O vice-presidente Michel Temer desautorizou, neste domingo, 9, o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que chegou a pregar o rompimento da aliança do PMDB com o governo. Poucas horas antes de se reunir com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, Temer disse que "o PMDB quer manter o casamento com ela e não vê chance de divórcio".
"Não é A nem B ou C nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou para o outro. É a convenção nacional que decide o que deve ser feito", disse Temer ainda em Tietê (SP), sua cidade natal, onde esteve hoje para receber uma homenagem antes de voltar a Brasília. "Tem dois terços que pensa em manter o casamento e, portanto, a maioria é pela manutenção da aliança, como eu."
##RECOMENDA##No fim da tarde, antes do encontro com Dilma, Temer convocou um seleto grupo do PMDB para uma reunião no Palácio do Jaburu. No encontro ficou decidido que o PMDB não esticaria mais a corda com a presidente nem endossaria as posições de Cunha. A portas fechadas os peemedebistas avaliaram que o bate-boca com o PT só prejudicava o próprio PMDB, que aparecia diante da opinião pública como fisiológico.
"Vou levar para Dilma uma mensagem de concórdia", avisou Temer, que pretende repetir a dobradinha com Dilma, na campanha da reeleição, ocupando a vaga de vice. "A presidenta quer ter uma aliança muito sólida e quer fazê-la prosperar. É conversando que se entende. Tenho certeza de que vai dar certo." Mesmo após a troca de acusações e insultos entre dirigentes do PT e do PMDB, Temer disse não acreditar na cisão. "É uma situação passageira e logo estará superada."
Cúpula
Foi esse, também, o tom da conversa de Temer com os presidentes do PMDB, Valdir Raupp (RO); do Senado, Renan Calheiros (AL); da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e com o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), antes da reunião com Dilma.
À noite, a presidente ofereceu novamente o Ministério do Turismo para o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e não se mostrou disposta a ampliar o espaço do PMDB na Esplanada. Nem mesmo as ameaças de Eduardo Cunha surtiram efeito. A estratégia de Dilma consiste em isolar Cunha e tirar a vaga do Turismo da zona de influência da bancada da Câmara, passando a cadeira para um nome do Senado. Temer se comprometeu a consultar os dirigentes do partido.
A ideia da presidente é nomear o senador Vital para o Turismo, na vaga de Gastão Vieira - deputado licenciado do PMDB que deixará o posto para concorrer a novo mandato - e deixar o Ministério da Agricultura sob comando de um apadrinhado de Temer. Até agora, o mais cotado para substituir Antônio Andrade na Agricultura é Neri Geller, hoje secretário de Políticas Agrícolas.
"Tudo o que não precisamos agora é dessa crise entre aliados em ano eleitoral. Se avançarmos um pouco nas alianças regionais, o clima já começa a distensionar", disse Raupp. Dos 27 Estados, o PT e o PMDB só têm parcerias garantidas, até agora, nos palanques do Distrito Federal, Pará, Sergipe e Amazonas. A situação é considerada dramática no Rio e na Bahia, onde as duas legendas se tratam como inimigas.
Pesquisas em poder do Palácio do Planalto indicam que Dilma cresce quando reage a pressões políticas e rejeita o "toma lá dá cá". Foi assim quando ela fez a "faxina" administrativa que derrubou sete ministros, em 2011, e está sendo assim agora, de acordo com levantamentos de opinião pública feitos pelo marqueteiro João Santana.
Embora o ex-presidente Lula tenha aconselhado sua sucessora a ser mais "política" e conversar com a cúpula do PMDB, ela preferiu chamar apenas Temer para o encontro reservado de hoje. Após provocar mais divisão entre as alas do PMDB, Dilma agora quer fortalecer o vice, que deve chancelar todas as indicações do partido para o primeiro escalão. Colaborou Mariângela Gallucci. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.