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O presidente Lula (PT) discursou, neste sábado (16), em Havana, capital de Cuba, durante a Cúpula do G77 + China, evento que reúne líderes de 78 países, tendo como tema da edição deste ano “Ciência, Tecnologia e Inovação”. Em sua fala, o chefe do Executivo Nacional afirmou que as duas principais transformações mundiais, a revolução digital e a transição energética, “não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas”. 

“Há duas grandes transformações em curso. Elas não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas, reeditando a relação de dependência entre centro e periferia. A primeira é a revolução digital. E a segunda é a transição energética. Nossos países precisam ter as condições necessárias para responder a essas mudanças”, declarou. 

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Lula ainda defendeu que é preciso considerar as situações dos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. “Devemos forjar uma visão comum que leve em consideração as preocupações dos países de renda baixa e média e de outros grupos mais vulneráveis”, afirmou. 

Confira o discurso completo do presidente Lula na Cúpula do G77 + China 

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O presidente Lula (PT) fará uma viagem à China ainda este mês. Sua ida foi adiada para o domingo (26), dia que já estaria em solo chinês, devido a uma pneumonia leve com a qual foi diagnosticado nesta sexta-feira (24). A visita conta com uma mega comitiva com mais de 200 pessoas confirmadas, além de uma agenda carregada de assuntos a serem travados entre as duas nações. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, havendo fortes laços entre os países, e eles ainda fazem parte do bloco econômico que inclui Rússia, Índia e África do Sul, o BRICS.

Os laços entre Brasil e China estão para ser mais estreitados ainda no encontro de Lula com o presidente Xi Jinping, que também está no seu terceiro mandato como chefe de estado. Mas afinal, por que essa viagem está sendo tão falada? Quais as expectativas que os especialistas têm acerca da passagem da comitiva brasileira? Quais os principais benefícios que os acordos que estão para ser assinados trarão para a população brasileira? Para entender mais do assunto, o LeiaJá conversou com o cientista político Augusto Teixeira, que trouxe detalhes sobre o que se esperar da visita, e seus possíveis desdobramentos.

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Mega comitiva

Esta será a terceira ida de Lula à China enquanto presidente da República. Um destaque interessante é a quantidade de pessoas que farão parte da comitiva, que já passa de 240 empresários, além de membros do governo, como ministros, deputados, e integrantes do Itamaraty. O órgão afirmou que a viagem dos empresários na comitiva será custeada por cada um deles, sem uso de verba pública para arcar com todos os gastos. “Mas para esse grupo é extremamente importante surfar na cauda do cometa, ou seja, aproveitar a visita do presidente Lula e dos ministros de forma a abrir portas para interlocutores importantes na China e tentar abrir portas no mercado relevante, crescente e em grande medida cada vez mais rico, e que pode ansiar por produtos brasileiros a compor a pauta de consumo cada vez mais.”, ressalta Augusto Teixeira.

Em sua explicação, o cientista político analisa que o grande número de agentes presentes na viagem acaba sendo benéfico tanto para o contexto internacional, quanto para as relações com lideranças brasileiras que são oposição do PT e do presidente. Um dos exemplos é o empresário Joesley Batista, um dos sócios da JBS, que esteve envolvido em um acordo de delação premiada da investigação Lava Jato, e já chegou a acusar o Partido dos Trabalhadores de ter institucionalizado a corrupção.

“Uma parcela importante da economia que esteve do lado do ex-presidente Bolsonaro. E obviamente apoiou o presidente Bolsonaro até o último momento. Inclusive com representação no parlamento em oposição ao Lula. Então, ao trazer essas pessoas para a comitiva, o Lula, de um lado, dá um voto de confiança, estende o tapete e a possibilidade de negociação e articulação de interesses conjuntos com esse grupo. Por outro lado, pode ter aí possíveis incentivos e ganhos econômicos potencialmente relevantes para apresentar nas estatísticas do seu mandato presidencial”, observa Augusto.

Agenda relevante

Tendo em vista que a China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, alguns temas relevantes serão tratados com a importância que têm. Segundo Teixeira, algumas barreiras deverão ser trabalhadas. “Os entraves dizem respeito à tentativa de desobstruir algumas opções e possibilidades de exportação de commodities agrícolas brasileiras, especialmente proteína (carne, frango) para a China, de forma a elevar o nosso volume de exportações e proteína animal para a China.”, explica o professor.

Para além das questões de agricultura, o presidente visa expandir as relações com o país em outros aspectos, por ser algo de interesse mútuo entre as nações. “A China vê o Brasil como um mercado relevante para um campo em expansão, que são os carros elétricos e as tecnologias a si associadas, tal como também investimentos em outras áreas caras ao governo na área de meio ambiente, que são as energias limpas e também em infraestrutura”, Teixeira salienta.

A estratégia do governo é, acima de tudo, se mostrar presente para o comércio internacional, apresentando todas as possibilidades de interação com o gigante asiático. Como diz o especialista, a viagem acaba sendo mais relevante para o Brasil do que para a própria China. “Caso consigamos aumentar o nosso volume de exportações de valores para a China, quer dizer que as nossas reservas em dólar, o nosso recurso em moeda estrangeira no Brasil aumenta. O que é importante como um colchão de segurança para a nossa economia. Se a China aumentar os investimentos externos diretos no Brasil, como na indústria automotiva, especialmente de carros elétricos, baterias e ferro associados, você pode ter uma expansão numa indústria emergente no mundo gerando empregos, investimentos e inclusive inovação em ciências e tecnologia no Brasil.”

Acordos

O Brasil havia sugerido a assinatura de cerca de 30 acordos entre os dois países, mas o governo chinês preferiu reduzir a lista. Entre os mais relevantes estão os termos associados ao agronegócio, exportação de commodities como soja e proteína animal, que são de interesse do país anfitrião. Ainda há uma série de acordos que os dois governos enxergam como vantajosos no campo das tecnologias. “A China não mais é uma economia de cópia, mas é uma economia que tem um setor que consegue inovar, produzir tecnologia e ter meios de alto impacto na sua economia, como por exemplo, fronteira na área da computação quântica, supercomputadores, tecnologia espacial, microprocessadores, semicondutores, entre outros aspectos, assim como tecnologias no campo das telecomunicações, como a tecnologia 5G.”, analisa Teixeira.

Dilma no NBD

Além da visita a Pequim, o presidente passará em Xangai, onde irá se reunir no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS, que será presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff. A indicação foi feita por Lula logo quando ele assumiu o mandato no Brasil, e a confirmação de sua indicação foi feita nesta sexta-feira (24). Seguindo uma ordem de indicação para a presidência do banco, a última escolha havia sido do diplomata Marcos Troyjo, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. 

“O presidente [Lula] coloca lá alguém fortemente alinhado aos interesses do Brasil especialmente na tentativa de ter no Banco dos BRICS um importante investidor em projetos de infraestrutura e tecnologia no Brasil, e nesse sentido ter a ex-presidente Dilma na presidência do banco facilita a conexão Brasil-BRICS e recursos provenientes desse banco.”, explica o professor Augusto Teixeira.

O cientista político ainda analisa que a decisão de indicar a ex-presidente da República para um cargo executivo como esse, relativamente longe da política nacional, pode ser benéfica para o Brasil no longo prazo. “Ademais, ao ter a Dilma na China, em Xangai, você tem uma figura política controversa longe do cenário político nacional. Então de certa forma o presidente, caso tenha êxito, ele ganha de dois lados.”, finaliza.

Depois de aparecer na transmissão do jogo do Brasil contra a Suíça na Copa do Mundo no Qatar, na segunda-feira (28), junto com a esposa, Heloísa Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou, em vídeo, que foi ao País entregar pen drives sobre a “situação do Brasil”. 

De acordo com o filho do presidente da República, no Qatar não se fala apenas em Copa do Mundo. “Nesses pendrives aqui tem vídeos em inglês explicando a situação do Brasil. Espero que você não creia que no Qatar só se fala em Copa do Mundo. A Fifa tem mais membros do que as próprias Nações Unidas. A imprensa inteira está aqui”, explicou.

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Ele também chamou atenção para a importância da comunicação internacional, fragilizada e afastada do Brasil por pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). “Será que você não consegue perceber a importância da comunicação internacional e a gente vai ter que perder um dos pouquíssimos acessos que temos?”, questionou. 

 

O embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, cancelou sua participação num evento de acadêmicos que fazem estudos sobre o Brasil, em Paris, após saber que o mesmo incluía na programação uma homenagem à vereadora Marielle Franco, executada a tiros junto com seu motorista, Anderson Gomes, no Rio de Janeiro em 2018. A revelação do fato levou o nome da vereadora aos temas mais comentados do Twitter neste sábado (18).

Segundo informações da coluna do jornalista Jamil Chade, as informações foram reveladas após parlamentares do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) solicitarem acesso aos telegramas internos, instruções e documentos do Itamaraty destinados a seus postos em outros países, para saber se há orientações de como tratar, internacionalmente, a morte da vereadora.

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Após a solicitação, o chanceler do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo, foi obrigado a divulgar os documentos. Em 6 de agosto de 2019, o embaixador brasileiro Luis Fernando Serra indicou a realização do Congresso da Associação de Brasilianistas na Europa, reunindo cerca de 540 estudiosos do país no continente. “Convidado para assistir à cerimônia de encerramento do Congresso, fui informado de que o evento ocorrerá em local cedido pela prefeitura de Paris, com a presença da prefeita Anne Hidalgo (Partido Socialista)”, diz o embaixador em trecho de um telegrama oficial. 

Ele continua, explicando as homenagens que serão prestadas a Marielle e anunciando, em seguida, o cancelamento de sua participação e deixando claro que a homenagem é o motivo. Na ocasião, após a palestra final da conferência, deverá ser dada a palavra à prefeita para "prestar homenagem à brasileira Marielle Franco”. Na ocasião, a prefeita tornará pública a localização de jardim da capital francesa que receberá oficialmente o nome da vereadora brasileira. Ante o exposto, tomei a iniciativa de cancelar minha participação no referido evento", escreveu o embaixador.

A inauguração da praça francesa que leva o nome de Marielle foi feita em 22 setembro de 2019. No dia 26, um novo telegrama seria enviado de Paris ao Brasil informando que a diplomacia brasileira não foi convidada. A embaixada do Brasil não foi contatada ou convidada para a cerimônia de inauguração do Jardim Marielle Franco na capital da França", explicou Luis Fernando Serra.

Conflitos políticos internacionais

O embaixador brasileiro Luis Fernando Serra já havia se envolvido com temas ligados a Marielle em outra ocasião, e de uma forma conflituosa. No início de 2020, a senadora francesa Laurence Cohen, do Partido Comunista, que é também presidente do grupo interparlamentar de amizade França-Brasil, enviou uma carta à embaixada em Paris questionando o governo sobre as investigações relativas ao assassinato da vereadora. 

Um trecho da resposta recebida por ela foi publicado em seu Twitter no dia 3 de fevereiro. De forma agressiva, Luis Fernando Serra alegou “profunda consternação” diante dos questionamentos ao observar que “o assassinato de Celso Daniel e o ataque à vida de Bolsonaro não tiveram o mesmo eco na França que o assassinato de Marielle, que foi objeto até de mobilização na Assembleia Nacional”. 

Monitoramento e intimidação à imprensa estrangeira 

Os telegramas internos do Itamaraty entregue após pedido de parlamentares revelaram também que a diplomacia do Brasil monitora constantemente o que a imprensa estrangeira fala a respeito de Bolsonaro e sua ligação com o caso Marielle, chegando até a enviar notas de repúdio a redações de veículos de comunicação diante da publicação de matérias que considera inadequadas ou caluniosas. Um exemplo foi o do jornal sueco Dagens Nyheter, que segundo comunicação do Itamaraty, trazia "graves insinuações de vínculos do senhor presidente com facções criminosas do Rio supostamente envolvidas no crime", realizando uma “investida irresponsável e leviana” ao apontar que dois policiais envolvidos na morte de Marielle faziam parte do “esquadrão da morte - as chamadas milícias”, e “podem estar associadas ao presidente”, e apontar que um dos filhos de Bolsonaro, Flávio, “apoia as milícias do Rio”. 

"Tenciono enviar nova carta de repúdio ao referido periódico em que condenarei os ataques feitos à pessoa do presidente Jair Bolsonaro", escreveu o embaixador do Brasil no país, Nelson Antonio Tabajara de Oliveira.

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Nas últimas semanas, a tensão que permeia a relação entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte é o assunto mais citado na imprensa internacional. Provocações mútuas, ameaças nucleares e o uso da retórica agressiva entre os países se intensificaram em 2017 e levantaram o alerta de uma Terceira Guerra Mundial.

A relação dos dois países nunca foi amistosa. Os EUA e a Coreia do Norte têm desavenças antigas, desde a Guerra da Coreia, na década de 1950. Na época, a Força Aérea americana bombardeou e usou o químico ‘napalm’ em regiões norte-coreanas, matando um total de 20% da população do país.

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Já entre os anos de 1958 e 1991, os EUA mantiveram armas nucleares destinadas a um possível uso contra os norte-coreanos no território da Coreia do Sul. Já o país asiático, que havia assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN), em 1985, foi acusado pelos americanos de desenvolver atividades nucleares irregularmente. Em 1993, o país anunciou a saída do Tratado. 

Treze anos após a saída do TPN, em 2006, a Coreia testou a primeira bomba atômica com sucesso. Mais quatro testes nucleares foram realizados nos anos 2000.  Desde então, a relação do país com o ocidente se estremeceu a diversas sanções foram impostas aos norte-coreanos por causa dos testes atômicos.

No dia 8 de abril de 2017, um novo teste de míssil frustrado foi realizado pela Coreia do Norte. Em resposta, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou ter enviado "uma arma muito poderosa" para a península coreana. No último dia 24 de abril, o site oficial norte-coreano Uriminzokkiri declarou que os Estados Unidos serão "varridos da face da Terra" se desencadearem uma guerra na península.

Para entender se o mundo está à beira de um novo conflito nuclear em nível global, o LeiaJa.com consultou especialistas em Geopolítica mundial e Relações Internacionais. Os estudiosos consultados entendem que as chances de um conflito nuclear entre os países são remotas, nas condições atuais.

Para o cientista político e especialista em Relações Internacionais, Thales Castro, a comunidade internacional tem que estar atenta aos fatos, mas a chance uma nova guerra mundial é uma realidade distante. “A Coreia tem muito a perder diante do potencial bélico dos EUA. Já os norte-americanos sabem que não podem ser muito incisivos nessa relação porque existem países aliados no comércio exterior no entorno da Ásia, como o Japão e a própria China”, afirmou Castro.

O estudioso acredita que as ameaças devem seguir no campo da retórica agressiva porque uma eventual guerra seria mais negativo do que positivo para ambos os países. “A imprensa norte-coreana utiliza essa tônica de expressões como varrer do mapa e dizimar americanos. É uma retórica repetitiva e apesar de não ser vazia, falta muita substancialidade. Soa mais como provocação e propaganda política interna, já que na Coreia os aparelhos de mídia são controlados pelo estado”, apontou Thales.

Especialista em Segurança Internacional e Relações Internacionais, o professor Antônio Lucena faz uma ressalva de que na administração do republicano Donald Trump houve um aumento da tensão entre os países. Para ele, assim como a auto-afirmação da política norte-coreana, o presidente dos EUA também precisa se legitimar com seus eleitores. “É uma tendência natural as farpas continuarem pela importância do fortalecimento na política interna”, explicou.  

Lucena admite que na política internacional nada pode ser totalmente descartado, muito menos uma guerra na península coreana, apesar disso, o pesquisador não acredita em um conflito armado. “Atualmente não temos as mesmas condições da 2ª Guerra Mundial, como a grande potência que era a Alemanha nazista”, diz. Para o professor, uma das razões que poderiam levar ao conflito armado seria o ataque da Coreia do Norte a alguma base dos EUA ou a construção do míssil balístico intercontinental. “Ele teria condição de atingir os americanos com uma ogiva nuclear e, nesse caso, acho que o Trump reagiria militarmente”.

De acordo com Lucena, o desenvolvimento de armas nucleares é muito importante para a Coreia do Norte por serem o único impeditivo de uma invasão norte-americana. “Durante o governo Obama houve uma tentativa frustrada para o país abandonar as armas. Com esses equipamentos, a tendência é que eles evitem uma possível invasão, assim como aconteceu no Afeganistão e no Iraque”, afirmou.

Já Marcos Costa Lima, professor do departamento de Ciência Política da UFPE e coordenador do Instituto de Estudos da Ásia, defende que o futuro da situação entre os países é uma incógnita. “Não dá pra saber se teremos um conflito. Os líderes dos dois países são desequilibrados e radicais, representando um perigo para o mundo. A situação se complica mais ainda porque ao que parece a Coreia do Norte não vai retroceder”, lamentou.

Fotos:Ed Jones/AFP

É o artigo 22 da Convenção de Viena que manifesta como inviolável uma missão diplomática. O tratado assinado em 1961, que discorre sobre as relações e imunidades diplomáticas, elucida que, sob hipótese nenhuma,  agentes de um estado acreditado, ou seja, do estado que acolhe uma representação, podem penetrar em uma embaixada sem o consentimento do Estado acreditante.

Dando prática à teoria, o governo britânico pode até não reconhecer o asilo concedido a Julian Assange pela embaixada do Equador em Londres, a legalidade e a legitimidade do ato político de Rafael Correa, contudo, é inalterável a nível internacional. E é com base no direito internacional que o presidente equatoriano utiliza-se das circunstâncias para a construção da imagem de líder anti-imperialista na região sul-americana.

A ambigüidade nas ações de Rafael Correa, que por um lado vive uma permanente relação de tensão com a imprensa equatoriana, não é, como sugerem alguns analistas, uma forma de suavizar internamente a má-reputação quanto aos temas ligados à liberdade de expressão. Correa, que atualmente enfrenta uma disputa judicial com o diário El Universo e com alguns jornalistas do país, tem mesmo é ambições chavistas e intenciona, com o atual recolhimento do chefe venezuelano, promover-se mundialmente como ícone da esquerda latino-americana.

A OEA (Organização dos Estados Americanos), na última semana, foi o terceiro bloco de países a reconhecer o asilo político concedido a Julian Assange. Uma clara demonstração da queda da influência americana na região, que teve apenas Canadá e Trinidad e Tobago colocando-se a seu favor.

O afastamento de Chávez dos holofotes globais, em decorrência do tratamento contra um câncer que ninguém sabe ao certo a evolução, abriu espaço para a ascensão da figura de Rafael Correa no falido papel de “paladino das liberdades”. O pouco interesse de Dilma e até mesmo a ausência de Lula, que teve suas ambições como presidente do Banco Mundial interrompidas por problemas de saúde (e também pelos do PT), são uma oportunidade para Correa.

O debut do equatoriano nas manchetes internacionais foi em grande estilo, em defesa de Julian Assange, tido como símbolo antiamericano. Assange é cidadão australiano, fundador do Wikileaks, site de vazamento (“leak”, em inglês) de informações, e oficialmente acusado de cometer “crimes sexuais” pelos tribunais da Suécia, que considera o sexo não consensual sem preservativo uma agressão. O australiano é ameaçado de extradição pela Inglaterra, país de Margaret Tatcher, que no passado concedeu asilo político a Augusto Pinochet.

Rafael quer ser Hugo e não entrou na briga pra perder. Com a opinião pública a favor de Julian Assange, Correa deixa a coadjuvância em um subcontinente para ganhar a simpatia mundial inata à garantia da liberdade de expressão.


 

Li o artigo Fictions of Europe (1991) dez anos após sua primeira publicação. Ainda que discordasse de algo, o texto parecia recém escrito. Depois, ganhei de presente outro Jan Nederveen Pieterse, O fim do Império Americano (2009), e, sem tempo, deixei-o guardado por dois anos. Ao abrir suas páginas, agora, a obra é de uma atualidade espantosa, ainda que construída sobre as dunas de areia que são os EUA e a política internacional nesta virada de milênio.

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Há sempre muito joio nas ideias formuladas por esse holandês, professor de Estudos Globais e Sociologia na Universidade da Califórnia. O que se justifica pela coragem em trilhar caminhos diferentes do senso comum e arriscar prognósticos. Nada, porém, que nuble o acerto de suas teses centrais. Em fictions of Europe, por exemplo, colocava em xeque as pretensões de formar ali um bloco continental, ambição-corolário baseada em passadistas sentimentos imperiais e na falsa ideia de uma cultura européia capaz de se sobrepor às diferenças regionais.

A ausência de lideranças internacionais, a quebradeira econômica, o crescimento da intolerância e tantos outros fatos corroboram a assertiva de Nederveen Pieterse. A União Europeia tem empenhado o que tem e o que nem sabe se terá para bancar a mesa, para salvar a Grécia, fazer diferentes conviverem como se economias iguais, apostar em substituições políticas que vão de seis à meia dúzia etc.

Em O fim do Império Americano, o tom pessimista não advém de revanchismo, de radicalismo ideológico ou qualquer outra dessas besteiras ultrapassadas. Pelo contrário, a introdução nos lembra logo que a admiração pelos EUA tem histórico muito mais longo que o antiamericanismo, “tendo início já no século 16, quando foi lançada a ideia de nova ‘Terra Dourada’. (...) Líderes soviéticos de Lênin a Khrushchev mostraram respeito pelo poderio industrial e tecnológico norte-americano, e Gransci apreciou os altos salários americanos nas manufaturas, base para o Fordismo”.

A pergunta lançada é, na verdade, uma otimista afirmação disfarçada de questão: a decadência é só isso, declínio, ou uma fonte de esperança e regeneração? Para o autor, passou da hora de os EUA reverem sua política internacional e também sua própria mobília. Resistência ao debate franco sobre reordenamento geopolítico, superficialidade da opinião pública, lentidão no recuo dessa política laissez-faire alicerçada por serviços de empréstimos e pelo militarismo, empedernida crença que os problemas sociais podem ser resolvidos sem grandes investimentos... São diversos tópicos trabalhados, e uma base compartilhada: necessidade de os Estados Unidos perceberem que estão perdendo o bonde da história.

Jan Nederveen Pieterse volta ao Governo Reagan e em redor, quando “as forças determinantes do período eram a reação cultural contra a rebeldia dos anos sessenta e a reação política contra os democratas, que convergiram em uma política de disciplina social pela libertação das forças de mercado em junção com o endurecimento da ordem política”. Ou seja, ele nos convida a deixar de lado as críticas-clichês ao neoliberalismo da Escola de Chicago. O problema crítico foi a ascensão da exacerbada política dos conservadores, “que se valeram das forças de mercado para fins políticos, sem preverem que as forças de mercado fariam uma reestruturação da sociedade e acabariam fugindo com o caixa”.

O autor ratifica, afinal, que, enquanto os países avançados têm feito a transição para a economia pós-industrial e enfrentado as mudanças decorrentes do aceleramento da globalização, os Estados Unidos insistem na ausência de política econômica, capitalismo sulista (baixos impostos, poucos serviços, ausência de sindicatos), especialização militar e endividamento – “todos fatores que enfraquecem a posição de longo prazo dos EUA”.

Da publicação do livro para cá, pouca coisa mudou, apesar das perspectivas que o presidente eleito Obama tinha para seu Governo. Se houve realmente modificação, foi mais de intensidade que de rumo: a polarização política aumentou, os conservadores assumiram tom bem mais radical e estratégias mais truculentas, a distância entre os mais ricos e os mais pobres também foi ampliada; Obama perdeu maioria do Congresso e viu sumirem as chamadas “forças de centro”, que tinham a importante função de conciliar os partidos quando alguma demanda assim pedia.

Ontem mesmo, Barack Obama fechou seu discurso (mais eleitoreiro que pragmático) com o velho lugar-comum deles, que sairão da crise porque são “o maior país do mundo”. O fim de quase todos os impérios começa pela incapacidade de seus gestores de lidarem com as transformações sociais, pela dificuldade de agir a partir daquele outro clichê, que às vezes é preciso mudar para seguir o mesmo. Ao se negarem às mudanças de lentes, os EUA não têm conseguido manter seu protagonismo como antes, mas sim criado uma monstruosa casa de espelhos onde tentam esquecer suas deformidades, suas mais anacrônicas convicções, em detrimento de outros princípios que lhes fizeram grandes.

Quais são estes princípios? O fim do Império Americano não se omite sobre isso, apenas deixa que o leitor os descubra, antiteticamente – a explicitação dos erros subentende quais seriam os acertos. E, ainda que o tempo demonstre que Nederveen Pieterse estava equivocado, ele terá cumprido o sempre necessário exercício da crítica, terá feito pensar. O que é bastante.

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