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Em meio à pandemia de informações falsas, mesmo com a queda das taxas de óbito pela Covid-19 no Brasil, as tentativas de descredibilizar a imunização repercutiram na nova alta na ocupação de leitos de UTI. Contudo, o resultado mais preocupante é a incidência de vítimas que não foram vacinadas.

No Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, 85% das mortes ocorrem por pacientes que não tinham o esquema de proteção completo. Conforme a gestão da unidade informou à Globo News, 100% dos leitos de UTI estão ocupados atualmente.

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Números do estado

Em todo o estado, o índice de ocupação de leitos de UTI é de 71,6% e das enfermarias está em 66,1%.

Com a taxa de letalidade em 3,4%, desde o início da pandemia, 159.589 pessoas não resistiram aos efeitos do vírus e 4.745.504 testaram positivo.

Conforme a Secretaria de Saúde, 80,86% da população está com o esquema vacinal completo. Ao todo, foram 95.269.575 doses aplicadas.

Mônica Calazans, enfermeira de 54 anos, há oito meses na linha de frente do combate ao coronavírus no Hospital Emílio Ribas, foi há pouco a primeira brasileira a receber uma dose da vacina Coronavac, logo após Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso emergencial da vacina contra covid-19.

Mônica é negra, moradora de Itaquera (zona leste), com perfil de alto risco para complicações da covid-19. Ela é obesa, hipertensa e diabética.

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Mônica Calazans, enfermeira de 54 anos, há oito meses na linha de frente do combate ao coronavírus no Hospital Emílio Ribas, será a primeira brasileira a receber neste domingo, 17, uma dose da vacina Coronavac, tão logo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorize o uso emergencial da vacina contra covid-19.

A Anvisa aprecia o tema neste momento. A gerência técnica recomendou e a diretora relatora, Meiruze Freitas, deu o aval ao imunizante. Faltam o voto de quatro diretores.

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Mônica é negra, moradora de Itaquera (zona leste), com perfil de alto risco para complicações da covid-19. Ela é obesa, hipertensa e diabética.

Apesar de se enquadrar nessas condições, em maio do ano passado, no auge da primeira onda da doença, ela se inscreveu para vagas de CTD (Contrato por Tempo Determinado), escolhendo trabalhar no Emílio Ribas, no epicentro do combate à pandemia.

Ele está à frente da UTI de um dos principais hospitais de referência de São Paulo para os casos de covid-19 e se vê no drama de já estar com todos os 30 leitos ocupados. Ela atua no pronto-socorro, recebendo quem chega assustado, com medo de ter o coronavírus.

Jaques Sztajnbok, de 54 anos, e Fabiane El Far Sztajnbok, de 47, se conheceram no Instituto de Infectologia Emílio Ribas quando ela era residente. Jaques, já chefe da UTI, a ajudou a publicar um trabalho sobre implicações do surto de sarampo de 1997. Pode-se dizer que foi o sarampo que uniu o casal.

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Mas a experiência com aquela e outras epidemias não foi suficiente para prepará-los para o que enfrentam hoje. Desde que a pandemia de covid-19 atingiu em cheio São Paulo, o casal tem se visto muito pouco. Na última quinta-feira, 16, quando conversaram com a reportagem, já depois das 21 horas, eles só tinham se visto muito rapidamente pela manhã. Ela estava voltando para casa do plantão que tinha feito na madrugada, quando ele saía para o hospital.

No pouco tempo juntos, compartilham as "visões diferentes, mas confluentes" de uma mesma emergência, como define Fabiane, enquanto tentam estabelecer um clima de tranquilidade para os filhos - Daniel, de 10 anos, e Ana Beatriz, de 12 - e também estratégias para ajudar suas mães, já idosas. Além de estudarem sobre os últimos avanços em relação à doença.

O Emílio Ribas alcançou nesta semana a lotação da UTI e Jaques começou a lidar com o dilema de não poder receber novos pacientes enquanto novos leitos não forem criados. Mas os pedidos continuavam chegando. Naquela madrugada, Fabiane recebeu do sistema de saúde 40 solicitações de vagas.

"Está aumentando muito. Antes o normal no meu plantão eram um, dois pedidos", conta a médica, que trabalha em regime de 12 horas todas as noites de quarta e em um plantão de 24 horas um domingo por mês.

De porta aberta, o hospital também atende quem chega por conta própria, em busca de socorro, como um paciente HIV positivo - o Emílio Ribas é referência para o tratamento da doença - que chegou com dificuldade de respirar. "Ele tinha acabado de perder o pai, suspeito de covid-19, naquela noite. A mãe estava na UTI e ele também com sintomas. Foi para o Emílio Ribas porque sempre foi para lá e conseguimos mandá-lo para a UTI", conta Fabiane.

O casal troca informações sobre esses pacientes cruzados e compartilha o conhecimento que vai adquirindo. "Apesar de ser uma posição de muita sobrecarga, estar à frente da UTI é também uma posição privilegiada porque aprendemos todos os dias. Cada dia é um desafio novo e, como não há uma terapêutica estabelecida, vivemos situações semi-experimentais, em que, a partir dos resultados, vamos ajustando o atendimento", diz Jaques.

'Gripezinha'

Mas o ineditismo da situação também assusta. "Estão ao mesmo tempo na UTI uma paciente de 22 anos e outra de 78. E não necessariamente a mais velha é que tem o quadro mais grave. As duas estão mal. Estatisticamente a probabilidade de óbito é maior em idosos e pacientes com comorbidades, mas não significa que outras populações estejam imunes. Definitivamente não é uma gripezinha", diz.

"E tem o aspecto que torna a situação ainda mais grave que é essa doença ter um potencial enorme de infectar o profissional de saúde. Trabalhamos no Emílio Ribas como centro de referência na epidemia de febre amarela, que tinha casos gravíssimos, mas ninguém ali tinha risco de se infectar. Agora não temos nem a certeza ainda de os infectados por covid-19 estarem realmente imunes", afirma Jaques, que há 28 anos está no hospital.

Ao chegar em casa, porém, eles tentam deixar as preocupações de lado e trazer segurança para as crianças. "Eles entendem que os pais são médicos, o que é a nossa vida, e isso me dá um alívio, porque sei que eles estão tranquilos. E agora vemos que estão com orgulho da gente. Os amiguinhos da escola perguntam se estamos bem", relata Fabiane. "A gente explica que é possível que mamãe ou papai adquiram e vamos pensar como vamos viver." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Instituto de Infectologia Emílio Ribas prepara um grande encontro científico que pretende reunir todos os 600 infectologistas que já fizeram residência na instituição. A reunião, inédita, terá representantes desde a primeira turma, que entrou em 1971, quando o centro de referência ainda se chamava Hospital de Isolamento Emílio Ribas.

A proposta do encontro é promover troca de conhecimento e experiências entre as várias gerações de ex-residentes, que se tornaram especialistas e hoje atuam em universidades, hospitais e clínicas de quase todos os Estados do País.

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Ao longo de mais de 40 anos, esses infectologistas testemunharam o surgimento de novas doenças infecciosas, como a aids, e a emergência de questões que tiveram forte impacto na especialidade, como a resistência bacteriana. Isso sem contar as epidemias históricas: febre tifóide, meningite meningocócica, febre purpúrica, sarampo e a mais recente influenza H1N1.

"São infecções novas para especialistas velhos", diz a médica Marinella Della Negra, que fez parte da segunda turma de residentes do Emílio Ribas, que ingressou em 1972. Desde então, nunca mais deixou o instituto e só divide seu tempo com a atividade de professora da disciplina de infectologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa. Ela conta que, na época em que decidiu ser infectologista, a carreira ainda estava "engatinhando".

"Naquele tempo, o Emílio Ribas tinha uma característica de isolamento. Era um hospital que servia para por o paciente com doença infecciosa. Só quem realmente queria fazer a especialidade ia para lá", conta.

Ela avalia que, na época, atuar no Emílio Ribas não tinha o glamour que veio a ter depois, quando a instituição passou a ser reconhecida pelo ensino e também pela pesquisa.

O surgimento da aids, segundo Marinella, foi um grande impulsionador das pesquisas na área. "Foi um marco. Com a aids, teve que se investir muito dinheiro nas pesquisas. Por meio desse investimento, foi possível avançar também no conhecimento de outras infecções." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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