Etnias indígenas de várias partes do mundo estão reunidas na cidade de Palmas, Tocantins, para a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) que começaram na última sexta-feira (23) e seguem até o dia 1º de novembro. Além das disputas esportivas com jogos típicos, o evento oferece oportunidade de discutir temas que sejam de interesses da população e cultura indígena. Espaços como a “Oca da Sabedoria”, e as comissões do Fórum Social e a Agenda de Convergência de Proteção dos Direitos Humanos do evento organizam debates e oficinas com o restante da comunidade indígena enquanto os atletas competem.
Na tarde do dia 23, algumas horas antes da abertura dos Jogos, manifestantes das etnias brasileiras Gavião Kyikatejê, do Pará; Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso; e os Pataxó, da Bahia, protestaram contra a Proposta de Emenda Constitucional - PEC 215, que limita e modifica as decisões de demarcação de terras indígenas. Segundo os manifestantes, o protesto reuniu mais de 200 indígenas em frente à Arena Green, local da cerimônia de abertura. Porém, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) declarou que eram apenas 80 participantes. Mais tarde, durante a festa de abertura com a presença da presidente Dilma Rouseff, um representante da etnia Xavante dirigiu a palavra à presidente pedindo uma posição em relação à PEC 215 e às mortes dos Guaraní-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, mas Dilma não se manifestou.
##RECOMENDA##No terceiro dia do evento, domingo (25), a Agenda de Convergência de Proteção dos Direitos Humanos dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e diversos representantes do governo federal, estadual e municipal reuniram-se com representantes das comunidades indígenas presentes, para discutir criticas e sugestões na infraestrutura do evento. Dentre as melhorias solicitadas estão inspeções nos ônibus que transportam as delegações indígenas, trazer o artesanato das comunidades participantes até o local do evento, melhor distribuição de água nos alojamentos e transporte para levar os indígenas a supermercados e bancos.
Ainda no domingo, enquanto os atletas competiam na arena pela manhã, o Fórum Social Indígena apresentava na Oca da Sabedoria um painel internacional sobre agricultura familiar indígena. A saúde feminina e a mortalidade infantil também foram tema de debate durante a Oficina da Saúde da Mulher Indígena que aconteceu pela tarde. Mulheres de diversas etnias nacionais reivindicaram mais políticas públicas e condições de tratamento para doenças como câncer de colo de útero, diabetes e doenças sexualmente transmissíveis.
Já nesta segunda-feira (26), a Oca da Sabedoria sediou a Roda de Diálogos sobre Sustentabilidade e Mudanças Climáticas. Lideranças indígenas criticaram fortemente a eficácias das conferências ECO 92 e RIO+20, realizadas respectivamente nos anos de 1992 e 2012, no Rio de Janeiro. Os debates feitos serão transformados em uma Carta de Declaração dos Povos Indígenas que será apresentada em dezembro na Conferência do Clima (Cop21), em Paris.
Pão e circo
As etnias Apinajés e Krahô, de Tocantins, recusaram o convite para participar dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e seus líderes publicaram notas de repúdio ao governo pela realização do evento. Segundo o líder Apinajé, os Jogos são um “circo para turista ver”, pois acredita que o dinheiro investido na realização do evento poderia ser aplicado em soluções de problemas urgentes como a demarcação de terras, saúde e os conflitos agrários com grandes fazendeiros e empresas latifundiárias.
“Quem vai sair ganhando com os Jogos é a cidade de Palmas, os restaurantes, hotelaria. E nós indígenas, que somos os protagonistas, vamos lá e depois voltamos do mesmo jeito que fomos”, declarou o líder Renato Krahô em estrevista à BBC Brasil.
Os jogos
Os Jogos dos Povos Indígenas já tiveram 12 edições nacionais e esta é sua primeira edição internacional, com a participação de povos indígenas de 24 países e de 23 etnias brasileiras. Com o tema “Em 2015, somos todos indígenas”, o evento é composto por 13 dias de programações que vão desde de competições esportivas a debates e oficinas de questões que envolvam a comunidade indígena.
As modalidades são divididas em jogos de integração, jogos de demonstração e jogos ocidentais. Na primeira modalidade, são disputados esportes tradicionais praticados na maioria das culturas indígenas, como arco e flecha, arremesso de lança e canoagem. Já os jogos de demonstração são modalidades particulares de etnias específicas praticados pelos seus respectivos integrantes, como o Akô, uma espécie de corrida de revezamento praticada pelos povos Gavião Kyikatêjê e Parketejê do Pará. Nos jogos ocidentais, os indígenas competem no esporte mais praticado do mundo, o futebol.