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Há pouco mais de três anos a pandemia da Covid-19 teve início no mundo, e muita coisa mudou na vida de milhares de pessoas. Além das mudanças sociais que vieram com a crise sanitária, diversos relatos mostraram, com o passar do tempo, que quem contraiu a doença ficou com sequelas persistentes, e até mesmo permanentes - consequência que ficou conhecida como Covid longa.

Foi o que aconteceu com Renata Ferreira*, assistente social que mora no Recife. Ela contraiu a doença logo no início da pandemia, em março de 2020. “Desde então percebo que fiquei bem esquecida. Não tenho um diagnóstico fechado sobre isso”, relatou ao LeiaJá. 

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“Quando fui ao médico depois, eles ainda não sabiam exatamente nem tratar a Covid, e nem quais eram as sequelas pós Covid. Mas procurei um neurologista. Ele achava que era esquecimento 'corriqueiro', por mais que eu dissesse que não era, o conhecimento pós-covid era muito pouco”, ela conta.

Ainda no início da pandemia, pouco se sabia sobre a doença e as possíveis sequelas. Como Renata teve Covid ainda nos primeiros meses, não existiam estudos comprovando o que estava sendo apresentado pelos pacientes. “Depois, alguns estudos foram divulgados, e ficou comprovado a confusão mental, esquecimento, queda de cabelo, fadiga”, explica a assistente social.

Muitas pessoas recorreram a profissionais das mais diversas áreas para entender o que poderia ser feito para reverter o quadro. Renata sofre até hoje com lapsos de esquecimento, característica que acarreta uma boa parcela dos pacientes. “O neuro que eu fui me indicou a fazer sudoku, jogar jogo da memória e assistir filmes que eu não gostava, para ativar o outro lado cérebro, com isso melhorei bastante. Mas, não fiquei 100%. 3 anos depois e sinto que minha memória não é a mesma antes da Covid. Sei distinguir o que é corriqueiro, do que não é”, relata.

Cuidados permanentes

Para lidar com as sequelas da Covid-19, médicos recomendam atividades parecidas com as que foram passadas para Renata. Segundo o professor Eduardo Jorge, são diversos os sintomas apresentados pelos pacientes. “A doença tem se revelado uma caixa de surpresas e muitas pessoas apresentam manifestações da COVID longa, como astenia, prejuízo cognitivo, ansiedade, etc.”, explicou o médico pediatra.

O doutor, que representa em Pernambuco a Sociedade Brasileira de Imunizações, recomenda procurar os centros especializados em tratamento pós-Covid. “Os ambulatórios de seguimento pós Covid estão sendo essenciais para este olhar de sequelas das doenças, e precisam urgentemente ser ampliados neste momento que a pandemia foi controlada mas deixou um quantitativo significativo de pessoas que precisam de fisioterapia, acompanhamento psicológico, entre outros”, declarou.

No Recife, um hospital de rede privada possui um ambulatório com essa finalidade, funcionando desde maio do ano passado. Uma equipe de pneumologia atende pacientes com sequelas da Covid. O LeiaJá procurou saber com a Secretaria Estadual de Saúde se existe algum local desse seguimento na rede pública, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Riscos ainda existem

Graças às campanhas de vacinação, os números de contaminação da Covid-19 estão bem menores, mas Eduardo Jorge alerta que os riscos ainda existem, e não são tão pequenos assim. “Os riscos de se contaminar pelo vírus da Covid-19 permanecem os mesmos, pois contraímos Covid -19 por meio de contato com pessoas infectadas. O coronavírus ainda circula entre nós. O que mudou, graças especialmente às vacinas,  foi a diminuição de formas graves da doença, e de óbitos. A doença ainda pode ser grave em pessoas idosas e/ou com comorbidades”, alerta o especialista.

“Temos que manter a vacinação contra a Covid-19 atualizada, para evitarmos as formas graves da doença. Outras medidas: evitar contato com pessoas com sintomas respiratórios, evitar aglomerações em ambientes fechados , especialmente e higiene das mãos.  Pessoas de risco para evolução grave da doença devem  ainda ser mais rigorosas nas medidas de proteção e seguir as recomendações de reforços das vacinas indicadas para os grupos específicos”, finaliza o médico.

Em nota, a "Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que a assistência aos pacientes com sequelas de covid é direcionada conforme a especialidade envolvida, a depender do tipo da sequela. Por exemplo, a rede estadual de saúde dispõe de neurologistas, que atendem às pessoas com sequelas neurológicas por Covid-19, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e no Hospital da Restauração (HR). São oferecidos, ainda, serviços de pneumologia aos pacientes com sequela causada pelo novo coronavírus, no Hospital Otávio de Freitas (HOF).  Por fim, a SES-PE reforça que mantém a assistência necessária aos pacientes com diferentes sequelas de Covid-19".

*O nome foi alterado a pedido da entrevistada para preservar sua identidade.

Ter sido infectado duas ou mais vezes pelo coronavírus e não ter tomado a quarta dose da vacina contra a doença aumentam o risco de covid longa, aponta estudo feito pelo Instituto Todos pela Saúde e pelo Hospital Israelita Albert Einstein divulgado nesta sexta, 6. O trabalho aponta ainda que as mulheres são mais afetadas pelos sintomas persistentes, embora a causa desse fenômeno ainda não esteja clara.

Os resultados foram publicados em artigo em formato pré-print na plataforma medRxiv e ainda passará pela revisão de outros pesquisadores. A pesquisa foi realizada com base na análise de dados de mais de 7 mil profissionais de saúde do Einstein infectados pelo SARS-CoV-2 entre 2020 e 2022. Desse total, 1.933 (27,4%) manifestaram a covid longa ante 5.118 (72,6%) que não desenvolveram a condição.

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Segundo Vanderson Sampaio, pesquisador do ITpS e um dos autores do artigo, a definição de covid longa usada no estudo foi a do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos: "São pessoas com infecção prévia pelo coronavírus que continuam com sintomas persistentes da doença por mais de quatro semanas. Entre os sintomas estão febre, congestão nasal, cansaço, fadiga, dor de cabeça, tosse, dificuldades para respirar, entre outros", explica.

Mais da metade (51,4%) dos participantes do estudo que manifestaram covid longa tiveram três ou mais sintomas persistentes. Outros 33,3% tiveram apenas um sintoma e 14,9% manifestaram dois. Os sintomas mais comuns foram dor de cabeça (53,4%), dores musculares ou nas articulações (46,6%) e congestão nasal (45,1%).

Sintomas

De acordo com o ITpS, o estudo mostrou que a reinfecção aumentou em 27% a chance de sintomas persistentes Entre os participantes da pesquisa que tiveram apenas uma infecção confirmada por covid-19, o índice de covid longa ficou em 25,8%. Já entre aqueles que tiveram duas ou mais infecções, a taxa foi de 38,9%.

"Esse foi o resultado mais impactante porque mostra que as pessoas não podem ter aquele pensamento de que, se pegaram o vírus uma vez, já tem imunidade e estão livres para abandonarem as medidas de proteção. Uma nova infecção pelo vírus aumenta as reações inflamatórias do corpo, eleva o risco de um caso grave e, por consequência, da covid longa", afirma Sampaio.

Alexandre Marra, pesquisador do Einstein e primeiro autor do estudo, reforça que a reinfecção aumenta o risco de covid longa e que ela pode acontecer inclusive em pessoas que não tiveram a forma grave da doença. "Até um assintomático pode ter covid longa. Então, as pessoas têm que continuar se protegendo e se vacinando e não acharem que, se você pegar a doença uma segunda vez, vai ser mais leve", afirma.

Vacina

A pesquisa brasileira aponta ainda que somente o esquema vacinal com quatro doses se mostrou capaz de proteger contra os sintomas persistentes - a quarta dose reduziu em 95% as chances de covid longa em relação ao grupo não vacinado.

De acordo com os dados do estudo, entre os participantes que não receberam nenhuma dose da vacina antes da infecção, o índice de ocorrência de covid longa foi de 36,7%. Entre os que tomaram as duas doses regulares, a taxa caiu para 29%. No grupo que já tinha tomado três doses, foi de 15,5% e, naquele com o esquema vacinal completo de quatro doses, somente 1,5% desenvolveu os sintomas persistentes.

Segundo Sampaio, os números mostram que a proteção contra casos graves e covid longa aumenta a cada dose tomada, mas ressalta que a quarta aplicação é fundamental para garantir a proteção contra o agravamento da doença e contra os quadros prolongados. Ele afirma que os estudos ainda não são conclusivos sobre o tamanho da proteção dada pela terceira dose contra a covid longa e, por isso, a recomendação principal agora é buscar o esquema completo.

De acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, menos de 20% da população brasileira já tomou a quarta dose.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os casos de "covid longa", que deixam o paciente com os sintomas da doença durante meses, começam a ser melhor definidos, mas, mesmo assim, persistem dúvidas sobre sua real natureza.

"Devemos pesquisar mais a covid longa e os pacientes afetados", declarou no final de setembro a médica suíça Myssam Nehme, durante uma conferência organizada pelo instituto Pasteur.

Como outros cientistas, Nehme trabalha para definir melhor a realidade da covid longa, ou seja, a persistência de sintomas em um paciente que foi diagnosticado meses antes com a Covid-19.

No ano passado, pouco depois do início da crise sanitária, vários pacientes afirmaram que muito tempo depois da infecção de Covid-19 continuavam sofrendo alguns de seus sintomas, como cansaço, dificuldades para respirar ou perda de olfato.

Atualmente, a existência do fenômeno gera consenso. Muitos cientistas e várias autoridades da área de saúde reconhecem que algumas pessoas sofrem sintomas duradouros da doença, e não apenas as que tiveram a forma grave da Covid.

Myssam Nehme calcula, após um estudo com centenas de pacientes, que mais de um terço continua apresentando ao menos um sintoma da enfermidade sete, oito ou nove meses depois.

Mas isto é a apenas um ponto de partida. Não se sabe o que pode provocar a persistência dos sintomas: resta uma pequena quantidade de vírus no organismo? Os órgãos são afetados, seja pelo vírus ou pela resposta imunológica? Existe um componente puramente psicológico?

As dúvidas sobre as causas levam a outra pergunta. Existe uma única covid longa? Ou estão sendo classificadas sob um mesmo termo realidades muito diferentes, entre pacientes afetados por formas leves da covid e outros que sofreram complicações, a ponto de serem hospitalizados ou internados no CTI?

"A covid longa significa agora coisas diferentes em contextos diferentes e para pessoas diferentes", escreveu em agosto o pneumologista americano Adam Gaffney em um artigo no jornal New York Times.

Gaffney, que não nega a necessidade de levar a sério todo paciente com sintomas de longa duração, teme uma forma de alarmismo dos meios de comunicação. Diante da diversidade de casos qualificados como covid longa, ele expressa dúvidas sobre a existência de uma patologia ligada apenas à infecção pelo coronavírus.

Porém, nas últimas semanas, vários estudos - como o da doutora Nehme - se concentram nas especificidades da covid. Ao contrário das pesquisas realizadas rapidamente no início da pandemia, os estudos atuais comparam a frequência dos sintomas com pacientes que não ficaram doentes ou que contraíram outras patologias.

Este é o caso de um estudo publicado no fim setembro na revista PLOS One por uma equipe britânica. A partir dos dados compilados com quase 300.000 pacientes, a pesquisa destaca que os sintomas típicos da covid longa são mais frequentes em pessoas que sofreram de Covid-19 do que naquelas que passaram pela gripe sazonal.

"Isto leva a pensar que sua origem poderia estar parcialmente vinculada a uma infecção de SARS-Cov-2", o vírus que provoca a Covid-19, afirma o estudo.

Mas é muito difícil tirar conclusões porque o estudo constata uma grande diversidade de sintomas, com base na gravidade da doença e na idade dos pacientes.

E as crianças?

E, neste sentido, até que ponto as crianças estão ameaçadas por uma covid longa?

A resposta pode influenciar a abordagem da vacinação entre os mais jovens. Estes praticamente não correm nenhum risco de desenvolver uma forma grave de covid-19, mas uma forma longa da doença que, sim, pode ser prejudicial.

Mas inclusive neste ponto alguns cientistas alertam que não se deve cair no alarmismo. Uma meta-análise publicada no fim de setembro na revista 'Pediatric Infections Disease Journal', baseada em 15 estudos prévios, considera que estes últimos são muitas vezes tendenciosos e aumentam a frequência de casos de covid longa entre os mais jovens.

"O risco real provavelmente está muito mais próximo de um para cada 100 do que de um para cada sete, uma proporção muito utilizada", escreveu no Twitter um dos principais autores da análise, o cientista e pediatra Nigel Curtis.

Porém, Curtis lembrou que por menor que a proporção de um para cada 100 possa parecer, esta ainda representa muitos casos e, por isso, é necessário estudar bem como tratá-los.

Cientistas brasileiros preparam o primeiro estudo de fase 3 (com testes em seres humanos) sobre os efeitos do canabidiol (CBD) medicinal no tratamento da síndrome pós-covid-19. Ela ocorre quando alguns sintomas persistem 60 dias ou mais após o início da doença. Especialistas acreditam que o CBD, um dos princípios ativos da Cannabis sativa (maconha), seja eficaz na redução de problemas relatados pelos pacientes. Eles incluem fadiga, fraqueza muscular, insônia, dores de cabeça e problemas psiquiátricos, como depressão e ansiedade.

Parte desses sintomas persistentes decorre de uma resposta imunológica exagerada do organismo ao vírus. Essa reação, por sua vez, leva ao desequilíbrio da produção de proteínas do sistema imunológico, as citoquinas. O CBD já tem eficácia comprovada contra quadros inflamatórios graves. A ideia é recrutar cerca de mil voluntários para o estudo, previsto para começar em outubro deste ano.

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"Estudos internacionais já demonstraram o efeito anti-inflamatório do CBD, que pode ajudar a controlar essa 'tempestade de citoquinas'", diz o cardiologista Edimar Bocchi. Ele é do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP, que coordenará a nova pesquisa em parceria com a empresa canadense Verdemed, produtora do CBD medicinal. "A síndrome pós-covid leva a um comprometimento importante da qualidade de vida. São sintomas que podem persistir para além de três meses, como fadiga, astenia, fibromialgia, falta de ar, palpitações, dores no corpo, distúrbios de memória, distúrbios do sono."

A covid provocada pelo novo coronavírus, o Sars-CoV-2, é inicialmente respiratória. Mas pode se tornar sistêmica. Ataca, então, múltiplos órgãos. Em geral, a doença dura poucos dias. Mas, de acordo com estatísticas internacionais, cerca de 20% dos pacientes relatam sintomas dois meses depois do início da doença. Um em cada dez pacientes apresenta problemas após oito meses. Em geral, a covid longa aparece em pacientes que tiveram quadros graves da doença. Mas essa modalidade já foi diagnosticada em quem nem foi hospitalizado.

"Na prática clínica já conhecemos bem esse efeito anti-inflamatório do CBD", conta a médica Paula Dall'Stella. Ele é considerada pioneira na prescrição de cannabis medicinal no Brasil. "O CBD consegue inibir algumas das mesmas vias inflamatórias em que a covid acaba atuando. Mas não é só no contexto físico, mas também mental. O estresse pós-traumático nesses casos é comum, com taquicardia, ansiedade, memórias recorrentes do que ocorreu no hospital. O CBD ajuda essas pessoas a terem uma vida mais saudável, ajuda o corpo a funcionar de forma adequada."

A Verdemed já protocolou na Anvisa pedido de registro do produto. Quer vendê-lo no Brasil. A empresa espera conseguir a liberação para o início de 2022. Depois de um longo período de pandemia, ainda bastante intensa em algumas partes do mundo, a pós-covid, atualmente, representa também um grande desafio para os médicos.

"Porque já é esperado que parte da população apresente sequelas graves", diz Edimar Bocchi. "Precisamos de meios para tirar essas pessoas do sofrimento e melhorar sua qualidade de vida", afirma o especialista.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Com cerca de 200 milhões de casos conhecidos de covid-19, a OMS disse nesta quarta-feira(4) que está profundamente preocupada com as pessoas que podem sofrer de covid de longa, cuja taxa de incidência é desconhecida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselhou às pessoas que sofrem as consequências do vírus por um longo prazo, apesar de se recuperarem da infecção, a consultarem um médico.

A covid longa é um dos aspectos mais desconhecidos da pandemia.

“Esta síndrome pós-covid, ou covid longa, é algo que preocupa profundamente a OMS”, disse María Van Kerkhove, gerente técnica da luta contra a covid-19 na organização.

A OMS está "se certificando de que estamos cientes disso, porque isso é real".

"Não sabemos quanto tempo esses efeitos duram e estamos trabalhando [...] para entender e descrever o que é essa síndrome pós-covid", disse Van Kerkhove.

Como ela explicou, a OMS está trabalhando para obter melhores programas de reabilitação para pessoas com covid longa e também para aumentar as pesquisas e entender melhor em que consiste essa síndrome e como tratá-la.

Pouco se sabe sobre por que algumas pessoas, após superar a fase aguda da doença, têm dificuldade de se recuperar e continuam a apresentar sintomas como dificuldades respiratórias, fadiga extrema e alterações cardíacas e neurológicas.

Segundo Janet Diaz, chefe da equipe de resposta clínica à covid-19 da agência da ONU, mais de 200 sintomas foram registrados, incluindo dor no peito, formigamento e erupções cutâneas.

Segundo Diaz, em uma transmissão nas redes sociais na terça-feira, algumas pessoas têm esses sintomas por três meses, outras por até seis.

A roteirista americana Heidi Ferrer morreu, no último dia 26 de maio, após passar um ano lutando contra os sintomas da Covid-19. A escritora tratava as sequelas da doença  após ter sido infectada em abril de 2020 e não suportou. Ela tinha 50 anos e deixou uma filha de 13, além do marido.

Heidi vinha compartilhando os detalhes de seu tratamento em um blog, o Girl to Mom. Foi através dele que o marido da autora, o também roteirista Nick Guthe, anunciou o falecimento da esposa: “A imensa dor física e a incapacidade de dormir, por causa da dor, levou Heidi a tomar a decisão de que seria melhor deixar esse mundo por ela mesma antes que sua condição de saúde fosse ainda pior”. 

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A criadora de Dawson's Creek positivou para Covid-19 em abril de 2020. Desde então, ela vinha tratando as sequelas da doença, com dores físicas constantes e tremores neurológicos, além de outros sintomas. Muitos pacientes que sobrevivem à forma grave da Covid tendem a apresentar sintomas prolongados ou sequelas da doença, condição que tem sido chamada de covid longa ou subaguda.

Em uma das postagens de seu blog, Heidi escreveu: “Sei de pessoas vítimas de suicídio, incapazes de trabalhar e de se cuidarem, muitas vivem sozinhas e não tem onde morar. Sei de algumas que já fizeram isso. Apesar de não ser uma das pessoas que morreram dessa doença, não estou entre as mais sortudas, que não pegaram ou estão assintomáticas”. A roteirista deixou o marido e uma filha de 13 anos.

Na última semana, a revista científica Nature publicou a pesquisa Covid Longa. O estudo revela que pessoas recuperadas do coronavírus têm risco 59% maior de morrer no período de 6 meses após o contágio. O estudo teve como base o banco de dados nacionais de saúde de 87 mil pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos.

A pesquisa sobre as possibilidades do pós-Covid revelam que, além dos riscos de morte, uma parcela dos recuperados está com problemas de saúde. Foram identificadas falhas no sistema nervoso, distúrbios neurocognitivos e cardiovasculares. De acordo com o responsável pela pesquisa, Ziyad Al-Aly, a internação por Covid é a primeira etapa de um longo processo de reabilitação.

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Na pesquisa sobre as sequelas, cerca de 48 mil sobreviventes da Covid-19 foram consultados, e 80% deles apresentaram sintomas depois de semanas e até meses após a recuperação. Entre as alterações apresentadas estão fadiga (58%), dor de cabeça (44%), dificuldade de atenção (27%), perda de cabelo (25%) e dificuldade para respirar (24%).

Os pacientes estudados também apresentaram sintomas relacionados à ansiedade (13%) e depressão (12%). Mesmo antes da pandemia, essas alterações já eram agravantes na população brasileira. De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros possuem algum transtorno de ansiedade; 5,8% da população é afetada por depressão. Fatores como pobreza e desemprego são agravantes deste cenário, segundo especialistas.

É chegado o momento de começar a resolver o mistério da Covid persistente, exortou a funcionária da Organização Mundial da Saúde (OMS) encarregada de encontrar uma resposta a este flagelo que parece atacar, sem razão aparente, milhões de doentes com patologias que os enfraquece.

Um ano após o aparecimento da doença que já matou mais de 2,2 milhões de pessoas, o foco agora está nas campanhas de vacinação e variantes do vírus.

A "Covid longa", porém, também merece atenção urgente da comunidade científica, explica Janet Diaz, chefe da equipe clínica responsável pela resposta ao coronavírus, em entrevista à AFP na sede da OMS em Genebra.

"Ainda não sabemos realmente o que é a Covid longa", afirmou Diaz, que pediu um esforço unificado em escala global.

Alguns estudos começam a apresentar pistas, mas ainda não se sabe por que alguns pacientes com Covid-19 apresentam por vários meses sintomas como fadiga extrema, dificuldades respiratórias ou, às vezes, problemas neurológicos e cardíacos graves.

"Ainda há muito a aprender, mas estou confiante na mobilização da comunidade científica", afirma Diaz.

Um exemplo da falta de informação é que a chamada "Covid longa" ainda não tem um nome preciso.

A OMS fala de síndrome pós-covid-19 ou "Covid-19 de longa duração" em um documento recente sobre suas novas recomendações. "Covid longa" é a expressão mais usada e, às vezes, também se fala em Covid de longo prazo.

- Primeiro seminário da OMS -

A OMS organizará no dia 9 de fevereiro o primeiro seminário virtual dedicado à Covid longa com médicos clínicos, pesquisadores e especialistas para encontrar uma definição da doença, dar-lhe um nome formal e harmonizar os métodos para estudá-la.

"É uma patologia que precisa ser melhor descrita, da qual precisamos saber quantas pessoas são afetadas, cuja causa deve ser mais bem compreendida para que possamos melhorar a prevenção, o manejo e as formas de curá-la", destaca a médica americana de 48 anos.

Os estudos disponíveis mostram que cerca de 10% dos doentes apresentam sintomas um mês após a infecção e no momento não há ideia de quanto tempo eles podem persistir.

O que é intrigante com a Covid longa é que o perfil dos pacientes que sofrem este quadro não corresponde ao das pessoas mais vulneráveis: idosos e pessoas com fatores agravantes.

A Covid de longo prazo afeta as pessoas que adoeceram em vários graus "e também inclui os jovens", explica Diaz.

É a prova de que a Covid não é apenas uma simples gripe, como afirmam os negacionistas da pandemia. É também um argumento contra aqueles que apoiam o isolamento apenas de pessoas frágeis.

O sintoma mais comum parece ser fadiga, mas existem muitos outros: cansaço após esforço físico ou doença, dificuldade em pensar com clareza, respiração curta, palpitações cardíacas e problemas neurológicos.

"O que não se entende é como todas essas coisas estão ligadas. Por que alguém tem uma coisa e outra pessoa tem outra?", questiona a médica, destacando que os pesquisadores devem entender os mecanismos íntimos da doença que causam esses sintomas.

"Isso é devido ao vírus? À resposta imunológica? Se soubéssemos mais poderíamos começar a identificar algumas intervenções para reduzir os sintomas", afirma.

Uma "quantidade enorme" de pesquisas está em andamento, acrescenta.

- "Manter a esperança" -

O seminário de 9 de fevereiro será o primeiro de uma série de reuniões.

"No momento, provavelmente temos dados suficientes (descrevendo a Covid longa) para começar a juntar as peças do quebra-cabeça", estima Diaz.

Além de uma definição precisa e um nome, o seminário também deve permitir o estabelecimento de regras para a coleta de dados de controle de pacientes com o objetivo de começar a encontrar formas de curá-los.

Para aqueles que sofrem de Covid longa e que às vezes se sentem incompreendidos, Díaz tem uma mensagem: "Mantenham a esperança".

"As pessoas às vezes apresentam sintomas por muito tempo, mas sabemos que se curam", afirma, e conclui: "Estamos com vocês".

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