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A espontaneidade do Papa Francisco, que quebra com frequência o protocolo para saudar os fiéis ou beijar crianças, representa um desafio e um quebra-cabeças para seu serviço de segurança.

"O papa Francisco não decepciona seus admiradores. Dirige-se a pé à multidão que o espera nas grades do Vaticano. Os serviços de segurança estão à beira de um ataque de nervos, mas a multidão está entusiasmada", explica o jornal italiano 'Il Fatto quotidiano', lembrando uma missa nos primeiros dias de seu pontificado.

A famosa Guarda Suíça e a Gendarmeria do Vaticano, que se ocupam da segurança dos pontífices, terão que se acostumar: o primeiro papa latino-americano da história reafirmou desde o primeiro dia a sua vontade de continuar sendo espontâneo e nega-se a se fechar entre seus guarda-costas para estar perto do povo.

Perguntado sobre sua segurança, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, explicou que não podem ser impostas medidas de segurança a um Papa.

"É preciso respeitar o estilo pessoal de cada Papa. Os responsáveis pela segurança sabem que não são eles que decidem, e sim o Papa, e que precisam se adaptar", explicou Lombardi, jesuíta como o novo pontífice.

A responsabilidade pela segurança dos Papas está nas mãos de cerca de 100 guardas suíços, o exército dos pontífices, com o apoio de 100 gendarmes do Vaticano e 140 policiais italianos.

A dificuldade para os serviços de segurança é encontrar um equilíbrio entre a proteção e a liberdade de movimentos para que o Papa possa estar em contato com o povo.

A dificuldade é ainda maior levando-se em conta que o Papa se desloca com frequência em locais abertos, a começar pela imensa Praça de São Pedro, com capacidade para 250.000 pessoas, onde ocorreram vários incidentes na história recente.

O mais grave foi o atentado cometido contra João Paulo II em 1981, quando o turco Mehmet Ali Agca, que havia se misturado à multidão, disparou contra ele e o feriu levemente.

O papa polonês, assim como Francisco, também gostava do contato com o povo, lembrou o porta-voz do Vaticano.

"Todos se lembram das diversas ocasiões nas quais João Paulo II quebrou as regras de segurança para poder estar com o povo, às vezes se colocando em situações arriscadas ou imprevisíveis", disse o porta-voz do Vaticano.

"Era seu estilo. Os responsáveis por sua segurança fizeram o que puderam", lembrou Lombardi.

No entanto, os serviços de segurança aprenderam a lição do ataque de 1982. A partir do atentado entrou em ação um papamóvel (o veículo do Papa) blindado com janelas à prova de balas, e os fiéis precisam passar por um detector de metais antes de entrar em São Pedro. Ainda assim, Francisco preferiu nesta terça-feira dar uma volta pela praça em um jipe totalmente descoberto.

Em junho de 2007, um alemão tentou subir no papamóvel de Bento XVI na praça de São Pedro, e em 2009, na missa de Natal, uma mulher se precipitou sobre o Papa e o derrubou na Basílica de São Pedro.

Esses incidentes levaram a um aumento do número de agentes de segurança nas grandes ocasiões, e a zona de segurança ao redor do pontífice passou a ser mais extensa.

Para a segurança da grande missa de entronização do Papa, nesta terça-feira no Vaticano, as autoridades italianas mobilizaram 3.000 membros das forças de ordem, incluindo policiais à paisana espalhados entre a multidão.

O aparato de segurança incluía atiradores de elite nos telhados, helicópteros sobre o Vaticano, embarcações da polícia no rio Tibre, assim como a proibição de sobrevoar a capital, fazendo de Roma por algumas horas uma cidade sitiada.

O papa Francisco "parece ser moderno" e sob sua direção a Igreja Católica pode superar "anacronismos", como a intolerância diante de temas de sexualidade, opinou o escritor peruano Mario Vargas Llosa. "Espero que inicie o processo de modernização da Igreja, libertando-a de anacronismos, como não tratar temas como os do sexo e da mulher", afirmou o prêmio Nobel de Literatura 2010 em uma entrevista publicada neste domingo pelo jornal O Estado de São Paulo.

Caso contrário, considerou Vargas Llosa, a Igreja continuará perdendo fiéis. "Os problemas como a pedofilia que quase destruíram a Igreja nasceram desta intolerância ao sexo", acrescentou o escritor.

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Eleito na última quarta-feira após um breve conclave, o papa argentino Jorge Bergoglio escolheu o nome de Francisco, em referência a São Francisco de Assis, o santo dos pobres. Neste domingo, o Sumo Pontífice rezou seu primeiro Ângelus diante de mais de 100.000 pessoas na Praça de São Pedro do Vaticano.

Quebrando a tradição, o Papa Francisco falou neste domingo a milhares de fiéis sobre o poder de Deus para perdoar, no lugar de ler o discurso escrito, em sua primeira aparição na janela do Vaticano. Ele também só falou em italiano, começando com "Buon giorno" (bom dia) e terminando com "Buon pranzo" (bom almoço), no lugar de cumprimentar os fiéis em várias línguas como seus antecessores faziam.

Seus comentários e humor deixaram animados as cerca de 150 mil pessoas presentes, provocando risos em vários momentos. Em apenas cinco dias, o estilo direto, espontâneo do Papa Francisco se tornou imediatamente a marca de seu papado. Antes de entrar na igreja de Santa Anna para celebrar a missa, ele apertou a mão de paroquianos e beijou bebês. As informações são da Associated Press.

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"Se não me casar com você, viro padre", disse Jorge Mario Bergoglio à sua ex-namorada, Amalia, há mais de 60 anos, segundo declarações feitas pela da mulher nesta quinta-feira aos jornalistas que queriam saber algo sobre o romance do hoje Sumo Pontífice quando era jovem. A mulher, de biotipo pequeno, óculos e cabelos brancos, disse que os dois namoraram a quando tinham seus 10 ou 12 anos, quando o agora papa Francisco, com 76 anos, lhe entregou uma carta.

"Na cartinha, tinha desenhado uma casinha de teto vermelho e paredes brancas e escrito: 'Esta casinha é a que vou comprar para você quando nos casarmos'", relatou a mulher na calçada de uma rua no bairro portenho de Flores, onde os dois nasceram. O presente inocente foi recebido como um escândalo pela família de Amalia. "Minha mãe foi me buscar na escola e me disse: 'Então você recebe cartinhas de rapazes!', e rasgou a carta", lembrou.

A partir desse momento, os pais da menina fizeram o possível para afastá-la de seu pretendente precoce que, como tinha prometido, acabou entrando no seminário. "Não tenho nada a esconder, foi uma coisa de criança e tão limpa!", disse a mulher, rodeada por microfones e câmeras de televisão. Bergoglio, ex-arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, foi eleito Papa na quarta-feira (13) e é o primeiro sacerdote latino-americano a ocupar o trono de Pedro.

"Papa negro", "exército da sombra", os jesuítas, que têm o primeiro papa da História, têm uma reputação de contrastes, mas a escolha do nome do novo pontífice, Francisco, se refere a valores fundadores destes "servidores da Igreja", na linha de frente da defesa dos pobres. A Companhia de Jesus, fundada em 1540 pelo aristocrata basco e ex-militar Ignacio de Loyola, às vezes é descrita como um "exército da sombra", que controla o conjunto da Cúria romana e inclusive o sistema bancário americano.

"Os preconceitos e estereótipos sobre os jesuítas são tão válidos quanto os que dizem que as parisienses são carrancudas e antipáticas", ironiza o historiador católico italiano Alberto Melloni, consultado pela AFP. "É uma grande família na qual há de tudo, grandes conservadores e grandes reformadores, inclusive alguns fundadores da teologia da libertação", explicou. O apelido "papa negro" remonta à época em que o "superior general" dos jesuítas tinha se tornado tão poderoso que era percebido como o rival do pontífice de Roma.

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A ordem que Ignacio de Loyola levou seis anos para fazer o Papa reconhecê-la (em 1540), foi inclusive dissolvida por Clemente XIV, em 1773, antes de ressurgir 50 anos depois durante o pontificado de Pio VII. Henri Tincq, ex-vaticanista do jornal francês Le Monde, explicou esta quinta-feira na página slate.fr a "lenda negra" sobre esta ordem religiosa por, de um lado, a "disciplina jesuíta, a submissão a toda prova 'perinde ac cadaver' (como um cadáver), à lei do segredo, à obediência absoluta ao Papa, o papel dos jesuítas na erradicação das heresias protestantes e jansenistas, com o desejo de influenciar as elites burguesas" através da educação.

Mas, segundo os vaticanistas, os cardeais eleitores reunidos no conclave secreto não escolheram o argentino Jorge Bergoglio por pertencer à Companhia de Jesus, mas por suas qualidades do arcebispo-missionário sempre disposto a visitar as paróquias desfavorecidas às quais chega de metrô ou a pé, sendo capaz, inclusive, de lavar os pés dos dependentes químicos. "Não é como se tivesse havido um clube de cardeais jesuítas que o elegeu. Era o único jesuíta do conclave!", afirmou à AFP o sacerdote Louis Boisset, ironizando o poder superestimado atribuído à sua ordem religiosa, que conta com apenas 19.000 membros espalhados por 150 países.

O porta-voz do Vaticano, o sacerdote Federico Lombardi, também jesuíta, expressou sua surpresa: "Nós nos consideramos mais como subordinados do que como uma autoridade de governo (da Igreja), a vivi (a eleição de um jesuíta) como um chamado presente para colocar-se a serviço da Igreja Universal", comentou. Em 2005, o cardeal Bergoglio, apoiado na época pelo poderoso cardeal progressista de Milão Carlo Maria Martini, foi o principal rival do alemão Joseph Ratzinger, que viria a se tornar Bento XVI.

"É jesuíta por formação, demonstrou por exemplo um grande equilíbrio psicológico ontem à noite. Não estava nem mesmo especialmente emocionado, isso vem dessa espiritualidade que ensina a 'santa indiferença'", avaliou o historiador Melloni. O diretor da revista jesuíta de referência Civilta Cattolica, Antonio Spadaro, ressaltou a importância simbólica da eleição do novo Papa sob o nome de Francisco, em homenagem ao famoso santo, nascido em uma família rica e que se fez pobre entre os pobres.

A pobreza "está no coração da experiência dos jesuítas e (São) Francisco estava na raiz da vocação de Ignacio (de Loyola), que ficou impactado pela leitura de seus escritos, que foram o fundamento de sua conversão", destacou Spadaro. Ignacio de Loyola recuperou a fé quando foi ferido em 1521 na batalha de Pamplona. Ele lamentou depois ter sido na juventude "um homem consagrado às vaidades do mundo, cujo maior prazer eram os exercícios de atos marciais, com um grande e vão desejo de ser famoso".

Segundo o padre Spadaro, o Papa, que estará agora "à frente da Igreja Universal, terá uma visão do mundo inspirada pela vocação dos jesuítas, mas é a Companhia (de Jesus), a que está agora ao seu serviço".

A polêmica sobre a atitude da Igreja argentina durante os anos da ditadura (1976-1983) voltou à tona após a eleição do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, como novo Papa. Os críticos de Jorge Bergoglio se focam no seu papel no desaparecimento de dois missionários jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, presos em 23 de março de 1976 e torturados em um centro de detenção conhecido por sua crueldade, a Escola Mecânica do Exército (ESMA). Eles foram libertados cinco meses depois.

"Eu fiz o que pude na idade que tinha e com as poucas relações que tinha para intervir em favor das pessoas sequestradas", se explicou Jorge Bergoglio, no livro de entrevistas "O Jesuíta", com Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti. Jorge Bergoglio sempre negou qualquer responsabilidade. Na época, ele era diretor da Ordem Jesuítica da Argentina. Os dois missionários assumiram uma postura em oposição à ditadura, enquanto ele tentou manter a neutralidade política da Companhia de Jesus, frente a expansão da Teologia da Libertação.

Horacio Verbitsky, autor do livro "Jogo duplo, a Argentina católica e militar", é um dos principais acusadores e diz ter conhecimento de "cinco novos testemunhos, que confirmam o papel de Bergoglio na repressão do governo militar dentro da Igreja Católica que ele dirige hoje, incluindo sobre o desaparecimento de padres". Nesta quinta-feira, no jornal Pagina 12, ligado ao governo, Horacio Verbitsky escreveu com ironia que "as lutas internas da Cúria Romana seguem uma lógica tão inexplicável que os fatos mais obscuros podem ser atribuídos ao Espírito Santo".

Em 2005, o nome do cardeal argentino já havia sido associado ao sequestro dos jesuítas. Em novembro de 2010, ocupando o cargo de primado da Argentina, Bergoglio foi interrogado como testemunha de crimes cometidos durante a ditadura. Ele também foi ouvido como testemunha durante um processo sobre o roubo de bebês de opositores adotados por funcionários do regime militar. Na ocasião, afirmou que tomou conhecimento da existência desses casos apenas após o retorno da democracia.

Em 2011, uma juíza francesa pediu uma audiência com o cardeal Bergoglio no âmbito da investigação sobre o homicídio de um padre francês em 1976, durante a ditadura argentina. "Certamente, este Papa não é uma grande figura da defesa dos direitos humanos, pelo contrário, é suspeito de não ter denunciado os crimes da ditadura, de não ter pedido explicações e, portanto, com seu silêncio, de ter acobertado estes atos", considerou a advogada Sophie Thonon.

Jorge Bergoglio defende que tentou junto ao chefe da junta militar, Jorge Videla, conseguir a libertação dos dois jesuítas. "Ele até mesmo permitiu que deixassem o país em direção à Itália", ressaltou José Maria Poirier, diretor da revista católica Criterio. "Alguns padres se mantiveram em silêncio, outros religiosos foram cúmplices; membros do episcopado eram simpatizantes da ditadura, mas este não era o caso de Bergoglio, um homem irrepreensível", afirmou o especialista argentino.

Em 2007, um ex-capelão da polícia, Cristian von Vernich, foi o primeiro padre argentino a ser condenado à prisão perpétua. Ele foi considerado culpado por cumplicidade em sete mortes, 31 casos de tortura e 42 sequestros na província de Buenos Aires. Após a ditadura, a conferência episcopal pediu publicamente perdão por não ter agido em favor do respeito aos direitos humanos. A ditadura argentina deixou milhares de mortos e desaparecidos.

Logo após o anúncio da eleição, as redes sociais se encheram de mensagens como "o novo Papa, amigo daqueles que violaram os direitos Humanos", "o Papa Bergoglio se opõe ao casamento gay, à eutanásia, ao aborto e participou da ditadura, o que vocês comemoram?" ou "Francisco esconde um passado obscuro ligado à última ditadura militar". Poucas horas depois de sua eleição no Vaticano, uma pichação acusadora aparecia no muro ao lado da catedral de Buenos Aires : "O Papa é um amigo de (Jorge) Videla", presidente da Argentina nos anos de chumbo da ditadura.

Em um país onde três quartos dos 40 milhões de argentinos se diz católico, a influência da Igreja foi consideravelmente enfraquecida durante os mandatos de Nestor Kirchner (2003-2007) e de sua esposa Cristina Kirchner (desde 2007), que aprovaram uma lei sobre o casamento homossexual e concedeu aos transsexuais o direito de mudar de estado-civil. Em contrapartida, o aborto não foi legalizado, sob pressão da Igreja. Mas a chegada ao trono de Pedro de um Papa argentino "pode inverter esta tendência e reforçar a posição da Igreja" argentina, considerou o diretor da revista Criterio.

"É um golpe muito forte, que emoção! Escutar essa multidão gritando: Viva o Papa!...Pobre homem!", disse nesta quinta-feira (14) María Elena Bergoglio, imaginando seu irmão mais velho, o novo pontífice, saudar na quarta-feira a multidão reunida na Praça São Pedro após sua eleição. Vestida de maneira sóbria, com um suéter verde escuro e seu cabelo grisalho preso, a mulher aceitou falar a dezenas de jornalistas que esperavam em frente a sua casa em Ituzaingó, um bairro de classe média da periferia oeste de Buenos Aires.

"Quando ouvi a notícia, chorei. Não consegui dizer nenhuma só palavra. Só tenho vontade de abraçá-lo", contou a senhora, "uma menina de 65 anos", 11 a menos do que o seu irmão. Esta diferença de idade faz com que "não possa falar de um irmão com quem brincava, mas sempre foi um parceiro muito presente além das distâncias", ressaltou. "Meus sentimentos não estão em ordem em minha mente, porque foi um baque muito forte, um fato histórico", repetiu.

María Elena afirmou que seu irmão "é muito hermético", mas que em sua primeira aparição pública, "a expressão de seu rosto mostrava plenitude". "Eu nunca pensei que seria Papa. Meu irmão cumpria as suas funções, com responsabilidades crescentes, mas eu nunca acreditei", confessou. Questionada sobre o tipo de papado que imagina, ela não soube responder, mas observou que "sabe qual é a sua inclinação: Trabalhar para os pobres, os mais marginalizados".

"Eu espero que tenha forças. Vamos orar para que o Espírito Santo o fortaleça", disse Maria Elena, que agradeceu "profundamente esse orgulho, mas esta é uma palavra muito vaidosa, que temos não só como uma família, mas como o povo argentino". O novo Papa é o mais velho de cinco filhos, três homens e duas mulheres, fora Maria Elena, os outros três, Alberto, Oscar e Regina Marta, já morreram.

Os brasileiros Frei Betto e Leonardo Boff, expoentes da Teologia da Libertação, se disseram esperançosos com a eleição do argentino Jorge Bergoglio como novo Papa, e consideram que a escolha do nome Francisco pode indicar que trabalhará pelos pobres. "Nunca houve um Papa com este nome, São Francisco de Assis. É muito significativo por três razões: é símbolo da ação pelos pobres; da ecologia, pelo amor à natureza; e terceiro, foi um santo que sonhou que a Igreja estava desmoronando e que precisava reconstruí-la", disse nesta quinta-feira à AFP o escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto.

O novo Papa "está consciente da crise da Igreja, da necessidade de uma reforma séria, começando pela Cúria Romana. Isso me deixa esperançoso", acrescentou. "Estou satisfeito de que seja latino-americano, argentino. Mas Deus continua sendo brasileiro, isso é claro. É nosso consolo", acrescentou aos risos.

Frei Betto indicou que desconhece a atitude de Bergoglio durante a ditadura militar argentina (1976-1983), mas afirmou que teme que sua eleição tenha sido decidida em parte sob a lógica de que a Igreja deve neutralizar o avanço do "progressismo político" na América Latina, onde a esquerda -e o secularismo- ganharam terreno na última década. "Temo que o Papa possa se prestar a isso, mas veremos como irá se manifestar", afirmou.

Leonardo Boff, outro dos pensadores da Teologia da Libertação que surgiu na América Latina após o Concílio Vaticano II (1962-1965), descreveu o Papa Francisco como um homem "sóbrio, sério, simples". "O Papa Francisco é uma promessa. Primeiro pelo nome: São Francisco recebeu de Cristo o pedido de reconstruir a Igreja. Francisco é o irmão universal", declarou em sua conta no Twitter este teólogo que pendurou a batina em 1992, oito anos depois de ser condenado ao silêncio obsequioso (proibição de publicar e ensinar) por Joseph Ratzinger, logo depois designado Papa Bento XVI.

Boff também destacou a humildade do novo pontífice, que "inovou" ao pedir a benção do povo no momento em que foi anunciada sua escolha. O sacerdote e teólogo suíço Hans Kung, uma das figuras mais progressistas da Igreja, declarou que está "feliz" com a esta eleição. "É um homem culto, jesuíta, com uma formação sólida. Também é um homem sensível, simples", acrescentou à emissora italiana Rai Radio 3 este crítico do anterior Papa, Bento XVI.

Uma juíza francesa pediu em 2011 uma audiência com o cardeal Bergoglio, eleito Papa na quarta-feira (136), no âmbito da investigação sobre o homicídio de um padre francês em 1976, durante a ditadura argentina, mas Buenos Aires nunca respondeu favoravelmente, afirmou nesta quinta-feira a advogada da família do sacerdote. Sylvia Caillard, magistrada do Tribunal de Grande Instância de Paris, enviou uma comissão rogatória internacional a Buenos Aires para que o cardeal depusesse como testemunha na investigação sobre a morte do sacerdote francês Gabriel Longueville, indicou à AFP a advogada da família dele, Sophie Thonon.

"As autoridades argentinas não responderam positivamente à comissão rogatória em relação a Bergoglio", acrescentou. Na época, Thonon considerou essa audiência necessária a fim de que o arcebispo de Buenos Aires fornecesse esclarecimentos à juíza sobre a eventual existência de arquivos sobre o caso. "Certamente, este Papa não é uma grande figura da defesa dos direitos humanos, pelo contrário, é suspeito de não ter denunciado os crimes da ditadura, de não ter pedido explicações e, portanto, com seu silêncio, de ter acobertado estes atos", considerou a advogada.

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Padre da paróquia de El Chamical, província de La Rioja (noroeste), Gabriel Longueville foi sequestrado junto com seu vigário Carlos Murias no dia 17 de julho de 1976. Os corpos de ambos foram encontrados no dia seguinte crivados de balas e com marcas de tortura. Dois ex-militares e um ex-policial argentinos foram condenados em dezembro passado por esses assassinatos. "A justiça argentina está fazendo um trabalho excepcional sobre os crimes cometidos durante a ditadura", disse Thonon. A instrução da juíza Caillard sobre os dois assassinatos segue em curso, mas pode sofrer um arquivamento devido às condenações pronunciadas na Argentina.

Os católicos da Ásia e do Pacífico saudaram nesta quinta-feira a eleição do papa Francisco, o primeiro não europeu em 1.300 anos e que carrega, segundo o presidente filipino Benigno Aquino, "uma promessa de renovação" da Igreja católica. "O presidente, com o povo filipino, se une aos fiéis católicos que recebem seu novo líder e sua proclamação com um sentimento de esperança infinita", disse Benigno Aquino em um comunicado.

Como "primeiro papa não europeu há um milênio, primeiro papa da Companhia de Jesus e primeiro da América Latina, a eleição do papa Francisco fornece uma promessa de renovação na Igreja católica", acrescentou Aquino, presidente do principal país católico da Ásia. Nas Filipinas, 80% dos 100 milhões de habitantes são católicos e a igreja exerce uma influência muito forte no país, onde o divórcio e o aborto seguem proibidos.

No estado de Goa, onde 25% do 1,5 milhão de habitantes são católicos, o padre Savio Barreto, reitor da Basílica de Bom Jesus, disse que estava emocionado de ter um Papa não europeu e jesuíta. "Estou orgulhoso de ter um Papa de nossa ordem. Esperamos muito dele. Também estamos encantados porque pertence ao Terceiro Mundo", disse.

Na Indonésia, onde o catolicismo é uma religião minoritária, a Conferência Episcopal disse que a eleição de Francisco era "um sopro de ar fresco para a Igreja Católica". "Não vem do Vaticano, não é a Cúria (o governo do Vaticano) e sempre fala a favor da justiça", disse Benny Susetyo, da Conferência Episcopal da Indonésia.

Na Austrália, os bispos elogiaram o novo papa Francisco. Por sua vez, um porta-voz da Rede de Sobreviventes dos Abusos de Sacerdotes pediu ao novo Papa que abra os arquivos secretos do Vaticano sobre o abuso sexual infantil na Austrália para demonstrar que há uma verdadeira mudança. "Uma das primeiras ações do novo Papa deve ser abrir todos os arquivos secretos do Vaticano relacionados com o abuso sexual infantil na Austrália e entregá-los à comissão real da Austrália", disse Nicky Davis, porta-voz da Rede.

O patriarca ortodoxo russo Kirill felicitou nesta quinta-feira o Papa Francisco por sua eleição e disse querer trabalhar com ele pela afirmação dos valores mortais tradicionais e a defesa dos cristãos perseguidos no mundo. "Ortodoxos e católicos devem unir seus esforços para defender os cristãos perseguidos em diversas regiões do mundo", declarou Kirill em uma mensagem enviada ao novo papa.

"Nossos esforços comuns são também indispensáveis para a afirmação dos valores morais tradicionais nas sociedades secularizadas de hoje", enfatizou o patriarca de Moscou e de todas as Rússias. O presidente russo Vladimir Putin também felicitou nesta quinta-feira o Papa Francisco ao considerar que a cooperação "construtiva" entre a Rússia e o Vaticano continuará.

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O cardeal Jorge Mario Bergoglio, eleito o novo Papa da Igreja Católica após dois dias de Conclave, lembrou o agora papa emérito Bento XVI em seu primeiro pronunciamento, proferido na sacada da Basílica da Praça de São Pedro, no Vaticano.

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Diante da multidão que aguardava com ansiedade suas primeiras palavras como pontífice, Francisco pediu que o povo rezesse por Bento XVI. A reportagem da AFP traz mais detalhes sobre a eleição do novo Papa.

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A Igreja Católica apresentou ao mundo o seu novo Papa, o cardeal argentino Jorge Mario Burgoglio, batizado de Francisco. Após o anúncio feito a milhares de fiéis que lotaram a Praça de São Pedro, o pontífice pediu que os católicos fizessem orações por ele e se inclinou diante da multidão.

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Confira na reportagem da AFP a apresentação de Francisco, na última quarta-feira (13).

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Presidentes e chefes de estado de vários países do mundo se pronunciaram sobre a eleição do novo Papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, na última quarta-feira (13). A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em carta divulgada pelo Governo, desejou bom trabalho a Francisco I.

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Já o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que está ansioso para continuar as ações cooperativas entre as Nações Unidas e a Santa Sé. Na reportagem da AFP, confira mais detahes sobre os pronunciamentos da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e da cúpula da União Européia.

 

"Por que Francisco?", questionaram muitos fiéis logo após a eleição do novo Papa argentino, que se associou assim a São Francisco de Assis, o padroeiro dos humildes. "Acredito que, antes de tudo, é a Francisco de Assis que devemos associar este nome, a esta ideia que (o papa) está ligado aos pobres e aos humildes", explicou à AFP o vaticanista Bruno Bartoloni.

Jorge Bergoglio teria explicado desta forma sua escolha, revelou o arcebispo de Nova York Timothy Dolan: "O Papa disse que escolheu seu nome em homenagem a Francisco de Assis. Todos nós sabemos que o santo de Assis se ocupou dos pobres e dos humildes. Esse será o seu trabalho". "Ele precisou escolher este nome para (combater) a pobreza, ele sempre foi um grande admirador de São Francisco de Assis", confirmou o padre Guillermo Marco, seu colaborador mais próximo na arquidiocese de Buenos Aires.

"Ele usa o metrô, gosta de viajar com as pessoas, e raramente utiliza um carro com motorista", contou para ressaltar sua vida modesta. "Enquanto cardeal, ele continuou a viver a vida normal de um padre. É um homem irrepreensível". Apesar de sua carreira meteórica, este senhor de 76 anos permaneceu "muito humilde" e "manteve um perfil discreto", segundo o padre Marco. Desta forma, dispensou ocupar a suntuosa residência dos arcebispos de Buenos Aires.

Um estilo de vida que se encaixa perfeitamente na linha de São Francisco de Assis (1182-1226), filho de uma família de comerciantes ricos da Úmbria (centro da Itália), mas que decidiu de um dia para o outro "casar-se com a Senhora Pobreza", dedicar-se à pregação e ganhar seu pão com o trabalho manual ou esmolas. No nascimento do futuro santo, sua mãe, que era francesa (provençal), o batizou com o nome de Giovanni (João). Mas, de volta à França, onde fez negócios muito bons e em homenagem ao seu país, seu pai lhe deu o nome de Francesco (Francisco = francês), nome pelo qual ficou conhecido mundialmente.

Um modelo perfeito para Jorge Bergoglio. Este santo, que é um dos santos católicos mais populares, é provavelmente o que é melhor recebido entre os não-católicos ou não-cristãos. Jesuíta como o novo Papa, o porta-voz do Vaticano comemorou a escolha do nome Francisco, "grande testemunha do Evangelho". "Ele não escolheu o nome de Inácio (como Inácio de Loyola fundador da ordem dos jesuítas), ele quer nos dizer assim que estamos a serviço da Igreja", comentou o padre Federico Lombardi.

No entanto, além da filiação óbvia com São Francisco de Assis, alguns observadores notam que o nome também pode ser entendido como uma referência a São Francisco Xavier, cofundador da Companhia de Jesus com Inácio de Loyola e um grande missionário.

Este santo espanhol, nascido em 1506 perto de Pamplona, em Navarra, e morto em 1552 na ilha de Sancian, no Cantão chinês, conquistou importantes vitórias missionárias na Índia e no Extremo Oriente, que lhe valeram o título de "Apóstolo da Índia. "Um exemplo glorioso para o novo Papa. Ele não deve esquecer que é o primeiro jesuíta a assumir o trono de São Pedro.

São Francisco Xavier é o padroeiro de todas as missões católicas (por decisão do Papa Pio XI em 1927), de Mongólia e do turismo. Quanto a São Francisco de Assis, santo dos pobres, ele também é o santo padroeiro da Europa e, em 1979, o Papa João Paulo II o proclamou padroeiro daqueles que estão preocupados com a ecologia. Luta contra a pobreza, evangelização, ecologia, viagem... quase um esboço de programa para o pontificado do novo Papa.

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Francisco I, o então cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo da Arquidiocese de Buenos Aires, é o primeiro chefe da Igreja Católica que não nasceu na Europa. A eleição do Papa Francisco, que é argentino, na última quarta-feira (13), já é considerada um marco.

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Sucessor de Bento XVI, Jorge Mario Bergoglio vai liderar mais de um bilhão de católicos ao redor do mundo. Na reportagem da AFP, conheça mais detalhes sobre a escolha do novo Papa e como a Argentina recebeu a notícia da eleição.

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O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, eleito o novo papa da Igreja Católica, é filho de imigrantes italianos. Francisco I, como passou a ser chamado, tem 76 anos e é considerado um conservador moderado. Em 1998, o então padre jesuíta foi promovido à arcebispo da Arquidiocese de Buenos Aires. Em 2001, foi escolhido para ser cardeal.

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A Argentina é um dos países da América Latina com maior número de católicos. Conheça um pouco mais sobre o perfil do papa Francisco I na reportagem da AFP.

O novo Papa Francisco I telefonou, após sua eleição, ao Papa emérito, Bento XVI, e "o encontrará nos próximos dias", anunciou nesta quarta-feira o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.

Na tarde de quinta-feira, o papa argentino celebrará uma missa com todos os cardeais na Basílica de São Pedro, e na manhã de sexta terá uma audiência na Sala Clementina do Vaticano.

A presidente Dilma Rousseff divulgou, agora há pouco, uma nota oficial de felicitação ao novo papa Francisco I, eleito nesta quarta-feira (13).

Na breve nota, a presidente lembrou que o papa virá ao Brasil em julho, para a Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de Janeiro.

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Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, é o 266º para da história. Até então, ele era  arcebispo de Buenos Aires. Ele foi eleito por 114 cardeais para ocupar a vaga deixada por Bento XVI, que renunciou no dia 28 de fevereiro deste ano.

Confira a íntegra da nota divulgada pela Presidência da República:

“Em nome do povo brasileiro, congratulo o novo papa Francisco I e cumprimento a Igreja Católica e o povo argentino. Maior país em número de católicos, o Brasil acompanhou com atenção o conclave e a escolha do primeiro papa latino-americano.

É com expectativa que os fiéis aguardam a vinda do papa Francisco I ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, em julho. Esta visita, em um período tão curto após a escolha do novo pontífice, fortalece as tradições religiosas brasileiras e reforça os laços que ligam o Brasil ao Vaticano.

Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil”

Com uma ponta de decepção, dezenas de brasileiros que foram nesta quarta-feira (13) à Catedral Metropolitana de São Paulo com a esperança de que o arcebispo Odilo Scherer fosse eleito Papa celebraram o primeiro pontífice latino-americano, o argentino Jorge Mario Bergoglio, Francisco I. "Queríamos um Papa brasileiro, mas os argentinos são irmãos, vizinhos. Está tudo bem", disse à AFP Rosivaldo dos Santos, de 38 anos, na Catedral de Sé.

"Eu queria um Papa brasileiro. Sou de São Paulo, queria que dom Odilo fosse Papa. Sempre vou à missa com ele aos domingos. Não vejo problema que seja um argentino, mas queria um brasileiro", ressaltou Francisco Pires, de 61 anos.

Scherer, de 63 anos, um brasileiro neto de alemães e arcebispo de São Paulo, maior diocese do Brasil com seis milhões de fiéis, era um dos favoritos para se tornar Papa. "Tínhamos a expectativa de que fosse brasileiro. Mas é o representante máximo de Jesus na Terra e o aceitamos, damos a ele as boas-vindas", ressaltou Maria Dias, de 49 anos.

A Conferência de Bispos do Brasil também celebrou nesta quarta a escolha de Bergoglio como primeiro Papa latino-americano, nascido no "continente da esperança". A CNBB considerou que a eleição de um Papa argentino "revigora" a Igreja. "Podemos esperar muito pelo fato de ser um latino-americano", disse em uma entrevista coletiva à imprensa o secretário-geral da CNBB, Leonardo Ulrich Steiner.

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