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Depois de três anos seguidos de redução, o trabalho infantil cresceu no Brasil entre 2019 e 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro. No ano passado, 1,881 milhão de pessoas de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil. O dado faz parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua sobre o Trabalho de Crianças e Adolescentes, divulgada nesta quarta-feira (20), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

O levantamento é feito desde 2016, quando o IBGE identificou 2,112 milhões de pessoas nessa situação. Até 2019, o contingente caiu seguidamente para 1,758 milhão. Por causa da pandemia, a pesquisa não foi divulgada nos anos de 2020 e 2021. 

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Para classificar o trabalho infantil, o IBGE segue orientações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que o conceitua como “aquele que é perigoso e prejudicial para a saúde e desenvolvimento mental, físico, social ou moral das crianças e que interfere na sua escolarização”. Acrescentam-se à classificação atividades informais e com jornadas excessivas. 

Do universo de crianças e adolescentes no trabalho infantil, 467 mil (24%) realizavam apenas atividades de autoconsumo, como cultivo, caça, pesca, fabricação de roupas e construção de casa, entre outros exemplos. 

O que diz a lei 

O IBGE estima que, no país, 2,1 milhões de pessoas entre 5 e 17 anos exerciam atividades econômicas ou para autoconsumo em 2022. A diferença desse número para o universo de jovens classificados como em situação de trabalho infantil (1,881 milhão) se dá porque nem todas as atividades nessa faixa etária são consideradas trabalho infantil. 

A legislação brasileira impõe delimitações. Até os 13 anos, é proibida qualquer forma de trabalho. De 14 a 15 anos, trabalho é permitido apenas na forma de aprendiz. Aos 16 e 17 anos, há restrições ao trabalho noturno, insalubre e perigoso. 

Crescimento 

O aumento do trabalho infantil no país se revelou não só em termos absolutos – ou seja, quantidade de pessoas. Houve um crescimento quando se analisa a proporção de crianças e adolescentes exercendo essas atividades. 

Entre 2019 e 2022, a população com 5 a 17 anos diminuiu 1,4%, no entanto, o contingente desse grupo etário em situação de trabalho infantil aumentou 7%. 

Em 2019, o percentual de pessoas de 5 a 17 anos que exerciam alguma forma de trabalho infantil era 4,5%. Já em 2022 subiu para 4,9%. Isso representa praticamente um em cada 20 jovens dessa faixa etária. 

Faixas etárias 

Os pesquisadores do IBGE identificaram que a existência do trabalho infantil aumenta à medida que a idade avança. No grupo de pessoas de 5 a 13 anos, essa incidência é de 1,7%. Já no grupo de 14 e 15 anos, salta para 7,3%. Entre os jovens de 16 e 17 anos, a proporção mais que dobrava para 16,3%.  

Mais da metade de todos os trabalhadores infantis (52,5%) tinha 16 e 17 anos de idade; enquanto 23,9% tinham de 5 a 13 anos, e 23,6% tinham 14 e 15 anos. 

Ao se analisar como as faixas etárias se comportaram no período em que o trabalho infantil cresceu no Brasil, ou seja, de 2019 a 2022, percebe-se que o grupo de 16 e 17 anos foi o que experimentou maior aumento. Em 2019, a incidência era de 14,9%, enquanto em 2022 subiu para 16,3%. 

Sexo e cor 

A pesquisa explicita que homens e negros são sobrerrepresentados nas estatísticas de trabalho infantil. Em 2022, enquanto no total da população de 5 a 17 anos os homens eram 51%, entre as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil a proporção salta para 65%.  

No quesito cor, os negros – classificação que soma pretos e pardos - eram 58,8% da população de 5 a 17 anos em 2022. Já no grupo de pessoas em situação de trabalho infantil, os negros representavam 66,3%. 

Por outro lado, os brancos eram 40,3% da população de 5 a 17 anos, mas 33% entre os envolvidos com trabalho infantil. 

Informalidade 

O IBGE verificou o grau de informalidade no trabalho infantil desempenhado por pessoas de 16 e 17 anos. Foram estimadas 810 mil adolescentes sem carteira assinada, o que significava uma taxa de informalidade de 76,6% - a maior da série histórica iniciada em 2016. O menor nível de informalidade havia sido em 2018, com 73,6%. 

O estudo revela ainda que, no universo de crianças e adolescentes envolvidos com o trabalho infantil, a maioria (59,1%) era empregada e mais de um quarto (26,8%) tinha atividade ligada à família. Além disso, 14,1% trabalhavam por conta própria ou como empregadores. 

Piores formas de trabalho infantil 

A pesquisa do IBGE investigou, também, o número de jovens submetidos a ocupações que fazem parte da Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), uma relação regulamentada pelo Decreto 6.481 da Presidência da República, de acordo com a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho - OIT.  

A Lista TIP reúne atividades desempenhadas em locais como serralherias, indústria extrativa, esgoto, matadouros e manguezais, entre outros. São ocupações relacionadas a intenso esforço físico, calor, insalubridade e outras características que podem causar fraturas, mutilações, envenenamento e outros danos aos menores de idade. 

Em 2022, eram 756 mil crianças e adolescentes em atividades da Lista TIP, o que representava 46,2% do total de pessoas de 5 a 17 anos que realizavam atividades econômicas (1,6 milhão). Esse percentual vem apresentando queda desde 2016, quando era de 51,3%.   

Rendimento 

Em 2022, o rendimento médio mensal das pessoas de 5 a 17 anos que realizavam atividades econômicas em situação de trabalho infantil foi estimado em R$ 716.  

O rendimento crescia conforme a idade, partindo de R$ 246, no grupo de 5 a 13 anos, e alcançando R$ 799 entre as pessoas de 16 e 17 anos.  

Em relação à cor, o valor médio da população negra era de R$ 660, aumentando para R$ 817 para a de cor branca. 

Um comparativo que deixa claro o quanto o dinheiro do trabalho infantil afasta o jovem da educação é que o trabalhador infantil que ainda ia para a escola tinha renda média de R$ 671. Já o que não frequentava mais salas de aula tinha rendimento de R$ 931. 

Entre os adolescentes com 16 a 17 anos, 32,4% trabalhavam 40 horas ou mais por semana. 

Educação 

No quesito educação, o percentual de 97,1% da população de 5 a 17 anos de idade era formado por estudantes em 2022, enquanto entre os trabalhadores infantis a estimativa baixava para 87,9%. No universo de 5 a 13 anos, havia uma universalização, isto é, praticamente todos (98%) frequentam a escola. 

No grupo 14 e 15 anos, a proporção de estudantes na população total (98,5%) era levemente superior que a do grupo de mesma idade em situação de trabalho infantil (96%). 

Já entre as pessoas de 16 e 17 anos, havia maior diferença. Enquanto 89,4% da população dessa faixa etária frequentavam escola, o índice regredia para 79,5% entre os trabalhadores infantis. 

Programas sociais 

O IBGE aponta, ainda, que, em 2022, havia 582 mil pessoas de 5 a 17 anos (35,6%) que realizavam atividade econômica e moravam em domicílios que possuíam renda proveniente de benefícios sociais do governo. 

 

Uma das maiores exportadoras de commodities, a Cargill foi condenada, em primeira instância, por manter como fornecedores de cacau produtores rurais que praticavam trabalho infantil e trabalho análogo à escravidão. Segundo informações do Ministério Público do Trabalho (MPT), como forma de compensação, a companhia deverá pagar R$ 600 mil, a título de dano moral coletivo, e implementar medidas, como a formalização de contratos com todos os produtores e fornecedores do fruto, a principal matéria-prima na fabricação de chocolates e manteiga de cacau comercializados por ela. Ao todo, são seis as obrigações impostas à empresa.

Para as quatro procuradoras que ficaram responsáveis pelo caso, a indústria do cacau tem como um traço a ganância e assume com naturalidade a exploração de trabalhadores da base, em nome do lucro, conforme destacou o MPT da Bahia em nota. A Justiça do Trabalho também determinou que a Cargill contribua para a fiscalização desse tipo de crime, em seu segmento de atuação. A companhia precisará, ainda, manter uma campanha publicitária de combate ao trabalho análogo à escravidão e ao trabalho infantil, por, pelo menos, três anos, podendo ser multada em R$ 10 mil, caso descumpra as ordens estabelecidas.

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A juíza Naiara Lage Pereira, que julgou o caso, argumentou que não há dúvidas sobre a perpetração de ilegalidades nas fazendas da Bahia e do Pará, assim como a associação entre os fornecedores flagrados e a Cargill. No entendimento da magistrada, destaca o MPT,  “ao privilegiar a contratação através de repassadores, a demandada [Cargill] fomenta cada vez mais o chamado sistema de terceirização material, dando margem para ampliar a precarização das relações de trabalho.”

Em resposta ao questionamento da Agência Brasil sobre a condenação, a Cargill afirmou que não pode comentar detalhes do processo e explicou que não tolera tráfico humano, trabalho forçado ou infantil em suas operações ou cadeia de suprimentos" e que procura antever "potenciais problemas", enquanto "trabalha ativamente para proteger os direitos humanos". "Apoiamos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) de promover trabalho decente para todos, incluindo o objetivo de eliminar o trabalho infantil. No Brasil, todos os fornecedores são verificados em relação às listas de embargo do governo e, se forem identificadas violações, tomamos medidas imediatas para suspender o fornecedor", escreveu.

"Essa meta será atingida como parte do programa Cargill Cocoa Promise, o qual inclui as regiões de originação no Brasil. A Cargill também é signatária da iniciativa multisetorial Cocoa Action, uma ação pré-competitiva que alinha diferentes atores da cadeia para catalisar esforços e endereçar problemas prioritários para a sustentabilidade do cacau. Em mais de seus 56 anos presente no Brasil, a Cargill tem demonstrado esse comprometimento na observância e conformidade com todas as leis vigentes e aplicáveis aos seus negócios. Levamos esse compromisso a sério e exigimos que nossos fornecedores e parceiros se juntem a nós na priorização da segurança, bem-estar e dignidade dos indivíduos. Mais informações sobre o compromisso da Cargill com os ODS-08 especificamente para cadeia do cacau podem ser encontradas aqui", acrescentou a companhia.

No lugar da boneca e do carrinho, a enxada e a vassoura. No lugar do tempo para estudo e descanso, as jornadas exaustivas. No lugar da liberdade e inocência típicas de uma criança, a Iniciação sexual forçada e precoce. Estamos falando do trabalho infantil, uma realidade que ainda assola o mundo todo.

Segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado nessa quinta-feira (10), o número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil chegou a 160 milhões em todo o mundo, um aumento de 8,4 milhões de casos entre 2016 a 2020. De acordo com o levantamento, essa foi a primeira vez em 20 anos que o número cresceu. No Brasil, a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, divulgada em 2019, mostra que cerca de 1,8 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil, o que representa 4,6% da população nesta faixa etária.

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Para conscientizar as pessoas e combater essa realidade, o dia 12 de junho foi eleito pela OIT o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil. No Brasil, diversas entidades promovem ações para debater o tema. A organização não governamental (ONG) Plan Internacional criou, nas redes sociais, a campanha “Trabalho infantil: pode ser comum, mas não é normal”. A ideia é reforçar as consequências que a prática tem para a vida de crianças e adolescentes na fase adulta. “Entre os cards, temos os motivos para crianças e adolescentes não trabalharem, os impactos do trabalho infantil em suas vidas e os canais de denúncia”, afirma Flavio Debique, gerente nacional de Programas e Incidência Política da ONG.

A Fundação Abrinq mobilizou alguns artistas para que elaborassem tirinhas que promovam a reflexão sobre os prejuízos que o trabalho infantil representa a infância e adolescência. O resultado é uma série de criações que lançam luz a essa violação que muitas vezes está oculta no cotidiano de cidades, lugares turísticos e até dentro de casa. “Precisamos falar sobre os impactos e consequências físicas e psicológicas na vida de meninos e meninas que trabalham de maneira ilegal. Eles precisam estudar, brincar, se socializar com outras crianças para se desenvolver de forma plena como ser humano. É nossa responsabilidade garantir-lhes esses direitos”, ressalta Victor Graça, gerente executivo da Fundação Abrinq.

Retrato da exploração

Segundo dados da Pnad de 2019, a maioria dos trabalhadores infantis era formada por meninos (66,4%) e negros (66,1%). A pesquisa apontou também que 53,7% têm entre 16 e 17 anos. Outros 21,3% estão na faixa etária de cinco a 13 anos. A faixa etária de 14 e 15 anos corresponde a 25%.

Pandemia

Especialistas vêm alertando sobre o perigo de um aumento da exploração infantil durante a pandemia. “Mais do que nunca, crianças e adolescentes devem ser colocados no centro das prioridades de ação, nas agendas políticas de reativação da economia e de atenção à população durante a crise, sempre por meio do diálogo social e com um enfoque de saúde em todas as políticas e ativa participação da sociedade civil”, afirmou Maria Cláudia Falcão, Coordenadora do Programa de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, do Escritório da OIT no Brasil.

Porém, até o momento, segundo o secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Maurício Cunha, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos registrou uma diminuição nas denúncias de exploração do trabalho infantil “Nós estamos atribuindo isso possivelmente ao auxílio emergencial do governo”, disse. Em 2019 foram feitas 4.246 denúncias à ouvidoria, enquanto em 2020 foram 2.371.

Segundo o secretário, a manutenção dessa tendência de redução vai depender das políticas protetivas, de distribuição de renda, de assistência e da recuperação da economia. “Por que o trabalho infantil está diretamente relacionado ao enfrentamento da questão da pobreza”, afirma.

Combate

O Brasil assumiu o compromisso na ONU de erradicar o trabalho infantil até 2025. Para cumprir essa meta, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) tem atuado no fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos como conselhos tutelares e na capacitação dos profissionais que atuam nessa área como professores, assistentes sociais e gestores públicos e de organizações sociais. Com esse objetivo, já está aberto um edital para um mestrado em educação pela Universidade de Brasília (UnB). Na próxima segunda (14) será lançado outro edital com 300 vagas para especialização na mesma área. Ambos podem ser acessados no site do MDH.

Quem não é da área pode fazer os cursos da Escola Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Endica). São mais de 20 cursos disponíveis para a população. “Queremos disseminar o conhecimento sobre a proteção dos direitos da criança no país todo.”, afirma o secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

Mauricio Cunha aponta outras iniciativas para combater o trabalho infantil como o acordo de cooperação com a Polícia Rodoviária Federal no projeto Mapear, que rastreia os pontos de vulnerabilidade e exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias. O secretário também adiantou a criação do Observatório da Criança, um portal com informações sobre os direitos da criança e do adolescente que deve ser lançado nos próximos meses.

E hoje o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos lançou uma campanha nas redes sociais para sensibilizar toda a sociedade, além de estimular o registro de denúncias por meio do Disque 100.

Denúncias

O governo federal disponibiliza diversos de canais para atendimento às vítimas do abuso infantil. Entre eles está a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, que funciona por meio do serviço Disque 100 que conta agora com números no WhatsApp e Telegram (basta apenas digitar “Direitoshumanosbrasilbot” no aplicativo). O cidadão também pode baixar o aplicativo Direitos Humanos Brasil no qual pode fazer denúncias inclusive com fotos. E, até o fim do mês de julho, um novo aplicativo, com linguagem voltada especificamente para as crianças deverá ser lançado. “A população denunciando ajuda a coibir esse tipo de prática. Criança tem de estudar, brincar e ser protegida. O mundo do trabalho é um mundo adulto. Então a sociedade precisa entender isso e ajudar a proteger a infância”, diz.

O número de afetados pelo trabalho infantil no mundo cresceu pela primeira vez em duas décadas e a pandemia de Covid-19 ainda ameaça forçar mais milhões de crianças a trabalhar, alertou a ONU nesta quinta-feira (9).

Um relatório conjunto da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que, no início de 2020, 160 milhões de menores foram obrigados a trabalhar, 8,4 milhões a mais que há quatro anos.

Se as projeções de aumento da pobreza no mundo se cumprirem, mais nove milhões de crianças serão forçadas ao trabalho antes do final do ano que vem, segundo o relatório.

Um número que pode ser até cinco vezes maior de acordo com as projeções, advertiu Claudia Cappa, estatística do Unicef e uma das autoras do estudo.

“Se as projeções sociais caírem em relação ao nível atual, devido a medidas de austeridade e outros fatores, o número de crianças forçadas a trabalhar pode aumentar em 46 milhões” até o final de 2022, explicou à AFP.

O relatório, que é publicado a cada quatro anos, mostra que metade dos menores trabalhadores tem apenas entre 5 e 11 anos.

A tendência de alta começou antes mesmo que a pandemia perturbasse completamente a economia mundial, representando uma reviravolta, já que entre 2000 e 2016, o número de crianças que trabalhavam diminuiu em 94 milhões.

Conforme a crise da saúde se espalhava pelo mundo, uma em cada dez crianças se viu forçada a trabalhar e a ONU alerta que a situação pode piorar se nada for feito para ajudar as famílias que estão caindo na pobreza.

- Perdendo terreno -

“Estamos perdendo terreno na luta contra o trabalho infantil e o ano passado não facilitou as coisas”, afirmou Henrietta Fore, diretora-geral do Unicef.

"Enquanto isso, entramos no segundo ano de confinamentos, fechamentos de escolas, perturbações econômicas e orçamentos nacionais em declínio e as famílias estão sendo forçadas a tomar decisões difíceis", acrescentou.

O fenômeno atinge mais os meninos: dos 160 milhões que trabalhavam no início de 2020, 97 milhões eram do sexo masculino.

E ainda mais preocupante é o crescimento do número de crianças entre 5 e 17 anos que realizam trabalhos perigosos, ou seja, que podem afetar diretamente seu desenvolvimento, educação ou saúde.

Esta categoria inclui setores como mineração ou pesca ou com uma carga horária semanal de mais de 43 horas, o que torna praticamente impossível frequentar a escola.

A OIT e o Unicef estimam que, no começo de 2020, 79 milhões de crianças estavam envolvidas nesses tipos de trabalhos perigosos, 6,5 milhões a mais do que quatro anos antes.

A grande maioria (70%, 112 milhões) dedica-se ao trabalho agrícola, enquanto 20% trabalha no setor de serviços. Os 10% restantes estão na indústria.

O maior crescimento do trabalho infantil ocorreu na África Subsaariana. No início do ano passado, o fenômeno afetava 16,6 milhões a mais de crianças do que em 2016.

“Essas novas projeções são um grito de alarme”, enfatizou o diretor geral da OIT, Guy Rider, que pediu “o rompimento do ciclo da pobreza e do trabalho infantil”.

Foi preciso que vizinhos, na cidade de Patos de Minas (MG), desconfiassem dos bilhetes que a diarista Madalena Gordiano, 46 anos, deixava sob as portas pedindo pequenas quantias em dinheiro para descobrirem um caso de semelhante à escravidão que durou quase quatro décadas.

Uma reportagem do "Fantástico" (Globo), exibida no último domingo (20), mostrou que o Ministério Público do Trabalho (MPT) de Minas Gerais autorizou uma ação da Polícia Federal (PF) para resgatar Madalena de um apartamento em que vivia há 14 anos, na região central da cidade. Sob vigilância da família Milagres Rigueira, a diarista dormia em um quarto pequeno, sem ventilação e fazia todos os serviços domésticos, mas não recebia salários, nem podia sair de dentro do imóvel.

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Segundo a denúncia, a história começou em 1982, quando Madalena, ainda criança, foi pedir comida na casa de Maria das Graças Milagres Rigueira. A mulher então pediu, junto à mãe da diarista, permissão para adotá-la de maneira extra-oficial. Desde então, a menina foi obrigada a deixar a escola e passou a executar diversos serviços domésticos, não tinha brinquedos, nem descanso e não era autorizada a sair de casa. Foram 24 anos trabalhando em condições semelhantes à escravidão na casa de Maria das Graças, e outros 14 com a família do professor universitário Dalton César Milagres Rigueira, filho de Maria das Graças.

De acordo com a investigação do MPT, Madalena foi casada com um tio de Dalton César que morreu e deixou uma pensão de quase R$ 8 mil. Além de responder pelo crime de analogia à escravidão e tráfico de pessoa, a família do professor universitário também deve ser indiciada por apropriação indébita pois, segundo o processo, o patrão não repassava nem 4% do valor que a diarista tinha direito dos rendimentos do ex-marido.

Liberta do apartamento no último dia 27 de novembro, Madalena passou a viver em um abrigo para mulheres vítimas de violência, toma conta do próprio dinheiro e já retomou os estudos. O processo contra a família Milagres Rigueira segue no MPT de Minas Gerais.

Com as mãos cheias de poeira e manchadas de tinta, Aakash parece estar perfeitamente confortável em uma garagem de Nova Délhi. Ele é uma das milhões de crianças forçadas a trabalhar na Índia.

Mais de 10 milhões de crianças entre cinco e 14 anos trabalham na Índia, no campo ou nas fábricas, limpando as mesas dos restaurantes ou engraxando sapatos. A situação se agravou com o coronavírus, que devastou a economia e fechou as escolas por vários meses.

A AFP acompanhou a organização indiana Bachpan Bachao Andolan (BBA), fundada pelo prêmio Nobel da Paz 2014 Kailash Satyarthi para combater o trabalho infantil, junto com a polícia de Nova Délhi.

Syed Arshad Mehdi, militante da organização há 20 anos, entrou na manhã de terça-feira na garagem para tirar Aakash (seu nome foi alterado) de lá.

No início, o adolescente negou trabalhar no estabelecimento. Mas Mehdi pegou suas mãos para lhe mostrar e disse: "Olha, estão cheias de tinta e de poeira".

Além de Aakash, foram encontrados outros 11 meninos, todos supostamente com menos de 18 anos, que trabalham 16 horas diárias por um salário miserável.

Eles foram levados para o escritório do magistrado do distrito, onde receberam um pedaço de papel escrito à mão com números de um a doze.

As máscaras usadas como prevenção contra o vírus esconderam as expressões de seus rostos.

Eles foram questionados sobre seu nome, idade, vilarejo e estado de origem, quantas horas trabalham e quanto recebem.

Após fazerem exames médicos e um teste de coronavírus e receberem apoio para exigir o restante de seu salário, serão enviados de volta às suas famílias.

A lei proíbe o trabalho de menores de 14 anos e aqueles entre 14 e 18 anos não podem trabalhar em atividades perigosas, o que inclui certos empregos dentro de restaurantes.

A BBA localizou 1.200 crianças desde abril, mas esse número aumenta cada vez mais desde o início da pandemia, explicou à AFP Dhananjay Tingal, diretor executivo da organização.

"As condições são muito ruins nos vilarejos", disse ele. "As famílias agora precisam do máximo de mãos disponíveis para ganhar dinheiro", lamentou.

Para ele, "se não tomarmos medidas corretivas na hora, a situação só vai piorar".

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender, nessa terça-feira (25), o trabalho infantil, em evento promovido pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em Brasília. A prática é proibida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

"Bons tempos, né?, onde o menor podia trabalhar. Hoje ele pode fazer tudo, menos trabalhar, inclusive cheirar um paralelepípedo de crack, sem problema nenhum", afirmou Bolsonaro ao empresariado presente no Congresso Nacional da Abrasel, transmitido ao vivo e apresentado pelo presidente da entidade, Paulo Solmucci, como uma conversa do presidente com "donos de botequim".

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Bolsonaro contava a empresários e lobistas do setor, que pedem socorro ao governo por causa da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, ter trabalhado em um bar aos 10 anos, por ordem do pai. Ele foi aplaudido pelos empresários assim que contou a história.

"Meu primeiro emprego, sem carteira assinada, obviamente, tinha 10 anos de idade, foi no bar do seu Ricardo em Sete Barras, Vale do Ribeira", disse Bolsonaro, sob aplausos. "Eu estudava de manhã e à tarde, das 2 (horas) da tarde até as 6, 7 (horas) da noite... Tinha pouca gente no bar, a galera que gosta de uma birita chega um pouquinho mais tarde, e eu trabalhava ali com ele, meu pai me botou lá."

Em vigor desde 1990, o ECA veda o trabalho de menores de 16 anos, só autorizado a partir dos 14 anos na condição de aprendiz. Bolsonaro é um crítico da legislação há anos. Ele já defendeu em outras ocasiões que crianças e adolescentes possam trabalhar como forma de "enobrecimento".

O governo federal tem programas e ações para erradicar o trabalho infantil. O País assumiu nas Nações Unidas o compromisso de acabar com a exploração ilegal de menores até 2025. A Justiça do Trabalho e o Ministério Público, além de diversas entidades do terceiro setor, fazem parte de iniciativas internacionais para acabar com a ilegalidade. O trabalho precoce reconhecidamente viola direitos de crianças e compromete o desenvolvimento físico, intelectual e psicológico dos menores.

Um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apresenta números preocupantes em relação à exploração do trabalho infantil. De acordo com a pesquisa realizada na cidade de São Paulo, a cada 1 mil famílias cadastradas pelo órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), 21,2 alegaram que ao menos uma criança da casa trabalha para complementar a renda doméstica.

O estudo, realizado com 52,7 mil famílias atendidas pelo Unicef na capital paulista, fica ainda mais alarmante quando a amostragem é comparada com o período anterior à pandemia do novo coronavírus. Antes de março, eram 17,5 a cada 1 mil grupos familiares que confirmavam a participação de crianças na economia do lar. Ao todo, as residências cadastradas abrigam cerca de 190 mil pessoas. Desse número, 80 mil são crianças e adolescentes.

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Vulnerabilidade extrema

Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do Unicef em São Paulo, Adriana Alvarenga, afirma que as famílias acolhidas pelo programa da instituição são aquelas que não tinham sido amparadas e ainda estão em situação de vulnerabilidade social extrema. "A gente foi atender a quem não estava sendo atendido de outras maneiras, pois 50% não estavam tendo acesso a auxílio emergencial ou qualquer outro auxílio do governo", declarou.

Nos grupos familiares atendidos na capital paulista, outro fator determinante para o aumento da exploração infantil durante a pandemia é o desemprego dos adultos. Antes de março desse ano, 42,9% dos maiores de idade estavam sem trabalho. No decorrer da crise sanitária, 30,4% perderam o emprego e os 15,7% que seguiram em atividade tiveram o salário reduzido. Ao todo, só 10,9% mantiveram a estabilidade com o surto de Covid-19.

De acordo com o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2016, cerca 998 mil crianças brasileiras eram exploradas pelo trabalho infantil.

 

O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, deu 15 dias para que o juiz Francisco de Assis Moreira, da Vara da Infância e da Juventude e de Execuções Penais da Comarca de Divinópolis, apresente defesa prévia em reclamação disciplinar na qual a Advocacia-Geral da União alega que o magistrado 'teria autorizado, por meio de alvarás, trabalho infantil em condições ilegais e inconstitucionais'.

No procedimento, a União alegou que fiscais do trabalho 'detectaram a existência de adolescentes com idade inferior a 16 anos contratados em 2017 por meio de alvarás concedidos pelo juiz de Direito da Vara de Execuções Penais e Infância e Juventude da Comarca de Divinópolis, Minas Gerais, apesar da proibição constitucional para o trabalho de menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, sendo que nenhum dos adolescentes listados foram contratados nessa condição'.

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As informações foram divulgadas pelo CNJ.

Em análise preliminar, Martins entendeu que os fatos apontados na reclamação apontam suposta prática de falta funcional por parte do juiz, 'ao conceder alvarás em desacordo com o que dispõe a legislação vigente, especialmente no tocante aos direitos de crianças e adolescentes'.

"Verifica-se a possível existência de elementos indiciários que apontam a suposta prática de infrações disciplinares, os quais caracterizam afronta, em tese, ao artigo 35, I, da Loman e artigos do Código de Ética da Magistratura", afirmou o corregedor nacional.

Até a publicação desta matéria, a reportagem não havia obtido contato com o juiz Francisco de Assis Moreira. O espaço permanece aberto a manifestações.

Uma campanha liderada por quatro instituições que combatem o trabalho infantil convidou artistas de renome para darem voz à iniciativa. A música "Sementes", do rapper brasileiro Emicida com participação especial da cantora portuguesa Drik Barbosa, é a trilha sonora da ação encabeçada pela parceria que une o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Justiça do Trabalho, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Fnpeti).

O single, que está no ar nas plataformas digitais, representa a luta contra a exploração de menores no Brasil e aborda fatos como o de que a maioria das crianças exploradas para o trabalho são pretas.

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O título relaciona as sementes às crianças, enquanto os versos se desenvolvem a partir da narrativa de que os pequenos não devem sofrer pressão enquanto crescem.

Até 2016, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrava cerca de 2,4 milhões de crianças e adolescentes (entre 5 e 17 anos) sendo exploradas pelo trabalho infantil.

Confira o videoclipe da música aqui.  

Mais de 10.000 crianças, algumas com apenas 5 anos, trabalham em minas em Madagascar para extrair mica, um mineral resistente ao calor usado na indústria eletrônica e automobilística, de acordo com uma investigação de duas ONGs.

Segundo as organizações Terre des Hommes e Centro de Pesquisa sobre Multinacionais, os menores representam metade da força de trabalho nas minas de mica da ilha.

Após um ano de investigações em 13 minas no sudeste de Madagascar, as duas organizações denunciaram em seu relatório as "duras condições de trabalho" dessas crianças.

Devido a seu tamanho, as crianças são usadas para cavar poços e túneis. Os mais jovens são empregados na classificação de placas minerais.

"Eles sofrem de dores nas costas, dores de cabeça, devido ao calor e à falta de água, e são constantemente feridos nas mãos e nos pés", explica o relatório.

Além disso, muitos deles são expostos "a partículas de poeira de mica, que causam tosse e doenças pulmonares".

As famílias dessas crianças as pressionam a trabalhar nas minas para obter mais renda.

Madagascar é considerado um dos países mais pobres do planeta. Três quartos dos seus 26 milhões de habitantes vivem com menos de 2 dólares por dia.

Segundo a investigação, o salário diário dos trabalhadores do setor varia entre 27 centavos e 3 euros, o que não é suficiente para uma refeição por dia.

Madagascar é o terceiro maior produtor de mica, um setor que gerou US$ 6,5 milhões em receita em 2017. Pelo menos 87% de sua produção vai para a China.

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A sétima “Marcha Pernambuco Contra o Trabalho Infantil” reuniu cerca de 800 pessoas no Centro do Recife, nesta quinta-feira (10), em ato organizado pelo Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil em Pernambuco (Fepetipe). A ação teve participação e apoio de instituições públicas e privadas e seguiu do Parque 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro, até o Marco Zero, no Bairro do Recife. 

Para Galba Izabel, 18, estudante e jovem aprendiz, a marcha é importante para evitar que crianças deixem de estudar. “A gente veio incentivar as pessoas a denunciarem os casos de trabalho infantil e incentivar as crianças a continuarem na escola”, disse. Segundo Giselle Carvalho, integrante da Comissão Executiva da Fepetipe, a desinformação precisa ser combatida. “Precisamos deixar claro para toda sociedade que nossas crianças não deveriam estar trabalhando”. 

De acordo com Lívia Macêdo, auditora fiscal do trabalho, representando a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, é preciso conscientizar a população de que lugar de criança é na escola. “A marcha serve para sensibilizar as pessoas sobre os malefícios do trabalho infantil e das consequências que ele pode gerar na vida das crianças”, explicou. 

Uma das organizações participantes da ação foi a UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau. Segundo Roberta Valle, coordenadora do programa de aprendizagem do grupo Ser Educacional, mantenedor da instituição de ensino, a marcha serve para lembrar que criança não pode trabalhar. “Até os 14 anos criança não trabalha”, reiterou. “Depois dos 14, só se for como jovem aprendiz”, concluiu. 

Em pronunciamento nesta quinta-feira (11), o senador Paulo Rocha (PT-PA) considerou absurda declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, em defesa do trabalho infantil. Para o parlamentar, ao levantar esse tema, o chefe do Executivo agride princípios que estão na Constituição Federal e em tratados internacionais assinados pelo Brasil.

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Ao citar projeto de autoria dele que criminaliza o trabalho infantil (PLS 237/2016), já aprovado no Senado Federal e agora em trâmite na Câmara dos Deputados, Paulo Rocha disse que é preciso combater esse tipo de exploração. Ele apresentou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes a 2016, indicando que o Brasil tem aproximadamente 2 milhões de crianças e jovens que trabalham, com idades entre 5 e 17 anos. Ele ainda informou que, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre as atividades que mais oferecem risco à saúde, ao desenvolvimento e à moral das crianças e adolescentes, estão o trabalho nas ruas, nas carvoarias, nos lixões, na agricultura (com exposições a agrotóxicos) e no trabalho doméstico.

“O que vemos com a utilização de mão de obra infantil não é algo que “enobrece”, como disse o presidente Bolsonaro. Quem explora a mão de obra das crianças, na verdade, só procura reduzir os custos para aumentar seus lucros. Quem explora menores só pensa no próprio interesse e, em nenhum momento, cogita oferecer oportunidades aos mais jovens. É importante destacar que países desenvolvidos agem no sentido de proteger os pequenos, e aqui o que se vê é o retrocesso, negando-se proteção aos mais vulneráveis”, disse.

 

 

*Da Agência Senado

 

Os aliados do presidente Jair Bolsonaro (PSL) continuam em sua defesa quanto ao assunto envolvendo sua afirmação sobre o trabalho infantil. Nesta semana o presidente disse que seria favorável a descriminalização da prática.

Neste sábado (6), o deputado federal e filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PSL), utilizou seu perfil oficial no Twitter para alfinetar o trabalho realizado pela imprensa e o material que é divulgado sobre essa polêmica.

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“A imprensa ao fazer questão de confundir a fala de Bolsonaro sobre trabalho infantil cai - mais uma vez - em descrédito. É igual quando alguém defende dar castigo no filho e a bolha da imprensa diz que há pessoas defendendo a tortura dos filhos”, disparou o parlamentar.

O assunto vem sendo mais uma polêmica que o Governo Federal tem que carregar desde o seu início. Os opositores criticam as afirmações feitas por Bolsonaro, enquanto parlamentares da base aliada reforçam o que foi dito pelo presidente.

Apesar do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ter afirmado que trabalha desde criança e que seria favorável à descriminalização do trabalho infantil, internautas recuperaram uma entrevista do irmão do presidente, Renato Bolsonaro, dizendo que o pai deles nunca os deixou trabalhar na infância.

A entrevista recuperada foi dada à Revista Crescer, em 2015, quando Bolsonaro ainda era deputado federal. Em sua fala, Renato Bolsonaro diz que a família não os deixava trabalhar “porque valorizava a educação”.

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A fala de Renato Bolsonaro contrapõe, então, o que foi dito pelo presidente nesta semana, quando ele garantiu que trabalha desde os 9 anos. A fala dele provocou repúdio de entidades que lutam contra o trabalho infantil.

"Meu pai tinha o estilão dele, boêmio. Mas nunca deixou um filho trabalhar, porque achava que o filho tinha que estudar", disse Renato Bolsonaro. Após a afirmação de Bolsonaro, no entanto, membros do governo também afirmaram que trabalham desde criança.

A deputada federal e líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL), saiu em defesa do presidente Jair Bolsonaro (PSL) após ele afirmar que defende o trabalho infantil, mas que não propõe a descriminalização para não ser massacrado.

“A imprensa ataca o presidente Jair Bolsonaro porque ele disse que ‘trabalhar enobrece’ e que não foi prejudicado porque trabalhou quando criança”, lamentou a parlamentar em uma publicação em seu perfil no Twitter.

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Hasselmann também disse que trabalhou quando criança porque era preciso. “Trabalho desde os 8 anos. É o ideal? Não! Mas era necessário. Lutei desde criança, trabalhei, estudei e estou aqui firme, forte e sem traumas. Parem de frescura”, disparou.

A afirmação de Bolsonaro rendeu muitos posicionamentos contrários de líderes políticos. Entretanto, membros do governo apoiaram a afirmação do presidente, inclusive a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.

 A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) divulgou, nesta sexta-feira (5), nota de repúdio às declarações do presidente da República em defesa do trabalho infantil. 

Para a entidade, o presidente demonstra desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças e adolescentes massacrados pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais. 

O Brasil tem 2,4 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalhando, de acordo com dados do IBGE (PnadC 2016), o que representa 6% da população (40,1 milhões) nessa faixa etária. Desse universo, 1,7 milhão exercem também afazeres domésticos de forma concomitante ao trabalho e, provavelmente, aos estudos.

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Confira abaixo a íntegra da nota:

Nota de repúdio

A ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, entidade representativa de cerca de 4 mil juízes do Trabalho em todo o Brasil, vem a público repudiar as declarações do Sr. Presidente da República, proferidas nesta quinta-feira, 04 de julho, em defesa do trabalho infantil.

Insiste o Presidente da República em condenar a infância e a adolescência brasileiras ao surrado argumento do “ou trabalha, ou vai roubar”. Demonstra, assim, desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças massacradas pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais, dos mais de duzentos óbitos e dos mais de 40 mil crianças e jovens que sofreram mutilações e deformações decorrentes de acidentes de trabalho entre 2007 e 2017. Isso sem mencionar os traumas psicológicos advindos do amadurecimento precoce, do enfraquecimento dos laços familiares e do prejuízo ao desenvolvimento da escolaridade, e, consequentemente, das oportunidades.

O que os cidadãos brasileiros aguardam é que o Governo Federal desenvolva políticas públicas de reinserção de 45 milhões de adultos desempregados e subutilizados ao mercado de trabalho. Políticas essas que façam convergir os compromissos do País às Convenções Internacionais 138 e 182 da OIT, das quais o Brasil é signatário, bem como ao caput e o § 3º do art. 227 da Constituição Federal, que atribuem ao Estado brasileiro, que chefia, o dever incontornável de assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, os direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, e a oferecer proteção especial diante de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, com especial proteção às garantias trabalhistas e previdenciárias.


Criança é para estudar e brincar.

Brasília, 5 de julho de 2019.

Noemia Garcia Porto

Presidente da Anamatra

 

*Da Assessoria de Imprensa - ANAMATRA

 

 

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) utilizou seu perfil oficial no Twitter nesta sexta-feira (5) para dizer que vem sendo criticado desde que fez comentários a respeito do trabalho infantil no Brasil.

Em uma transmissão ao vivo em seu Facebook, o presidente disse que defende o trabalho infantil, mas que não propõe a descriminalização para não ser massacrado. Após sua fala, Bolsonaro foi duramente criticado.

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“A esquerda está me atacando por defender que nossos filhos sejam educados para desenvolver a cultura do trabalho desde cedo. Se eu estivesse defendendo sexualização e uso de drogas, estariam me idolatrando. Essa é a verdade!”, disparou o presidente.

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no entanto, saiu em defesa de Bolsonaro e negou que o relato dele represente uma naturalização do trabalho infantil.

O líder da Oposição na Câmara Federal, Alessandro Molon (PSB), teceu comentários nesta sexta-feira (5) sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a respeito de trabalho infantil.

Bolsonaro afirmou que defende o trabalho infantil, mas que não propõe a descriminalização para não ser massacrado. A afirmativa do presidente rendeu muitos comentários contrários e ele se viu envolto a mais uma situação polêmica.

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“Após essa declaração de Bolsonaro, somos obrigados a relembrar o básico: lugar de criança é na escola! O trabalho infantil é crime e aprofunda a exclusão social, roubando futuros de milhares de crianças brasileiras até hoje”, escreveu Molon em seu perfil oficial no Twitter.

Em sua fala através de uma transmissão ao vivo em seu Facebook, Bolsonaro ainda disse que “quando (a criança) está fumando um paralelepípado de crack, ninguém fala nada”. Molon complementou: “É inacreditável que o Presidente da República ignore isto!”.

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