Augusto Dutra vive seu melhor momento na carreira no atletismo. Especialista no salto com vara, ele tem obtido bons resultados internacionais e até ofuscado o campeão olímpico Thiago Braz, seu conterrâneo de Marília, no interior de São Paulo, que não vem conseguindo voar alto como antes.
"Eu estou me vendo como ele antes da Olimpíada. Um ano antes dos Jogos do Rio ele começou a saltar bem, chegou lá e ganhou. Estou nessa crescente, trilhando os caminhos dele, e com certeza vou chegar muito bem na Olimpíada. Meu foco é conseguir saltar acima dos 6 metros", avisou.
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O pai de Augusto adora esporte e sempre foi fã de Serguei Bubka, campeão olímpico e recordista mundial do salto com vara por muitos anos. Chegou a saltar 6,15m e conquistou muitos títulos internacionais. Seu Juvenal sempre mostrou para o garoto as competições de Bubka e incentivou o filho no atletismo.
"Ele falou que tinha uma pista perto de casa, era só atravessar a rua. Não tinha vara, ainda não tem, a gente tinha de desenrolar um colchão para cair nele. Com o tempo fui ganhando competições e vi que tinha o dom. Era bom no salto em altura, no salto em distância, era mais rápido que os outros. Aí começou a engrenar", conta.
Depois de se destacar em Marília, ele foi para Bragança Paulista e fez parte da Rede Atletismo. Depois foi para São Bernardo e em seguida passou a fazer parte da equipe da BM&FBovespa, que não existe mais. "Fiquei seis anos lá, mas acabou. Agora estou no Clube Pinheiros e na minha melhor fase."
Os caminhos de Augusto Dutra e Thiago Braz se cruzaram diversas vezes. O atual campeão olímpico é quatro anos mais jovem, então quando Augusto já mostrava certo talento, Braz ainda era uma criança em Marília. "Eu lembro dele, mas ia de vez em quando. Ele era muito menino na época e chegava a pular o muro da escola para ir treinar. Sempre foi dedicado desde novo", revela.
Após deixar Marília e ir para Bragança, eles não perderam o contato. "Ele me ligava quando estava em Bragança, queria fazer um teste, então conversei com meu treinador, ele veio e começou a despontar. Depois Elson Miranda começou a treinar ele, treinou com o Vitaly Petrov e foi campeão olímpico."
Para Augusto, a façanha de Braz nos Jogos do Rio mostrou que o sonho era possível. "O menino que vi crescer foi campeão olímpico na minha frente, então percebi que não tem segredo, todo mundo pode conquistar", disse. Foi um marco na história. O primeiro brasileiro a saltar 6 metros, foi campeão olímpico e recordista. "Eu queria estar na minha melhor fase naquela época para que o Brasil pudesse ter dois medalhistas naquela prova. Só que tudo tem seu tempo, ele conseguiu fazer no tempo dele e eu vou fazer no meu."
Augusto Dutra passou por momentos ruins na carreira. Se agora está no auge, não pode dizer o mesmo de anos atrás. Ele vinha bem em 2013, mas aí seus resultados começaram a despencar. Em 2015 saltou 5,81m, na Diamond League, ficando em terceiro lugar, mas aquilo foi exceção. A fase não era boa.
"Em 2016 os resultados sumiram e fui voltar só agora em 2019. Meu técnico Henrique Camargo conseguiu me colocar de volta na corrida, que era onde eu estava me perdendo. Agora salto mais vezes no treino, de 15 a 20 saltos, e isso me colocou de volta no cenário internacional", contou.
Neste ano ele já saltou seis vezes acima dos 5,70m. Só para se ter uma ideia, o índice para o Mundial é 5,71m. Em treino ele tem conseguido passar 5,80m com tranquilidade e às vezes arrisca os 6m e já conseguiu passar. Isso tudo o deixa otimista. "Se faz no treino, dá para fazer em competição. Estou conseguindo ganhar altura e preciso apenas colocar essa tranquilidade no treino para a competição, que tem mais pressão envolvida", comentou.
A cada gota de suor ele percebe que está no caminho para deixar seu pai ainda mais orgulhoso. "Toda vez que ele fala sobre isso, ele se emociona e chora. É gratificante ouvir ele falar que deu certo. Muita gente que estudava comigo na escola está presa ou está drogada. Meu pai tem orgulho de eu ter dado certo e conseguido conquistar tudo que conquistei hoje."
Neste domingo, Augusto disputará em Bragança a prova do salto com vara no Troféu Brasil de Atletismo. Depois, terá pela frente o Mundial, em Doha, no Catar. "Quero treinar bem e chegar com tudo para conquistar uma medalha. Qualquer que seja a cor dela, será muito bem-vinda. Tenho trabalhado a parte emocional no dia a dia. Tenho experiência e sei bastante o que não fazer para executar um bom salto", diz.