, nascida em Manbij.

Sama estava sentada a poucos metros de uma janela no dia da explosão. Cacos de vidro atravessaram seu olho e a menina de cinco anos começou a sangrar absurdamente.

Uma semana depois, no telhado de sua casa danificada, Sama sorri com o olho coberto por uma bandagem. Ao longe, é possível ver o porto, praticamente devastado.

Sua retina foi rompida e os médicos disseram aos pais que seria necessário uma cirurgia restauradora no exterior. Mas eles não têm condições de bancar.

"Teria preferido que todo o sofrimento [...] recaísse sobre mim, se isso permitisse salvar Sama", confessa Hamad enquanto abraça a filha.

De uma forma ou de outra, todo mundo vai ter contato com o esse inimigo invisível e oculto, o novo coronavírus. Ele se espalhou pelos quatro cantos do planeta e provocou uma pandemia. Para muita gente, ele poderá passar rápido, provocando sintomas leves, situação que pode ser resolvida com tratamento caseiro. Mas, para cerca de 20% da população, a doença é motivo de internação hospitalar e até de uso de respiradores, hoje o equipamento mais escasso e que pode ser o fiel da balança da sobrevivência.

O jornal O Estado de S. Paulo conversou com pessoas que foram diagnosticadas com o novo vírus e estão curadas ou em fase final do tratamento para a covid-19. Entre os entrevistados estão aqueles que ficaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como o jurista Ives Gandra Martins, de 85 anos, que, pela idade, pertence ao grupo de risco da covid-19.

##RECOMENDA##

Também fazem parte do grupo de risco para o novo coronavírus pessoas com comorbidades, como complicações cardíacas, doenças pulmonares e renais. O vírus, no entanto, atinge a todos: pegou em cheio o prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, Orlando Morando (PSDB), de 45 anos, com a saúde em dia. "Senti uma falta de ar asfixiante", disse Morando ao Estado.

No grupo dos que fizeram tratamento em casa e não precisaram de internação estão a jornalista Monique Arruda, de 34 anos, e a técnica de enfermagem, Natália Leite, de 35 anos. Também se recuperou em casa o médico infectologista David Uip, que lidera o comitê de combate à doença em São Paulo.

Uip participou nesta segunda-feira (6) de uma entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes sobre o avanço da covid-19 no Estado, após ficar vários dias afastado, em isolamento domiciliar, durante o tratamento para a doença.

Seja em casa ou no leito de uma UTI, o medo de morrer foi o traço comum dos depoimentos desses brasileiros que agora - ao que tudo indica - já estão imunizados contra o novo coronavírus. Para eles, a lição que ficou é de que a vida é muito frágil e a saída para superar esse momento é ouvir a ciência e ser solidário. Leia abaixo os depoimentos.

David Uip, médico infectologista

David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a covid-19 criado pelo Estado de São Paulo, voltou ao trabalho ontem e participou de uma coletiva de imprensa em que foi anunciada a ampliação da quarentena no Estado de São Paulo. Uip foi infectado pelo novo coronavírus e estava afastado. Ele deu um depoimento emocionado sobre como sofreu com a doença.

"Gostaria de agradecer a Deus por estar aqui vivo, à minha família pela solidariedade e ao senhor, governador João Doria, que não deixou de me ligar um dia, não para perguntar algo sobre o trabalho, mas para saber como eu estava", disse Uip.

"Vou dar meu depoimento para mostrar do que se trata essa doença. Há dois domingos, eu me senti muito mal. Estava extenuado, sentado em uma cadeira e, pela primeira vez na vida, me neguei a falar com uma emissora de televisão. Não conseguia. De domingo para segunda, passei muito mal. Na segunda de manhã, fiz o exame e o teste deu positivo para coronavírus, mas a tomografia deu normal. A semana que se seguiu foi de extremo sofrimento", contou.

Uip explicou que depois de uma semana do diagnóstico positivo para coronavírus, em uma tomografia, foi detectada uma pneumonia. "Esse sentimento de você se ver como médico, infectologista, com uma pneumonia, sabendo que muito provavelmente entre o sétimo e o décimo dia haveria complicações, foi muito angustiante. Indo dormir não sabendo como ia acordar. Mas Deus me ajudou e venci a quarentena. Não é fácil ficar isolado. É de extremo sofrimento, mas é absolutamente fundamental", contou o infectologista.

E continuou: "Eu tive de me reinventar nesse período. Virei um David Uip mais humilde, sabendo os limites da vida".

Sobre a ampliação da quarentena, Uip falou que ela vai possibilitar um achatamento da curva da doença. "Meu depoimento é como paciente, não como médico. Quem vai sair vivo é quem estiver sendo atendido em estruturas hospitalares bem equipadas e com equipes médicas bem estruturadas. Isso é claríssimo. Isso (a quarentena) vai permitir que os hospitais públicos e privados se reorganizem. Isso está possibilitando que indivíduos como eu, que ficaram adoecidos, voltem para a frente de trabalho."

Uip disse que vai voltar a atender pacientes. "Meu testemunho é de quem ficou do outro lado. Não é brincadeira. A quem está subestimando, achando que não é nada, desejo ardentemente que não adoeça. É um sofrimento muito grande. Eu passo a ser um ativo, eu já passei pela doença e eu, teoricamente, não me contamino de novo", disse, sob aplausos das pessoas presentes no Palácio dos Bandeirantes.

Ives Gandra Martins, jurista

No dia 27 de fevereiro, o jurista Ives Gandra Martins foi submetido a uma cirurgia simples de esôfago. Na recuperação teve uma isquemia, depois uma septicemia. Ficou quatro dias em coma na UTI e, quando estava se recuperando pegou o novo coronavírus. "A minha guerra não começou com o coronavírus", disse o jurista, que agora já está em casa, mas ainda em recuperação. "Sinto fraqueza e falta de apetite. Mas, fora isso, estou bem. Estou escrevendo: coronavírus não atingiu o cérebro", brincou.

Após 38 dias de hospital, ele mantém o raciocínio perspicaz. "Os médicos foram muito bons, mas acredito mais no médico lá de cima", disse o jurista, que é católico, acredita em Deus e no poder das orações.

Aos 85 anos e, portanto, pertencendo ao grupo de risco, Gandra relatou que nunca tinha vivido um drama pessoal tão grande. Apesar da fase difícil, ele se considera otimista. Acredita que, do ponto de vista coletivo, a pandemia do novo coronavírus vai ser um momento de reflexão da humanidade. "Essa é uma guerra mundial contra um inimigo invisível e, com solidariedade, será uma grande oportunidade para mudarmos a face da terra."

Orlando Morando, prefeito de São Bernardo

Depois de uma semana na UTI, Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo (PSDB), no ABC paulista, disse que achou que morreria por causa da covid-19. O pior momento foi na semana passada. "Senti uma falta de ar asfixiante, foi a pior sensação que tive na vida."

A situação só começou a reverter quando os médicos começaram a dar cloroquina. "O oxigênio não surtia efeito", lembra o político de 45 anos, que tem boa saúde e não faz parte de grupo de risco.

A lição que fica, segundo ele, é que é preciso valorizar a vida. "Esse é o maior bem que a gente tem. Quando se está à beira do precipício não adianta mais."

Outra lição tirada dessa experiência é a necessidade de as pessoas serem mais humanas. Morando disse que tem acompanhado as discussões recentes e que, na sua opinião, elas são totalmente "ilógicas". "O que adianta discutir a economia para quem não tem mais saúde?".

"A ciência está mostrando que o isolamento é a chance que temos para proteger as pessoas", frisou. "Depois do que eu passei, disse, gostaria de ver se consegue ficar alguns segundos sem respirar tentando contar dinheiro", finalizou.

Monique Arruda, jornalista

Há 17 dias trancada em casa, Monique Arruda, de 34 anos, jornalista, não precisou ir para o hospital para se curar da covid-19. No primeiro dia, ela contou que teve muita dor de cabeça, cansaço e febre alta. "Fiquei sem olfato durante 12 dias, era como se não tivesse nariz", lembrou.

Ela recebeu orientação do médico via aplicativos, o laboratório fez o teste em casa e o resultado foi positivo. Já o seu filho de 3 anos teve muita falta de ar, mas o teste deu negativo. Até mesmo no período de isolamento, o médico a autorizou a amamentar para atenuar os sintomas da criança. Ela usou máscara e tomou cuidado com a higienização das mãos.

Outra preocupação de Monique é com a mãe idosa, de 70 anos, que mora na mesma casa. Mas, segundo ela, a mãe não pegou a doença, apesar de ser fumante e fazer parte do grupo de risco. "Apesar de os meus sintomas terem sido leves, foi um pesadelo", resumiu a jornalista. Ser portadora do vírus soou como uma sentença de morte para ela. No seu caso, um dos pontos que ajudaram, na sua opinião, a não virar um caso grave foi seu estilo de vida saudável. "Alimentação é a base de tudo."

Natália Leite, técnica de enfermagem

No dia 25 de março, a técnica de enfermagem Natália Leite, de 35 anos, começou a ter sintomas de uma gripe normal: tosse, espirros e nariz escorrendo. Foi a uma UPA e o médico a diagnosticou com gripe, H1N1. Natália, que trabalha em um hospital público, foi afastada do serviço e começou o tratamento em casa.

Com o passar dos dias, o quadro piorou: veio a febre alta, que chegava 40 graus, perda de paladar, olfato e dor nos pulmões, como se tivessem sendo esmagados. Ela voltou ao médico, fez o teste e confirmou que estava com covid-19. "O sintoma é de uma gripona: quando tosse, dói os pulmões, achei que fosse morrer", contou.

No começo, ela não acreditou que estivesse com a doença, pois tomava todos os cuidados de higiene e no hospital onde trabalha cuida de uma ala isolada, onde estão pacientes sem relação com a pandemia.

Depois do diagnóstico, o médico recomendou que continuasse o tratamento em casa e só fosse ao hospital se tivesse falta de ar. Natália mandou o filho menor, de 4 anos, para a casa do pai, e ficou na companhia do filho maior, de 14. "No dia 9 vou refazer o teste para ver se o vírus foi embora."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Juliana Carvalho Moura mora na casa em frente aos dois prédios que desabaram na zona oeste do Rio. Ela contou que uma moradora do primeiro andar de uma das construções chegou a gritar para tentar alertar os vizinhos do desmoronamento iminente.

"Eram umas 6h30, e dava pra ouvir muitos estalos, barulho, e a mulher começou a gritar 'tá caindo, tá caindo, sai, vai cair'. Achei que era a ribanceira que estava caindo, mas era o prédio", contou.

##RECOMENDA##

Segundo Juliana, quando ela saiu de casa e chegou na rua os dois prédios já tinham desabado. "Era uma nuvem branca de poeira, enorme, não dava pra enxergar nada", disse. Segundo ela, algumas pessoas podem ter conseguido escapar do desabamento saindo dos prédios por trás, pela mata.

O porteiro José Carlos de Souza, de 49 anos, sua mulher e sua filha de 12 anos escaparam do desabamento dos prédios porque resolveram passar a noite em Ipanema, na zona sul, no prédio onde ele trabalha.

"A gente resolveu ficar por lá porque aqui estava tudo com muita lama desde a tempestade", explicou Souza, que comprou o apartamento por R$ 60 mil para poder sair da Rocinha, onde morava, muito afetada pela violência. Ele contou que comprou o imóvel ainda na construção e se mudou há três meses.

"Mas eu tive sorte, muita sorte. Melhor que ter ganhado um prêmio. Porque a minha família estava comigo. O prêmio maior é a vida, né?", afirmou. "De perda material foi tudo, praticamente tudo. Sai da Rocinha por causa da violência, vim pra cá achando que era melhor. A gente vê o prédio pronto, bonito, mas não sabe como é a estrutura."

Mortes

Pelo menos duas pessoas morreram, um homem e uma criança, e outras três ficaram feridas após o desabamento nesta sexta-feira (12) de dois edifícios residenciais na comunidade da Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro.

O Corpo de Bombeiros trabalha incessantemente nos escombros com uma lista de 17 nomes de pessoas que estariam desaparecidas. Eles isolaram a área da tragédia porque outros prédios do entorno estariam em risco iminente de desmoronamento. Cães farejadores estão no local.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que uma mulher de 35 anos chegou ao Hospital Municipal Lourenço Jorge com um trauma no abdômen e está em procedimento cirúrgico. No início, os órgãos de socorro tinham informado que um homem havia sido resgatado pelos vizinhos e que o mesmo foi levado para um hospital próximo.

Milícias

A comunidade da Muzema é uma área sob o domínio de milícias, grupos paramilitares formados por PMs, militares, agentes penitenciários e civis, que exploram ilegalmente vários negócios. Um dos mais conhecidos seria o da construção irregular.

A prefeitura do Rio de Janeiro, que espera divulgar nas próximas horas um balanço inicial sobre vítimas e danos materiais, comunicou que cerca de 60 edifícios da região foram construídos de maneira "irregular" em zonas de "alto risco de desmoronamento".

Os apartamentos nos prédios irregulares construídos e comercializados por milicianos são vendidos a preços abaixo do mercado. Unidades de dois quartos, com garagem, estavam sendo vendidos por valores que iam de R$ 40 mil a R$ 100 mil. Moradores contam que sabiam que os imóveis eram irregulares, mas que comprá-los era a forma encontrada para conseguir ter um lugar para morar.

O Complexo da Muzema é formado por duas comunidades, a do Cambalacho e a da Muzema. De acordo com o Instituto Pereira Passos (IPP) na favela da Muzema moram pelo menos 4 mil pessoas em 1.528 domicílios. Os números, no entanto, são do Censo de 2010.

Com a expansão da milícia e as construções irregulares, a expectativa é de que a população seja atualmente muito maior. A área ocupada pela comunidade é de 90 mil metros quadrados, segundo registro de 2018.

A crise econômica e social na Venezuela levou mais de 12.000 pessoas a fugir para o Brasil em busca de alimentos e medicamentos, segundo um relatório da organização americana Human Rights Watch divulgado nesta terça-feira, que pede a Caracas para tomar medidas de alívio.

"Há um aumento notável no número de venezuelanos que fogem da Venezuela fundamentalmente por razões humanitárias, buscando alimentos e medicamentos que não estão disponíveis", disse o diretor para América de HRW, José Miguel Vivanco.

Muitos também fogem da insegurança no país, "onde a regra é a impunidade para as vítimas de crimes violentos, sejam eles cometidos por organizações criminosas ou por agentes do Estado", afirmou Vivanco.

Segundo a organização, mais de 12.000 venezuelanos entraram e permaneceram no Brasil desde 2014, principalmente no estado fronteiriço de Roraima. O fluxo anual quintuplicou nos onze primeiros meses de 2016, com 7.150 entradas.

O relatório traz testemunhos de migrantes venezuelanos e de autoridades brasileiras no estado de Roraima. O número de venezuelanos que migram e pedem asilo também aumentou em outros países como Argentina, Canadá e Estados Unidos, afirmou HRW.

Vivanco pediu aos países da região para implementar medidas de pressão sobre o governo venezuelano para que este implemente "mudanças e ajustes dramáticos", reconheça a crise e faça um pedido "aberto de ajuda" a entidades humanitárias internacionais, como a Organização Pan-americana de Saúde.

"Essas demandas devem ser formuladas pelos Estados-membros da OEA", a Organização de Estados Americanos, disse Vivanco.

A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff pediu na segunda-feira (13) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ex-assessor especial da Presidência José Yunes sejam ouvidos no âmbito da ação que apura se a chapa encabeçada pela petista, de quem Michel Temer (PMDB) foi vice, cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger.

O pedido da defesa de Dilma foi feito depois de o ex-executivo da Odebrecht José de Carvalho Filho ter afirmado em depoimento à corte eleitoral na última sexta-feira (10) que Padilha recebeu pelo menos quatro senhas para o pagamento de caixa 2 ao PMDB. As senhas tinham os seguintes nomes: "Foguete", "Árvore", "Morango" e "Pinguim".

##RECOMENDA##

Padilha teria acertado locais de entrega do dinheiro da empreiteira mediante senhas trocadas com o ex-executivo. De acordo com Carvalho Filho, um dos locais indicados por Padilha foi o escritório de José Yunes, amigo e ex-assessor de Michel Temer. Esse pagamento teria sido realizado no dia 4 de setembro de 2014.

O valor total destinado ao PMDB chegou a R$ 5 milhões, dos quais R$ 500 mil teriam sido destinados ao então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Carvalho Filho afirmou que para entregar as senhas esteve com Padilha pelo menos quatro vezes. O ex-executivo da Odebrecht trabalhava na equipe do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. No anexo de delação premiada que veio à público em dezembro, Melo relata que foi Carvalho Filho quem o apresentou a Padilha.

Requerimento

A defesa de Dilma também pediu que o ministro Herman Benjamin, relator da ação no TSE, solicite à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) o compartilhamento do conteúdo das delações dos executivos e funcionários da Odebrecht que prestaram depoimento à corte eleitoral, preservando o sigilo decretado.

Os advogados que defendem a ex-presidente ainda solicitaram que sejam ouvidos lideranças dos partidos que integraram a chapa da petista em 2014, entre eles Rui Falcão (PT), Carlos Lupi (PDT), Gilberto Kassab (PSD) e Valdir Raupp (PMDB) e que o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Edinho Silva (PT), coordenador financeiro da chapa Dilma-Temer, preste novo depoimento.

Os depoimentos dessas testemunhas, alega a defesa da petista, poderão esclarecer as acusações do empresário Marcelo Odebrecht de que a empreiteira teria colaborado financeiramente com as legendas por meio de caixa 2.

Dilma pediu também que o ministro Herman Benjamin reconsidere decisão sobre trecho do depoimento do ex-presidente da Construtora Norberto Odebrecht Benedicto Júnior referente à chapa do então candidato tucano à Presidência, senador Aécio Neves (MG). Herman determinou que essas partes sejam "tarjadas" nas transcrições que constarão nos autos da ação sobre a chapa Dilma-Temer.

Primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) afirmou ao juiz Sérgio Moro, por meio de uma petição encaminhada por sua defesa, que não tem mais dinheiro para gastar com a passagem de avião do trecho Rio-Curitiba e depor como testemunha na Lava Jato.

Ele foi arrolado pelo Ministério Público Federal para depor no dia 9 de março como testemunha de acusação na ação penal em Curitiba contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), a mulher do peemedebista Adriana Ancelmo e outros cinco acusados de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras.

##RECOMENDA##

Sérgio Cabral e seu grupo são acusados de receber R$ 2,7 milhões de propina da empreiteira Andrade Gutierrez, entre 2007 e 2011, referente às obras.

"Ocorre que o comparecimento do requerente, que muitas vezes já se deslocou até Curitiba, geraria um grande dispêndio em virtude dos altos valores das passagens aéreas, não tendo, o Requerente, hoje condições de arcar com essas despesas, em virtude da grave dificuldade econômica em que toda a família se encontra, somando ainda o fato, de suas contas bancárias ainda encontrarem-se bloqueadas", diz o pedido da defesa de Costa ao juiz da Lava Jato.

Os advogados dele pedem que o delator seja ouvido por meio de videoconferência na Justiça Federal no Rio, expediente que vem sendo utilizado com várias testemunhas na Lava Jato.

Acordo

Responsável por denunciar 28 políticos, entre deputados e senadores, que teriam se beneficiado do esquema de corrupção na Petrobras, o ex-diretor teve sua delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal no dia 30 de setembro de 2014. Com o acordo, ele deixou a prisão no Paraná e cumpre pena em casa, no Rio.

Além de multa de R$ 5 milhões, ele também teve que devolver US$ 25,8 milhões que mantinha na Suíça e em Cayman e a Range Rover avaliada em R$ 300 mil que ganhou de presente do doleiro Alberto Youssef.

Ao todo, são 26 cláusulas no acordo de colaboração do ex-diretor, que abrange o bloqueio e devolução de todos os valores mantidos em contas de 11 offshores por ele controladas.

Ele reconheceu que os ativos dessas offshores são "todos, integralmente, produto de atividade criminosa". Costa também aceitou entregar, a título de compensação de danos, bens que reconhece serem "produto ou proveito de atividade criminosa ou seu equivalente em termos de valor" - lancha Costa Azul, em nome da empresa Sunset, avaliada em R$ 1,1 milhão; terreno adquirido pela Sunset, em Mangaratiba (RJ), avaliado em R$ 202 mil; valores apreendidos em sua residência quando da busca e apreensão (R$ 762.250,00, US$ 181.495,00 e 10.850 euros; bem como veiculo Ranger Evoque, presente do doleiro Alberto Youssef, avaliada em R$ 300 mil.

Costa autorizou o Ministério Público Federal ou outros órgãos - nacionais ou estrangeiros indicados pela Procuradoria -, a acessarem todos os dados de sua movimentação financeira no exterior, mesmo que as contas não estejam em seu nome.

Dois cardeais que foram secretários particulares dos papas que serão canonizados amanhã - d. Loris Capovilla, de João XXIII, e d. Stanislaw Dziwisz, de João Paulo II - deram seu testemunho sobre a vida deles, na entrevista coletiva do Centro de Imprensa da Santa Sé, mostrando que os dois já eram santos, antes de serem eleitos sucessores de São Pedro.

"Falo como um velho cansado e confuso, mas com a alegria e a profunda emoção de ver o papa Francisco canonizar Angelo Roncalli, de quem fui secretário por mais de dez anos, primeiro quando era o patriarca de Veneza e depois no Vaticano", disse Capovilla, de 98 anos. Residente em Sotto il Monte, no norte da Itália, onde João XXIII nasceu, Capovilla foi nomeado cardeal em fevereiro último.

##RECOMENDA##

Capovilla vai acompanhar a cerimônia pela televisão, porque a idade não lhe permite viajar. Ele participou da entrevista coletiva por teleconferência. Enquanto os tradutores de inglês e espanhol resumiam o que havia falado, o cardeal se agitava em seu escritório, intrigado com a tecnologia da transmissão ao vivo do Centro Televisivo Vaticano. Reagia como uma criança, depois de afirmar que João XXIII nunca foi um santo porque nunca deixou de ser criança.

O cardeal Dziwisz, hoje arcebispo de Cracóvia, que foi secretário de João Paulo II na Polônia e depois durante todo o tempo de seu pontificado, lembrou a vida de oração de Karol Wojtyla. "Ele rezava o tempo todo e tinha grande devoção a Nossa Senhora", disse o cardeal polonês. "Antes das audiências, rezava por quem ia encontrar e, depois das audiências, voltava a rezar pelas pessoas com as quais tinha encontrado",revelou.

Com emoção, Dziwisz disse que estava na ambulância que socorreu João Paulo II, após o atentado de 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro. "O papa não sabia quem havia atirado nele, nem por que tinha feito isso, mas dizia que perdoava o autor do atentado", recordou. "João Paulo II passou por muitos sofrimentos, a começar pela perda da mãe e de um irmão quando era ainda muito jovem", observou.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando