O reajuste dos combustíveis anunciado na quinta-feira, 6, pela Petrobras e o fim da defasagem em relação aos preços internacionais darão fôlego financeiro para a petroleira, mas não serão suficientes para a estatal cumprir o seu plano de investimentos apenas com geração de caixa. Um estudo feito com exclusividade para o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, pelo professor do Insper e diretor da M2M Consultoria, Eric Barreto, calcula que a Petrobras precisaria de mais cerca de R$ 10 bilhões para conseguir repetir ao longo dos próximos 12 meses o mesmo ritmo de investimento feito no primeiro semestre deste ano.
"O aumento melhora bastante a situação da Petrobras, mas não resolve completamente a questão dos investimentos. Para isso, a empresa teria que também gerar mais caixa, o que poderia vir por meio do aumento de produção", afirmou Barreto.
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O atual plano de negócios da Petrobras prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões de 2014 a 2018. O setor com a maior fatia de investimentos nos próximos quatro anos é o de exploração e produção, com 70% do total.
Além do aumento de produção, a Petrobras pode recorrer também a novos financiamentos e ainda à venda de ativos para tentar fechar a conta do seu orçamento. A estatal já informou que trabalha em um plano de desinvestimento para se desfazer de projetos que não são estratégicos. O problema da alternativa do financiamento é que ao se elevar o endividamento, a companhia iria pressionar ainda mais seu nível de alavancagem.
O estudo feito por Barreto mostra também que o reajuste e o fim da defasagem terão impacto estimado em R$ 16,8 bilhões no lucro líquido da Petrobras ao longo dos próximos 12 meses. Só o reajuste irá gerar uma receita adicional de R$ 8,1 bilhões no mesmo período.
"Mesmo com a rentabilidade baixa, a Petrobras já estava gerando resultados positivos. A geração de caixa, no entanto, era menor do que o potencial dela", afirma. O professor do Insper faz um paralelo entre a companhia e as concorrentes internacionais. De 2011 a 2013, a margem de lucro era negativa na Petrobras, enquanto empresas do mesmo setor no mundo tinham o porcentual oscilando entre 0,8% e 3,5%.
O especialista em petróleo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Maurício Canedo ressalta que Petrobras tem um plano de investimento ambicioso, mas que, "com o represamento dos preços dos combustíveis por meses, estava em uma situação difícil, a ponto do preço do petróleo cair e a companhia comemorar, o que é impensável para uma petroleira". Canedo chama atenção para os efeitos positivos do reajuste no plano de negócios. Com mais geração de caixa, a empresa não vai ter tanta necessidade de recorrer a dívidas ou de vender ativos para levantar os recursos necessários ao desenvolvimento do pré-sal e à conclusão, ao menos, de duas refinarias, a Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj, no Rio de Janeiro.
"Não é possível saber o quanto de fôlego a empresa ganha com essa proporção de reajuste, mas a notícia é boa do ponto de vista da capacidade da Petrobras cumprir o seu plano de negócios, exatamente em um momento em que acaba de ter sua nota rebaixada pela Moody's e que vai pagar mais caro por financiamento", afirmou o especialista. Além disso, diz que o reajuste não resolve completamente o problema da estatal, "mas sinaliza na direção correta" de que reajustes serão concedidos periodicamente.
Tiago Biscuola, economista da RC Consultores, diz que o tamanho do alívio que o reajuste trará à companhia está condicionado ao retorno ou não da cobrança da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) no preço da gasolina. A expectativa é que o governo retome o imposto para aumentar a arrecadação. A Cide está zerada desde 2012. Esse foi a solução, na época, que o governo encontrou para aumentar os preços dos combustíveis sem afetar a inflação. "Se a Cide realmente voltar e se não for repassada para o consumidor, a Petrobras vai ter outro peso sobre seu caixa", destacou.