Tópicos | O trânsito sou eu

Uma série de reportagens sobre o trânsito que 'esquece' um pouco os carros, motos, ônibus e bicicletas e foca no elemento mais importante do trânsito, mas frequentemente ignorado quando o tema é mobilidade: as pessoas. Esse é o mote da série de reportagens especiais 'O trânsito sou eu', do LeiaJa.com, selecionada entre as 3 finalistas do Prêmio Urbana-PE de Jornalismo, na categoria online.

O consurso é realizado pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE) em parceria com o Sindicato de jornalistas de Pernambuco (Sinjope). O objetivo é premiar trabalhos publicados na imprensa pernambucana que tenham tema central a mobilidade e o transporte público.

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O especial 'O trânsito sou eu' tem reportagens de Alexandre Cunha, Felipe Mendes e Nathan Santos, além de imagens de Chico Peixoto - que também é responsável pelo videodocumentário que integra o especial - e Paulo Uchôa. Confira as matérias e, ao fim, o documentário 'O trânsito sou eu':

--> Mais frágil, menos respeitado: vida de pedestre

--> O trânsito pelo olhar do passageiro de ônibus

--> 'Há uma vida em cima de uma bicicleta'

--> Motociclistas: vítimas e vilões de um trânsito desordenado

--> Mulheres ao volante e o combate ao machismo no trânsito

--> O motorista de ônibus e os desafios do caos urbano 

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Confira os trabalhos selecionados para o Prêmio Urbana-PE 2017: 

Nathan Santos, Felipe Mendes e Alexandre Cunha l O Trânsito Sou Eu l Portal Leia Já

Alice de Souza e Rosalia Vasconcelos l Como Se Meve a População do Recife l Diario de Pernambuco

Alice de Souza l Boa Vista: A avenida que Pulsa no Recife l Diario de Pernambuco

Anderson Kleiton Souza da Silva l S.O.S Mobilidade l Rádio CBN

Danielle Oliveira de Souza Alves e João Vitor de Macêdo Pascoal l Os Dois Lados da Faixa l AQUI PE

Denis Roberto Cavalcanti Lira l Perigo na Rota l TV Jornal

Fim da Linha l Diego Vieira Nigro de Almeida l Jornal do Commercio

José R. de Souza l Ciclistas Versus Realidade l Rádio Jornal AM/FM

Lorena de Barros Pereira l Ciclista Eu? Todos os Grupos de Bike do Grande Recife para Começar Já l Diario de Pernambuco

Lorena de Barros Pereira l O Recife das Bicicletas l Diario de Pernambuco

Mayra Cavalcanti de Melo l Passageiro do Medo l Portal NE10

O Resgate l Bobby Fabisak l Jornal do Commercio

Rafael Dantas l Novos Caminhos do Trânsito l Revista Algo Mais

Roberta Soares l #PeloCaminhar l Portal JC Online

Tânia Passos l Cidade Inclusiva l Diario de Pernambuco

Vista Urbana l Alexandre Gondim l Jornal do Commercio

Eduardo depende do sistema de transporte coletivo para seus deslocamentos diários; José Cristóvão guia um ônibus levando milhares de passageiros todos os meses; Fernanda usa seu carro diariamente; José Neto passa boa parte do seu tempo em cima de uma moto; Ubiratan há 25 anos usa a bicicleta para se deslocar no trânsito do Grande Recife; Karina, moradora do centro, faz seus principais deslocamentos a pé. Juntos, cada um no seu modal, eles disputam tempo e espaço nas vias da metrópole.

Sem motores, armaduras, pedais ou buzinas, os seis falam da sua experiência em vivenciar um trânsito violento, estressante, agressivo. E mostram que por trás de cada carro, moto, ônibus ou bicicleta há uma pessoa, que merece respeito e cuidado.

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O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é claro: "os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres". Ao pedestre, é garantida a preferência sobre todos os demais modais de transporte, cuidado reforçado em vários artigos da lei de trânsito.

A preferência não se deve necessariamente a questões urbanísticas ou de engenharia de tráfego, mas a uma questão humanitária. O desrespeito ao pedestre pode facilmente terminar em morte ou em ferimentos graves. Quem caminha é de longe o mais frágil na disputa por espaço (e tempo) do trânsito de uma metrópole. No especial 'O trânsito sou eu', procuramos enxergar a mobilidade pelo vipés humano.

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"É bem complicado você ser pedestre em um lugar onde as pessoas não têm respeito. Na hierarquia do trânsito, o pedestre vem primeiro, sempre o menor tem mais prioridade. Aqui não, aqui o maior tem mais prioridade", reclama a cantora Karina Moutinho. Ela diariamente faz seus principais deslocamentos a pé pelas ruas do centro do Recife, onde mora, e sente na pele o quão desprotegido é o pedestre no trânsito da metrópole. Por motivos óbvios, os atropelamentos são o tipo de acidente com a maior taxa de morte.

A estrutura urbana (ou a falta dela) também é um fator sério de risco e estresse para quem cumpre seus trajetos caminhando. Em um estudo de 2012, Recife foi ranqueado como a quarta pior cidade do Brasil na qualidade das calçadas. Buracos, bocas de lobo, desníveis, entulho, barracas e até a ausência de calçadas: são muitos os obstáculos para se caminhar na cidade. O que muitas vezes empurra os pedestres para o meio da rua, onde ficam ainda mais desprotegidos.

Na hora de atravessar uma rua ou avenida, o momento mais tenso. Karina reclama: "O sinal demora muito para abrir e depois que abre para o pedestre fecha rapidinho". É muito comum semáforos destinados a pedestres demorarem vários minutos para fechar para os automóveis, fazendo com que muitas pessoas achem que está quebrado ou desistam de esperar, se lançando a uma travessia que pode terminar em tragédia.

A pedestre também chama atenção para as dificuldades ainda maiores de quem tem limitações físicas: "Os cegos se guiam pelo barulhinho dos semáforos, mas quase nenhum semáforo tem o barulho, então eles não podem atravessar sozinhos, dependem sempre de outras pessoas". Para cadeirantes, a missão de trafegar pelas calçadas é um verdadeiro desafio, para não dizer impossível.

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Pedestre e mulher

Se caminhar já deixa a pessoa desprotegida por envolver a interação desigual com carros, motos, ônibus e bicicletas, a sensação de fragilidade se dá também em relação aos riscos de assalto e ao assédio. As 'gracinhas' ditas por homens a mulheres no meio da rua trazem muitas vezes insegurança. Apesar de fazer questão de diferenciar comportamentos e abordagens, afirmando que nem tudo é assédio, Karina confessa: "Eu ando com o fone de ouvido pra não escutar muita gracinha".

Há uma outra limitação de mobilidade para ela. À noite, Karina não chega nem sai de casa a pé, pois é 'muito esquisito'. A violência urbana interfere também no itinerário que ela escolhe para chegar a seu destino. Mais um limitador, além das calçadas instransitáveis e das vias que, dominadas por veículos automotores, não são nada receptíveis aos pedestres. "Eu me adapto às situações. Não tenho como vencer isso", finaliza Karina Moutinho.

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Respeito e empatia
"Uma vez, na Rua Velha, veio um ciclista e bateu na minha vó, já uma senhora, que foi derrubada. E o ciclista saiu como se nada tivesse acontecido", lamenta, enquanto caminha, a pedestre Karina. Quantas vezes, em nosso veículos, preferimos buzinar em vez de diminuir a velocidade, esperar, ao avistar um pedestre no meio da rua?

Em dia de chuva, a falta de empatia fica ainda mais evidente. Muitos motoristas ignoram as poças d'água, molhando os pedestres. Ou não se importam se as pessoas estão tomando chuva e as deixam esperando indefinidamente para atravessar uma via movimentada. "Já é um costume do brasileiro pensar só nele mesmo", resume Karina, fazenso também um pedido: "Quando você se coloca no lugar da outra pessoa, você sente mais o problema dela. Se coloquem mais nos lugares dos pedestres".

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Se o trânsito numa metrópole é um ambiente muitas vezes hostil e agressivo, a couraça de veículos motorizados como carros e ônibus funciona como uma espécie de armadura, dentro da qual muitos se sentem protegidos e até isolados do ambiente estressante ao redor. Para os ciclistas, tal proteção não está disponível: a única é a própria pele, o que faz de quem usa a bicicleta como meio de transporte um dos mais frágeis dentre os que dividem o mesmo espaço nas ruas da cidade.

Outra diferença está na velocidade: um veículo motorizado atinge facilmente marcas muito superiores a um veículo 'movido a feijão com arroz'. A coexistência no mesmo espaço torna-se mais difícil ainda devido à falta de estrutura adequada, que separe os automóveis dos veículos não motorizados. "A falta de estrutura estimula o conflito", argumenta Pedro Luiz, um dos coordenadores da Ameciclo - Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife. "A gente tem entes diferentes, com pesos e tamanhos diferentes, e ainda que o CTB seja bem claro e explícito, as pessoas disputam espaço", resume.

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Mas não são apenas os problemas estruturais que fazem do trânsito um ambiente extremamente estressante, para muitos até mesmo 'tóxico': a falta de respeito e cooperação entre todos é determinante para os alarmantes índices de acidentes, mortes e atropelamentos em todo o Brasil. E para os ciclistas, acidente pode significar morte. Por isso, nesta série especial sobre mobilidade 'O trânsito sou eu', o LeiaJá aborda o tema focando nas pessoas.

Munido ou não de uma armadura, é sempre uma pessoa que trafega, seja dirigindo um enorme ônibus, seja dependendo apenas das próprias pernas. Apesar disso, as políticas públicas e os debates sobre mobilidade costumam focar nos modais de transporte: carros, ônibus, motos, bicicletas, objetos inanimados, sem vontade ou ação própria, mas comumente tratados como os protagonistas do trânsito. "O trânsito tem um aspecto muito 'coisificante', a gente para de enxergar as pessoas e passa a enxergar o carro, a bicicleta... Falta empatia", afirma Pedro Luiz.

Econômico, saudável, não poluente. E arriscado

Para o ciclista Ubiratan de Medeiros 'Bira', que calcula já ter na bicicleta o seu principal meio de transporte há 25 anos, "As pessoas deviam pedalar mais um pouco, sair de dentro dos automóveis, para sentir o que o ciclista passa no dia a dia das cidades". As vantagens do modal são muitas: é um meio de transporte econômico, saudável, não poluente, mas o perigo de ser atropelado por um automóvel afasta muitas pessoas do deslocamento na bike.

Bira acha que é necessário desestimular o uso do carro particular, para ele o principal problema no trânsito. "É automóvel para tudo: é automóvel para ir à padaria, para ir à praia, só está faltando algumas pessoas levarem o automóvel para a cama, para dentro do quarto", critica. Além disso, os motoristas dirigem de forma agressiva, reclama Bira, atribuindo muito do comportamento dos que guiam carros ao fato de que eles e elas "levam problemas das suas vidas para o volante". 

Mas o experiente ciclista não isenta quem usa a bike como meio de transporte de serem causadores também de problemas no trânsito. Muitos ciclistas não usam sequer o básico dos equipamentos de segurança, salienta, aconselhando ao ciclista não usar fones de ouvido para se guiar pelo sons do tráfego e chamando atenção para as regras de circulação para as bicicletas: pelos bordos da via, e no mesmo sentido dos carros.

Segundo Pedro Luiz, a Ameciclo defende o uso de um terço da faixa pelo ciclista, para garantir a segurança ao ocupar espaço. "Mas somos legalistas. Se o código de trânsito diz para não pedalar em cima de calçadas ou na contramão, nós não orientamos os ciclistas a fazer isso. Mas também entendemos que às vezes o ciclista usa dessas estratégias para se manter vivo, porque a via é extremamente inóspita", pondera.

Para Bira, todos têm responsabilidades: "A gente precisa da educação do ciclista, do motorista, do pedestre, é um conjunto", resume.

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Contagem de ciclistas

Uma das ações de maior visibilidade da Ameciclo é a contagem de ciclistas em algumas das vias mais movimentadas da cidade. Realizada desde 2013, fornece dados concretos sobre o tráfego de ciclistas e cria diferentes recortes de acordo com filtros como gênero, horário, se leva passageiro, se usa itens de segurança ou mesmo se trafega na contramão.

A sistemática foi desenvolvida pela ONG Transporte Ativo, do Rio de Janeiro, e 'importada' para a capital de Pernambuco, onde voluntários passam o dia em pontos fixos observando e anotando quem passa em cima de uma bicicleta. Para se ter uma ideia, em agosto de 2014 foram contabilizados, num intervalo de 14 horas, 3.723 ciclistas trafegando em um cruzamento da Estrada de Belém, umas das principais do Recife.

O grande número de pessoas pedalando pode ser uma surpresa quando se leva em consideração a estrutura quase nula para a bicicleta. "Mas por outro lado não há surpresa, pois o perfil do ciclista indica a necessidade do uso da bicicleta. Além disso, Recife é uma cidade plana e de pequena extensão territorial, é fácil entender por que a cidade tem tanto ciclista", explica Pedro Luiz, da Ameciclo.

Apesar de muitas promessas, a estrutura cicloviária anunciada pelo Governo de Pernambuco e pela Prefeitura do Recife nunca saiu do papel. Equanto isso, ciclistas seguem se arriscando entre automóveis de todos os tamanhos.

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Pessoas, não veículos

"Quem utiliza a bicicleta para o trabalho não é para fazer charminho nem ficar esbelto, é necessidade. Há uma vida em cima de uma sela de bicicleta, há um pai de família que precisa ganhar o pão de cada dia e precisa ser respeitado", avisa Bira, que todos os dias roda vários quilômetros sobre a sua bicicleta.

"O deslocamento na bicicleta é feito por necessidade, não é por lazer. O recifense utiliza a bicicleta como meio de transporte", reforça Pedro, da Ameciclo, citando as conclusões das contagens de ciclistas realizadas pela associação. Para o ativista, "É necessário botar na cabeça das pessoas - todas - que você quando dirige você está ali cuidando de vidas de outras pessoas. É uma obrigação, e a gente se esquece disso".

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Basta um deslize: desatenção do motorista mais apressado, um animal na pista, chuva ou sol a embaçar a visão. Em cima da moto, a vida está sempre por um fio nas principais metrópoles brasileiras. Não há parachoque, airbag de proteção; o corpo é quem recebe todo o impacto nos acidentes. E eles acontecem rotineiramente. 

No caso de José Neto "Brasinha", músico e motociclista há mais de seis anos, a prudência tem evitado colisões mais graves, como ele conta ao LeiaJá para o especial sobre mobilidade 'O trânsito sou eu'. "Em todos esses anos, me acidentei apenas duas vezes. Uma vez por minha culpa mesmo, fiz uma curva errado e derrapei. Na outra ocasião, o sol ofuscou a viseira, não vi que o sinal tinha fechado e bati numa senhora que estava atravessando. Na moto você não pode descuidar um só segundo", conta. Sobre duas rodas, o risco é incessante, como se fosse um elemento onipresente no trânsito. 

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Morador de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, Brasinha realiza entregas diárias nas mais diversas localidades e atesta: motoristas de carros de passeio são os que mais dificultam a mobilidade. "Não respeitam. Precisamos entender que, por exemplo, se o trânsito tá parado ou a 20 km/h, o corredor precisa ser do motociclista. As pessoas têm que se atualizar e entender o trânsito como ele é atualmente. Não como era há 20 anos".

Numa autocrítica à própria "classe", José Neto enxerga uma diferença grande entre motociclistas e motoqueiros, sendo estes últimos, para ele, a maioria e principais causadores de dor de cabeça nas ruas e avenidas. "Motoqueiro é aquele dirige descalço, sem uma roupa adequada, sem se preocupar com a manutenção da moto. É aquele que corta pela direita, no lugar mais estreito. Boa parte dos acidentes é culpa, sim, da imprudência dos motoqueiros", observa. 

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Números assustam

Um dos levantamentos mais relevantes sobre mobilidade no Brasil aponta: os motociclistas são as principais vítimas do trânsito nas capitais. No "Retrato da Segurança Viária" mais recente, percebe-se o alarmante crescimento de acidentes com motos nos país. De 2002 a 2013, o número de feridos e mortos mais que triplicou. Das mais de 43 mil mortes no trânsito, em todo o país, 12.040 foram motociclistas ou passageiros de motos (este mesma estatística, em 2002, era de apenas 3.773).

Em porcentagens baseadas no total de registros elencados no país, os motociclistas representaram 37% das mortes no trânsito e 56% dos feridos. Estes números podem ser explicados também pelo aumento na frota de motocicletas no Brasil: em 11 anos, a evolução foi de 302% na quantidade de motos pelas vias. 

Nas rodovias federais, Pernambuco se destaca negativamente como o terceiro Estado do país com mais mortes de motociclistas. Segundo levantamento da plataforma Fiquem Sabendo, com base nos dados Polícia Rodoviária Federal, em 2015, Pernambuco contabilizou 151 mortes nas estradas, atrás apenas de Minas Gerais (170) e Bahia (178). É preciso repensar a segurança dos motociclistas não apenas no perímetro urbano, mas também nas vias federais cujo fluxo de motos também seja relevante.

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Tolerância prescinde qualquer busca de alternativas

Em julho de 2016, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal realizou o I Seminário sobre Segurança Motociclística. Entre os assuntos tratados, alternativas para evitar acidentes e diminuir a taxa de mortalidade de motociclistas das estatísticas. Porém, antes de mudar legislações ou dinâmicas em vias (como as polêmicas faixas exclusivas para motos, matéria do projeto de lei 346/2012, do senador Jorge Viana), não seria mais urgente rever o comportamento das pessoas neste contexto?

"Precisamos de mais tolerância, ser mais responsáveis. Se um motorista te cortou, se um motociclista triscou no retrovisor, pra que parar para discutir? De que adianta bater boca no trânsito? Todo mundo quer chegar no seu destino e todos chegarão, se formos responsáveis", avalia José Neto Brasinha, motociclista que, como tantos outros milhares, utilizam o meio de transporte como equipamento de trabalho, diariamente.

Seja nas ruas do Recife ou em São Paulo. Nas principais avenidas, abarrotadas de carros, ou nas vielas dos bairros, com crianças, cachorros e carroças pelas calçadas, a tolerância e a consciência precisam vir na frente. Em um trânsito mais humano e coletivamente responsável, o respeito sempre terá sinal verde e preferência.

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Observado a partir de uma ótica sociológica, o trânsito nas grandes cidades pode nos oferecer um amplo panorama sobre relações interpessoais. De dentro dos veículos, além de acionarmos buzinas e faróis, despejamos preconceitos muitas vezes imperceptíveis. Atividade restrita aos homens, nos primórdios, o ato de conduzir um carro ainda é, hoje em dia, cercado por um machismo às vezes velado, outras vorazmente explícito.

"Mulher ao volante, perigo constante". "Tinha que ser uma mulher". Quem nunca se deparou com tais ditos populares, culturamente repassados geração após geração? Atualmente, o empoderamento feminino vem bater de frente a este tipo de comportamento que reflete a falta de respeito no trânsito, talvez a principal problemática quando se debate o assunto. 

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Empresária e sócia de um lava jato no centro do Recife, Fernanda Ribeiro diariamente faz o trajeto da Cidade Universitária, na Zona Oeste, até a Boa Vista, área central da capital pernambucana. Seja no caminho para o trabalho ou nas rodas de conversa com amigos, percebe com clareza estereótipos machistas sobre mulheres condutoras. "O trânsito é ainda um ambiente muito machista. Você sempre escuta uma gracinha, uma crítica. Quando, na minha opinião, as mulheres têm muito mais cautela e sensatez no volante". 

Aos poucos, pessoas e instituições começam a perceber a necessidade básica de se respeitar a figura feminina no trânsito - como em qualquer outro setor da sociedade. Na Braspress, empresa de destaque na distribuição de encomendas expressas no país, mais de 200 mulheres foram contratadas para conduzirem carretas e máquinas pesadas. O número representa 42% do total de motoristas da entidade. O programa começou em 2004 e Braspress avalia que, com o maior número de motoristas mulheres, houve significativo aumento da produtividade e melhoria nos serviços de transporte rodoviário de cargas.

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Trânsito: o campo de batalha contra o tempo

Na guerra pelo espaço em avenidas e ruas de uma cidade onde a mobilidade não flui, o preocupar-se com o outro praticamente inexiste. Na concepção de Fernanda, os motoristas de ônibus estão no topo do pódio daqueles que só pensam em si. "As pessoas, em geral, não se respeitam, mas os motoristas de ônibus são os mais complicados. Mudam de faixa na hora que querem, não respeitam os carros, as motos, ciclistas. Por dirigirem um veículo maior, se acham no direito de sempre se impôr na frente dos outros", examina.

Ao analisar o espaço urbano da Região Metropolitana do Recife, ela critica a instalação de estações do sistema BRT, muitas inconclusas, cujo funcionamento prioriza fundamentalmente o transporte coletivo. "A Avenida Caxangá é um bom exemplo. Você tem a faixa do BRT de um lado, os ônibus normais na outra e fica apenas uma faixa, a do meio, para os carros (que são maioria). Pensaram um projeto de primeiro mundo para uma cidade que precisa, antes, mudar sua cultura", avalia a motorista. 

Semelhante a outras promessas do poder público, o Plano de Mobilidade Urbana do Recife segue no papel. O documento, elaborado pelo Instituto Pelópidas Silveira, pretende "orientar os investimentos públicos em infraestruturas de transportes da cidade pelos próximos anos". Previsto para 2015, o Plano segue no campo da expectativa. Enquanto isso, a imobilidade urbana dita suas regras.

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Carros, carros e mais carros. E para estacionar?

É impossível discutir o papel dos motoristas de carros de passeio sem pensar nos locais onde os veículos são estacionados. Na Região Metropolitana do Recife, o controle urbano é - para se valer de eufemismos - flexível, com regras não muito claras. É o famoso vale-tudo. Nas apertadas e antigas vias do centro do Recife, a disposição desordenada dos veículos salta aos olhos.

"Nas principais avenidas deveria ser proibido (estacionar). Nos horários de pico, dificulta muito porque, enquanto um motorista estaciona, forma logo uma fila daqueles que esperam para conseguir passar. Há muitos estacionamentos legalizados pela prefeitura que, ao meu ver, não deveriam existir", critica Fernanda Ribeiro.

O imbróglio dos estacionamentos leva, por sua vez, à questão da fiscalização dos guardas municipais. Na opinião da nossa motorista, existe uma "cultura da multa" cujas ações poucos contribuem para a mobilidade urbana. "Antes de tentar orientar, os guardas já multam. Há ruas que, só uma vez na semana, uma viatura passa para multar todo mundo. De que adianta?".

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Os ponteiros do relógio ditam o ritmo da rotina do jovem Eduardo Cavalcanti. Universitário e morador do bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, ele é usuário assíduo de transporte público e sai cedo de casa para trabalhar. Desde os 15 anos o modal é utilizado por Eduardo, e hoje, aos 25 anos de idade, usar coletivo é fundamental para o cumprimento de suas atividades. Casado e pai de uma garotinha, o estudante deixa sua residência, todos os dias, às 7h, e segue a pé em direção à Avenida Caxangá, um dos principais corredores de mobilidade da capital pernambucana.

Lá embarca no BRT, veículo símbolo das tentativas de melhorias do transporte de passageiros de Pernambuco, mas que ainda é alvo de reclamações de especialistas. Discussões à parte, esse é o primeiro veículo utilizado por Eduardo no dia. O estudante é mais um personagem do especial "O trânsito sou eu", produzido pelo Portal LeiaJá, que descreve o trânsito a partir da atitude das próprias pessoas.

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Por volta das 8h, o universitário chega à Avenida Guararapes, outro importante corredor da Veneza Brasileira. “Na Guararapes pego um coletivo para a Avenida Norte, onde desço e sigo para o Sesc, local do meu estágio”, conta o estudante de serviço social. Durante toda a manhã, Eduardo dedica seu tempo às atividades do estágio e, próximo do início da tarde, segue para a faculdade, localizada na Zona Oeste do Recife, novamente de coletivo. Eduardo é um dos 1,8 milhão de passageiros que dependem dos ônibus no Recife e Região Metropolitana, segundo levantamento do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE).

O jovem também sofre com os problemas estruturais do Recife, além de ser vítima da falta de educação de alguns motoristas de ônibus. “A gente sabe que alguns queimam parada ou correm sem tomar cuidado com as pessoas que estão dentro do coletivo”, comenta o usuário. Mas é nessa rotina, quase sempre estressante, que Eduardo está enquadrado, e ao final do dia, ele soma quatro viagens, todas de transporte público. O jovem sente na pele os efeitos dos problemas de mobilidade da capital pernambucana, mas acredita que algumas atitudes podem melhorar a rotina das vias públicas.

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As vias públicas do Recife compõem o cenário para os cidadãos que, diariamente, correm contra o tempo para cumprir suas obrigações, sejam elas pessoais ou profissionais. Em variados modais, circulam pela cidade buscando garantir o direito de ir e vir, mas a falta de mobilidade atrapalha o ritmo da população. Recife é a cidade com o trânsito mais lento do Brasil, segundo estudo realizado pela empresa Tom Tom, atuante no ramo de GPS. Se levarmos em consideração a exatidão dos números para exemplificar a imobilidade recifense, o mesmo estudo constatou que 60% das vias públicas da capital pernambucana são congestionadas.

Quem percorre as ruas do Recife conhece de perto os malefícios do trânsito travado. Mas a imobilidade não faz o povo deixar de usar o espaço público: a necessidade obriga mais de 1,6 milhão de habitantes a circularem pelas vias da Veneza Brasileira. E também por obrigação e profissionalismo, trabalhadores enfrentam diariamente o trânsito recifense. Um deles é José Cristóvão de Aguiar Xavier, 44 anos de idade, dos quais quase sete dedicados à função de motorista de ônibus.

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De acordo com o profissional, não há transtorno que ofusque sua paixão pelo volante. “Adoro ser motorista de ônibus. Antes de trabalhar com coletivo, dirigi caminhão de carga por 13 anos. Infelizmente o trânsito é muito complicado em quase todos os cantos do Recife, mas quem é profissional precisa gostar do que faz”, comenta. José é mais um personagem do especial "O trânsito sou eu", produzido pelo LeiaJá, cujo objetivo é mostrar que o trânsito é feito por pessoas, numa ótica que vai além dos problemas estruturais das cidades.

Nas mãos de seu José está a missão de transportar centenas de passageiros todos os dias. Responsabilidade a mais para o trabalhador, pois à frente de um ônibus, ele cuida da própria vida e zela pelos demais. Assim como ele, cerca de 6 mil motoristas atuam no transporte público do Recife e Região Metropolitana (RMR), vivendo corriqueiramente a imobilidade que assola grandes cidades. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), os coletivos são utilizados, diariamente, por 1,8 milhão de passageiros da RMR, bem como existem 2.900 ônibus pertencentes a 13 empresas do ramo. Todos esses números dão a dimensão do cotidiano de condutores e usuários, jogados aos pecados estruturais que dificultam ainda mais o fluxo das vias públicas.

Seis dias por semana, quase sempre a partir das 5h, seu José inicia seu bravo expediente. Ele é responsável por um dos coletivos da linha Nova Descoberta/Afogados, cujo ponto de partida é a Zona Norte do Recife e tem em seu percurso bairros da área Oeste da cidade. Com o sorriso estampado, o motorista ajeita a camisa, encaixando o último botão, e alinha a gola. Ele busca estar apresentável aos passageiros, a partir de uma postura profissional que preza, além do visual, por uma boa receptividade. “É bom sair com o carro e receber os passageiros com um sorriso e bom dia. Esse deve ser o comportamento de todo motorista”, diz.

Do terminal de Nova Descoberta, periferia recifense, seu José segue para mais uma viagem. O relógio marca 8h, enquanto que ele registra sua segunda viagem no expediente. São, ao todo, cerca de oito horas diárias de trabalho, cujas dificuldades se iniciam já na saída do terminal. Ruas estreitas, carros estacionados irregularmente, caminhões descarregando produtos para os comerciantes da região, fluxo de pedestres entre a pista, trabalhadores usando carros de mão, motoqueiros descendo e subindo ladeira com extrema velocidade... A lista de problemas é extensa, enquanto a atuação de orientadores de trânsito é inexistente em muitos bairros periféricos. É justamente nesses locais onde começa a imobilidade da RMR, assim como as reclamações dos condutores. No caso de seu José, um simples trajeto de 26 quilômetros só é possível de ser feito em torno de duas horas, somando a ida e a volta. “É complicado! Muita gente já começa a atrapalhar o trânsito daqui. O camarada têm que ter calma”, relata o motorista.

Atento ao volante e às surpresas que surgem perante o ônibus, o motorista tenta driblar as complicações das vias públicas. É preciso respirar fundo e continuar com os olhos atentos para não se meter em acidentes. Mas manter a tranquilidade num fluxo caótico nem sempre é possível, e por isso seu José busca ser paciente independente do transtorno. Passada a imobilidade da periferia, se engana quem pensa que as vias mais centrais são o 'paraíso' para os motoristas de ônibus. Eles enfrentam, mais uma vez, sequelas da falta de mobilidade, além dos conflitos que podem surgir com outros condutores. É no trânsito onde os ânimos podem se alterar quando a educação fica em segundo plano, além disso, motoristas de coletivos nem sempre são vistos com bons olhos pelos outros personagens do trânsito. Porém, seu José defende seu comportamento diário: “Procuro respeitar os outros motoristas e sempre andar na minha faixa, mas tem gente que critica motorista de ônibus. As pessoas precisam saber que é difícil dirigir um veículo desse porte”, justifica o trabalhador. E na luta diária da imobilidade, seu José também tem suas queixas. Para ele, entre as pessoas que compõem o trânsito, os motociclistas são os que “dão mais trabalho”.

Após mais uma viagem de trabalho finalizada sem acidentes, seu José se mostra tranquilo e com a sensação de dever cumprido. Mas ele sabe, por toda experiência e relatos de colegas, que nem sempre o desfecho pode ser sem problemas. Segundo o trabalhador, o trânsito se resume a uma rotina difícil, mas necessária, porque tanto ele quanto os passageiros precisam do transporte público. Sobretudo, a postura de cada indivíduo infelizmente nem sempre será a correta. “Mas se cada um fizer a sua parte, o trânsito ficará melhor”, complementa José.

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Por um trânsito melhor

Segundo o instrutor de direção defensiva Nilton Miranda, todo cidadão que faz parte do trânsito - partindo da ideia de que as pessoas são responsáveis pelo fluxo e comportamento nos espaços públicos - pode tomar atitudes para diminuir os problemas do dia a dia. É muito provável que condutores, passageiros e pedestres se deparem com discussões e erros que causam acidentes, mas o lado emocional deve estar equilibrado para que os imprevistos não terminem em discussão. “São necessárias mudanças de mentalidade e muita esperança para que as coisas melhorem. No caso dos ônibus, quando o cliente (passageiro) é mal educado a orientação para o motorista é que ele responda com gentileza. A partir do momento em que o motorista age positivamente, o usuário é induzido a agir da mesma forma. Mas quando o condutor não consegue gerenciar o conflito e discute, o risco de acidentes aumenta”, explica o instrutor.

Miranda tem experiência em capacitações direcionadas para motoristas de ônibus e reconhece que o dia a dia desse profissional apresenta inúmeros desafios.  “Dirigir ônibus, principalmente urbano, não é nada fácil, pois as adversidades são muitas. Trânsito, horários apertados para cumprir, falta de estrutura em muitos terminais, passageiros estressados e nervosos são alguns exemplos de dificuldades. Quando falamos em direção defensiva, conscientizamos nossos motoristas da responsabilidade que é dirigir um coletivo, porque os veículos de maior porte são sempre responsáveis pela segurança dos menores”, justiça.

Para evitar acidentes, o instrutor explica que o motorista de ônibus precisa entender em quais circunstâncias ele precisa reduzir a velocidade. “A orientação é que, ao se aproximar de qualquer tipo de cruzamento ou interseção, o condutor do veículo deve demonstrar prudência especial, transitando em velocidade moderada, e mesmo que tenha a preferência deve trocar pela segurança. A gente sabe também que muitos motoqueiros se envolvem em acidentes de trânsito e para evitar acidentes com esses condutores, trabalho durante as capacitações a direção preventiva, em que o motorista de ônibus aprende a ampliar sua visão periférica, se antecipando, prevendo e evitando o acidente”, descreve o educador. Por fim, o instrutor insiste na importância da educação no trânsito e respeito aos outros condutores, passageiros e pedestres. “A solução pata melhorar o dia a dia é a educação, o conhecimento das normas de trânsito, porque o trânsito só vai melhorar quando a gente mudar”, finaliza.

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A cidade não para. Cada minuto representa uma fração da viagem rumo ao destino de quem precisa se locomover pelo espaço público das metrópoles. Seja qual for o modal utilizado, diariamente a população necessita ganhar as ruas e enfrentar o trânsito. O estressante, violento e travado trânsito nosso de cada dia.

Passos apressados ditam o ritmo dos pedestres, enquanto as buzinas alertam os condutores, que correm contra o tempo para resolver suas obrigações. Juntos, são cidadãos e cidadãs que vivem as cidades e as movimentam. Mas a convivência não é pacífica: os conflitos no trânsito são uma fonte inesgotável de estresse para uma multidão de pessoas.

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Não bastasse a falta de estrutura dos bairros periféricos, que ao passar do tempo não ganharam melhorias para receber carros, caminhões, bicicletas, ônibus, entre outros veículos, as vias centrais sofrem com a falta de mobilidade. Sofre o condutor, pena o passageiro, se assusta o pedestre, reclama o ciclista, se irrita o motociclista, e todos seguem insatisfeitos.

Muito se fala do excesso de veículos nas vias, da falta de sinalização, das condições precárias das ruas e calçadas. Muito se discute sobre carros, ônibus, bicicletas, motos, sobre faixas de pedestres, semáforos, limites de velocidade, placas, todos itens importantes e essenciais para se entender e planejar o trânsito. Mas não estamos esquecendo o mais importante? Não estamos deixando de colocar em primeiro lugar o real motivo para a existência do trânsito? O vilão, a vítima, o combustível, o 'item' central desta lista: as pessoas? É razoável imaginar que ainda que não houvesse nenhuma regra ou lei de trãnsito, se houvesse respeito e empatia nosso trânsito seria muito menos mortal e estressante?

O especial 'O trânsito sou eu', o LeiaJá se propõe a colocar as pessoas no centro do debate sobre mobilidade. Claro que a estrutura das vias ou o excesso de automóveis influenciam diretamente a tragédia brasileira no trânsito, que mata cerca de 50 mil pessoas por ano, mas não são estes objetos os sujeitos do trânsito. Cada carro, ônibus ou moto está ali apenas porque é guiado por um ser humano. O trânsito é você.

A máxima 'você não está parado no trânsito, você é o trânsito' alerta para uma verdade que parece escapar muitas vezes: não são carros, motos ou ônibus parados em um engarrafamento, são pessoas. Não são em carros que devemos pensar quando pensamos em trânsito, mas em cada cidadão que sai de casa diariamente para cumprir sua jornada de trabalho, de estudo, que se desloca na metrópole. Talvez nosso trânsito seja tão violento porque estamos tratando pessoas como automóveis, e automéveis não têm dignidade, não têm direito à vida. Assim, 'coisificamos' o trânsito e estamos nós mesmos, com a ajuda da precária estrutura viária e urbana, fazendo do nosso deslocamento diário uma experiência infernal.

Nesta série de reportagens especiais 'O trânsito sou eu', não focamos nas estatísticas ou fundamentações acadêmicas; nem nos preocupamos em conseguir as muitas vezes redundantes explicações do poder público. Trazemos seis histórias, seis pessoas, seis cidadãos e cidadãs que convivem - e competem - por espaço nas vias do Grande Recife, metrópole com cerca de 4 milhões de habitantes.

Você vai conhecer José Cristóvão de Aguiar Xavier, de 44 anos de idade, dos quais quase sete dedicados à função de motorista de ônibus. Guiando o maior dentre os veículos do nosso trânsito, ele ainda tem a responsabilidade extra de cuidar de dezenas de passageiros.

 

Passageiros como Eduardo Cavalcanti, que diariamente pega pelo menos quatro ônibus. O jovem é um dos quase 2 milhões de usuários do transporte coletivo do Grande Recife. 
 

Vai encontrar Fernanda Ribeiro, que se desloca de carro e é dona de um lava jato. Além da rotina estressante de engarrafamentos, ela também vive o ambiente machista do trânsito, no qual ainda existem expressões como 'mulher ao volante, perigo contante'.

 

José Neto 'Brasinha' há seis anos se desloca sobre uma moto. Ele, que também é músico, usa a motocicleta ainda para trabalhar, aproveitando da agilidade dela para fazer entregas e serviços.

 

Aquele ciclista pelo qual você passa de dentro do seu carro ou de um ônibus pode ser Ubirantan de Medeiros. Apelidado de Bira, ele usa a bicicleta como meio de transporte há mais de duas décadas e diariamente se desloca com a sua pela Região Metropolitana do Recife.

Moradora de um bairro do centro da cidade, a Boa Vista, Karina Moutinho faz seus principais deslocamentos a pé. Faculdade, academia, movimentos diários em que ela não conta com pedais, motores ou armaduras de metal, apenas com as próprias pernas. E muita atenção.

 

Ao fim, em videodocumentário, trazemos todos os seis, suas opiniões e vivências, seus 'mea-culpas' e também seus pedidos para que deixemos de lado a agressividade, substituindo irritação por gentileza, disputa por cooperação, xingamentos por mais cuidado, automóveis por pessoas. Que você, leitor, se identifique, crie empatia, e seja parte de um trânsito e uma cidade cada vez mais humanos.

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