O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta segunda-feira (3) que as regras operacionais da Polícia Federal (PF) "foram rigorosamente respeitadas" na operação Porto Seguro. "A PF tem autonomia funcional e nem eu nem a presidenta estamos acima da lei", disse ele. "Qualquer informação que nos passassem fora do padrão seria vazamento", explicou. Cardozo negou que esteja demissionário, como se especulou, e que tenha ocorrido atropelo ou estresse com a presidente Dilma Rousseff por causa da investigação. "O que há é muita boataria, desinformação e falta de discernimento", garantiu.
Deflagrada em 22 de novembro, a Operação desmantelou uma rede de tráfico de influência e compra de pareceres em órgãos estratégicos no governo, com envolvimento da chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha. Cardozo disse que vai revelar todos os passos da operação no depoimento que prestará na terça-feira (4), a partir das 10 horas, à Comissão de Segurança da Câmara. Para garantir que a equipe está afinada, ele levará junto o diretor-geral da PF, Leandro Coimbra, e o delegado Roberto Troncon, superintendente do órgão em São Paulo, onde as investigações foram centralizadas.
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Cardozo garantiu que não houve aviso prévio da operação ao Gabinete da Segurança Institucional (GSI), nem à Advocacia Geral da União (CGU), como foi noticiado. "Ninguém tinha ciência prévia. Eu que avisei, no momento oportuno, depois que a operação foi deflagrada, por orientação da PF e dentro do que determinava a ordem judicial", enfatizou. "Em operações policiais, só as partes e as autoridades que atuam diretamente no inquérito tomam conhecimento do fato no primeiro momento", explicou.
Ele disse que toda a sua agenda teve de ser alterada à última hora exatamente porque não tinha conhecimento prévio de nada. Após a posse do ministro Joaquim Barbosa na Presidência do STF, no dia 21, ele embarcaria em jatinho da Força Aérea para um jantar em Fortaleza, no palácio do governo, com os ministros de Justiça dos países do Mercosul. No dia seguinte, na condição de anfitrião, ele assinaria vários atos em nome do governo brasileiro.
Mas o diretor-geral da PF lhe avisou que cancelasse os compromissos porque às 6 horas da manhã do dia seguinte haveria uma operação do chamado Grupo A (ultrassensível), exigindo sua presença em Brasília. "O informe foi genérico, mas incluía deixar a presidente Dilma Rousseff de prontidão. Eu avisei à presidente que ela ficasse de sobreaviso e expliquei que por causa da operação não poderia ficar em Fortaleza para assinar os atos do dia 22 e delegaria a tarefa a um representante do Ministério".
Cardozo relatou que viajou às 20 horas do dia 21 e chegou atrasado ao Palácio da Abolição, onde os convidados o aguardavam. "Na qualidade de anfitrião, pedi desculpas pela ausência no dia seguinte e nomeei o secretário de reforma do Judiciário, Flávio Caetano, para me representar na assinatura dos acordos". Às 2 horas da madrugada retornou a Brasília, onde chegou por volta das 5h30. Coimbra já o esperava. "Só nesse momento ele me passou os detalhes da operação e então fiquei sabendo que um dos alvos era o gabinete da chefe da representação da Presidência em São Paulo", contou.
O mandado judicial, segundo ele, determinava que nesse momento - da invasão do gabinete - o GSI fosse acionado para acompanhar a operação. "Pedi que o Coimbra acionasse então o general Elito Siqueira (chefe do GSI). Eu telefonei para o Giles Azevedo (chefe de gabinete de Dilma) e pedi que avisasse à presidente da operação assim que ela acordasse e que me telefonasse o mais rápido possível para despachar".
A reunião com a presidente, segundo recorda o ministro, ocorreu por volta das 9h30. "Não lembro direito porque estava zonzo após mais de 24 horas sem dormir". O general Elito designou um coronel do GSI para acompanhar o cumprimento do mandado de busca no gabinete de Rosemary.