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A reta final da campanha no Recife tem deixado ainda mais evidente o apelo dos candidatos ao comando da capital pernambucana pelos seus padrinhos políticos. Dos nomes com maior evidência entre os postulantes, aparecem o do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Eduardo Campos. Mas qual tende a ser o peso real de cada nome desse no resultado das urnas no próximo domingo (15)?

Antes apenas cobiçado pelos prefeituráveis de direita e centro-direita, Jair Bolsonaro assumiu uma espécie de protagonismo na disputa no Recife depois que anunciou apoio oficial a delegada Patrícia Domingos (Podemos) no último fim de semana. Em quarto lugar nas intenções de votos, segundo o último levantamento do Ibope divulgado na segunda-feira (9), ela não perdeu tempo e logo viajou para Brasília na intenção de incorporar o mandatário nacional na sua campanha às vésperas do pleito. 

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Apesar da investida nitidamente intensa da candidata e da disponibilidade do presidente, a mesma pesquisa do Ibope também aponta que, no Recife, a popularidade dele não é tão boa assim. A gestão de Bolsonaro é considerada ruim ou péssima por 50% dos entrevistados e apenas 28% a avaliam como boa ou ótima - o que pode indicar que ele não é um bom atrativo de eleitores na capital pernambucana.

“O ponto em questão não é exatamente os votos que ela vai conquistar [com Bolsonaro no palanque], mas como ficará o saldo final após o apoio do presidente. Receio que ela vá perder mais do que ganhar, vai ser um saldo negativo e não foi um bom movimento, por uma série de razões”, ponderou o cientista político Arthur Leandro. 

“O presidente é mal avaliado na capital pernambucana e a redução no auxílio emergencial, além do horizonte do encerramento do benefício, causou descontentamento no eleitor que havia se aproximado dele. Perder mobiliza mais do que ganhar e esse descontentamento pode ser passado para a delegada Patrícia. Além disso, agora ela aparece vinculada a um presidente que é apontado por tentar interferir na Polícia Federal, a ideia de que vai acabar com a corrupção se juntando a Bolsonaro fica comprometida”, emendou o especialista, que ainda listou o fato do eleitor bolsonarista mais raiz não simpatizar com Patrícia.

“Com essa aproximação ela conseguiu desagradar todo mundo. Não foi bom, se ele fizesse esse movimento e ela não enfatizasse, apenas pontuasse que ele vem para somar, mas a sua  candidatura é contra a corrupção talvez o impacto não fosse tão grande. Na última pesquisa ela sofreu uma variação negativa, apostou as fichas em Bolsonaro e essa me parece uma manobra equivocada”, reforçou. 

O eleitor Lula e o palanque de Marília 

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

No outro campo da disputa, o da esquerda, a candidata Marília Arraes (PT) saiu da sutil marca petista do início da campanha - tão questionada por correligionários - para uma constante inserção e junção junto ao nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atrelado ao fato dela ser neta do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Com o mote “é Lula, é Arraes, é Marília Arraes”, ela se viu sair dos 14% de intenções de votos no início de outubro, segundo dados do Ibope, para 21% no último dia 9 - a uma semana da eleição.

“Ela testou isso primeiro, sutil e cautelosa com medo de herdar o desgaste do partido. [E depois de tornar mais perceptível a imagem de Lula] ela agregou sim e é a única candidata que vem se movimentando de forma ascendente [na pesquisa]. Ela precisa agora deixar mais clara sua diferenciação dos outros candidatos, para capitanear para si o sentimento de mudança não da questão ideológica, mas de quem não quer mais o PSB no comando da gestão municipal”, avaliou a cientista política Priscila Lapa.  

Contudo, apesar do crescimento registrado por Marília, na ótica de Arthur Leandro, por se tratar de um padrinho como Lula a ascensão poderia ter sido maior caso o ex-presidente não tivesse sofrido tanto desgaste nos últimos quatro anos. “Se imaginarmos Lula há quatro anos, por exemplo, o resultado do apoio seria ainda mais forte. Lula hoje não tem a influência política que tinha há quatro anos, ele não governa e de fato o poder político significa você ter a caneta na mão. O PT sofreu uma retração política nacional”, observou o estudioso. A petista está em segundo lugar nas pesquisas e, se as projeções forem confirmadas nas urnas, protagonizará um segundo turno contra João Campos (PSB).

João, a semelhança e o peso do pai

Do mesmo campo político da adversária e prima, o candidato do PSB tem reforçado nesta semana as inserções na TV em que aparece sendo assemelhado ao pai e ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014. No guia eleitoral dessa terça (10), por exemplo, uma mescla de imagens sinônimas dele e de Eduardo chamaram a atenção ao lado de um fundo musical que, entre outros pontos, salienta que sua escola política veio “de casa”. 

O mesmo é pontuado em uma das inserções que vem sendo compartilhada nas redes sociais e na televisão, com recortes de momentos vividos pelo ex-governador, morto durante a campanha presidencial há seis anos, e agora não coincidentemente pelo filho. A postura da campanha destoa um pouco da inicial, quando João, mesmo já sendo atrelado ao pai e ao bisavô Miguel Arraes, mostrava-se mais independente, apesar de ter bebido na fonte tradicional da política familiar.   

Para a cientista política Priscila Lapa, com a estratégia de construir uma identidade própria e mostrar sua capacidade de gestão nos primeiros momentos de guia e de campanha, agora ele tenta consolidar algum diferencial entre ele e Marília Arraes. “Isso ficou muito claro e agora, como ele se consolida na dianteira, e Marília é sua adversária direta na disputa de votos nesse segmento, e ela usa com mais força a imagem de Miguel Arraes,. ele parte para mostrar um alinhamento mais claro [com o pai] para consolidar sua dianteira junto a esse eleitorado que vem identificando na candidatura de Marília Arraes uma tradição de esquerda”, salientou a estudiosa. 

Com Eduardo Campos em evidência na campanha de João, fica ainda mais clara a ausência do prefeito do Recife, Geraldo Julio, e do governador Paulo Câmara, seus correligionários. 

“João Campos não se apresenta como candidato do governo, mas como o candidato de Eduardo Campos e de Arraes. O governo municipal e o estadual também tem um problema de popularidade. E há um desgaste do PSB”, apontou Arthur Leandro, citando que um dos desafios da campanha de João foi passar para o eleitor que, apesar de Geraldo e Paulo, ele representa uma mudança que pode trazer para a o Recife os “ventos de prosperidade que o Estado viveu com o governo de Eduardo”. “A  campanha dele  tem surtido os efeitos pretendidos e isso deve afastar a oposição mais à direita de uma disputa no segundo turno”, completou. 

O impacto de um padrinho de peso

Na avaliação dos cientistas, a disputa municipal reúne diversos fatores locais como capacidade de gestão e solução de problemas, mas o tipo de patrono que sobe no palanque também é de grande peso. “Faz a diferença. Por exemplo, quando você tem uma conjunção de fatores de presidente e governador apoiando, a tendência é que esse candidato seja imbatível”, projetou Arthur Leandro.

“Essa questão do apadrinhamento é importante e isso já ficou claro em outros momentos na disputa municipal, quando Lula gozava de muita popularidade e o próprio Eduardo Campos administrava o Estado, agregava. Mas uma eleição municipal é composta por diversos fatores. Existe um elemento de capacidade de gestão e solução de problemas que termina sendo a grande lógica da escolha do candidato”, concluiu Priscila Lapa. 

Agora resta aguardar o registro dos votos dos recifenses, para obter a resposta concreta de quem é o afilhado político que leva a preferência na disputa.

*Foto de Patrícia e Bolsonaro - Divulgação/ Foto Eduardo e João - Reprodução do Youtube

A preparação da conjuntura para as eleições municipais em 2016 deve movimentar o meio político a partir deste ano. Com pouco mais de um ano e três meses para a disputa, os partidos começam a se definir, inclusive, com as prioridades entre as cidades que devem pleitear o comando. Na Região Metropolitana do Recife, além de Olinda, Jaboatão dos Guararapes e a própria capital, a Prefeitura de Paulista está entre as mais cobiçadas. Sob a batuta do PSB desde 2009, com o ex-prefeito Yves Ribeiro, a maior incógnita entre é se o atual gestor, Júnior Matuto (PSB), terá fôlego para conquistar a reeleição local.

Sem a presença do padrinho político, o ex-governador Eduardo Campos (PSB), o desafio de Matuto será reunir forças palpáveis para o pleito. Indagado recentemente pelo Portal LeiaJá sobre o assunto, o socialista disse não estar pautado no momento pelas eleições, mas revelou que pretende, posteriormente, criar uma “aliança em prol de Paulista” para a majoritária liderada por ele. 

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“Campanha só vamos fazer no ano de eleição e no período de eleição. Agora, política fazemos todos os dias e estamos num diálogo permanente com todos os partidos porque a nossa regra, a nossa meta é juntar”, adiantou. “Vamos juntar todos em prol de Paulista. Quem quiser o bem de Paulista que venha para o nosso lado e já tem muita gente apostando no nosso projeto”, revelou o prefeito.

Ao mesmo tempo em que Matuto organiza uma aliança da situação, os pré-candidatos oposicionistas se unem para “tirá-lo do poder”. O petebista Ricardo Cabral, mais conhecido como Nena Cabral, é um dos que lideram a articulação. “Estamos com Aldemir Cunha, Sérgio Leite e o empresário Edson Melo formando uma aliança forte contra Júnior Matuto. Em março de 2016 deveremos fazer uma pesquisa para ver qual dos nomes tem uma aceitação maior e vamos montar a chapa a partir daí”, adiantou. 

Ainda segundo ele, Paulista também “vem sofrendo com algumas faltas de acertos das gestões passadas”. “A atual administração está entre as três mais mal avaliadas de Pernambuco, perdendo apenas para Olinda e Moreno. Ele está com uma rejeição forte aqui, pois não foi bem ele que disputou, mas a influência de Eduardo Campos”, analisou Cabral.  

Apesar de comandar a articulação entre os pré-candidatos de oposição a Matuto, Cabral deverá, antes disso, passar pelo crivo do PTB em Paulista. Ele não é o único, entre os petebistas, a desejar o cargo. “O PTB tem dois vereadores valorosos, tem o Ramos (ex-deputado estadual) e vamos analisar no seu devido tempo. Temos esses nomes e condições de fazer alianças”, disse o presidente estadual da legenda, José Chaves. “O PTB está firme para as disputas do próximo ano e Paulista está no nosso radar”, acrescentou. 

Para confirmar a intenção de compor uma aliança maior entre a oposição, o Portal LeiaJá entrou em contato com o ex-deputado estadual Sérgio Leite (PT), Aldemir Cunha (PSL), o empresário Edson Melo e o ex-deputado estadual Severino Ramos (PTB), no entanto eles não atenderam as ligações. 

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