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O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer que não tem relações com o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018, um crime político ainda não esclarecido totalmente.

"Alguém me aponte um motivo que eu poderia ter para matar Marielle Franco. Motivo nenhum, zero. É um negócio que não dá para discutir mais", declarou o presidente em transmissão ao vivo nas redes sociais.

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A declaração de Bolsonaro foi um comentário à notícia veiculada pela Folha de S.Paulo com áudio de uma irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega acusando o governo federal de oferecer cargos em troca da morte do ex-capitão, apontado como envolvido no assassinato de Marielle.

O corpo do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano, foi exumado para realização de novos exames sobre as circunstâncias de sua morte, ocorrida em 9 de fevereiro de 2020 após tiroteio com a polícia no município de Esplanada, interior da Bahia. O procedimento foi solicitado pelo Ministério Público e autorizado pela Justiça da Bahia e do Rio de Janeiro.

Adriano era apontado por investigadores do Rio como chefe do Escritório do Crime, milícia especializada em homicídios por encomenda e ligada a Ronnie Lessa, ex-PM preso sob acusação de ter matado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

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'Rachadinha'

No entanto, a apuração mais sensível contra o miliciano era a que mira suposto esquema de 'rachadinha' no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, filho '01' do presidente, à época em que ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio.

De acordo com as investigações do Ministério Público do Rio, Adriano integrava 'o núcleo executivo da organização criminosa' denunciada, célula do grupo que era liderada pelo senador Flávio Bolsonaro. A mãe do miliciano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça da Costa foram assessoras do então deputado.

Os investigadores apontam ainda ao menos sete ligações entre o miliciano e o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, suposto operador do esquema instalado no gabinete do filho mais velho do presidente.

Outras necropsias

O corpo de Adriano já passou por duas necropsias que indicaram que o miliciano foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância. Laudo do Instituto Médico Legal do Rio indicou ainda que o miliciano tinha nas costelas fraturas compatíveis com tiros e não apresentava "lesões violentas" - que poderiam indicar tortura.

Laudos feitos por peritos do Ministério Público (MP) da Bahia e do Rio questionam a versão de que o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, foi morto após reagir à bala à prisão, no interior baiano, em fevereiro de 2020. Segundo essa versão oficial, o ex-PM, que era suspeito de ligações com um "consórcio" de matadores de aluguel e uma milícia na zona oeste carioca, teria respondido com sete tiros à ordem para se render. Foi, então, abatido por dois disparos por policiais militares. Reportagem do Fantástico, da Rede Globo, exibida neste domingo, 28, põe em dúvida essas afirmações.

Baseado em duas necropsias, o resultado da análise diverge do inquérito da Polícia Civil da Bahia. A investigação concluiu que o acusado de chefiar o Escritório do Crime e também citado no caso das "rachadinhas" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) morreu em confronto. A ex-mulher e a mãe de Adriano eram assessoras presumivelmente fantasmas do parlamentar, no suposto esquema para desviar salários para o próprio deputado, quando era deputado estadual. Por ele, Flávio foi denunciado à Justiça, com outras 16 pessoas, por peculato (desvio de dinheiro por servidor), organização criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação indébita.

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O inquérito policial concluído em agosto do ano passado também descartou qualquer hipótese de que Adriano tenha sido torturado antes de ser executado. Segundo a polícia baiana, um corte na cabeça usado para questionar se ele teria sofrido coronhadas de armas dos policiais seria, na verdade, um ferimento produzido após a queda dele já baleado. O ex-PM teria batido em algum objeto - que pode ser uma quina, por exemplo.

Em depoimento ao Fantástico, o perito e professor titular de Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Nelson Massini, disse que em três aspectos a versão dos policiais não bate com a da perícia. "Há um disparo que entra tangencialmente pela lateral do tórax do abdômen, segue o trajeto sai daqui e reentra no corpo e é um tiro que provavelmente a vítima já estava deitada. Isso tem que ser esclarecido. Esse tiro, deveria entrar e sair numa posição paralela ao solo", diz o perito Nelson Massini, destacando que o trajeto do projétil é incompatível com a posição declarada dos atiradores e da vítima.

O outro ponto diz respeito à ausência de vestígios de pólvora nas mãos de Adriano. Massini afirma que é muito pouco provável que ele tenha dado sete tiros e nada tenha sido encontrado. "Foi feito um exame não apropriado que é um exame químico para verificação do resíduo de pólvora e não se usa mais. Hoje o exame é apropriado é uma microscopia de varredura. Isso fala a favor de que ele não atirou a princípio, mas é preciso justificar o porquê dessa negatividade", diz.

O perito trata ainda das lesões que o ex-policial tinha na região da cabeça. Massini diz que elas geraram reação vital, e teriam ocorrido enquanto o miliciano estava vivo, o que não foi explicado. "Em que momento isso foi feito? Por que, se você teve a oportunidade de se aproximar dele e dar essas pancadas na cabeça, por que não prender?".

A Secretaria de Segurança da Bahia disse ao Fantástico em nota que não recebeu os novos questionamentos feitos pelo Ministério Público da Bahia. Já o MP afirmou que já enviou as perguntas sobre o laudo de necropsia. A Secretaria não comentou a ação dos policiais militares que resultou na morte de Adriano da Nóbrega.

Condecorado por Flávio Bolsonaro

Quando estava preso, em 2005, Adriano recebeu, por iniciativa de Flávio Bolsonaro, a Medalha Tiradentes, mais alta condecoração da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Na semana passada o Ministério Público do Rio de Janeiro deflagrou a Operação Gárgula para desmantelar uma suposta organização criminosa responsável pela movimentação financeira e lavagem de dinheiro de Adriano. O objetivo era cumprir mandados de prisão preventiva contra a viúva de Adriano, Julia Emilia Mello Lotufo, o soldado da PM Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego e Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal.

A Justiça do Rio também determinou o sequestro do Haras Fazenda Modelo e de automóveis, além do bloqueio de R$ 8,4 milhões, correspondentes ao valor constatado em movimentações dos investigados. De acordo com o Fantástico, a quadrilha do miliciano tinha lucro de cerca de R$ 2 milhões por mês.

Ao todo, nove pessoas foram denunciadas à 1ª Vara Criminal Especializada da Capital por crimes de associação criminosa, agiotagem e lavagem de dinheiro,. Os acusados são integrantes da rede de apoio de Capitão Adriano, responsáveis por lavar o dinheiro obtido pelo miliciano.

Apontada como chefe da organização que geria o dinheiro de Adriano, a mulher dele, Julia, segue foragida. "A gente não tem informação de onde ela está, nem se está morta ou viva", disse ao programa o promotor Bruno Gangoni, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o Gaeco.

Flávio Bolsonaro nega que houvesse "rachadinha" em seu gabinete. A condecoração a Adriano teria sido concedida em homenagem à sua atuação como policial, em uma época em que supostas ligações do suspeito com atividades criminosas não eram conhecidas.

Embora o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega tenha morrido há seis meses, crimes atribuídos a ele continuam no radar da polícia e do Ministério Público (MP). Ao menos quatro frentes de investigação ainda podem atingir amigos, aliados e familiares de Nóbrega.

Acusado de ter sido um dos milicianos mais poderosos, influentes e perigosos do Rio, Nóbrega era suspeito em homicídios, extorsão, agressão e lavagem de dinheiro.

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A investigação mais sensível é a que apura um suposto esquema de "rachadinha" (apropriação do salário de assessores) e nomeações de funcionários fantasmas no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) entre 2007 a 2018. Nóbrega empregou a mãe, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher, Danielle Mendonça da Nóbrega, por 11 anos na Alerj, contratadas como assessoras no gabinete do então deputado Flávio.

Raimunda e Danielle receberam R$ 1 milhão em salários da Alerj e devolveram pelo menos R$ 202 mil, por meio de transferências para a conta de Queiroz, e outros R$ 200 mil ainda não identificados. Promotores acreditam que Queiroz e capitão Adriano, que serviram juntos na PM, agiram, desde o início das investigações, para atrapalhar o MP e a Justiça, pedindo, por exemplo, para testemunhas não prestarem depoimento.

Outra investigação é sobre a relação de Nóbrega com contraventores. O capitão da PM foi preso em 2011 numa operação contra o jogo do bicho, acusado de homicídio. O crime estaria ligado com a disputa entre herdeiros do bicheiro pelo controle de pontos do jogo do bicho e, em especial, de exploração de máquinas caça-níquel.

Pelo menos seis assassinatos, entre 2005 e 2010, são atribuídos a capitão Adriano e outros policiais, a mando dos contraventores. A ligação com contraventores e as prisões resultaram na expulsão de Adriano da PM em 2014.

O terceiro inquérito versa sobre a participação de Nóbrega no comando do grupo que controla Rio das Pedras. Isso levou capitão Adriano e outros policiais e ex-policiais a serem alvos das operações Intocáveis I e II, em janeiro de 2019 e fevereiro de 2020. Nóbrega fugiu em 22 de janeiro de 2019.

A última investigação é sobre a participação dele no Escritório do Crime, grupo especializado em mortes por encomenda que cobrava até R$ 1,5 milhão por homicídio.

Em fevereiro de 2020, na semana em que Nóbrega morreu na Bahia, seu advogado, Paulo Emilio Catta Preta, entregou à Justiça do Rio a defesa do processo da Operação Intocáveis. Os defensores pediram a "absolvição" do cliente, negaram todas as acusações do Ministério Público, apontaram falta de provas e ilegalidades e cerceamento de direitos, nas investigações e no processo.

Capitão Adriano considerava sua expulsão da PM, em 2014, injusta e tinha entrado com processo, contra a demissão. Rechaçou todas as acusações que o vinculavam aos crimes narrados e com a suposta "milícia de Rio de Pedras". Ele não teve nenhuma pena transitada em julgado, segundo a defesa.

Investigações da polícia e do Ministério Público mapearam ao menos sete ligações entre o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, preso desde o dia 18, e o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, morto em fevereiro. A relação entre os dois começou nos anos 1990, quando eram policiais militares, passa por 2003, ano em que a dupla foi alvo de uma investigação de homicídio, e chega pelo menos até dezembro de 2019. Naquele mês, familiares dos dois se encontraram para combinar fuga, de acordo com promotores.

Com a prisão decretada desde janeiro de 2019, capitão Adriano ficou mais de um ano foragido e, para não ser pego, teria contado com uma rede de proteção formada por policiais, políticos e advogados. Um desses "amigos" seria Queiroz, de acordo com a investigação. Assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) entre 2007 e 2018, ele é apontado pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) como o operador financeiro do suposto esquema de "rachadinhas" e de nomeações fantasmas no gabinete. Ele nega a acusação.

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Queiroz e Nóbrega se conheciam desde os anos 1990, quando entraram na PM. Lotados no 18.º Batalhão da Polícia Militar, no Rio, em 2003, foram alvo de investigação sobre a morte de um suspeito, durante abordagem na Cidade de Deus. A apuração ainda não foi concluída. Nóbrega viria a ser expulso da corporação, envolvido em denúncias de ligação com o jogo do bicho.

Em 2007, Queiroz foi nomeado para o gabinete de Flávio na Alerj. No mesmo ano, a ex-mulher do capitão Adriano, Danielle Mendonça da Nóbrega, foi contratada para trabalhar no escritório. Segundo o MP-RJ, Danielle e Raimunda Veras Magalhães, mãe do miliciano contratada em 2015, receberam R$ 1 milhão de salários da Alerj entre 2007 e 2018, supostamente sem trabalhar.

Os investigadores conseguiram rastrear pelo menos R$ 400 mil sendo "devolvidos" para Queiroz, o que configuraria a "rachadinha". Parte desse dinheiro saiu de contas de restaurantes de Nóbrega.

As investigações também mostram que o miliciano e o assessor se falaram sobre nomeações de familiares e sobre as investigações. O Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) sustenta que Queiroz e Nóbrega agiram, desde o início das investigações, para atrapalhar o Ministério Público e a Justiça, com orientação de superiores hierárquicos e de advogados.

Para comprovar essa afirmação, os promotores citam trocas de mensagens em que os dois orientam a ex-mulher do miliciano a faltar a depoimento no MP-RJ no início de 2019. "E ordenar que a mesma não mencionasse em conversas telefônicas crimes praticados na Alerj", diz documento da Promotoria anexado aos autos.

Por fim, em dezembro de 2019, a mulher de Queiroz se encontrou com a mãe de Nóbrega para combinar formas de escapar dos investigadores.

Defesa

O advogado Paulo Emílio Catta Preta, de Brasília, que defendia capitão Adriano em um processo do Rio sobre milícia, e representou a família após a morte do miliciano, assumiu a defesa de Queiroz após a prisão do ex-assessor.

Catta Preta disse que a participação de Queiroz no esquema de "rachadinha" se limitaria ao fato de ele ter sido assessor de Flávio na Alerj. Segundo o advogado, os promotores fizeram uma "leitura absolutamente equivocada" das movimentações financeiras, sem "suficiente suporte empírico" das transações bancárias do cliente.

Flávio Bolsonaro nega todas as acusações.

Pontos de interseção

- Polícia: Na década de 1990, Fabrício Queiroz e Adriano Magalhães de Nóbrega trabalharam na Polícia Militar do Rio. Adriano virou capitão no Batalhão de Operações Especiais (Bope). Foi expulso da corporação em 2014, após ser acusado de envolvimento com crimes vinculados a contraventores do jogo do bicho.

- Assassinato: Em 2003, Queiroz e Nóbrega foram citados em investigação da Polícia Civil para apurar a morte de um suspeito, durante abordagem policial, na Cidade de Deus. Apuração nunca foi encerrada.

- Nomeações: Queiroz foi nomeado para o gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj em 2007. No mesmo ano, Danielle Mendonça da Nóbrega, então mulher de Nóbrega, é nomeada para o gabinete. A mãe do miliciano, Raimunda Veras Magalhães, foi nomeada em 2015. Segundo o MP-RJ, elas nunca trabalharam na Alerj, mas receberam R$ 1 milhão em salários somados.

- Depósitos: O ex-assessor parlamentar recebeu, segundo a investigação, R$ 400 mil de contas ligadas a Danielle e Raimunda. Parte do dinheiro foi transferida de duas contas de restaurantes controlados por capitão Adriano.

- Telefone: Ainda de acordo com a investigação, Queiroz e Nóbrega conversaram, entre 2017 e 2019, para falar de nomeações na Alerj e sobre as investigações. Eles orientaram Danielle a não falar ao telefone sobre esquemas. Segundo o MP, partiu deles a orientação para que Danielle não fosse prestar depoimento.

- Encontros: Entre os dias 3 e 5 de dezembro de 2019, a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, se encontrou com a mãe do miliciano, Raimunda, e um advogado de Flávio, Luiz Gustavo Botto Maia, em Astolfo Dutra (MG). Para o MP, o objetivo da reunião foi combinar formas de escapar dos investigadores.

- Advogado: O advogado Paulo Emílio Catta Preta passou a representar Nóbrega em 2019, no processo contra a milícia de Rio das Pedras. Após a morte do miliciano, assumiu a defesa da família de Nóbrega. Agora também é advogado de Queiroz.

O Ministério Público no Rio de Janeiro (MP-RJ) estima que o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, possa ter transferido mais de R$ 400 mil para as contas de Fabrício Queiroz, ex-PM apontado como operador financeiro de organização criminosa instalada no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio.

A indicação consta na decisão do juiz Flávio Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, que mandou prender Queiroz e sua mulher Márcia Oliveira de Aguiar. O ex-assessor do filho "01" do presidente Jair Bolsonaro foi encontrado na manhã dessa quinta-feira (18), em uma casa em Atibaia (SP) de propriedade d Frederick Wassef, advogado de Flávio. Márcia é considerada como foragida pelo MP-RJ. Queiroz está preso no Rio.

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Adriano foi morto em fevereiro deste ano pela polícia da Bahia, no município de Esplanada. Era apontado por investigadores do Rio como chefe do Escritório do Crime, grupo de pistoleiros da milícia na zona oeste da capital fluminense. Quando ainda era policial militar - chegou a ser capitão do Bope -, Adriano trabalhou com Queiroz no batalhão de Jacarepaguá, também na zona oeste. Ele respondem juntos a um homicídio registrado como "auto de resistência".

A ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Nóbrega, e sua mãe Raimunda Veras Magalhães eram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Juntas as duas receberam R$ 1 milhão em salários e devolveram pelo menos R$ 202 mil em transferências identificadas para conta de Queiroz e outros R$ 200 mil ainda não identificados.

Segundo dados de geolocalização obtidos pelos investigadores a partir do rastreio do celular de Raimunda, ela jamais teria aparecido nas cercanias da Alerj no período em que deveria exercer a função pública.

Na representação enviada à Justiça para deflagração da Operação Anjo - que mirou ainda ex-assessores da Alerj, um servidor que foi afastado e um advogado - o Ministério Público do Rio de Janeiro indicou que há registros nos dados bancários de Queiroz que indicam que uma pizzaria administrada por Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano, e uma outra pizzaria administrada pelo próprio miliciano, transferiram R$ 69,2 mil para o suposto operador financeiro de Flávio Bolsonaro.

"Não se pode perder de vista que no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 foram efetuados 17 depósitos em espécie na conta corrente de Fabrício Queiroz, totalizando R$ 91.796, na agência Rio Comprido do Banco Itaú, localizada na mesma rua dos restaurantes administrados por Raimunda Veras Magalhães", registra ainda a decisão de Nicolau.

Orientações e 'influência' na milícia

O suposto repasse de R$ 400 mil de Adriano para Queiroz foi apontado como um de dois aspectos da relação de Queiroz com grupos paramilitares, ligado à parte econômica, em razão de um suposto enriquecimento associado à milícia carioca. O outro aspecto destacado pelos investigadores é político e foi levantado a partir de suposta "influência" exercida pelo ex-assessor entre os grupos de milicianos.

Em mensagens trocadas com a mulher, Márcia Aguiar, o ex-assessor parlamentar se compromete a "interceder pessoalmente" junto a milicianos em favor de um homem que pede sua ajuda após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá, também na zona oeste carioca.

Os promotores também apontaram que em dezembro de 2019, Queiroz sua mulher e o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente teriam orientado a mãe do Capitão Adriano, a ficar "escondida".

Detalhes sobre as circunstâncias da morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, devem ser revelados nesta semana, com a conclusão de laudos periciais solicitados pela defesa dele e pelo Ministério Público da Bahia. Uma nova necropsia foi realizada antes do carnaval, na quinta-feira (20), por peritos da Bahia enviados ao Instituto Médico Legal (IML) do Rio, onde o cadáver era conservado numa câmara refrigerada. Um dia depois, o corpo foi sepultado em cerimônia discreta num cemitério do Rio.

O prazo de 15 dias para o laudo complementar ser oficialmente enviado à Justiça da Bahia vence nesta semana. O exame ocorreu com ordem judicial, a pedido de promotores de Justiça que atuam em Esplanada (BA), município em que capitão Adriano morreu fuzilado em 9 de fevereiro, após supostamente revidar com tiros uma operação para prendê-lo.

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Além disso, peritos contratados pela família do ex-policial têm prazo de dez dias para apresentar um laudo de exame cadavérico particular. A defesa não quer usar todo o prazo, mas só pretende apresentar suas conclusões após analisar o novo laudo requisitado pelo MP baiano.

O advogado Paulo Emílio Catta Preta, defensor de Adriano na ação penal da Operação Os Intocáveis, da Polícia Federal, contra a milícia da favela de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, também aguarda que a Secretaria de Segurança Pública da Bahia anexe ao procedimento de apuração da Polícia Civil gravações de diálogos feitos por rádios transmissores usados pelos policiais que participaram da operação. Aguarda também um exame papiloscópico (coleta de impressões digitais) nas munições não deflagradas encontradas na pistola 9 mm cuja posse é atribuída a Adriano.

Ex-PM do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio, ele é suspeito de chefiar a milícia Escritório do Crime, investigada pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), em 2018.

Adriano teve a mãe e uma ex-mulher empregadas no gabinete de deputado estadual do atual senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Elas aparecem na investigação sobre apropriação de salários de funcionários no antigo gabinete de Flávio. A família Bolsonaro cobrou investigação independente do caso e lançou suspeitas de que ele tenha sido morto como "queima de arquivo".

Dias antes da morte, capitão Adriano e sua companheira, Julia Lotufo, disseram que ele temia ser assassinado, segundo o advogado. "Com as repercussões sobre os arquivos que ele poderia revelar, a família fica um pouco receosa, mas não estão sob proteção", diz Catta Preta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Detalhes sobre as circunstâncias da morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, o "capitão Adriano", devem ser revelados na próxima semana, com conclusão de laudos periciais solicitados pela defesa dele e pelo Ministério Público da Bahia.

Uma nova necropsia foi realizada antes do Carnaval por peritos da Bahia enviados ao Instituto Médico Legal (IML) do Rio, onde o cadáver era conservado numa câmara refrigerada. Um dia depois, o corpo foi sepultado em cerimônia discreta num cemitério do Rio.

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O prazo de 15 dias para o laudo complementar ser oficialmente enviado à Justiça da Bahia vence na próxima semana. O exame ocorreu com ordem judicial, a pedido de promotores de Justiça que atuam em Esplanada (BA), zona rural em que "capitão Adriano" morreu fuzilado no dia 9 de fevereiro, após supostamente revidar com tiros uma operação para prendê-lo.

Além disso, peritos contratados pela família do ex-policial receberam 10 dias para apresentar um laudo de exame cadavérico particular. A defesa não quer usar todo o prazo, mas só pretende apresentar suas conclusões após analisar o novo laudo requisitado pelo MP baiano.

O advogado Paulo Emílio Catta Preta, defensor de "capitão Adriano" na ação penal da Operação Os Intocáveis, contra a milícia da favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, também aguarda que a Secretaria de Segurança Pública da Bahia anexe a um procedimento de apuração da Polícia Civil as gravações de diálogos feitos por rádios transmissores usados pelos policiais a cargo da operação policial e um exame papiloscópico (coleta de impressões digitais) nas munições não deflagradas encontradas na pistola 9 mm cuja posse é atribuída a Adriano.

Ex-PM do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio, ele é suspeito de chefiar a milícia Escritório do Crime, investigada pela execução da vereadora Marielle Franco (PSOL), em 2018. O ex-policial militar teve a mãe e uma ex-mulher empregadas no gabinete de deputado estadual do atual senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho mais velho do presidente da República, Jair Bolsonaro. Elas aparecem na investigação sobre apropriação de salários de funcionários no antigo gabinete do senador.

O presidente já se referiu ao "capitão Adriano" como "herói". O clã Bolsonaro cobrou investigação independente do caso e lançou suspeitas de que ele tenha sido torturado e morto como "queima de arquivo".

Familiares do ex-PM e a então companheira, Julia Lotufo, ainda guardam discrição e memórias do ex-PM e não se pronunciaram sobre o caso. Dias antes da morte na Bahia, tanto capitão Adriano quanto Julia disseram que ele temia ser assassinado em vez de preso, de acordo com o advogado. "Com as repercussões sobre os arquivos que ele poderia revelar, a família fica um pouco receosa, mas não estão sob proteção", diz Catta Preta.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), contestou o vídeo publicado pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) com uma imagem do suposto cadáver do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, morto na semana passada em Esplanada (BA). O material foi publicado pelo senador e filho do presidente da República no Twitter na terça-feira, 18.

"Como é que eu vou periciar um vídeo que está circulando na internet? Mas eu posso lhe garantir que aquilo não é nem do IML da Bahia, nem do IML do Rio", disse Costa, após uma reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) na noite da quarta-feira, 19.

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"Imagem hoje, vocês que são de comunicação, editam do que jeito que quiser, mas não são imagens (de Nóbrega). As imagens do corpo tem uma saída de bala nas costas, e as costas ali estão lisas", disse o governador a jornalistas.

A publicação de Flávio Bolsonaro insinua que o miliciano foi torturado antes de ser morto, versão descartada pela necrópsia oficial.

Ainda na terça, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, havia rebatido as acusações do senador.

Segundo o secretário, o vídeo divulgado pelo parlamentar não teve a autenticidade reconhecida pela perícia da Bahia e nem pela perícia do Rio de Janeiro.

No mesmo dia, o Departamento de Polícia Técnica do Rio informou ao Estado que o vídeo não havia sido gravado no local.

O corpo do ex-PM Adriano da Nóbrega passará por um novo exame cadavérico na tarde desta quinta-feira, 20, no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro. Apontado pela Polícia do Rio como chefe do Escritório do Crime, uma milícia com atuação na zona oeste da capital fluminense, Nóbrega foi morto com dois tiros em Esplanada, no interior da Bahia, no último dia 9.

"Capitão Adriano", como era conhecido, foi baleado depois que a polícia invadiu o sítio onde ele estava escondido. Segundo a PM, houve troca de tiros. A família de Nóbrega, no entanto, diz que ele foi executado.

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A Justiça da Bahia autorizou na noite de terça-feira, a realização do novo exame. O pedido havia sido feito pelo Ministério Público da Bahia e também pela família de Nóbrega. Na decisão, o juiz Augusto Yuzo Jouti determina que o exame seja feito por peritos do IML do Rio, onde o corpo está desde o último domingo. De acordo com a decisão, no entanto, a família e o MP da Bahia podem indicar peritos independentes para acompanhar o exame.

O objetivo do novo exame é determinar a distância aproximada entre os policiais e Adriano, o trajeto percorrido pelas balas no interior do corpo do ex-PM e o calibre das armas usadas. Será possível averiguar também se houve tortura, como foi alegado pelo senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ).

Segundo os promotores, tais questões não foram devidamente esclarecidas na primeira necropsia, feita no IML de Alagoinha, cidade vizinha à Esplanada. Com esses esclarecimentos, acreditam, será possível determinar se houve, de fato, uma troca de tiros ou uma execução.

A Secretaria de Segurança da Bahia informou que estão pendentes ainda os resultados de exames importantes feitos no Estado. São eles o residuográfico (que determina se Nóbrega, de fato, fez algum disparo de arma de fogo), o das marcas de bala no escudo usado pela PM na invasão do sítio (o que poderia indicar uma reação) e o da perícia da casa onde ele foi alvejado.

Adriano da Nóbrega é investigado no Rio por sua participação no Escritório do Crime, o braço armado da milícia. O MP também apura a ligação do ex-oficial com o esquema de rachadinha (repasse dos salários ao parlamentar) no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça, trabalharam no gabinete. O então deputado estadual também assinou projeto que resultou na concessão ao ex-policial da Medalha Tiradentes, mais elevada homenagem do Legislativo fluminense. Na ocasião, Adriano da Nóbrega estava preso, respondendo a processo por assassinato, acusação de que, posteriormente, se livrou.

Nóbrega estava foragido havia cerca de um ano, quando foi localizado na Bahia. O corpo foi trazido para o Rio de Janeiro na terça-feira à noite, em voo comercial. A mãe do ex-oficial pretendia cremá-lo já na manhã de quarta-feira, no Memorial do Carmo, no Caju, mas foi impedida pela Justiça.

Na madrugada de quarta-feira, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, sustentou que o pleito da família não atendia aos requisitos da lei. O requerimento, segundo ela, não estava acompanhado de documentos imprescindíveis, como a guia de remoção do cadáver e o registro de ocorrência. Além disso, alegou, a morte não se deu por causas naturais: "acaso fosse deferida a cremação, (...) inviabilizadas estariam eventuais providências a serem levadas a efeito pela autoridade policial".

Na tarde de quarta-feira, o juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, proferiu uma nova decisão contra a cremação, desta vez no processo referente à Operação Intocáveis, do Ministério Público do Rio. A ação apura a participação de Nóbrega no Escritório do Crime.

Na quinta-feira pela manhã, a viúva do ex-capitão, Julia Emília Mello Lotufo, pediu a realização de uma perícia particular no corpo. Como o advogado, ela acredita que o marido pode ter sido executado e não quer enterrar o corpo sem tirar isso a limpo. A Justiça do Rio negou o pedido.

Ex-companheiro do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega na prisão, o vereador do Rio e sargento da Polícia Militar Ítalo Ciba (Avante) afirmou ao jornal O Globo que o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) visitou os dois "mais de uma vez" na cadeia. A família Bolsonaro tem negado que existia uma relação entre eles e o miliciano morto no dia 9 na Bahia.

O jornal O Estado de S. Paulo tentou contato com o vereador, mas a assessoria disse que ele não vai mais falar. A equipe dele, no entanto, confirmou as afirmações feitas ao jornal carioca.

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Ciba também disse que Adriano frequentava o gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, a Alerj, quando o senador era deputado estadual.

As idas ao local teriam sido feitas a convite de Fabrício Queiroz, ex-chefe de gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro e apontado como operador dos desvios de recurso no gabinete.

O próprio Adriano seria beneficiado pelo esquema de rachadinha, segundo o Ministério Público fluminense.

Ex-capitão do Bope, Adriano teve a mãe e a ex-mulher empregadas na Alerj. Elas seriam funcionárias fantasmas.

Além deste vínculo, o então deputado também presenteou o miliciano, em 2005, com a Medalha Tiradentes, maior honraria do Legislativo do Rio. Ele estava preso quando foi homenageado.

O senador afirmou, em nota, que só visitou Adriano na ocasião da entrega da medalha. Ítalo Ciba, contudo, disse que houve mais visitas.

Ele e o miliciano ficaram presos juntos em 2003, quando integravam o Grupamento de Ações Táticas (GAT), comandado por Adriano. Foram acusados de homicídio, tortura e extorsão. Foi nesse período, segundo o vereador, que Flávio visitou mais de uma vez a prisão.

"Não há nenhuma relação de Flávio Bolsonaro ou da família com Adriano", diz a nota enviada pelo senador ao Globo.

O jornal carioca tentou, via Lei de Acesso à Informação, obter a lista de visitas recebidas pelo então policial militar na cadeia, mas o órgão alegou sigilo.

A Alerj disse não ter registros de visitas de Adriano a gabinetes, mas reconheceu que o sistema do prédio anexo, onde ficam os escritórios dos deputados, era falho até o ano passado.

Em uma palestra realizada na noite de terça-feira, 18, para prefeitos do interior paulista, recém filiados ao PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou duramente as insinuações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a Polícia Militar da Bahia teria executado o miliciano Adriano da Nóbrega.

Em um movimento que uniu chefes de executivo do PT ao DEM, 20 dos 27 governadores a elaborarem uma carta "em defesa do pacto federativo" e em solidariedade ao baiano Rui Costa (PT).

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"Foi uma grosseria inaceitável. Se você precisa tratar bem os deputados, o que dizer dos governadores. Eles representam os Estados. Não me lembro de já ter visto uma carta assinada pela maioria dos governadores contra o presidente da República. Uma coisa rara, que mostra como é rara a gravidade do ato", disse FHC.

Na sexta-feira, Bolsonaro apontou Costa como responsável pela operação policial que resultou na morte de Adriano, classificada por ele como uma "provável execução sumária" para queima de arquivo. Segundo Bolsonaro, a "polícia do PT" não procurou "preservar a vida de um foragido". Em um discurso que durou mais de uma hora, FHC também disse aos novos tucanos que Bolsonaro "governa por antagonismo" e que essa não é a melhor maneira.

O governador João Doria chegou ao evento durante a palestra de FHC e fez uma fala breve que também mirou Bolsonaro. "Vocês estão assistindo a palestra de um democrata que nunca desrespeitou um jornalista, que nunca mudou o tom para atacar a imprensa", disse Doria.

O governador se referia às ofensas proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro contra a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo. O mandatário questionou, com insinuação de caráter sexual, a atuação dela em reportagens sobre o disparo massivo de mensagens durante a campanha eleitoral.

Organizado pelo presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, que também é secretário estadual de Desenvolvimento Regional, o evento de ontem marcou a filiação de 8 prefeitos do interior ao partido.

O juiz da comarca de Esplanada, Augusto Yuzo Jouti, acolheu pedido do Ministério Público da Bahia e proibiu a cremação do corpo do capitão Adriano, morto em ação policial na cidade, no interior do Estado. As informações foram divulgadas pela Promotoria da Bahia.

O ex-policial foi morto pela Polícia Militar baiana, em cerco em Esplanada (BA), no domingo (9). Fora localizado após fugir, por mais de um ano, da Polícia fluminense. Segundo o IML, os tiros que o mataram foram disparados a pelo menos um metro e meio de distância.

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O pedido havia sido feito pelos promotores de justiça Dario Kist e Gilber de Oliveira após o juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, determinar na segunda-feira, 17 que não é mais necessário conservar o corpo do ex-policial.

Segundo o Ministério Público, o 'corpo do ex-policial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, Adriano Magalhães da Nóbrega, deverá ser submetido a perícia necroscópica complementar pelo IML do Rio de Janeiro e não poderá ser cremado até à realização do exame'.

De acordo com a Promotoria, "a decisão do magistrado atendeu a pedidos cautelares de antecipação de provas formulados pelo Ministério Público do Estado da Bahia e por familiares do ex-policial, morto no último dia 9 de fevereiro durante diligência para cumprimento de mandado de busca e apreensão e mandado de prisão". "O laudo do novo exame deve ser apresentado à Justiça baiana em 15 dias".

Na decisão, segundo o MP, "o juiz também determinou que a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia disponibilize as gravações dos rádios transmissores utilizados pelos agentes policiais no dia da operação policial e realize exame papiloscópico nas munições não deflagradas da pistola supostamente encontrada com Adriano". "As provas deverão ser apresentadas no procedimento em trâmite no Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), em Salvador".

No último sábado, 15, Bolsonaro responsabilizou a "PM da Bahia do PT" pela morte de Adriano e declarou que o caso é "semelhante à queima de arquivo do ex-prefeito Celso Daniel". O presidente chegou a afirmar neste domingo, 16, que espera que as investigações cheguem a 'um bom termo'.

Entenda o caso

Ao Estado, o advogado Paulo Emilio Catta Preta, que defendia Adriano, afirmou ter recebido uma ligação de seu cliente na quarta, 7. O ex-PM disse que tinha "certeza" de que queriam matá-lo para "queimar arquivo". A viúva do miliciano também fez o mesmo relato.

Mônica Benício, viúva da ex-vereadora Marielle Franco, e o PSOL, cobraram explicações sobre a morte de Adriano. O partido vai pedir uma audiência com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para cobrar esclarecimentos sobre a morte.

O capitão Adriano estava foragido desde a Operação Os Intocáveis, deflagrada em janeiro de 2019, contra uma milícia que atua em Rio das Pedras, comunidade pobre da Barra da Tijuca. De acordo com a Promotoria do Rio, o grupo atuava na grilagem de terras, na compra, venda e aluguel irregular de imóveis, na cobrança de taxas da população local e na receptação de mercadoria roubada, entre outros crimes. A Receita Federal chegou a fazer uma parceria com a Promotoria do Rio para compartilhar dados fiscais colhidos na Operação Os Intocáveis, com o fim de também elucidar o suposto esquema de desvio de salários.

A mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, trabalhou no gabinete de Flávio de 6 de setembro de 2007 até 14 de novembro do ano passado. Já a mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, esteve lotada no mesmo gabinete de 11 de maio de 2016 também até 14 de novembro de 2018. Ambas recebiam salário de R$ 6.490,35. Raimunda é citada no relatório do Coaf que investiga corrupção no Legislativo fluminense. Ela repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz.

Quando o Ministério Público Estadual do Rio pediu a quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro e seus assessores, na lista dos alvos constavam os nomes de Raimunda e Danielle. Seus nomes eram marcados em negrito no documento, para ressaltar o elo com o miliciano.

Em dezembro, o MP do Rio concluiu que o Capitão Adriano era beneficiado pelo dinheiro do suposto esquema de "rachadinha" que existia no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual no Rio. Os promotores chegaram a essa conclusão depois de analisar conversas via WhatsApp e dados de transações financeiras do ex-PM. As informações constavam no pedido do Ministério Público Estadual do Rio para que fossem deflagradas buscas e apreensões no Caso Queiroz.

Adriano foi homenageado por Flávio em 2003 e 2004 na Assembleia Legislativa por sua atuação como policial. Tanto o senador, quanto seu homem de confiança, Fabrício Queiroz, tinham a mesma versão sobre a nomeação. Queiroz afirmou que ele mesmo quem indicou a contratação da mãe e da mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega para o gabinete do então deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio.

Nota assinada pelo advogado Paulo Márcio Ennes Klein, à época na defesa de Queiroz, informava que o seu cliente "é ex-policial militar e conheceu o sr. Adriano na época em que ambos trabalhavam no 18º Batalhão da Polícia Militar e, após a nomeação dele como assessor do ex-deputado estadual solicitou ao gabinete moção para o sr. Adriano, bem como a nomeação dele para trabalhar no referido gabinete, em razão dos elevados índices de êxito na condução das ocorrências policiais registradas, até então, na equipe em que trabalhava na PM."

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, rebateu o vídeo e as acusações do senador Flávio Bolsonaro pelas redes sociais. Mais cedo, o filho do Presidente publicou vídeo de suposto corpo do ex-capitão do Bope e suspeito de integrar milícia Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em operação policial na cidade de Esmeralda, a 170 quilômetros de Salvador.

Segundo Barbosa, o vídeo divulgado pelo senador não teve a autenticidade reconhecida pela perícia da Bahia e nem pela perícia do Rio de Janeiro. Nesta tarde, a reportagem buscou o Departamento de Polícia Técnica do Rio, que informou que o vídeo não havia sido gravado no local.

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"As imagens não foram feitas nas instalações oficiais do Instituto Médico-Legal. Então nós temos a clara convicção de que isso é para trazer algum tipo de dúvida, de questionamento, a um trabalho que ainda não foi concluído", disse Barbosa. Segundo o secretário, o governo foi 'instado' a comentar o resultado de uma perícia, divulgada na semana passada, e que há outros exames a serem realizados.

A única perícia oficial do corpo do miliciano aponta que ele foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância. São mencionados "seis fraturas nas costelas", "dois pulmões destruídos" e o "coração dilacerado".

Diferente do que alegou Flávio, não há menção a coronhada ou queimadura. Os ferimentos, segundo os peritos, seriam compatíveis com o impacto no corpo causado por tiros de fuzil, em razão da alta energia cinética dos projéteis.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirma que o diretor do Instituto Médico Legal (IML) da Bahia, Mário Câmara, afirma que não é possível confirmar onde o vídeo foi gravado e se o corpo é realmente do capitão Adriano da Nóbrega.

"Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano. Então não faremos comentários sobre o vídeo", afirma.

Nesta tarde, Flávio Bolsonaro publicou um vídeo de 21 segundos, sem áudio e com imagens fortes, no qual é exibido um corpo etiquetado com o nome de Adriano Magalhães.

"Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões", afirmou Flávio Bolsonaro.

Além de ser acusado de integrar o Escritório do Crime, milícia envolvida no assassinato da vereadora Marielle Franco, Adriano da Nóbrega era investigado pelo Ministério Público do Rio por participação em suposto esquema de rachadinha conduzido no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O filho do presidente empregou a ex-esposa e a mãe de Adriano da Nóbrega. Ao deflagrar operação contra endereços ligados ao ex-assessor Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro em novembro do ano passado, o Ministério Público detalhou conversas entre Nóbrega e sua ex-esposa Danielle que era funcionária de Flávio.

Após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelar movimentações atípicas de Queiroz, Danielle foi exonerada do cargo e cobrou explicações do miliciano em mensagens obtidas pela promotoria. Nelas, a ex-esposa de Adriano da Nóbrega afirma que ele também se beneficiava do suposto esquema de 'rachadinhas'.

Senador e filho do presidente da república, Flávio Bolsonaro postou, na tarde desta terça (18), um vídeo que ele diz ser da perícia no corpo do miliciano Adriano da Nóbrega, que em vida foi homenageado por ele na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em 2003.

Junto às chocantes imagens, o filho do presidente postou que a “Perícia da Bahia” não consegue concluir se o ex-capitão da PM foi torturado e descreve as lesões sofridas pelo miliciano. “Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros à queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões”, tuitou.

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As imagens são fortes:

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O Ministério Público da Bahia apresentou pedido à Justiça para obrigar o Departamento de Perícia Técnica do Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro (IML) a manter 'intacto' o corpo do ex-capitão do BOPE Adriano Magalhães de Nóbrega. O objetivo é garantir a efetivação de novo exame pericial complementar.

O pedido foi feito pelos promotores de justiça Dario Kist e Gilber de Oliveira após o juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, determinar na segunda-feira, 17 que não é mais necessário conservar o corpo do ex-policial.

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Clique aqui para acessar a íntegra do pedido feito pelo MP-BA.

A determinação do juiz foi proferida em sentença que extingue a punibilidade de Nóbrega em ação criminal envolvendo outros doze militares acusados de envolvimento com o Escritório do Crime, milícia ligada ao assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL).

Nesta terça-feira, 18, o presidente Jair Bolsonaro cobrou 'perícia independente' no cadáver do miliciano. "Pelo o que estou sabendo, o MP (Ministério Público) Federal da Bahia, não tenho certeza, vai cobrar uma perícia independente hoje. É o primeiro passo para começar a desvendar as circunstâncias em que ele (Adriano) morreu e por quê. Poderia interessar para alguém a queima de arquivo. Contra quem ele teria para falar? Contra mim que não era nada. Contra mim teria certeza que os cuidados seriam outro para preservá-lo vivo", disse.

Familiares de Adriano da Nóbrega pedem na Justiça o direito de cremar o corpo do ex-capitão. O pedido, no entanto, havia sido negado na semana passada pela Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, que alegou ausência de documentos. A medida ainda está em vigor, mas impede apenas a cremação. O corpo pode ser sepultado.

"Em termos fáticos, não há mais empecilho para que a família do Adriano Magalhães da Nóbrega dê ao corpo o fim desejado, aí incluída a possibilidade de cremação. Contudo, o Ministério Público do Estado da Bahia considera prematura a medida, pois ela, nomeadamente se o for na forma de cremação, extinguirá, de modo definitivo, a possibilidade de realização de novos exames no corpo, necessários à completa elucidação das circunstância da morte".

Ao 'Estado', o advogado Paulo Catta Preta, que representou Adriano da Nóbrega, afirma que o pedido da promotoria é 'muito bem-vinda' e 'caminha no sentido desejado pelos familiares de Adriano. Segundo ele, os parentes do miliciano querem fazer uma perícia particular no cadáver, mas querem o acompanhamento de peritos judiciais e que ela seja feita nas instalações do IML do Rio.

Queima de arquivo

O ex-PM foi localizado pelo Serviço de Inteligência da polícia baiana em um sítio no interior do Estado. A versão da corporação é que Nóbrega trocou tiros com agentes, foi baleado e socorrido em um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

No entanto, o próprio Adriano estava convencido de que estava sendo procurado para suposta 'queima de arquivo'. O relato foi narrado por Paulo Catta Preta e pela viúva do miliciano.

Acusado de integrar o Escritório do Crime, milícia suspeita de envolvimento na morte de Marielle Franco, Adriano da Nóbrega trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, o ex-assessor de gabinete de Flávio Bolsonaro, investigado por lavagem de dinheiro no esquema de "rachadinha" na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj).

Ao deflagrar operação contra endereços ligados a Queiroz e Flávio Bolsonaro em novembro do ano passado, o Ministério Público detalhou conversas entre Nóbrega e sua ex-esposa, Danielle, que era funcionária do gabinete do então deputado estadual na Alerj.

Após reportagem do 'Estado' revelar movimentações atípicas de Queiroz, Danielle foi exonerada do cargo e cobrou explicações do miliciano em mensagens obtidas pela promotoria. Nelas, a ex-esposa de Adriano da Nóbrega afirma que ele também se beneficiava do suposto esquema de 'rachadinhas'.

O manguezal vizinho aos condomínios de luxo da Costa do Sauípe, a 100 km de Salvador, parece tranquilo. Famílias pobres tiram dos caranguejos seu sustento. Uma moradora, no entanto, alerta: "Vocês são doidos de ficar aqui, isso aqui é cheio de gente ruim", diz, em referência a ladrões que aproveitam a mata fechada para praticar pequenos furtos. Foi dessa região que, há duas semanas, o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega teria protagonizado uma fuga para a cidade de Esplanada, no norte baiano, onde acabou morto por policiais.

Acusado de chefiar a milícia Escritório do Crime - citada em investigações da morte da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes -, Nóbrega estava na Costa do Sauípe desde dezembro do ano passado. Antes que a polícia chegasse ao "esconderijo", ele saiu pelo fundo da casa, cruzou a área de mangue, nadou e passou pela praia. Depois, chegou à área urbana e alugou um carro, de acordo com a reconstituição feita pela Polícia Civil.

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O jornal O Estado de São Paulo passou os últimos dias à procura de pistas deixadas na Bahia pelo "capitão Adriano", como era conhecido o ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM fluminense. Nos três endereços por onde passou nos últimos dois meses, os relatos descrevem Nóbrega como um homem discreto, de pouca disposição para conversar.

Para uma funcionária do condomínio de luxo em que ele ficou por quase dois meses no Sauípe, o ex-policial militar chamava atenção pelas "costas fortes" e pela expressão fechada que carregava no rosto. "Ele vivia andando de bicicleta pelo condomínio, via sempre. Um homem bonito daqueles fazer uma coisa dessas", afirmou. Além de deixar para trás uma identidade falsa, Adriano abandonou uma quantidade grande de alimentos estocados.

O destino dele, a partir dali, foi uma fazenda no município de Esplanada, que tem menos de 30 mil habitantes. Ali vive o fazendeiro Leandro Guimarães, famoso pelas vaquejadas que promove em sua propriedade, chamada Parque Gilton Guimarães. O terreno, repleto de cabeças de gado, é conhecido como "entrada dos coqueiros".

O terreno principal da fazenda tem duas casas. Uma delas é mais discreta, reservada a um funcionário. A outra é pintada de amarelo claro e abriga a família Guimarães, que vive entre Esplanada e Pojuca, município a cerca de 80 quilômetros dali. Foi nesse espaço que Nóbrega se instalou e permaneceu durante uma semana, até ser morto em uma operação policial.

Guimarães disse à polícia que não sabia que Adriano era foragido e só percebeu que era um homem "perigoso" quando o ex-PM o ameaçou. O fazendeiro foi preso por porte ilegal de armas. Foi solto pela Justiça, que fixou fiança e ordenou que usasse tornozeleira eletrônica.

Em seus últimos dias de vida em Esplanada, o ex-capitão circulou armado pelo campo, andou a cavalo e fez caminhadas. Só conversava com o "patrão", segundo um funcionário da fazenda. Era misterioso e "dava medo", segundo ele. Guimarães relatou que Adriano disse que queria comprar uma propriedade na região e, em sua companhia, visitou algumas, mas não gostou de nenhuma.

O delegado Maurício Sansão, diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), disse que o miliciano visitava a Bahia havia quase três anos. Os investigadores baianos apuram, agora, se ele lavava dinheiro comprando gado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

"Quem foi responsável pela morte do capitão Adriano foi a PM da Bahia, do PT. Precisa dizer mais alguma coisa?", disse, neste sábado (15), o presidente da República, Jair Bolsonaro. A afirmação é uma referência à morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto no município de Esplanada, a 170 km de Salvador, e que no passado recebeu homenagens da família Bolsonaro.

"A medalha foi em 2005. Não tem nenhuma sentença julgada condenando o capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo", afirmou Bolsonaro em evento no Rio ao lado do filho e senador Flávio Bolsonaro (Sem Partido-RJ), responsável pela homenagem. O presidente disse que a homenagem foi um pedido dele ao filho.

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Perguntado sobre o motivo da morte do miliciano, Bolsonaro citou a imprensa dizendo que leu que seria "queima de arquivo".

Ao ser perguntado por que o filho condecorou o miliciano, Bolsonaro chamou o filho, Flávio, para esclarecer a homenagem. "Isso tem 15 anos", disse Flávio.

O senador lembrou que fez questão de pedir para não cremarem o corpo, já que "pelo que eu soube e como mostrou a revista Veja, ele foi torturado". "Pra falar o que? Com certeza não é pra falar sobre nós, porque não tem o que falar contra nós, não temos envolvimento nenhum com milícia", disse Flávio Bolsonaro, bem exaltado.

Bolsonaro e o filho encerraram a entrevista ao serem perguntados por que empregaram parentes do miliciano morto. Sem responder, seguiram para um evento evangélico do pastor RR Soares, na Enseada de Botafogo, zona sul do Rio.

A casa em que o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto no domingo (9) ainda guarda vestígios do desespero em que ele estava antes da operação policial que o encurralou. Na cidade de 30 mil habitantes, ninguém fala abertamente sobre o ocorrido. Sob anonimato, moradores relatam que Nóbrega foi visto andando armado na fazenda onde se escondeu.

Localizado à beira de uma estrada em Esplanada, no litoral norte da Bahia, o imóvel de dois quartos, visitado pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quarta-feira, ainda tem sinais da passagem do ex-policial. Manchas de sangue sujam o chão da sala e deixam rastros até a saída. Além do sangue, há, na casa, um colchão de solteiro sem lençol, roupas desarrumadas e uma quantidade abundante de remédios. Sobre a mesa da sala, 12 pães sem embalagem, sobrevoados por moscas. Um dos quartos está cheio de fibra alimentar para gado.

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A casa, que pertence ao vereador Gilson de Dedé (PSL), tem sete janelas. Em uma delas se vê uma marca que parece ser de bala, apesar de a polícia ainda não confirmar oficialmente.

Uma camiseta de Adriano ocupa o topo da pilha de roupas encontrada no quarto em que o miliciano ficou. A peça tem os dizeres "Vaqueiro & caveira & rico & meu tio", na vertical. O livro As 48 Leis do Poder, do escritor norte-americano Robert Greene, estava sobre o colchão.

A morte do miliciano, que estava foragido da Justiça do Rio desde janeiro de 2019, deixou a população local aflita. Com medo de represálias, moradores desconversam quando lhes perguntam onde estavam na hora da operação de domingo. Sem saber ao certo do que Adriano é acusado, moradores ficaram surpresos com a repercussão do caso. A morte agitou a pequena cidade, que tem uma réplica do Cristo Redentor.

A mais de 1.600 quilômetros dali, no Rio, Adriano é acusado de chefiar a milícia Escritório do Crime, citada nas investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco. O ex-capitão do Bope também é mencionado na apuração da prática de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Ele se beneficiaria do esquema por intermédio da ex-mulher, que trabalhava lá. A mãe do miliciano também teve cargo no local.

A simplicidade e a bagunça da casa em que Adriano foi morto contrastam com a fazenda na qual passou a última semana de vida. Ficou nela até antes de partir, na noite anterior à morte, para a casa onde foi morto. Pertencente a Leandro Guimarães, conhecido pelas vaquejadas que organiza em Esplanada, o território é vasto e repleto de gado, coqueiros e montanhas.

Fica ali o Parque Gilton Guimarães, uma herança de família que hoje é controlada por Leandro. Ele vive no espaço com a mulher e a filha. Nos últimos dias, desde que foi preso pela Polícia e depois solto pela Justiça, ninguém sabe para onde foram Leandro e os Guimarães.

"Nunca mais vi. Só estou cumprindo minhas funções, que já sei 'de cabeça'", disse um empregado da fazenda.

O funcionário conta que por duas vezes viu Adriano, que classificou como um homem "que era grande" e "dava medo". O ex-PM estava, em uma das ocasiões, a cavalo; na outra, a pé. "Era muito fechado, só falava com o patrão", comentou. Colegas dele lhe relataram ter visto o forasteiro na última vaquejada organizada por Guimarães, em janeiro. Também há relatos de que o chefe do Escritório do Crime portava fuzil enquanto passeava pelo terreno.

A polícia da Bahia investiga quão importante era Guimarães na rede de proteção a Adriano no Estado. Os investigadores apuram ainda a suposta lavagem de dinheiro praticada pelo miliciano por meio de compra de terra e gado na região. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Justiça do Rio de Janeiro impediu a cremação do corpo do ex-policial militar Adriano da Nóbrega, de 43 anos, morto no domingo passado (9), durante troca de tiros com a polícia no município de Esplanada, na Bahia. Ele é acusado de chefiar a milícia Escritório do Crime, que atua na zona oeste do Rio. Além disso, teve o nome citado na investigação que apura prática de "rachadinha" no gabinete do então deputado (hoje senador) Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e de ter ligação com o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) ocorrido em março de 2018.

A cremação estava marcada para as 10h desta quarta-feira (12) no crematório do Cemitério São Francisco Xavier, no Caju (zona norte do Rio). Para que fosse realizada, no entanto, era necessária uma autorização judicial. O pedido de alvará de cremação foi apresentado na segunda-feira (10) ao Plantão Judiciário pela mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e por duas irmãs dele, Daniela e Tatiana Magalhães da Nóbrega.

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Consultado, o Ministério Público do Estado do Rio manifestou-se contra a cremação. A juíza Maria Izabel Pena Pieranti decidiu não autorizar o procedimento, afirmando que faltam documentos, como a guia de remoção de cadáver e o registro de ocorrência. Além disso, segundo a magistrada, eventual cremação impediria exames que podem elucidar as circunstâncias da morte de Nóbrega. "Acaso fosse deferida a cremação, inviabilizadas estariam eventuais providências a serem levadas a efeito pela autoridade policial", escreveu Maria Izabel, que completou: "O interesse público na cabal elucidação dos fatos tem preponderância sobre o desejo de seus familiares".

Pelo Twitter, o senador Flávio Bolsonaro afirmou por volta do meio-dia desta quarta-feira que "acaba de chegar a meu conhecimento que há pessoas acelerando a cremação de Adriano da Nóbrega para sumir com as evidências de que ele foi brutalmente assassinado na Bahia. Rogo às autoridades competentes que impeçam isso e elucidem o que de fato houve".

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