Tópicos | vulnerabilidade social

Um flagrante policial e uma história comovente. No entanto, desta vez não houve prisão e nem ação violenta, como as costumeiras cenas que viraram rotina pelo Brasil afora.

Em férias na cidade litorânea de Caraguatatuba (175 km da capital paulista), um sargento e um cabo da Polícia Militar de São Paulo registraram o momento em que o menino Matheus, de cinco anos, revirava o lixo em um terreno.

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Impactados pelo que viram, a dupla ficou ainda mais comovida quando percebeu que a criança procurava livros que haviam sido descartados para brincar com os sete irmãos.

A cena emocionou o sargento André Pereira de Souza Pinto, que fazia uma visita ao amigo e colega de profissão, o cabo Gláucio Oliveira Martins, no litoral paulista. Os policiais então se ofereceram para ajudar o garoto a carregar os livros até a casa dele.

No local, ambos perceberam que a situação era pior do que imaginavam, pois a família vive em extrema vulnerabilidade social. O pai, desempregado, faz bicos como guardador de carros para conseguir a única renda do lar e a mãe cuida dos oito filhos. Ao observar a condição da família, os PMs decidiram prestar outro tipo de assistência e tiveram a Internet como aliada.

“Queríamos fazer algo, então fomos ao mercado para comprar roupas, brinquedos e comida. Depois, fizemos um vídeo, que publicamos nas redes sociais com o objetivo de engajar outras pessoas da região a auxiliarem a família”, relatou o sargento ao site da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Ainda segundo o militar, a mãe contou que o menino sempre vai à busca dos livros, pois como os filhos não têm brinquedos ou outras atividades de lazer, utilizam as páginas para aprender brincando.

Após o compartilhamento nas redes, o registro dos militares ganhou visibilidade. O site Razões Para Acreditar divulgou o pedido dos policiais e criou uma arrecadação virtual para ajudar a família do menino. Em apenas dois dias, a família conseguiu roupas, alimentos, produtos de limpeza, uma máquina de lavar e uma geladeira, entre outros materiais.

Já para Matheus, uma bolsa de estudos para custear o aprendizado durante a infância e a adolescência. Além da arrecadação do site em parceria com os policiais para prestar assistência à família de Matheus, a campanha também vai colaborar com o trabalho da Associação de Combate ao Câncer de Caraguatatuba. A “vaquinha virtual” segue em andamento.

Um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apresenta números preocupantes em relação à exploração do trabalho infantil. De acordo com a pesquisa realizada na cidade de São Paulo, a cada 1 mil famílias cadastradas pelo órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), 21,2 alegaram que ao menos uma criança da casa trabalha para complementar a renda doméstica.

O estudo, realizado com 52,7 mil famílias atendidas pelo Unicef na capital paulista, fica ainda mais alarmante quando a amostragem é comparada com o período anterior à pandemia do novo coronavírus. Antes de março, eram 17,5 a cada 1 mil grupos familiares que confirmavam a participação de crianças na economia do lar. Ao todo, as residências cadastradas abrigam cerca de 190 mil pessoas. Desse número, 80 mil são crianças e adolescentes.

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Vulnerabilidade extrema

Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do Unicef em São Paulo, Adriana Alvarenga, afirma que as famílias acolhidas pelo programa da instituição são aquelas que não tinham sido amparadas e ainda estão em situação de vulnerabilidade social extrema. "A gente foi atender a quem não estava sendo atendido de outras maneiras, pois 50% não estavam tendo acesso a auxílio emergencial ou qualquer outro auxílio do governo", declarou.

Nos grupos familiares atendidos na capital paulista, outro fator determinante para o aumento da exploração infantil durante a pandemia é o desemprego dos adultos. Antes de março desse ano, 42,9% dos maiores de idade estavam sem trabalho. No decorrer da crise sanitária, 30,4% perderam o emprego e os 15,7% que seguiram em atividade tiveram o salário reduzido. Ao todo, só 10,9% mantiveram a estabilidade com o surto de Covid-19.

De acordo com o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2016, cerca 998 mil crianças brasileiras eram exploradas pelo trabalho infantil.

 

Na tentativa de atender mais famílias de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) ampliou o número de caixas d'água que estão sendo distribuídas gratuitamente. Iniciada no mês de maio nas cidades da Região Metropolitana do Recife, a ação - que integra o combate ao novo coronavírus -, deve entregar ao todo 900 reservatórios de 500 litros.

Até o momento, 400 caixas d'água já foram entregues. Neste momento de ampliação do ato, a empresa Sabará é mais uma que se junta a ação, além o Grupo Tigre, por meio do seu Instituto Carlos Roberto Hansen, e a FortLev, doando mais 100 reservatórios.

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Segundo a Compesa, os critérios estabelecidos para que os clientes sejam contemplados são: ser beneficiário da Tarifa Social, ser abastecido em esquema de rodízio e possuir baixa reservação no imóvel. Os clientes com possibilidade de ganhar o reservatório estão sendo contactados por técnicos da Companhia para a análise do imóvel sobre as condições necessárias para a instalação que é de responsabilidade do morador.

Com a comprovação da disponibilidade, a exemplo do local adequado para colocação da caixa d´água, a entrega será agendada. O cliente receberá a caixa, o kit para instalação e o termo de responsabilidade sobre o equipamento.

A diretora de Desenvolvimento e Sustentabilidade da Compesa, Camila Godoy, revela que neste momento estão priorizando o abastecimento da população com ações de incremento dos sistemas produtores e com obras de melhoria nas redes de distribuição. "Mas é preciso, ainda, garantir que as pessoas em situação de vulnerabilidade social consigam armazenar a água que estão recebendo. Por isso, a Compesa vem buscando parcerias junto à iniciativa privada com o objetivo de ampliar as doações para beneficiar ainda mais pernambucanos", revela.

Uma estação itinerante de higienização pessoal atenderá a população usuária de droga e em situação de rua do Recife. O trailer, que oferta banho e lavagem de mão, começa a operar nesta segunda-feira (20). A praça de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, é o primeiro local a receber o equipamento.

A estação conta com chuveiros e pias em trailer anexado à unidade móvel do Programa Acolhe Vida Recife, um serviço itinerante de abordagem social para usuários de álcool e outras drogas. "O incremento da unidade móvel do Programa Acolhe Vida Recife permitirá, além da oferta de banho, que nossas equipes deem continuidade ao acompanhamento junto aos usuários de álcool e outras drogas que têm a rua como local de moradia e que também já são acompanhados por outros serviços da rede socioassistencial da Prefeitura do Recife", diz a secretária executiva de Políticas sobre Drogas do Recife (Sepod).

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O serviço deve seguir enquanto o período de emergência causado pela Covid-19 estiver vigente. A estação funcionará das 8h30 às 16h em locais como Praça do Derby, Mercado de Afogados, Mercado da Encruzilhada, Praça do Jordão, Viaduto da Avenida Caxangá e Viaduto da Avenida Agamenon Magalhães. Durante a ação, serão entregues kits de higiene e máscaras de proteção.

Inaugurada em 2019, a unidade móvel do Acolhe Vida consiste em um micro-ônibus que leva o atendimento de prevenção, cuidado e inserção para pontos com maior demanda de usuários de álcool e outras drogas. O Programa Acolhe Vida Recife propõe atendimento baseado nos vínculos do usuário, da família e da comunidade e visa promover o cuidado especializado por meio da escuta qualificada e acompanhamento individual, assim como a realização de encaminhamentos para as redes de serviços.

Apesar de mantida a tendência de redução da vulnerabilidade social no Brasil, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam uma desaceleração nessa queda e um aumento da vulnerabilidade social no país, no último ano analisado.

Os dados são do Atlas da Vulnerabilidade Social, divulgados hoje (23), em Brasília. Segundo o Ipea, de 2011 a 2015, o Brasil manteve a tendência de redução da vulnerabilidade social, mas em velocidade menor à observada no período entre 2000 e 2010.

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Ao analisar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2011 e 2015, a taxa média anual de redução foi de 1,7%, enquanto que, entre 2000 e 2010, com dados do Censo Demográfico do IBGE, a taxa era de 2,7% ao ano.

Além disso, a partir de 2014, o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) não apresentou redução de valores, mas, sim, um aumento de 2%, saindo de 0,243 em 2014 para 0,248 em 2015. “Este pequeno aumento de 0,005 pode significar um ponto de inflexão na curva da redução da vulnerabilidade social”, diz o estudo.

Segundo o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e coordenador do atlas, Marco Aurélio Costa, é o primeiro ano em que há um aumento da vulnerabilidade social no país.

Quanto maior o índice, que varia de 0 a 1, mais vulnerável a população está. A vulnerabilidade social à que ele se refere indica a ausência ou insuficiência de recursos ou estruturas (como fluxo de renda, condições adequadas de moradia e acesso a serviços de educação) que deveriam estar à disposição de todo cidadão, por força da ação do Estado. Ele é composto por 16 indicadores organizados em três dimensões: renda e trabalho, capital humano e infraestrutura urbana.

Renda e Trabalho

A dimensão que mais contribuiu para a inflexão na vulnerabilidade social é a de renda e trabalho, composta por diversos indicadores sobre o fluxo de renda familiar insuficiente. Segundo o Ipea, enquanto na década de 2000 a 2010 houve uma redução do IVS renda e trabalho da ordem de 34%, com taxa média anual de 3,4%, no período de 2011 a 2015 ele caiu 3,3%, com taxa anual de apenas 0,8%.

 

 

“A dimensão renda e trabalho está bastante fragilizada. No período do censo, entre 2000 e 2010, o Brasil apresentou uma queda importante na vulnerabilidade social, ancorada principalmente na dimensão renda e trabalho. As pessoas estavam com renda, muita gente tinha saído da faixa de vulnerabilidade social. Nos dados da Pnad, especialmente para 2015, houve uma reversão do quadro”, disse Costa.

De acordo com o técnico, em algumas regiões metropolitanas como São Paulo, houve um aumento em mais de 20% na vulnerabilidade social na dimensão renda e trabalho. “Se você vai ao centro de São Paulo você vê o índice.

A composição da dimensão Renda e Trabalho é levado em conta, por exemplo, trabalho infantil, dependência da renda de idosos, trabalho informal e desemprego. “O dinamismo da economia afeta muito essa dimensão. A chance de ter impactos, principalmente em situação de crise, é muito grande”, afirmou o técnico do Ipea.

Políticas públicas

A divulgação do Índice de Vulnerabilidade Social serve para orientar gestores no desenvolvimento de políticas públicas adequadas à realidade de cada localidade. Há dados por macrorregiões, unidades da federação, regiões metropolitanas, municípios e até unidades menores.

De acordo com Costa, os avanços na dimensão Infraestrutura Urbana na Região Norte, por exemplo, permitiram que a vulnerabilidade social caísse na região, como um todo. Entre 2011 e 2015, foi a região que registrou a maior queda na vulnerabilidade social, com 14%, enquanto a redução foi menos relevante foi no Sul  (2%). “Entendendo o que está por trás dos índices, isso tem um efeito demonstrativo didático para todas as regiões [no desenvolvimento de políticas públicas]”, disse.

Diferença do homem-branco-urbano para a mulher-negra-rural

Além dos dados de 2011 a 2015, com base em informações da Pnad, a plataforma do Atlas da Vulnerabilidade Social traz a desagregação das informações por sexo, cor e situação de domicílio para o período e também para 2000 e 2010, com base no censo demográfico.

“Apesar dos avanços registrados, resiste a diferença entre homens e mulheres, entre negros e brancos e entre a população urbana e rural. E a diferença é mais dramática do homem-branco-urbano para a mulher-negra-rural. É como se fossem duas populações de países completamente diferentes, mas não podemos permitir que a gente tenha um país com níveis de desigualdades sócio-espaciais tão grandes”, disse Marco Aurélio Costa.

No caso das mulheres negras, esse grupo apresentou, em 2015, alta vulnerabilidade social na dimensão capital humano – que envolve condições de saúde e acesso à educação. Nessas mesmas condições, as mulheres brancas estavam na faixa de média vulnerabilidade.

A pesquisadora do Ipea, Bárbara Marguti, explica que a dimensão Capital Humano conta uma história de vida, porque tem indicadores como mortalidade infantil, escolaridade, indicador sobre gravidez na adolescência e mulheres chefes de família sem o ensino fundamental e com filhos pequenos.

“Os resultados não são só sobre 2015, são sobre os próximos anos, porque o índice está falando da mãe que está criando as crianças que estão na escola ou não”, disse. “O passivo da vulnerabilidade nessa dimensão pode indicar um futuro. Como lidamos com as três dimensões do IVS hoje, vai dizer como a população estará nos próximos ano”.

Os principais resultados do Atlas da Vulnerabilidade Social estão disponíveis no site do Ipea.

Saúde e educação são campos de atuação que precisam estar juntos. Nesse contexto, existe uma profissão que aborda muito bem as características dessas duas áreas e ainda tem uma possibilidade de atuação que se expande para outros setores da sociedade. É o caso da Terapia Ocupacional, que também trabalha com os aspectos sociais e o trabalho.

O profissional da área atua para que as pessoas realizem forma independente e autônoma as atividades, que são importantes para o dia a dia delas. O público alvo são indivíduos com deficiência ou em situação de vulnerabilidade social. “Nós temos o objetivo de favorecer a participação das pessoas em suas atividades do cotidiano. Trabalhamos com indivíuos que têm limitações no desempenho de suas ações”, explica a coordenadora do curso de terapia ocupacional da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Karina Pessoa (foto à esquerda). 

De acordo com a coordenadora, o profissional da área também atua nos ambientes de trabalho e até nas atividades de lazer das pessoas. “Vamos nas empresas analisar a realização das ações e organizar/adaptar o local para que os integrantes consigam desempenhá-las com conforto ou com o mínimo de riscos”, descreve a coordenadora. 

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Idosos, crianças, adolescentes e adultos são figuras presentes entre aqueles que utilizam os serviços prestados por um terapeuta ocupacional, inclusive pessoas em fase final de vida. Pelo fato de a profissão atender vários casos, esses tratamentos são feitos em parceria com trabalhadores de outras áreas, como a medicina, fisioterapia, psicologia, entre outras.

Formando o profissional

A graduação tem duração de quatro anos, com direcionamento para as áreas de saúde, social e do trabalho. Ciências biológicas é uma das áreas que aparecem com uma forte frequência no curso, além de conhecimentos básicos em ciências sociais. Segundo Ana Karina, a evasão no curso da UFPE é mínima e possui 18 vagas disponíveis em cada período do ano.

A jovem Luise Tszesnioski (foto à esquerda) está no nono período da graduação na UFPE. A universitária não tinha ideia sobre o que fazia um terapeuta ocupacional, e só tomou a decisão de fazer o curso após conversar com uma amiga. “Através dessa amiga eu conheci o que é a terapia ocupacional. Eu fui fazer o curso pensando em ajudar pessoas com deficiência física. Na graduação passei a entender que a agente tem que compreender o que limita os indivíduos a fazer algo”, conta a aluna.

De acordo com Luise, a graduação aborda todas as áreas do ciclo básico de saúde, como genética, bioquímica e embriologia. Porém, ela destaca a parte prática como mais interessante. “O contato com as pessoas é muito bom. Nós identificamos as limitações que vemos nos livros na prática”, explica.

Reabilitando pessoas

O profissionalismo não pode andar sem a dedicação e o carinho para com os pacientes. O terapeuta ocupacional, na grande maioria das vezes, se depara com pessoas limitadas, seja por deficiência física, intelectual, sensorial, ou por vulnerabilidade social. A terapeuta Sarah Gomes (foto abaixo) trabalha com idosos, na perspectiva da Reabilitação Cognitiva, através de atendimentos domiciliares e em consultório. “Nosso trabalho é manter o indivíduo o mais ativo e independente possível, principalmente nas atividades de auto-cuidado, prover, restaurar e melhorar o status ocupacional, além de prevenir futuras perdas funcionais e orientar os familiares e cuidadores”. relata Sarah.

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Outra experiência da profissional foi em um Centro de Desinstitucionalização, em 2010, com pessoas que passaram por longo período de internamento psiquiátrico, e segundo ela, os usuários não conseguiam realizar atividades básicas como alimentação, banho e vestir. Sarah relata que junto à equipe multidisciplinar, através de atendimentos individuais e em grupo, foi possível estimular os usuários a desempenharem essas atividades com maior autonomia e independência, além de favorecer a socialização.

Para promover a independência do usuário nas atividades básicas, o terapeuta ocupacional pode realizar adaptações de utensílios como talheres, escovas de cabelo e aparelhos de barbear; prescrever e/ou confeccionar órteses e próteses, além de intervir no ambiente.
Um outro campo de atuação da Terapia Ocupacional é com pessoas em estado terminal seja em hospitais, clínicas geriátricas ou no próprio domicílio. O terapeuta ocupacional, através de Cuidados Paliativos, dará um suporte emocional, social e espiritual ao doente e à família.

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