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Brasília - Ao desembarcar, na madrugada de hoje (2), em Brasília, médicos cubanos disseram que o objetivo de sua vinda para o Brasil é humanitária e que pretendem ajudar a melhorar a saúde da população. "Eu acho que trabalhar nas áreas carentes é uma grande experiência para todos nós. É muito lindo ajudar todo o povo que necessita de nossa ajuda, de nosso trabalho", disse a médica Roxana Galliardo. "Minha expectativa é ajudar o povo brasileiro a melhorar sua saúde. Tenho 20 anos de experiência e já trabalhei em outros países, como a Venezuela e o Paraguai, em áreas muito carentes", reforçou Ramon Flore.

Marcado para as 22h40 de ontem (1º), o desembarque de mais de 250 profissionais só ocorreu por volta da 1h. Um pequeno grupo aguardou os médicos estrangeiros para dar-lhes boas-vindas, com bandeiras de Cuba e do PT. A médica Lázara López também ressaltou que veio para contribuir. Chegando para receber entre 40% e 50% do total do pagamento de R$ 10 mil repassado pelo governo brasileiro, Lázara não faz comparações entre trabalhar em Cuba ou no Brasil. "Não é questão de ser ou não vantajoso para nós. Nós só fazemos isso por solidariedade".

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Até o fim da semana, 2 mil médicos cubanos terão chegado ao Brasil. Na segunda-feira (7), esses profissionais iniciarão um curso com duração de três semanas, com aulas de saúde pública e língua portuguesa. Além dos 2 mil cubanos, os 149 médicos com diploma do exterior que foram selecionados para a segunda fase do Programa Mais Médicos iniciam o curso na próxima segunda-feira. As aulas ocorrerão no Distrito Federal, em Fortaleza, Vitória e Belo Horizonte. Em seguida, eles seguirão para os municípios em que vão atuar.

Na primeira fase do Mais Médicos, 400 profissionais cubanos chegaram ao Brasil e passaram por curso de formação e avaliação. A previsão do Ministério da Saúde é trazer ao país, até o fim do ano, 4 mil médicos cubanos. Esses profissionais vêm ao Brasil por meio de um acordo intermediado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e, por isso, não precisam passar pelo Revalida (Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior). Eles terão um registro provisório válido por três anos e apenas para o local designado pelo programa.

Entre as 272 cidades do País que não têm nenhum médico nas equipes do Programa Saúde da Família (PSF), somente 12% receberam profissionais vinculados ao Mais Médicos. Os números demonstram que a rejeição a esses municípios persiste: quase metade dos 33 beneficiados (17) terá apenas médicos cubanos, designados pelo governo federal.

Segundo cruzamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, 189 das cidades (69%) com esta carência de profissionais pediram médicos para o programa nas duas etapas de seleção. Entre elas, somente 48 (25%) foram consideradas prioritárias pelo governo, apesar de não terem nenhum médico no PSF - a saúde da família é um dos focos do programa. Criado em 1994, o PSF se tornou essencial em comunidades em situação de extrema pobreza e regiões mais distantes. O sistema, que inclui visitas domiciliares dos profissionais às famílias, permite que haja um monitoramento mais próximo.

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Segundo especialistas da área da saúde, um atendimento correto é capaz de suprir 80% das demandas básicas de saúde, como atendimentos corriqueiros e acompanhamento de doenças crônicas, como hipertensão e diabete. Não à toa, a prioridade do Mais Médicos é compor equipes de atenção básica nos municípios. O problema é que, mesmo estando entre as cidades prioritárias, a maioria continua sem médico porque não foi atendida pelo programa. É o caso de Jandira, com 110.842 habitantes, na Região Metropolitana de São Paulo. A cidade não tem equipe de saúde da família e requisitou 28 médicos ao governo federal.

"O que eu posso dizer é que estou frustrado, decepcionado. Pedimos 28 médicos. Não esperava receber todos, mas pelo menos um terço disso", afirmou Elissandro Márcio Lindoso, secretário municipal de Saúde do município. De acordo com ele, a cidade enfrenta sérios problemas de fixação de médicos por causa da questão salarial. A prefeitura paga, em média, R$ 5 mil por um contrato de 40 horas semanais, a metade do valor que será pago no Mais Médicos. No início do ano, Jandira pediu ao governo profissionais pelo Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab), voltado para recém-formados em Medicina. A bolsa é de R$ 8 mil. "Quatro médicos se inscreveram, dois desistiram no meio, dois vieram trabalhar e só um continua. É muito difícil", diz o secretário.

A situação se repete de Norte a Sul do País, em cidades pequenas e de regiões distantes. O município de Carrapateira, na Paraíba, por exemplo, não tem nenhum médico de saúde da família para os 2.441 habitantes. A cidade requisitou profissionais ao programa, foi considerada prioritária, mas acabou não sendo contemplada. O mesmo aconteceu em Itapevi, na Grande São Paulo.

Para Laura Camargo Macruz Feuerwerker, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, enquanto os médicos brasileiros puderem escolher para onde ir, vai continuar faltando médico na atenção básica. "A demanda dos municípios mais distantes só será preenchida quando o governo disser onde os médicos precisam ir", avalia. "Em geral, os brasileiros preferem se alocar em cidades maiores onde poderão trabalhar no SUS e na saúde suplementar", completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

FORTALEZA (CE) - Os 28 médicos cubanos do programa do Governo Federal “Mais Médicos”, implementado no Sistema Único de Saúde (SUS), estão impedidos de exercer a função no Ceará. Isso, após a determinação da Justiça Federal que concedeu, na noite desta terça-feira (10), uma  liminar que exige que os profissionais tenham o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Universidades Estrangeiras), para obter o registro do Conselhor Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec).

O pedido para que os médicos estrangeiros tenham que passar por processo de avaliação partiu do Cremec, que entrou com ação civil pública na Justiça Federal do Ceará, no dia 16 de agosto. Segundo a Justiça Federal, o que acontece é a antecipação de tutela que adianta os efeitos do pedido do Cremec até que seja tomada uma decisão final. Por enquanto, ainda cabe o recurso por parte dos médicos estrangeiros e do programa “Mais Médicos”.

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Para o presidente do Cremec, doutor Ivan de Araújo Moura Fé, o motivo do pedido do conselho está baseado na Lei nº 9.394 da Constituição Federal. “Todo registro de médico formado no exterior, em todos os casos, tem sido exigido a revalidação, baseada na lei, criada em 1996, de diretrizes e base educacional. A medida do “Mais Médicos” pretende eliminar essa exigência, é contra isso que estamos lutando. O objetivo é a precaução com a saúde do estado, uma vez que seja feita a avaliação”, comenta.

O presidente do Cremec fez questão de enfatizar que o conselho não tem nada contra profissionais estrangeiros que vem para o Brasil. “Nada temos contra os profissionais cubanos, até porque qualquer profissional brasileiro que for atuar no exterior na área medicinal será exigido a passar por avaliação”, ressaltou.

Os profissionais da medicina de Cuba através do “Mais Médicos” devem obter um registro provisório para exercer a função sem a realização do Exame Revalida. Para isso, o registro deve ser emitido pelo Conselho Regional de Medicina de cada estado. Com a decisão liminar desta terça-feira, o Cremec do Ceará deixa de ser obrigado a emitir esse registro caso o médico estrangeiro não realize o Exame Revalida.

Os 96 médicos cubanos que fazem curso de capacitação em Pernambuco e começam a trabalhar no dia 16 em municípios nordestinos e de Minas Gerais, dentro do programa Mais Médicos, cumprem uma rotina rígida e com pouca diversão. Alvo de polêmica, os profissionais são discretos, não se expõem e só podem ser contatados nas unidades do Exército onde estão alojados com autorização do Comando Militar do Nordeste.

Alojados no 10º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, na BR-232, no bairro do Curado, no Recife, os homens só deixam a unidade nos dias de semana para irem, de ônibus, ao município de Vitória de Santo Antão, onde fazem um curso de capacitação que abrange legislação médica brasileira, aspectos sociais, econômicos e políticos do País e língua portuguesa.

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Segundo os militares que faziam nesse domingo, 8, a guarda do Esquadrão, nenhum deles viu algum dos médico sair nos dias de folga. "A única coisa que eles fazem, aqui, é ir à sala de internet, falar com a família, contou um deles pedindo para não ser identificado. No primeiro fim de semana no Recife, um grupo de cinco médicos conheceu a praia de Boa Viagem, levado por um colega brasileiro. E só.

A imprensa está proibida de entrar no prédio e até mesmo de chamar um médico cubano que porventura passe na área interna. "Acesso só com autorização do comando, através de ofício", reiterou um militar, ao recomendar procurar a assessoria de comunicação do Comando. "Mas só na terça-feira (10) porque não haverá expediente nesta segunda (9)", porque os militares vão folgar para compensar o trabalho no dia 7.

Com as médicas não é diferente. Elas estão no 14º Batalhão Logístico, no bairro de Afogados, e raramente deixam o local. "Às vezes, uma ou duas vão até uma lanchonete pertinho e retornam logo", informou um integrante da guarda.

Trancafiados nas dependências dos alojamentos, os cubanos têm alguns momentos de lazer no próprio curso, que é ministrado no município metropolitano de Vitória de Santo Antão, onde eles podem falar com a imprensa. Na sexta-feira (6), depois das atividades, eles assistiram a um grupo de frevo.

Bernardo Madrazo, um médico cubano que trabalhou na África, Guatemala e Venezuela, se prepara com dezenas de compatriotas para trabalhar nas aldeias indígenas mais distantes da Amazônia, aonde os médicos brasileiros não querem ir.

"A Amazônia será muito diferente do que fiz antes. Estou muito animado", explica este afro-cubano procedente de Cienfuegos, 47 anos e com 23 de experiência médica (dois na Guatemala, dois no Lesoto e quatro na Venezuela). Seu destino será o Vale do Javari, uma área de tribos isoladas na fronteira com o Peru.

O governo de Dilma Rousseff acaba de lançar o programa "Mais Médicos" para preencher 15.000 vagas nas regiões remotas e pobres do país. Serão 4.000 médicos cubanos e centenas de argentinos, venezuelanos, espanhóis e portugueses.

"O principal problema será a língua. Estudamos muito português, mas os indígenas não falam português, vamos ter que aprender suas línguas", explica Ania Ricardo, outra cubana que passou três anos em bairros pobres e violentos de Caracas e que agora irá para uma aldeia no rio Solimões, na Amazônia.

Junto com outros 40 compatriotas que chegam ao Brasil com um contrato de três anos, Madrazo e Ricardo tiveram seus primeiros contatos com indígenas brasileiros esta sexta-feira, com um treinamento na Casa de Saúde Indígena, a 25 km de Brasília, um local que abriga pacientes submetidos a tratamentos e cirurgias complicados em todo o país.

O pequeno Ruberilson, de 12 anos, dono de um belo sorriso e grandes cicatrizes escondidas por um boné, caminha batendo com sua bengala entre os cubanos depois de ter ficado cego há alguns meses. Ele se comunica em idioma ianomami.

"Era um tumor benigno, mas demorou em ser atendido e afetou o nervo óptico. Será difícil seu retorno para a aldeia ianomami, porque é uma sociedade onde cada um tem sua função, pescar, caçar", explica uma encarregada do curso para os cubanos.

= A doença do espírito=

"O governo está determinado a dar prioridade à saúde indígena" e cobrir estas praças muitas vezes rejeitadas pelos médicos brasileiros porque são áreas muito remotas e que "requerem uma habilidade para tratar com uma cultura e hábitos muito diferentes", explica à AFP Antonio Alves de Souza, secretário de Saúde Indígena do governo brasileiro.

"São culturas que consideram o pajé como um médico e acreditam que a doença é do espírito e não do corpo. Não pode chegar alguém com essa visão de que a ciência do homem branco domina o mundo", explica.

A melhoria dos serviços de saúde pública foi uma das grandes reivindicações das manifestações que tomaram as ruas do Brasil em junho.

Mas o programa também gerou controvérsia.

Apesar de os médicos estrangeiros irem para as praças aonde os brasileiros não chegam, alguns deles foram recebidos nos aeroportos com vaias e declarações racistas.

Uma polêmica surgiu porque os cubanos recebem apenas parte dos 4.000 dólares que o Brasil paga, uma vez que o dinheiro é destinado ao governo de Havana. "Em Cuba, temos tudo garantido pelo Estado, eu não paguei um centavo para me formar, é nosso sistema, como também nos incutem a solidariedade de sair para exercer (a medicina) fora", explica Ania Ricardo.

Sétima economia do planeta, o Brasil tem uma taxa de 1,8 médico por 1.000 habitantes, menos que Argentina (3,2) ou Grã-Bretanha (2,7).

"A saúde no país estava cada vez mais precária. Realmente precisamos destes médicos estrangeiros e talvez incentivem nossos médicos a trabalhar melhor, me refiro aos que não querem ir a locais distantes ou atendem mal", diz Kenia Gomes de Matos, enfermeira da Casa de Saúde Indígena.

Os 79 médicos cubanos encerraram nesta sexta-feira, 06, a segunda fase do treinamento que recebem em Fortaleza. Eles visitaram postos de saúde da periferia, onde acompanharam os 15 médicos brasileiros do programa Mais Médicos que começaram a trabalhar nesta semana. Os cubanos disseram que gostaram do que viram, mas reclamaram que os postos de saúde são muitos distantes das residências das pessoas.

Os cubanos começam trabalhar no dia 16 em cidades carentes, e dizem que já estão preparados para o atendimento. "Nós viemos numa missão e vamos cumprir", disse Hugo Hernandez.

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Já a cubana Ivana Iglessias, que visitou um posto do bairro Dias Macedo, criticou a saúde básica brasileira. "A principal diferença entre o que a gente pratica em Cuba é que lá a saúde básica é mais próxima da população. Aqui é diferente. Em Cuba temos unidades básicas de saúde mais próximo da comunidade. Lá tem sempre um consultório com médicos e enfermeiros". Mas ela está confiante que isso acontecerá no Brasil com o Mais Médicos: "Tenho muita esperança e estou pronta para atender."

O secretário nacional de gestão estratégica e participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, que acompanha os cubanos que estão sendo treinados em Fortaleza, afirmou que "esse é um momento de avaliação deles em campo. Estamos fazendo a avaliação do ponto de vista da comunicação em língua portuguesa. Isso aqui é uma prática, e a partir dessa convivência deles, é estabelecida uma comunicação, se familiarizando com programa Saúde da Família, onde eles vão ter a sua prática cotidiana".

Os cubanos entram na segunda-feira, 09, na última semana de treinamento. A preparação é dada através de aulas sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa. O curso tem 120 horas com aulas expositivas, oficinas, simulações de consultas e de casos complexos. O que eles participam nesta sexta-feira foi uma visita técnica aos serviços de saúde com o objetivo de aproximar o médico do ambiente de trabalho.

Os cubanos treinados em Fortaleza vão a partir de 16 de setembro para cidades do interior do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão.

Municípios do Norte e do Nordeste serão os principais locais a receberem o primeiro grupo de médicos cubanos que chegaram ao Brasil. Em Pernambuco, 34 profissionais atuarão em 22 municípios. Em todo o país, 400 cubanos serão direcionados a um total de 219 localidades (206 municípios e 13 DSEIs). 

Este grupo atende a 29,4% dos 701 municípios que não foram selecionados por nenhum médico ao longo do chamamento individual, que deu prioridade a brasileiros com diplomas do Brasil e a brasileiros formados no exterior antes de convocar estrangeiros de países como Espanha, Argentina e Portugal. Confira a tabela com as cidades que receberão o programa:

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Juntas, as regiões Norte e Nordeste receberão 91% desses médicos – o equivalente a 364 profissionais. Eles trabalharão em unidades básicas de saúde de 187 localidades (69 municípios e 12 distritos indígenas no Norte e 105 municípios e um distrito indígena no Nordeste). Os 36 demais médicos irão para áreas carentes em 26 cidades do Sudeste e em seis do Sul.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirma que com a participação dos profissionais cubanos, já neste primeiro mês do programa, o governo conseguirá oferecer médicos a uma parte dos 701 municípios que não tinham sido selecionados por nenhum médico brasileiro, nem estrangeiro. “Este é ainda o primeiro passo, estamos no primeiro mês de chegada dos profissionais. O grande esforço do Ministério da Saúde é garantir o cumprimento da demanda total dos municípios prioritários e vamos fazer tudo o que for preciso para isso”, reforçou.

Até o fim do ano, outros 3.600 profissionais cubanos chegam ao Brasil para ocupar os postos remanescentes após novas rodadas de chamamento individual de brasileiros e estrangeiros.

Os municípios do Norte e Nordeste devem receber 364 dos 400 médicos cubanos que começam a atuar no Brasil a partir do próximo dia 16, por meio do Programa Mais Médicos. Eles passam por um curso com duração de três semanas e ainda farão uma avaliação antes de serem encaminhados aos municípios. O balanço foi divulgado hoje (3) pelo Ministério da Saúde.

Os selecionados, que representam 91% dos profissionais cubanos que desembarcaram no Brasil, vão atuar em unidades básicas de Saúde de 187 localidades. Para o Nordeste, seguem 201 médicos que vão atuar em 105 municípios e um distrito indígena. A Região Norte vai receber 123 profissionais distribuídos em 69 municípios e 12 distritos indígenas.

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O primeiro grupo de 400 médicos cubanos que veio atuar no Brasil atende 29,4% dos 701 municípios que não foram selecionados por nenhum médico no chamamento individual do Mais Médicos: 334 devem atuar em 182 municípios com 20% ou mais da população em situação de extrema pobreza; 26 médicos vão para 24 regiões metropolitanas e 40 vão para 13 distritos indígenas.

Até o final do ano, mais 3,6 mil profissionais cubanos chegam ao Brasil para ocupar os postos remanescentes, após novas rodadas de chamamento individual de brasileiros e estrangeiros. “Quando os estrangeiros chegam aos municípios, começa o processo de supervisão do trabalho desses médicos nos municípios e avaliações regulares do trabalho deles pelos supervisores”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Mais de 37.000 cubanos e 10.000 estrangeiros iniciaram ou concluíram seus estudos de medicina em Cuba, enquanto outros 40.000 seguiram carreira e cursos técnicos na área da saúde, informou nesta sexta-feira (30) o jornal oficial Granma.

"Apenas em Medicina, nos seis anos que demandam seus estudos, a matrícula de alunos chegou a 47.676, dos quais 37.302 são cubanos e 10.374 jovens procedentes de outros países", indica o jornal.

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Há mais de 13 anos, Cuba concede diplomas a estudantes estrangeiros que ingressam no curso de medicina na ilha, fundamentalmente na Escola Latinoamericana de Medicina (ELAN).

Contudo, desde 2012, foram adotadas novas modalidades para alunos que podem pagar por seus estudos. Segundo relatório da Prensa Latina, 900 estudantes sul-africanos pagaram mais de 10 milhões de dólares em 2012.

Além de manter o sistema nacional de saúde, cerca de 60.000 médicos e paramédicos cubanos trabalham em mais de 50 países, a metade deles na Venezuela, e seu trabalho, além do de outros profissionais como professores e treinadores esportivos, arrecada para o país mais de 6 bilhões de dólares, sendo a principal fonte de ingresso da ilha, superando o turismo, os impostos e a exportação de bens.

"O ano escolar 2013-2014, que se inicia na próxima segunda-feira 2 de setembro, receberá em suas aulas 85. 871 estudantes de Ciências Médicas, segundo dados preliminares, que abarca dois níveis de ensino: o superior, com 13 carreiras, e o técnico com 24", indica a revista.

No final de 2012, Cuba dispunha de mais de 85.000 médicos para uma população de 11,1 milhões de habitantes, um médico para cada 137 pessoas, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas, o que deixa a ilha em uma posição privilegiada a nível internacional.

Setenta médicos cubanos tiveram uma recepção tumultuada na tarde deste domingo (25), no aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza. Cerca de 30 estudantes secundaristas e militantes do PT, PCdoB e PSB chegaram ao saguão do Pinto Martins ao meio dia. Pintaram faixas e cartazes de saudação aos médicos que vêm ao Brasil graças ao programa Mais Médicos. O tumulto aconteceu com manifestantes do Sindicato dos Médicos, que cobraram do Ministério da Saúde o Revalida para os médicos cubanos. O voo que trouxe os 70 médicos para Fortaleza saiu de Havana com 217 médicos, sendo que 147 foram para Recife (PE) e Salvador (BA).

As palavras de ordem dos estudantes que gritaram boas vindas para os cubanos eram rivalizadas com os médicos brasileiros. Foi preciso a intervenção do secretário nacional de gestão estratégica e participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, ao garantir que os médicos cubanos não vão operar, mas "apenas fazer o atendimento na atenção básica e vão passar por uma avaliação permanente".

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O voo direto de Havana chegou com mais de duas horas de atraso. Previsto inicialmente para desembarcar às 13h20, o voo só chegou a Fortaleza às 15h30. Houve ainda mais 30 minutos de burocracia, além de recepção do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB).

As boas vindas para os cubanos, a maioria de médicas (60%), foi cantada em verso e traduzida pela bandeira cubana além de cartazes e faixas. Os manifestantes ainda tumultuaram a entrevista coletiva dada por quatro médicos cubanos gritando palavras de ordem contra a Rede Globo.

O cubano Juan Hernadez disse que veio para o Brasil para poder trabalhar com qualidade, mas admite que "de início será um pouquinho difícil, mas acreditamos que vamos trabalhar com as melhores condições". Questionado sobre o fato de alguns postos de saúde no interior, onde ele vai trabalhar, não ter esparadrapo, gaze e remédios, Juan Hernandez disse ter "certeza que o governo brasileiro vai resolver isso".

Os cubanos que desembarcaram em Fortaleza vão começar nesta segunda-feira um treinamento de três semanas a ser dado por professores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Escola de Saúde Pública do Ceará. Logo que chegaram eles embarcaram em três ônibus com destino ao 23º Batalhão de Caçadores do Exército, onde ficam alojados até serem destinados a municípios do Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte em 16 de setembro.

"Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor", afirmou Nelson Rodrigues, 45 anos. "Nossa motivação é a solidariedade", assegurou Milagros Cardenas Lopes, 61. As afirmações foram pelos primeiros médicos cubanos a desembarcarem em solo brasileiro, em entrevista, na tarde deste sábado, no Aeroporto dos Guararapes, no Recife, em resposta aos questionamentos dos jornalistas sobre a informação de que os profissionais, contratados por meio de convênio com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), só irão receber um porcentual de 25% a 40% do salário de R$ 10 mil a ser pago pelo governo brasileiro.

"Viemos para ajudar, colaborar, complementar com os médicos brasileiros", destacou Cardenas em resposta à suspeita de trabalho escravo. "O salário é suficiente", complementou Natasha Romero Sanches, 44.

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Eles integram o grupo de 30 profissionais que ficaram no Recife. Saíram de Havana em um voo fretado, que trouxe os primeiros 200 médicos cubanos para trabalhar nos 701 municípios que não despertaram interesse de nenhum profissional do Programa Mais Médicos. De acordo com o representante do Ministério da Saúde, Mozart Sales, que os recebeu, este número pode chegar a quatro mil até dezembro.

Recepcionados de forma festiva, com faixas e gritos de boas vindas por vinte integrantes da União da Juventude Socialista (UJS) e da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas (Umes), os médicos retribuíram a gentileza balançando as bandeiras do Brasil e de Cuba que traziam nas mãos. "Oh abre alas que os cubanos vão passar/ é mais saúde para a população/sejam bem vindos e a nossa gratidão" foi entoada pelos estudantes numa versão da música "Oh abre alas" de Chiquinha Gonzaga.

Na entrevista, realizada com quatro dos médicos, eles informaram que todos são especialistas em saúde da família e têm experiência de ajuda em outros países. Citaram Haiti, Venezuela, Paquistão, Guatemala e Honduras. Disseram que o curso de graduação de Medicina em Cuba é de seis anos e destacaram que lá eles têm tudo garantido - saúde e educação. "Nossas famílias estão seguras, com o necessário para viver", disse Natasha Romero Sanchez.

"Nós nos formamos com base na solidariedade e no humanismo", acrescentou ela, ao falar da alegria de estar no Brasil e poder "colaborar com o SUS". Ao seu ver, "o sistema de saúde brasileiro é desenvolvido".

Sobre a rejeição da classe médica brasileira à chegada dos estrangeiros isentos do exame para validar seus diplomas, ela destacou: "Não viemos mudar nenhum sistema social, viemos aprender com nossos colegas e poder ajudar o povo pobre com carência de atenção médica primária adequada".

Os profissionais vieram em número de 200, em voo fretado da empresa área "Cubana". Trinta ficaram em Pernambuco, vão se juntar aos outros médicos estrangeiros que estão em alojamentos do Exército e na segunda-feira (26) começam curso de treinamento de três semanas sobre a legislação sanitária brasileira e língua portuguesa.

Passo importante

Presidente estadual da UJS, Thiara Milhomem, 23 anos, afirmou que as mobilizações contrárias à vinda de profissionais estrangeiros pela classe médica brasileira "não deslegitima a vinda dos médicos". "A vinda deles não resolve o problema da saúde no Brasil, mas é um passo importante", afirmou.

Santo Antônio de Posse, no interior de São Paulo, se prepara para receber os médicos "importados" de Cuba pelo programa Mais Médicos. A prefeitura da pequena cidade de 23 mil habitantes começou a procurar moradia para receber os estrangeiros. "Ainda não fechamos nada porque não temos a confirmação de quantos médicos chegarão. Mas já estamos vendo imóveis para acolher esses médicos que serão muito bem-vindos", afirmou a secretária de Saúde, Vânia Regina da Cruz Santos.

O município pediu 15 médicos e na primeira fase do programa nenhum dos inscritos escolheu a localidade, que pena com a falta de generalistas na rede. "Somos uma cidade com muitos idosos e, por isso mesmo, precisamos de generalistas na rede para promover a promoção e a prevenção", afirmou.

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Em Posse, as duas unidades da zona rural do Programa Saúde da Família (PSF) não têm médicos. "Os médicos foram saindo e não conseguimos repor. Até abrimos concurso, mas não teve procura", afirmou. Dos quatro PSFs que funcionam na área urbana, em apenas um há médico generalista. "Especialista, até temos, mas o maior problema é com o generalista", disse Vânia, que afirmou ter cerca de 40 médicos na rede. Sem hotel na cidade, a prefeitura corre para acolher os médicos. "Vamos cuidar de tudo para que eles sejam bem recebidos."

A senadora Ana Amélia (PP-RS) afirmou nesta quinta-feira que o contrato do governo com os 4 mil médicos cubanos não está claro, pois não foi elucidado se será individual com os profissionais ou se o Brasil firmou um acordo com a administração de Cuba, terceirizando os serviços. De acordo com Amélia, se a administração federal brasileira pagar ao Executivo cubano e não aos médicos que virão, ficará caracterizada a exploração por um país de uma atividade relevante como a medicina. Na próxima semana, chegarão ao Brasil os primeiros 400 médicos.

"Queremos que o problema da assistência à saúde no Brasil seja resolvido, mas temos o direito de saber quais as condições. Chegarão 400 médicos. Para onde irão? Para uma unidade militar? Em que unidade militar? Como é que eles sairão de Cuba? Em aviões cubanos ou em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB)? Serão as Forças Armadas obrigadas a fazer a logística para esse transporte, esse acolhimento e essa hospedagem? Onde ficarão? Ficarão hospedados em unidades militares, portanto, à custa do contribuinte brasileiro, para prestar uma atividade para a sociedade civil?", indagou.

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Ela lembrou que o jornalista Fernando Havsberg, que é correspondente da BBC Mundo em Havana, afirmou que o contingente de profissionais da saúde cubanos fora da Ilha inclui, atualmente, 15 mil médicos que trabalham em 60 países, levando lucros ao regime. "As cifras falam em US$ 5 bilhões, o equivalente a mais de R$ 10 bilhões ao ano", disse.

Segundo Amélia, o serviço que os médicos cubanos prestam, por exemplo, à Venezuela, permite que Cuba receba cem mil barris diários de petróleo. "Ora, um médico não recebe um barril de petróleo. Então, como é feito esse pagamento do governo cubano aos seus médicos, aos profissionais ali formados?" A senadora do PP do Rio Grande do Sul disse ainda que dados de 2008 mostram que o governo da Venezuela paga 8 dólares por consulta e o da África do Sul, 7.

Amélia disse que, para muitos países em desenvolvimento, o atrativo dos médicos cubanos é que eles estão dispostos a trabalhar em lugares que os locais evitam, como bairros periféricos ou zonas rurais de difícil acesso, onde estão moradores de baixíssimo poder aquisitivo. Além disso, em geral, os médicos cubanos também receberiam remunerações mais baixas.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse nesta quinta-feira (22) que a importação de médicos cubanos, anunciada nesta quarta-feira (21) pelo governo, tem uma característica humanitária, e não um viés ideológico. "Essa decisão foi tomada considerando-se o melhor serviço possível, não tem uma motivação ideológica", afirmou. "Existem muitos médicos cubanos dispostos a fazer esse trabalho. Talvez não tenham tantos austríacos, por exemplo".

Patriota participa de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara e foi questionado pelo deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que é médico. O deputado perguntou se havia algum tipo de acordo, um "escambo" entre Brasil e Cuba para trocar investimentos, como a construção do Porto de Mariel, próximo a Havana, financiado pelo governo brasileiro, e a vinda dos médicos. "Não existe 'escambo', isso nunca nos passou pela cabeça. São iniciativas totalmente distintas. O Mais Médicos trata da carência de médicos no País. Muitos países recorrem à vinda de médicos estrangeiros, é algo aceito internacionalmente como uma estratégia de saúde", afirmou.

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O ministro também foi questionado se os contratos com os cubanos, que não receberão todo o valor pago pelo governo, não preocupa. Patriota lembrou que o contrato é feito via Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o que garante que os procedimentos são os melhores possíveis. "Se houver algum problema, tenho certeza que a Opas será a primeira a velar para que seja corrigido", disse.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) voltou a criticar a decisão do governo brasileiro de autorizar a entrada de 6 mil médicos formados em faculdades cubanas, sem revalidação do diploma estrangeiro. "É temerário e traz grandes riscos à população", avaliou o presidente em exercício, Carlos Vital. Para ele, esses profissionais são formados "em escala industrial e sem qualidade".

"Uma política que supõe a premissa de 6 mil médicos de Cuba sem revalidação de diploma é absolutamente incoerente. Só podemos encontrar explicação em fins eleitoreiros. Não há outra explicação", afirmou. Ele classificou a medida do governo como ilegal, já que hoje os médicos formados no exterior que desejam atuar no Brasil precisam fazer o Revalida, que é uma prova de revalidação do diploma.

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No ano passado, 182 profissionais que estudaram em faculdades cubanas se inscreveram para revalidar seus diplomas no Brasil, e apenas 20 foram aprovados. Em 2011, dos 140 inscritos, 15 passaram. O total de médicos com diplomas estrangeiros inscritos para a revalidação em 2012 foi de 884, dos quais 77 foram autorizados a atuar no País.

O governo brasileiro anunciou na segunda-feira, 6, que se prepara para trazer 6 mil médicos cubanos para trabalhar no interior do Brasil. O anúncio foi feito pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, depois de um encontro com o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez. Patriota afirmou que a medida será tomada devido ao déficit de profissionais de medicina no Brasil. A intenção do governo é levar os cubanos para trabalhar em cidades do interior do Brasil onde hoje não há atendimento e onde os médicos do País não querem trabalhar.

Vital alega que mesmo os profissionais estrangeiros não têm se fixado no interior. Segundo ele, dos quase 7 mil médicos estrangeiros que revalidaram diplomas no Brasil nos últimos dez anos, 42% estão no Estado de São Paulo. Sobre as críticas de que o interior do País não é assistido pelos profissionais formados no Brasil, Vital diz que é devido à falta de infraestrutura e afirma ser necessária uma política de fixação, de longo prazo.

Questionado se não seria melhor que as cidades do interior recebessem esses médicos com diplomas estrangeiros, em vez de não ter nenhuma assistência, ele afirmou que não. "A pseudo assistência é mais grave que a falta de assistência. Quando você não tem um médico na sua cidade, pode buscar na cidade ao lado e ter um médico de qualidade adequada", justificou.

Vital também é contra a possibilidade de esses médicos trabalharem com supervisão, como em programas de estágios. "Não importa se o médico vem fazer estágio ou trabalhar com contrato, ele vai exercer a medicina e precisa ter seu diploma revalidado", afirmou. "Não somos contra o exercício no Brasil de médicos formados no exterior, apenas exigimos que eles sejam avaliados."

O governo brasileiro se prepara para importar 6 mil médicos cubanos para trabalhar no interior do Brasil. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (6) pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, depois de um encontro com o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez. "Estamos nos organizando para receber um número maior de médicos aqui, em vista do déficit de profissionais de medicina no Brasil. Trata-se de uma cooperação que tem grande potencial e à qual atribuímos um grande valor estratégico", informou o ministro.

A vinda dos médicos cubanos começou a ser negociada em janeiro de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff visitou Havana pela primeira vez. A intenção do governo brasileiro é levar os cubanos para trabalhar em cidades do interior do Brasil onde hoje não há atendimento e onde os médicos do País não querem trabalhar.

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O Brasil, no entanto, terá que encontrar uma solução para a autorização de trabalho para esses médicos. Hoje, médicos formados no exterior precisam fazer uma prova de revalidação do diploma, o Revalida, em que menos de 10% dos que tentaram nos dois últimos anos foram aprovados. "Ainda estamos finalizando os entendimentos para que eles possam desempenhar sua atividade profissional no Brasil, no sentido de atendimento a regiões particularmente carentes do País", explicou Patriota.

Uma lei migratória que permite aos cubanos, pela primeira vez em meio século, viajar ao exterior sem pedir permissão ao governo, entrou em vigor nesta segunda-feira em Cuba em meio a grandes expectativas da população e ao ceticismo dos dissidentes.

A lei, em vigor desde as 00h00 locais desta segunda-feira (03h00 de Brasília), estabelece que agora todos os cubanos podem viajar para fora do país se tiverem um passaporte válido, já que deixaram de ser necessários o visto de saída, ou "cartão branco", e a carta de convite de alguém do exterior.

"Com a entrada em vigor hoje da atualização de sua política migratória, Cuba deu mais um passo para fazer com que os movimentos migratórios ocorram de forma legal, ordenada e segura", disse nesta segunda-feira o jornal oficial Granma.

A nova lei permite a Cuba "fortalecer sua relação com a emigração, sob o princípio de que são medidas aprovadas por decisão soberana do Estado e não respondem a pressões ou imposições de ninguém", acrescentou.

A reforma migratória, anunciada no dia 16 de outubro, foi bem acolhida pela população e muitos cubanos se preparam para solicitar seus passaportes a partir desta segunda-feira, segundo testemunhos recolhidos pela AFP.

As exceções são os dissidentes, como a líder das Damas de Branco, Berta Soler, e a blogueira Yoani Sánchez, que embora tenham declarado que desejam viajar, disseram que têm medo de serem privadas seletivamente deste direito.

Soler expressou que gostaria de ir a Estrasburgo, na França, com o objetivo de que o Parlamento Europeu lhe entregue o Prêmio Sakharov concedido em 2005 às Damas de Branco e que o grupo não pôde receber por ter tido sua viagem negada pelo governo cubano.

"O Prêmio Andrei Sakharov está nos esperando desde 2005 em Estrasburgo, vamos ver se o Parlamento Europeu pode preparar uma cerimônia para poder nos entregar o prêmio", disse Soler à AFP.

No entanto, Soler afirmou que "a reforma migratória é mais do mesmo, produto de que sempre vai existir um filtro, o governo cubano vai selecionar quem pode ou não sair do país".

"A Reforma Migratória não acolhe as demandas do povo, mas os desejos do governo", escreveu Yoani Sánchez na rede social Twitter.

"Oscilo entre a esperança e o ceticismo, como tantos outros cubanos", acrescentou a blogueira em outro twitte.

A lei migratória é uma das mais revolucionárias reformas introduzidas pelo presidente Raúl Castro desde que substituiu no comando seu irmão doente Fidel, que impôs restrições para sair da ilha em 1961, em meio a grandes tensões com os Estados Unidos, no auge da Guerra Fria.

"Os maiores de 18 anos não precisam solicitar a atualização de seus passaportes atuais, já que eles foram atualizados oficialmente e poderão ser utilizados para viajar desde que possuam os vistos exigidos", destacou o Granma nesta segunda-feira.

A nova lei também permite que os menores de idade saiam do país, mas apenas com permissão de seus pais ou tutores legais.

A reforma também beneficia quase dois milhões de emigrados cubanos, que já não terão que passar por longos trâmites para visitar Cuba, incluindo os atletas e profissionais que desertaram em giros ao exterior ou que escaparam da ilha.

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