Tópicos | antifa

Após ataques contra estátuas de personalidades escravocratas e racistas no Reino Unido e na Bélgica, manifestantes se voltaram contra monumentos em homenagem a Cristóvão Colombo nos Estados Unidos.

Em Richmond, na Virgínia, uma estátua do explorador italiano foi derrubada e atirada em um lago. Já em Boston, Massachusetts, manifestantes "decapitaram" uma escultura de Colombo.

##RECOMENDA##

Para os manifestantes, o explorador simboliza o "genocídio" dos povos americanos nativos e a violenta colonização europeia no continente.

[@#video#@]

Nos últimos dias, a Prefeitura de Antuérpia, na Bélgica, já havia anunciado a retirada de uma estátua do rei Leopoldo II, patrocinador de atrocidades na atual República Democrática do Congo, sua antiga propriedade particular.

Já no Reino Unido, manifestantes derrubaram a estátua de um traficante de escravos chamado Edward Colston.

Da Ansa

Neste domingo (7), manifestantes de um protesto contra o racismo, em Bristol, Reino Unido, derrubaram uma estátua de um traficante de escravizados do século XVII.

Em meio a um protesto em Bristol, Reino Unido, em solidariedade às manifestações estadunidenses contra o racismo após o assassinato de George Floyd, manifestantes derrubaram uma estátua do traficante de escravizados, Edward Colston, que viveu entre 1636 e 1721. A movimentação foi publicada em vídeos nas redes sociais:

##RECOMENDA##

[@#podcast#@]

Os manifestantes derrubaram a estátua e depois rolaram o monumento até um rio que corta a cidade britânica. Em seguida, despejaram a estátua de Colston no rio.

Os protestos que continuam nos Estados Unidos contra o racismo e a violência policial foram deflagrados após o assassinato de George Floyd. O homem negro foi asfixiado por policiais que pressionaram suas costas e pescoço até sua morte. A ação policial foi filmada e viralizou, gerando revolta nos EUA.

Diversas manifestações semelhantes ocorrem na Europa tanto em capitais como cidades menores. É o caso de Paris, Londres, Madrid, Barcelona e Amsterdã.

Da Sputnik Brasil

Desde o último domingo (31), quando grupos antifascistas ligados a torcidas organizadas de times de futebol organizaram atos pela democracia e contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em várias cidades, têm surgido postagens nas redes sociais com imagens de uma bandeira associada ao movimento antifascista, com usuários se identificando com esse posicionamento político. O LeiaJá ouviu professores e uma ativista para explicar o conceito de antifascismo e o que significa a bandeira antifa, como o movimento também é chamado. 

O que é o fascismo?

##RECOMENDA##

Karl Schuster é historiador e professor há 17 anos, fez pós-doutorado em História Contemporânea pela Universidade Livre de Berlim e atualmente é livre docente da Universidade de Pernambuco (UPE). Ele explica que: “entende-se por fascismo o conjunto de movimentos políticos que pavimentaram a chegada da extrema-direita ao poder na Europa durante a década de 1920”, mas também as manifestações contemporâneas que se dão dentro de sistemas democráticos e tentam destruir o estado democrático de direito aos poucos. 

“O modo de atuar no novo fascismo promove uma erosão do ambiente democrático. A erosão é gradual, cria inimigos internos, produz isolamento, enfim, ameaça o sistema como um todo. Daí a importância do uso do plural, fascismos. O nazismo foi, em verdade, um tipo de fascismo. Esses movimentos são aquilo que o historiador alemão Ernst Nolte chamou de Anti, são antiliberais, anticomunistas, antimarxistas. O alimento da política e do discurso fascista é a eterna sensação de que o país vai de mal a pior e que apenas eles, os fascistas, seriam capazes de restituir o que a sociedade perdeu, seja por defender um ultra fanatismo em costumes, retomando pautas já superadas, ou com o discurso de que são a própria renovação de uma política carcomida pela corrupção”, explicou o professor. 

No Brasil, de acordo com o professor de história José Carlos Mardock, o fascismo teve uma relação forte com o governo de Getúlio Vargas no período ditatorial do Estado Novo, perseguindo seus opositores. “O escritor alagoano Graciliano Ramos, que era membro do Partido Comunista Brasileiro, foi um dos presos políticos do Estado Novo a transitar pelos calabouços da repressão. Toda a sua experiência está relatada no livro Memórias do Cárcere”, contou Mardock.

Jones Manoel tem 30 anos, é historiador, mestre em serviço social, educador e comunicador popular, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do movimento negro. Ele explica uma das manifestações do fascismo no Brasil se deu por meio do Integralismo, liderado por Plínio Salgado, num grande partido que chegou a ter mais de 80 mil militantes. 

“Basicamente defendia resgatar uma ideia de brasilidade dentro de um programa nacionalista conservador, violentamente anti comunista, anti sindicatos, anti militância que misturava positivismo com fascismo e supostas tradições reais do Brasil. O Brasil desde os anos 1930 para cá nunca teve movimentos de massa fascistas, mas sempre teve pequenos grupos que reivindicam o nazismo, o nazifascismo, via de regra agindo numa perspectiva de gangue, fazendo ataques contra mendigos, homossexuais, pessoas em situação de rua e por aí vai”, disse Jones.  

Movimento e bandeira antifascista

Os movimentos de resistência aos diferentes tipos de fascismo surgem porque, como explica o professor Karl, “O fascismo não morreu com Hitler ou com o fim da segunda guerra mundial. Da mesma forma que os fascistas e as condições sociais para sua existência continuaram existindo, a resistência também. Sempre existirão [ameaças fascistas] enquanto continuarmos com as condições sociais do fascismo. Para mim, fascismo é a negação do outro. É um forte problema de alteridade e de entendimento de existência do outro como inimigo a ser aniquilado”, explicou o professor. 

Ele também conta que o enfrentamento ao fascismo nem sempre nasce de grupos necessariamente denominados antifascistas ou em momentos em que a ameaça é iminente e muito forte, mas também de pautas de movimentos da sociedade civil em busca de mais democracia. 

“[Há movimentos que] não são necessariamente antifascismo, eles abraçam essa pauta por serem movimentos que vigiam, garantem o mínimo de manutenção do estado democrático. Eles são fundamentais para a democracia e existem mesmo sem o fascismo como perigo eminente. Eles nascem da sociedade civil organizada. Nascem da natureza desigual do estado e se fundam numa luta constante por reconhecimento e autonomia das minorias ou de pautas de inclusão, de direitos humanos ou mesmo de reforma agrária, no caso do passado recente do Brasil”, disse o professor Karl Schuster. 

Os movimentos conhecidos como “antifas” surgiram, segundo o professor Mardock, da união entre os partidos Comunista Alemão (KPD) e o socialista alemão (SPD) da luta contra o fortalecimento nazista na década de 1930. “Os partidos KPD E SPD, juntos, venceram Hitler nas eleições de 1933, daí a justificativa para as bandeiras”, explicou ele.

Já o professor Karl conta que a imagem das duas bandeiras, que também aparecem em vermelho e preto, representam uma ideia da criação de uma frente única contra o fascismo e também representam o anarquismo. “Essa bandeira representa a ideia de frente única, a ideia de que todos que são antifascistas estariam unidos, ao menos naquele momento, contra a avalanche fascistizante. As cores representam o anarquismo, o socialismo libertário. Liberdade de quaisquer tipos de hierarquia e coerção são fundamentais nessas duas correntes, que têm rejeitam o socialismo clássico por não aceitarem a hierarquia. Para ambos, o controle centralizado deve ser destruído e abolir o controle autoritário sobre os meios de produção é a ideia central”, contou ele.

De acordo com o historiador, educador e mestre em serviço social, Jones Manoel, havia uma disputa entre anarquistas e comunistas pela “cabeça” do movimento operário, mas diante da ameaça de um grande inimigo maior, foi necessário unir forças. “Como o fascismo tem a característica de montar suas tropas de choque, suas milícias armadas, o antifascismo se dava a partir de ações de massa, debates, ações culturais, mas também ações de rua para tentar intimidar os fascistas e não deixar que eles tomassem conta da arena pública. Aqui no Brasil teve um famoso evento antifascista, a batalha da Praça da Sé, quando antifascistas de variadas matizes se uniram para expulsar os integralistas numa batalha que envolveu muita porrada, agressões físicas e alguns tiros, num episódio em que os comunistas colocaram os fascistas para correr no episódio que ficou conhecido como a ‘revoada das galinhas verdes’. Basicamente os grupos antifas surgem da percepção do movimento operário do perigo que o fascismo representa”, explicou ele.

Reunião de grupo da Juventude Integralista, grupo fascista brasileiro/Domínio Público

Militância on-line e nas ruas

A advogada Ana Cristina Rossi, de 28 anos, é natural de Florianópolis mas mora em São Paulo desde 2013, ano em que começou a participar de manifestações de rua. Em 2016, junto com outros dois amigos, ela fundou o Coletivo Pela Democracia, com o objetivo de promover atos e impedir o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Recentemente, em decisão conjunta com os demais administradores do coletivo, o grupo mudou de nome e passou a se chamar “Coletivo Democrático Antifascista M14”. 

“Com o avanço dos retrocessos e os absurdos que o Presidente vinha propagando dia a dia, a ineficiência desse governo no combate ao Covid-19, foi gerando uma revolta muito grande, então sugeri um novo nome. Sempre tivemos esse posicionamento antifascismo, contra a extrema-direita, racismo, xenofobia. Nossa ideologia é completamente voltada ao socialismo, comunismo, de forma que a gente era a oposição da oposição para esse governo. O discurso desse governo é fascista, nossa principal pauta é a democracia”, contou ela. 

Questionada sobre a razão para, em sua opinião, ter crescido o volume de pessoas nas redes sociais se identificando como antifascistas, Cristina aponta uma conexão entre os atos contra a violência policial que têm ocorrido nos Estados Unidos e a realidade violenta que também é fortemente enfrentada nas periferias do Brasil. 

“Eu acredito que tenha relação em primeiro lugar com o movimento #blacklivesmatter. Esse movimento se alinhou muito com o que está acontecendo aqui no Brasil, o número de mortos nas periferias do Brasil, a forma como a polícia atira indiscriminadamente no povo preto. Dois coletivos se reuniram para combater esse fascismo crescente na América: Democracia Corinthians e Palmeiras antifascista, se eu não me engano, estavam na [Avenida] Paulista com uma pauta muito bacana, Anti Bolsonarista, e houve confronto com a polícia. Isso tudo foi uma das razões para deixar bem claro o que eu já sei desde sempre sofremos com a ação da PM do governo de SP, mas agora eles se sentem legitimados”, afirmou a advogada. 

Jones Manoel, de 30 anos, nasceu na favela da Borborema, zona sul do Recife. Negro, filho de empregada doméstica e órfão de pai aos 11 anos, precisou trabalhar ainda na adolescência e conta que aos 19 anos um amigo lhe apresentou a universidade. A partir desse momento, ele começou a se empenhar para o vestibular e conseguiu a aprovação, montando depois um cursinho popular ao descobrir que junto a outros dois amigos de sua comunidade, eles eram os primeiros daquela região a entrar na universidade. O projeto durou dois anos e ajudou 30 jovens a serem aprovados. 

Durante sua vida de militância, além do PCB e do movimento negro, Jones participou de outros espaços de luta política, como o movimento estudantil, movimento passe livre e jornadas de junho, entre outras atividades. Questionado sobre as razões pelas quais acredita que as imagens da bandeira antifascista passaram a ter um compartilhamento massivo nas redes sociais desde o último final de semana, Jones aponta tanto para o perfil autoritário do projeto bolsonarista de governo quanto para os atos pró-democracia e antifascistas realizados no domingo (31). 

“Os atos de domingo abertamente se colocando em defesa da democracia numa perspectiva popular e antifascista, deram um gás, renovaram esperança e chamaram atenção. Eu acho que é por isso que se colocou essa ideia do antifascismo, porque não existe mais dúvidas que o projeto bolsonarista é fascista. O governo não é fascista, o Estado não é fascista, o fascismo enquanto regime político não está implantado no Brasil e nem eu acho que vai, espero estar certo, mas Weintraub, Ricardo Salles, Bolsonaro, são ideologicamente fascistas, têm uma simbologia fascista e vários grupos fascistas os apoiam”, diz.

LeiaJá também

--> Manifestos pró-democracia ganham força e unem rivais

--> A história alerta: o nazismo não deve ser saudado

--> Bolsonaro republica tuíte de Trump contra movimento antifa

A morte de George Floyd os levou às ruas para expressar sua raiva, às vezes com violência. Mas quem são esses manifestantes? O presidente Donald Trump os considera esquerdistas radicais violentos, mas vários especialistas alertam que as coisas não são tão simples.

Dezenas de carros de polícia destruídos, alguns queimados, agentes feridos, uma delegacia em chamas, protestos violentos em frente à Casa Branca... Há três dias, essas são as imagens dos Estados Unidos que circulam pelo mundo inteiro.

As cenas de violência se multiplicam por todo país. Começaram em Minneapolis, epicentro do movimento, onde George Floyd, um homem negro de 46 anos, morreu após ser preso e imobilizado por um policial branco que pressionou os joelhos em seu pescoço, impedindo-o de respirar.

Para Trump, são grupos organizados, principalmente do movimento de extrema esquerda Antifa, o qual ele incluirá na lista de organizações terroristas, conforme anunciou.

"Do ponto de vista factual, não é verdade que a maioria das pessoas envolvidas nesses protestos, ou em atos de destruição de propriedade, se identifiquem como Antifa, ou antifascistas. Não há evidências para sustentar isso", disse Mark Bray, autor do livro "O antifascismo".

"Me parece bastante óbvio que é um esforço da direita para deslegitimar o movimento de protesto", acrescentou.

Embora parte dos confrontos mais sérios, especialmente em Nova York, tenha ocorrido à noite, após grandes manifestações onde as pessoas gritavam "Não consigo respirar!" - as últimas palavras de Floyd -, também houve embates em plena luz do dia em algumas cidades.

"A maioria das pessoas que protestam não quebra nada, mas o percentual daqueles que participam, ou são simpatizantes, com [depredações] parece ser mais alta do que o normal", estimou Bray.

- Um país "em chamas" -

Várias autoridades eleitas, desde Trump até a prefeita democrata de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, denunciaram a presença de manifestantes vindos de outras cidades com o objetivo de semear o caos.

Segundo diversos jornalistas que consultaram os arquivos policiais, a proporção seria na realidade inversa.

O contexto é importante: tudo isso ocorre em meio ao maior confinamento do século, com grande parte da população em isolamento há mais de dois meses.

"Há muitas coisas que fazem com que os EUA estejam em chamas neste momento", destacou a escritora Michelle Goldberg em uma coluna no jornal "The New York Times".

"O desemprego em massa, uma pandemia que expôs desigualdades mortais no acesso à saúde e no plano econômico", enumerou.

"Adolescentes sem muita ocupação, violência policial, extremistas de direita que sonham com uma segunda guerra civil e um presidente sempre pronto para jogar mais lenha na fogueira", completou Michelle.

Em seus inúmeros tuítes, Trump mencionou as manifestações apenas para denunciar a violência e acusar governantes locais de "pegarem leve", nunca para reconhecer a amplitude do movimento, em sua maior parte pacífico.

"Estou cansada, estou farta, já basta", confessa Chavon Allen, uma mãe negra que protestou no centro de Houston.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando