Passado mais de um mês que o Governo do Estado anunciou a transferência do setor de onco-hematologia da Fundação Hemope para o Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), funcionários e pacientes do Hemocentro continuam a protestar sobre a mudança. Na manhã da quarta-feira (12), um grupo chegou a fechar o trânsito em frente à unidade e um funcionário que atua no órgão entregou ao LeiaJá um documento, que segundo ele seria referente ao fechamento da ala de oncologia. No material, a um termo de comprometimento entre Hemope e a Secretaria Estadual de Saúde. E o conteúdo revela problemas com o encerramento do espaço, além de em alguns trechos trazer informações que contradizem com o que foi anunciado pelas entidades.
O primeiro ponto é que de acordo com Governo, a transferência do centro para o Hospital de Câncer traria melhorias para os pacientes. Porém, no documento, é apontado que haverá uma redução de leitos que será oferecido pelo HCP. A unidade hospitalar não receberá pacientes com suspeitas de doenças hematológicas sem a confirmação do câncer. Os chamados pacientes novos – pessoas que ainda não realizaram nenhum tipo de diagnóstico, não poderão realizar no HCP, o mesmo serviço oferecido pelo Hemope.
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Esses pacientes terão que chegar ao Hemope com um diagnóstico de câncer concluído, para através da Fundação, serem encaminhados para o HCP e realizarem o tratamento. A fonte, que preferiu não ser identificada, afirma que essa mudança irá prejudicar os pacientes. “Antes era tudo feito no Hemope, agora, quem precisar disso, terá que ir para as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou alguma Unidade de Saúde da Família, para começarem o diagnóstico, depois de confirmado, é que poderá ir ao Hemope para daí, ser encaminhado para o HCP. Tem paciente que demora até seis meses para fazer um diagnóstico, como é os profissionais da UPA terão condições de identificar isso, se muitas vezes, nem uma agulha pra fazer um mielograma – exame que diagnostica doenças como leucemia - eles tem”, questiona.
O material explica também que caberá a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, envolver outras unidades de tratamento hematológico no processo diagnóstico. A fonte assegura que, no entanto, o Estado não possui nenhum outro local que realize o procedimento. Outro item afirma que todos os pacientes serão transferidos apenas com referências e após autorização do HCP. As pessoas que ainda não tiverem com um diagnóstico completo, de algum tipo de câncer hematológico, não poderão ser atendidas no Hemope e nem no Hospital do Câncer.
Outra mudança relatada é que os pacientes com diagnóstico de câncer em situação clínica grave e internados na enfermaria ou Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), deverão aguardar uma equipe de hematologistas do HCP visitarem o Hemope, para que seja decidido quando será realizada a transferência para a enfermaria do Hospital do Câncer. Além disso, todas as unidades de tratamento oncológico da Fundação serão gradativamente desativadas, e seus pacientes, transferidos para o HCP.
Com o fechamento de tal ala da Fundação Hemope, pacientes do setor onco-hematológico, com quadro clínico mais grave, não terão uma UTI específica para o tratamento. A fonte alega que o Hemope é o único hospital que tem possui tal unidade de tratamento em todo Norte-Nordeste. Ainda de acordo com a fonte, equipamentos comprados para o Hemope, teriam sido doados para o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), instituição privada que tem convenio com o Sistema Único de Saúde (SUS). “O quinto andar do Hemope está pronto para uso, foi gasto dinheiro público nisso, e ao invés de aproveitar a reforma para ampliar a quantidade de leitos, o secretário de saúde fechou o lugar e pronto. Muitos materiais caríssimos foram doados para o IMIP”.
Ela afirma ainda, que pacientes que sofrem de problemas onco-hematológicos estão sendo tratados no HCP, no mesmo local de pacientes com outros tipos de câncer. “Um paciente onco-hematológico está o tempo inteiro em aplasia, ou seja, ele não tem defesas imunológicas suficientes para estar fora de um filtro específico, que purifica até o ar que o paciente respira. Todo esse material que tinha no Hemope foi transferido para o IMIP, só as crianças que estavam no Hemope foram para lá, mas os adultos não receberão o mesmo tratamento, pois o HCP não tem esse equipamento”.
A equipe do LeiaJá entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado (SES) para obter uma resposta sobre a denúncia. Segundo a assessoria, a informação da doação de equipamentos para o IMIP não procede. Quanto aos outros pontos da denúncia, a SES informou que não caberia à secretaria, pois seria responsabilidade da Fundação Hemope. Em resposta aos questionamentos, a Fundação mandou a seguinte nota. Confira a íntegra:
“A Fundação Hemope, reafirmando o seu compromisso com os usuários do SUS e alinhada às diretrizes do Programa Nacional do Sangue e Hemoderivados, vem a público prestar os seguintes esclarecimentos à população sobre a necessidade de mudança do Perfil Assistencial do Hospital do Hemope, a partir de março do corrente ano:
1- Durante o período de transição, todos os pacientes do Hemope continuarão a ser assistidos normalmente, sem descontinuidade no tratamento.
2- Os pacientes atualmente internados no Hemope serão transferidos, gradualmente e respeitando seu quadro clínico, para o Hospital de Câncer de Pernambuco, onde serão assistidos por equipes multiprofissionais, compostas por médicos hematologistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas.
3- Os atuais pacientes onco-hematológicos assistidos no ambulatório do Hemope continuarão seus atendimentos, até que haja necessidade de internamento. Somente os casos novos diagnosticados, e os casos que necessitem de internamento passarão a ser assistidos no Hospital de Câncer de Pernambuco.
4- O Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), unidade com vocação e especialização para tratar todos os tipos de cânceres no Estado, acolherá esses pacientes, promovendo uma maior resolutividade dos casos em função de sua infraestrutura mais adequada.
5- O novo bloco do HCP abrigará um centro de tratamento para esses pacientes com estrutura de apoio composta de um centro de imagem completo, com radiologia, tomografia e endoscopia, além de radioterapia e exames de apoio e diagnóstico e de contar com profissionais de diversas especialidades clínicas.
6- Em sua estrutura, o HCP comportará ainda um Centro de Transplante de Medula Óssea, como programado pelo Governo do Estado/SES, que possibilitará a realização de transplantes, logo que indicado.
7- A mudança representa a transferência apenas dos pacientes internados, portadores de leucemias e outras doenças onco-hematológicas, para o Hospital do Câncer de Pernambuco, que recebeu investimentos do Governo do Estado e passa a ser o Centro de Referência para o Programa de Oncologia de Pernambuco. A mudança de perfil atende ao Planejamento Estratégico da Fundação Hemope, foi aprovado pelo Conselho Estadual de Saúde, consta do Plano Estadual de Saúde – PES 2012-2015 e, ainda, obedece à estratégia do Ministério da Saúde.
Ass: Presidência da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco Fundação Hemope”