O encontro dos principais candidatos hoje à tarde nos estúdios da TV Jornal, para debate que será transmitido pelo portal NE10, é mais uma oportunidade para os candidatos mostrarem o quanto valorizam o verdadeiro embate democrático de propostas e ideias.
Em coincidência irônica do destino, o debate será realizado no dia do aniversário do senador Jarbas Vasconcelos, ex-companheiro dos democratas e especialmente de Mendonça Filho, com quem dividiu o governo de Pernambuco durante oito anos.
Hoje Mendoncinha pode perguntar a Geraldo Júlio, neoaliado de Jarbas, por que batia tanto no governo da extinta aliança PMDB/DEM quando foi secretário de Eduardo Campos. Assim como Daniel pode perguntar a Geraldo e a Humberto quais os motivos da separação, já que a coligação PT/PSB foi eleita com João da Costa e Milton Coelho.
A desavença dos vices e as contradições partidárias que intrigam o eleitorado certamente estarão novamente nas discussões. Também será difícil retirar Lula e Eduardo da pauta.
Mas os candidatos bem que poderiam tentar focar um pouco mais nos problemas de uma cidade complexa como o Recife. As propostas concretas e factíveis de melhoria da gestão precisam aparecer, para que a população tenha elementos para fundamentar a decisão do voto sem precisar recorrer exclusivamente à fé nos andores, ou à simpatia benevolente dos sorrisos de campanha.
O mais provável, no entanto, é que o debate do NE10 venha acirrar mais um pouco os desentendimentos políticos entre os ex-aliados que se enfrentam agora, de braços dados com ex-adversários como se fossem amigos de infância.
Mas dizem que eleitor não tem memória, sofre de Alzheimer precoce. Será?
A presidente Dilma Rousseff se reuniu essa semana com a ministra do Planejamento para tratar do aumento das greves que pipocam em todo o País. Sem o mesmo molejo sindical do antecessor, Dilma colhe os frutos da benevolência de Lula com as sindicais, tratadas a pão de ló em seu governo. Ficaram mal acostumadas, e agora a sucessora reclama de falta de caixa para manter as bondades que significaram reajustes salariais acima da inflação no governo Lula.
A continuidade e a multiplicação das greves preocupam o Palácio do Planalto. Ao lado do efeito do julgamento do mensalão, as greves podem ser uma ameaça aos candidatos petistas, especialmente nas capitais.
Em Pernambuco, apesar de aparentar ser blindado contra qualquer problema federal, o governador Eduardo Campos deve estar começando a coçar a cabeça diante dos impasses em Suape. Afinal, ali está um dos seus maiores cabos eleitorais: o desenvolvimento acelerado provocado pela renovação da indústria estadual. O questionamento das bases sociais desse crescimento, feito pelos grevistas, pode atingir a opinião pública e salpicar na candidatura de Geraldo Júlio – ex-secretário de Planejamento, de Desenvolvimento Economico e presidente de Suape.
A exploração de greves para dividendos políticos em época eleitoral é comum no mundo inteiro, e no Brasil, petistas e socialistas não se furtaram a utilizar a estratégia. Resta saber se a oposição, no Recife e noutras cidades, embarca no “quanto pior melhor” dos movimentos paredistas, ou vai preferir tratar a questão com educação nórdica, sem querer faturar em cima dos prejuízos evidentes para a população.
Hoje será um dia tenso para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Muito embora tenha declarado que “tem mais o que fazer” do que acompanhar o julgamento do maior escândalo de corrupção da história do País, ocorrido – por azar – em seu governo, Lula não deve ignorar a defesa do ex-deputado Roberto Jefferson, principal delator do caso, do qual também fez parte como beneficiário.
Desde a primeira denúncia do então procurador-geral Antonio Fernando, sete anos atrás, até o discurso didático do atual procurador-geral, Roberto Gurgel, o nome de Lula é a sombra que paira sobre o gigantesco esquema de corrupção.
A ausência de seu nome do volumoso processo, inicialmente, pode ter sido uma estratégia do Ministério Público para que os acusados não escapassem da condenação. E mesmo assim, alguns dos crimes prescreveram, como o de caixa 2 para campanha eleitoral, crime pelo qual agora todos eles querem responder, sabendo da absolvição pela legislação.
Agora, na maratona do julgamento do STF, o nome do presidente da República da época volta a ser sussurrado, ou dito em alto e bom som pelos menos temerosos. Admitir a gravidade do mensalão é admitir a possibilidade, ou até a probabilidade, de conhecimento por parte de Lula. Afinal, o chefe da quadrilha, José Dirceu, nunca fez nada em sua vida pública e partidária sem que o amigo Lula soubesse e participasse. “Você acha que um sujeito safo como o presidente Lula não sabia?”, perguntou com a ironia peculiar o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
A não citação do nome de Lula na denúncia é usada pelos advogados de defesa dos réus como argumento de que o esquema não existiu. Para a defesa de Jefferson, a tática será o ataque, a exemplo do que fez na CPI, anos atrás: a omissão do Ministério Público, mais do que uma falha, deixou o processo com uma sombra eterna. Uma sombra onipresente, que olha para os culpados do alto, carregada de oportuna ignorância.
Como os principais candidatos a prefeito já se reuniram nesta campanha em outras ocasiões, a coincidência que deixa apenas Geraldo Júlio à disposição das perguntas no primeiro debate na web dá margem a especulações. E a principal delas é de que, mais uma vez, o dedo dos marqueteiros pode estar influenciando a opção dos candidatos pela ausência dos principais debates, na adoção de surrada estratégia eleitoral.
É triste observar que esse tipo de consideração volte à tona num momento em que, se imaginava, a discussão em torno da cidade ganhava força. Mas bastou a subida do terceiro colocado nas pesquisas, temido pela reunião de forças políticas ao seu redor, para que os três principais adversários demonstrem pouco caso com o cidadão, ausentando-se do debate.
Pior para a democracia, em cujo nome se promovem as campanhas e as consultas populares a cada quatro anos. A omissão é o pior pecado daqueles que se dizem democratas e se escondem na hora do confronto democrático.
E pior para os recifenses, que agora ficam na expectativa de repetição da submissão dos candidatos a velhas práticas de marketing político superadas, e da redução das oportunidades de debate.
Ninguém ganha voto ficando em silêncio ou fugindo do diálogo. Melhor para quem vai, e se dispõe a falar e ouvir, para plateias qualificadas como a do Leia Já, sem a interferência do contraditório, que estimula a democracia.
É por esse tipo de atitude pequena e mesquinha que cresce no Brasil a impressão que os políticos são todos iguais e que medem o eleitor apenas por suas necessidades de plantão.
Foi lamentável.
O “corajoso, lutador e dedicado” deputado – nas palavras de Geraldo Júlio, após consumado o apoio – chegou a escrever em carta, há quase um mês, que foi “retirado da campanha por uma chantagem”, e que, diante do processo que resultaria no abraço ao candidato do governador, se “vivo fosse, Brizola morreria de vergonha”.
No mesmo texto, reclamou que a aliança com Geraldo Júlio representava “a escolha de um papel subalterno para o PDT”, e que se apresentava como alternativa “ao fogo cruzado entre PT e PSB”. E teceu várias e pesadas críticas ao presidente da Assembléia Legislativa, Guilherme Uchoa, a quem reiterada vezes chamava de “atrasado” e “fisiológico” pela aliança automática ao Palácio das Princesas.
Ao que parece toda a altivez de Paulo Rubem parece ter se reduzido a cinzas diante da proximidade eleitoral. Sem estar na disputa direta por votos, a mudança de postura tão rápida em favor do candidato do governador, assumindo o lado que a direção de seu partido queria desde o começo, não deve ter agradado aqueles que o defenderam com unhas e dentes, assim como ele se propio a defender a candidatura própria.
Óbvio que é do jogo político alianças e feituras de frentes de apoio em prol de uma causa comum ou alianças estratégicas. Mas o que se vê hoje em Pernambuco é apenas a face clara de um cinismo eleitoral onde se faz uma crítica a uma crítica a um adversário e em menos de 30 dias – quando não há mais condições de levar um projeto próprio – se adere sem a menor cerimônica ao adversário a quem se criticava há pouco tempo.
O eleitor, sempre ele, fica com cara de “bobo” se perguntado se a política é mesmo esse “salve-se quem puder”.
O episódio que culminou em fotos de braços dados com a campanha que combatia com entusiasmo, em favor da legitimidade de outra voz para a Frente Popular, termina encolhendo a biografia do parlamentar. Paulo Rubem é o último cooptado de um jogo pesado que incluiu o PMDB de Jarbas e até a costela do DEM, o PSD de André de Paula que também preferiu a adesão fácil.
Vivo fosse, Brizola morreria de vergonha, deputado.
Um consenso estimulado pelo Palácio das Princesas nos últimos meses tem aparecido com maior frequência nas análises e colunas políticas que se debruçam sobre as perspectivas eleitorais deste ano, e a relação de 2012 com a disputa presidencial do ano da Copa no Brasil.
No figurino de encomenda para o governador Eduardo Campos, o PT se separaria, de acordo com essa tese, em duas únicas facções: uma ligada ao chefe da quadrilha do mensalão, José Dirceu, e outra comandada pelo ex-presidente Lula. Eduardo seria o alvo preferencial de Dirceu, que temeria a ascensão do PSB nas eleições municipais, mas contaria com a sólida amizade de Lula, invulnerável até mesmo a eventuais contendas partidárias.
Ora, por melhor que seja a relação entre o ex-presidente e o governador, é difícil imaginar que nenhuma rusga tenha ficado da tumultuada escolha do candidato a prefeito do Recife. E dividir o PT entre o bem e o mal é desconhecer a forte ligação que sempre uniu e continua a unir José Dirceu e Lula – não foi por acaso que este último declarou, na semana passada, que “tinha mais o que fazer” do que acompanhar o julgamento do mensalão no STF. Afinal, Lula sabe muito bem que ele e seu governo também estão sendo julgados, junto com o amigo Dirceu e outros 37 acusados.
A inserção de Eduardo Campos numa pesquisa eleitoral para presidência, como a divulgada pela CNT, ajuda nessa tese, que o PSB quer insuflar, de uma pré-candidatura que seria temida pelos petistas. Mas é cedo demais para afirmar que o partido no poder encontrou no governador de Pernambuco o grande adversário de 2014.
Se o carisma de Eduardo é inegável em terras açucareiras, é difícil transportar o mesmo desempenho, com tanta antecedência, para o plano nacional. Sua taxa de rejeição é baixa como seria a de qualquer neófito colocado numa pesquisa federal. A eleição de Geraldo Júlio é importante para Eduardo, mas a derrota no Recife pode ter várias traduções para o PT, e a principal delas seria a perda de um território conquistado há 12 anos.
O verdadeiro medo do PT é ser alijado do poder, e por isso o efeito eleitoral do mensalão é a principal preocupação do partido no momento. Com todo respeito ao governador de Pernambuco, imaginar qualquer conspiração prematura para retirá-lo de uma eventual corrida presidencial só poder ser brincadeira de bajuladores e aúlicos de plantão.
Como existem, aliás, em qualquer Palácio.
O mensalão foi denunciado por um dos participantes, que hoje, ironicamente, não pode testemunhar o início do julgamento, acometido de câncer que lhe submeteu à cirurgia do pâncreas. O ex-deputado Roberto Jefferson foi a figura central das acusações que culminaram em investigações exaustivas do esquema pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso e pela Polícia Federal, em 2005, e na peça de denúncia formal apresentada pelo Procurador Geral da República da época, Antonio Fernando de Souza.
O procurador não se calou diante do que seus olhos viram, e montou uma peça consistente, apontando o ex-chefe da Casa Civil, e até hoje manda-chuva do PT, José Dirceu, como chefe de uma quadrilha que atuava descaradamente de dentro do Palácio do Planalto. Há quem acredite que, não fosse Jefferson e a CPI, que forçaram a sua demissão, Dirceu seria hoje o presidente da República, no lugar de Dilma Rousseff. O seu sucessor, Roberto Gurgel, indicado pelo ex-presidente Lula, também manteve as acusações que vão desde formação de quadrilha, passando por corrupção ativa, passiva, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Vê-se assim a importância do julgamento que domina a cena política de hoje até o seu encerramento, sem previsão de data. É possível que se arraste por mais de um mês, abrindo a cicatriz que o PT e seus aliados prefeririam não mexer, sobretudo às vésperas das eleições municipais. Na TV, nas rádios, nos jornais e revistas, o assunto não poderia ser outro, e a memória de depoimentos que chocaram e fizeram história será relembrada, como tem que ser. O mensalão será o maior teste de nossa democracia. Nos ombros do STF, a culpa ou isenção dos réus, a condenação ou encobrimento de crimes cometidos à sombra do poder, e a esperança de que a impunidade não tenha contaminado a última instância da Justiça nacional.
De qualquer modo, me parece claro que, independentemente do resultado, somente o fato de 38 réus estarem sendo julgados da acusação desses crimes mostra o amadurecimento das instituições republicanas e talvez aponte para uma nova mudança de conceitos no páis. E o principal deles, a de que ninguém pode – independente de sua condição financeira ou status social e político – fugir de responder por seus atos.
Será um degrau a mais para se acabar com um do maiores males do Brasil: a corrupção impune dos poderosos.
O mês começa à espera do dia de amanhã, quando os magistrados da mais alta corte nacional se debruçam finalmente, após sete anos, sobre o calhamaço de acusações do maior escândalo do governo Lula.
Os primeiros movimentos da cobertura da mídia refletem o trauma do caso para a política brasileira, imersa num poço de corrupção que, se não pode ser creditado exclusivamente ao PT, também não pode deixar de incluir o partido de José Dirceu, José Genoíno e companhia, antes paladino da moralidade;
Atividade nobre, a política passou – com a conivência dos governantes e da própria classe – a ser vista apenas como uma função em que o “vale tudo” pelo poder se mostra em sua face mais transparente.
Os efeitos do julgamento do STF talvez possam ser sentidos já em agosto, comprometendo o desempenho dos candidatos petistas nas pesquisas de intenção de voto. Por falar nisso, a partida do Guia Eleitoral no rádio e na TV, no dia 21, guardam a esperança de reversão de posição negativa, para alguns, e consolidação da situação junto ao eleitorado, para outros. Pode ser um divisor de águas também, com efeito educacional, para os que tentam fazer do Estado um mero apendice para os seus projetos pessoais
No Recife, a disputa pelo segundo turno por enquanto se dá entre Humberto Costa, do PT, e Mendonça Filho, do DEM. Amargando o quarto lugar, Geraldo Júlio confia no investimento pessoal e partidário do governador Eduardo Campos para galgar números mais favoráveis antes da virada para setembro.
Outra grande expectativa do mês é a revelação do apoio do prefeito João da Costa. Escurraçado do PT e alijado da possibilidade de reeleição, o prefeito vem tentando construir uma agenda positiva nas últimas semanas, especialmente no tema dominante da campanha, a questão da mobilidade. Quer se mostrar, com as medidas, digno do cortejo de qualquer partido, mas sua rota para os braços de Geraldo Júlio está praticamente selada.
Desgosto para alguns, definições para outros, agosto promete.
Primeiro lugar disparado em todas as pesquisas e franco favorito para se tornar o próximo prefeito do Recife, o senador Humberto Costa enfrenta talvez o momento mais delicado de sua vida política.
A vitória eleitoral este ano, mesmo bastante possível e até provável, diante dos números de intenção de voto, dependerá do seu desempenho pessoal diante dos questionamentos dos adversários e da superação da desconfiança do eleitorado em relação às contradições do PT num pleito marcado por um processo de escolha conturbado – sem falar na guerra do julgamento do mensalão, cujos efeitos ainda são uma incógnita na boca da urna.
Humberto terá que se equilibrar entre ser a única voz de defesa da atual gestão, como ele mesmo frisou recentemente, e ao mesmo tempo se colocar como candidato melhor do que o prefeito João da Costa, preterido pelo partido por sua incapacidade de aglutinar alianças e dar continuidade ao projeto petista que já conta doze anos no Recife.
O problema é que ele e João da Costa nunca tiveram esses amores um pelo outro, principalmente agora, depois do trauma da interdição nacional no processo de escolha na capital. Ou seja: até para elogiar o prefeito, Humberto terá que exibir muito equilíbrio emocional, para não cair em armadilhas que a oposição (Mendonça e Daniel) e a oposição de ocasião (PSB) certamente irá criar.
É costume se dizer que a vitória tem vários padrinhos, e a derrota é solitária. No caso desta eleição, o oposto parece mais correto: como chegou a dizer o vice de Humberto, o ex-prefeito João Paulo, a derrota do PT no Recife será uma derrota do partido inteiro, do diretório municipal a Lula e José Dirceu.
Por outro lado, a vitória será creditada à capacidade do próprio candidato Humberto Costa de lidar com as adversidades, e manter o favoritismo até o final.
Essa semana,a Folha de S. Paulo trouxe uma entrevista com o pivô do caso, o ex-deputado Roberto Jefferson, do PTB, que denunciou o esquema resguardando a imagem do então presidente Lula. Jefferson garante que não será condenado, mas aprova o início do julgamento: “Acho que está na hora. Chega. Quanto mais adia, mais aumenta o sofrimento”.
O mesmo poderia dizer a população brasileira, que ficou atônita e paralisada com a avalanche de denúncias que viriam a constituir um calhamaço de acusações produzido pela Procuradoria Geral da República. Há 37 acusados, entre os quais o ex-braço direito de Lula, que ainda manda e desmanda no PT, José Dirceu. Aliás, seria interessante saber qual o papel de Dirceu nas alianças e no financiamento das campanhas país afora, inclusive em Pernambuco. Com a palavra, os candidatos petistas.
Na entrevista, Roberto Jefferson diz que o julgamento de Dirceu será decisivo para os outros. E reclama da mídia que abençoava o PT antes do mensalão: “A imprensa tratava o PT como se fosse o único partido bom, o filete de água limpa no cano de esgoto. Isso acabou.”
A expectativa é grande sobre os efeitos do julgamento na campanha eleitoral em curso. No mínimo, imagina-se que a mera lembrança do caso reavive o desgosto que muitos brasileiros tiveram com o PT e o governo Lula, prejudicando o desempenho do partido nas urnas.
E muita gente, por aqui, vai usar o Mensalão – e seja qual for seus desdobramentos e punições – na campanha eleitoral. Até mesmo porque José Dirceu parace ter novos desafetos no Estado. A conferir