Tópicos | Lista de Fachin

Etnografia, entrevistas em profundidade e grupos focais são técnicas de pesquisa qualitativa que permitem a construção de categorias sociais e possibilitam a compreensão da dinâmica eleitoral.

Existem três categorias na lista Fachin. Inserido na primeira categoria, estão os políticos que receberam recursos para financiar as suas campanhas eleitorais. Na segunda categoria, estão os competidores que usaram os recursos recebidos para as campanhas eleitorais e enriquecimento ilícito. E na última categoria, estão os atores que receberam propina e a usaram para gastos eleitorais e enriquecimento ilícito.

Os políticos da primeira categoria praticaram ilegalidade, mas, aparentemente, não tão grave, pois eles e as empresas decidiram, juntos ou não, a não declararem o recurso. Os da segunda e terceira categorias praticaram ato ilegal gravíssimo, pois ocorreu enriquecimento ilícito e a corrupção estava presente.

Todos os políticos inclusos na Lista de Fachin são iguais? Em um aspecto sim. Os competidores sabem que campanhas eleitorais precisam de recursos. Por outro lado, não. As categoriais apresentadas sugerem as diferenças entre os competidores. Mas, olhando para a origem da Lista Fachin, não posso desprezar o papel do eleitor.

Campanhas eleitorais não são modernas como os “sábios” e intelectuais de gabinete supõem. As relações íntimas entre eleitor e candidato estão presentes. Muitos eleitores estão à procura de benefícios materiais. E os políticos precisam de um exército de cabos eleitorais para conquistá-los.  Conquistar eleitores é tarefa árdua e não é para políticos principiantes.

A conquista de parcela do eleitorado por parte dos competidores pode envolver diversas etapas e atores. A primeira etapa representa a conquista do representante do candidato no ambiente eleitoral. Em seguida, o representante, que pode ser, inclusive, um político com mandato, arregimentará os eleitores. E, por fim, o representante do candidato irá fiscalizar a ida dos eleitores às urnas. Todo este processo tem custos para o candidato.

A lista de Fachin tem origem. Ou melhor: os desejos dos eleitores causam/orientam as ações dos políticos. Estes são sujeitos ativos de uma realidade dispendiosa, em que a comunicação não é, infelizmente, instrumento suficiente para vencer a eleição.

O novo Conselho de Ética da Câmara considera insuficientes as autorizações de abertura de inquéritos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra 39 deputados federais para justificar a instauração de processos de cassação de mandato. Dos 21 titulares do órgão ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo, 12 afirmaram que somente provas de crime cometido no exercício do mandato levarão a ações por quebra de decoro parlamentar em razão do conteúdo das delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht.

Segundo os conselheiros empossados na semana passada, inquérito é fase inicial de processo e somente a partir da formalização da denúncia - em caso de a Procuradoria-Geral da República (PGR) pedir ao STF para tornar investigados réus - o processo disciplinar pode ganhar força, principalmente se tratar de episódios relativos à atual legislatura. Parlamentares, porém, disseram já saber que haverá implicação de atos cometidos neste mandato.

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"À medida que tiver prova e [o representado] virar réu, aí a gente vai ter de trabalhar", afirmou o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), membro do órgão responsável pelo julgamento da conduta de seus pares.

O deputado Aluísio Mendes (PTN-MA) disse que é cedo para instaurar qualquer procedimento no colegiado. "Se o STF autorizar é porque já tem indícios. Se transformar em denúncia, é porque os indícios são fortes", afirmou. "Ser réu é meio caminho andado", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).

Os parlamentares esperam pelo surgimento de fato relevante para discutir eventual punição aos colegas investigados. "Ser réu não é suficiente, tem de ter um fato", resumiu o deputado Augusto Coutinho (SD-PE). "Se tiver prova cabal, meu voto será pela punição", disse o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG). A avaliação é a mesma do primeiro-vice-presidente do conselho, João Marcelo Souza (PMDB-MA): "No meu entender, tem de ter prova cabal, senão não vamos a lugar algum".

Entre as punições para a condenação em um processo no Conselho de Ética, a mais radical é a cassação. Valmir Prascidelli (PT-SP) considerou que eventual perda de mandato deve ter como base condenação ou indícios contundentes. "Não é porque foram citados em delação que são culpados. Não faz sentido abrir processo antes do trânsito em julgado ou ter evidências bastante robustas, como no caso do Eduardo Cunha [deputado cassado, preso e condenado pela Operação Lava Jato]", afirmou Prascidelli.

Representantes do PP - um dos alvos da força-tarefa que investiga esquema de corrupção e desvios na Petrobrás - também exigem a existência de condenação ou de provas para dar prosseguimento a ações. "O conselho não pode julgar por indício, sem nenhum tipo de prova. Mas isso não impede a admissibilidade do processo de caminhar", disse Cacá Leão (PP-BA).

Seu colega de bancada Hiran Gonçalves (PP-RR) defendeu o "princípio pétreo da presunção de inocência" e recomendou cautela para que não haja prejulgamento. "Colocar fogo nas coisas não é bom para o País."

Na terça-feira passada, após o Estadão revelar a lista do ministro-relator da Lava Jato, Edson Fachin, o PSOL anunciou que vai analisar as acusações contra os deputados e avaliar se entrará com representações por quebra de decoro. O colegiado foi instalado no mesmo dia e elegeu Elmar Nascimento (DEM-BA) para presidi-lo. Ele é aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos parlamentares com abertura de inquérito autorizada.

Blindagem

 

Deputados disseram temer que a composição do conselho atue para proteger investigados. "Forças antagônicas se juntaram no conselho para blindar os investigados", disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que foi relator dos processos de cassação de José Dirceu (PT) e André Vargas (ex-PT).

O deputado Sandro Alex (PSD-PR) disse que houve um acordo entre os grandes partidos para eleger Elmar, que teria um perfil mais favorável aos investigados. "Não acredito no funcionamento do conselho nos próximos dois anos. Ele foi composto para blindar", afirmou. O parlamentar prevê que a maioria dos investigados será denunciada e considera graves os casos relacionados à atuação em medidas provisórias (MPs) para favorecer empresas. Alex está descrente sobre o andamento dos processos: "Os tentáculos de Cunha estão aí e influenciaram a eleição no conselho".

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Luiz Reis afirmou que o marido da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Eron Bezerra, "recomendou" que a doação eleitoral de R$ 1,5 milhão à parlamentar ocorresse via caixa dois, em 2012. Na época, Vanessa disputava a Prefeitura de Manaus, mas acabou derrotada no segundo turno por Artur Neto (PSDB). O depoimento de Reis serviu de base para a autorização de inquérito contra a senadora e o cônjuge pelo relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin.

De acordo com Reis, Vanessa o convidou para uma reunião na capital do Amazonas, no dia 24 de agosto daquele ano. No encontro, ela e o marido teriam pedido inicialmente uma quantia maior do que a que acabaram recebendo para a campanha. O delator afirma que não havia nenhuma contrapartida para o repasse e que era comum a empreiteira "investir" em políticos considerados promissores.

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"Não tínhamos nenhum interesse específico, se não o interesse com ela. Uma pessoa capaz, moça, de um partido com o qual a Odebrecht não tinha nenhuma relação e que se mostrava um expoente", contou. "A gente não tinha um interesse específico em Manaus, o interesse era criar uma relação com um partido que a gente não tinha, uma pessoa jovem, de futuro, isso sim era uma das coisas que a gente fazia que era apostar no crescimento, desenvolvimento de políticos jovens com discurso arrumado", continua em outro trecho.

Em nota, a senadora afirma que as doações feitas para suas campanhas "foram oficiais, declaradas e posteriormente aprovadas pela Justiça Eleitoral". "Diante da autorização, pelo STF, de abertura de inquérito para investigar as doações da campanha de 2012, quando fui candidata à prefeita, reafirmo que estou tranquila, pois tenho consciência que não cometi qualquer tipo de ilegalidade. Confio que isso será provado a partir das investigações", afirma a parlamentar.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, é acusado de ter recebido, em dinheiro vivo, R$ 1,8 milhão de caixa 2 da Odebrecht para financiar sua campanha para a prefeitura em 2012. As afirmações foram feitas pelo ex-diretor da Odebrecht na Bahia, André Vital. Em sua delação, Vital declarou que, no primeiro trimestre de 2012, a pedido de ACM Neto, se reuniu com o então candidato em seu escritório em Salvador, quando ACM teria pedido recursos para sua campanha. Na ocasião, o candidato indicou o empresário Lucas Cardoso como a pessoa responsável para administrar a entrega dos recursos.

Segundo o delator, uma parcela de R$ 400 mil foi oficialmente depositada na candidatura de ACM, mas a maior parcela foi combinado que seria repassada via caixa 2. "Comuniquei a Lucas que o valor aprovado era de R$ 2,2 milhões e que parte desse valor ia ser pago via caixa 2", declarou Vital, que também disse ter apresentado provas de registros telefônicos sobre o acordo e os pagamentos, que viriam a ocorrer em quatro parcelas, em dinheiro.

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ACM Neto, que na tabela de propinas da Odebrecht recebeu o apelido de "Anão", negou as irregularidades e disse que todos as doações que recebeu para sua campanha de 2012 à prefeitura de Salvador foram realizadas de forma legal, recebidas pelo partido - Democratas - e registradas na Justiça Eleitoral, como determina a lei. Ele acrescentou ainda que todas as suas contas de campanha foram aprovadas pela justiça eleitoral.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que a Procuradoria-geral da República (PGR) solicite os dados de entrada no Palácio do Jaburu, residência oficial do presidente Michel Temer, no dia 28 de maio de 2014.

A data foi citada pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho, em acordo de delação premiada, e consta em inquérito aberto contra os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).

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No dia em questão, Melo Filho relata que houve um jantar no Jaburu com a presença do ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, Padilha e Temer. Ali teria sido feito um pedido de repasse de R$ 10 milhões, sob pretexto de financiar a campanha eleitoral de 2014.

Em seu depoimento, Marcelo confirmou o pedido e declarou que R$ 6 milhões seriam destinados a Paulo Skaf e outros R$ 4 milhões a campanha de Temer à vice-presidência.

"Temer nunca mencionou para mim os 10 milhões, mas obviamente que no jantar ele sabia. Acertei com isso e acertei com o Padilha que dos 10, 6 iriam para o Paulo", afirmou Marcelo, que ainda avaliou que 'Temer não falaria de dinheiro', nem com ele, 'nem com a esposa, nem com ninguém'.

De acordo com a Procuradoria, "há fortes elementos que indicam a prática de crimes graves, consistente na solicitação por Eliseu Padilha e Moreira Franco de recursos ilícitos em nome do PMDB e de Michel Temer, a pretexto de campanhas eleitorais".

Após as delações premiadas da Odebrecht, o próximo passo dos investigadores será verificar as informações dos depoimentos. No inquérito sobre os principais ministros de Temer, Fachin autorizou ainda levantamento sobre emendas parlamentares propostas por Padilha, à época em que foi parlamentar; o levantamento das obras da Odebrecht relacionadas ao cargo ocupado por Moreira na Secretaria de Aviação Civil e a oitiva do advogado José Yunes, amigo de Temer e ex-assessor especial do presidente.

Apesar de não poder ser investigado por atos anteriores ao mandato de presidente, Temer é citado em outro inquérito, aberto para investigar o senador Humberto Costa (PT-CE). "A investigação deve tramitar em conexão com a do senador Humberto Costa, com exceção do atual presidente da República, Michel Temer. Isso porque ele possui imunidade temporária à persecução penal", disse o procurador-geral Rodrigo Janot no pedido de abertura de inquérito.

O ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva, disse em seu acordo de delação que Temer comandou em 2010, quando candidato a vice-presidente da República, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB. O valor era referente a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras.

Em depoimento gravado, Silva disse que o encontro se deu no escritório político de Temer, em Alto de Pinheiros, em São Paulo, em 15 de julho daquele ano. Ele afirma que se surpreendeu com a forma com que se tratou do pagamento de propina.

Outro lado

Por meio de nota, o Palácio do Planalto reforçou que Temer jamais tratou de "negócios escusos". "Como reiterado em outras ocasiões, o presidente contesta de forma categórica qualquer envolvimento do seu nome em negócios escusos." O texto diz ainda que Temer "nunca atuou em defesas de negócios particulares, nem defendeu pagamentos de valores indevidos a terceiros".

Em vídeo publicado nas redes sociais do Planalto na quinta-feira (13), Temer admite que fato que participou de uma reunião, em 2010, com Marcelo Odebrecht, mas nega que tenha solicitado propina. "A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos", afirma o peemedebista no vídeo.

A defesa do ministro Eliseu Padilha, representada pelo criminalista Daniel Gerber, já se manifestou dizendo que "todo e qualquer conteúdo de investigações será debatido exclusivamente dentro dos autos". O ministro Moreira Franco declarou, por meio de assessores, que não vai comentar a abertura de inquérito contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, enviou à presidente Dilma Rousseff, por meio do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), documentos que demonstravam o caixa dois em sua campanha de 2014. O objetivo seria demonstrar que a petista não estava blindada na crise de corrupção que se instalou em seu governo e pressioná-la a tomar providências quanto ao avanço da Lava Jato.

O relato foi feito pelo ex-diretor de Crédito à Exportação da Odebrecht Engenharia e Construção João Nogueira em depoimentos à Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele descreveu uma série de encontros com Pimentel no fim de 2014 para tratar de estratégias para evitar que as investigações levassem o governo petista e a empreiteira a uma debacle. Na época, o petista havia acabado de se eleger governador, após um período de pouco mais de três anos como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

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Segundo Nogueira, Marcelo Odebrecht viajou a Belo Horizonte em 17 de dezembro de 2014 a lá se encontrou com Pimentel. Naquela ocasião, teria apresentado ao petista o material sobre os repasses ilegais à chapa Dilma-Michel Temer. A questão é hoje objeto de uma ação de cassação por abuso de poder econômico e político no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"O que o Marcelo disse foi que tinha passado uma mensagem à presidente Dilma, porque o Pimentel era muito próximo dela: a comprovação, por meio de documentos, de que contribuições com recursos não contabilizados tinham sido feitas à campanha", afirmou o colaborador, explicando que o chefe visava a "catalisar uma atitude" do governo. "Eram tempos já desesperadores", acrescentou.

O delator explicou que o recado foi levado a Dilma, conforme lhe teria dito o próprio Pimentel numa conversa posterior, também em BH. Dilma teria pedido a Giles Azevedo, um de seus auxiliares mais próximos, para ficar "em cima do tema contribuições".

O delator não soube informar sobre eventuais providências do governo após o aviso de Marcelo Odebrecht. Um dos objetivos da empreiteira era que o Planalto atuasse para que uma reclamação apresentada pela Engevix contra o juiz Sérgio Moro fosse aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), fazendo com que a Lava Jato fosse avocada pela Corte, o que não ocorreu.

Os depoimentos de Nogueira constam de pedido de inquérito apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para avaliar possível tentativa de obstrução de Justiça. O relator da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, determinou o envio do caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que avaliará se há elementos para a abertura de uma investigação. Ele também autorizou a remessa de cópias dos depoimentos à Justiça Federal no Paraná.

Conforme o relato do colaborador, a Odebrecht também estava preocupada com a Operação Acrônimo, recém-desencadeada pela Polícia Federal, que poderia alcançar tanto Pimentel quanto a empreiteira. "Tenho amigos olhando, isso não vai longe", teria dito o petista ao executivo.

No fim do ano passado, após o avanço das investigações, o governador e Marcelo Odebrecht foram denunciados por corrupção. O petista é acusado de receber propina de R$ 12 milhões para favorecer a empreiteira quando ministro. O petista nega.

Outro lado

Procurada nessa sexta-feira, 14, a assessoria de Dilma reiterou o teor de nota já divulgada, na qual alega ser mentira que tivesse conhecimento de "quaisquer situações ilegais que pudessem envolver a Odebrecht e seus dirigentes, além dos integrantes do próprio governo ou mesmo daqueles que atuaram na campanha da reeleição".

"Após meses de insinuações, suspeitas infundadas e vazamentos seletivos de acusações feitas indevidamente por dirigentes da Odebrecht, finalmente Dilma Rousseff terá acesso a íntegra das declarações. Não conseguirão atingir a sua honra e a sua vida pública, porque tais acusações são mentirosas", diz o comunicado.

Em nota, o advogado Eugênio Pacelli, que defende o governador de Minas, afirmou que, sobre esses fatos, "parece muito fácil demonstrar que o delator nada diz de concreto". "Afirma ter mandado recado' à ex-presidente, recado esse que seria a comprovação de que ele poderia se transformar em um delator, se algo não fosse feito. Pela lógica dele, nada se fez. Transformou-se em um. Melhor: no principal delator", diz a nota.

"O governador Fernando Pimentel esclarece que sempre teve consciência da impossibilidade de qualquer interferência política na condução da Lava Jato. E foi esse o seu comportamento desde sempre. Tanto o juiz Sérgio Moro, quanto os membros do Ministério Público Federal são constitucionalmente independentes e não podem sofrer qualquer tipo de influência em seus atos. Jamais relataram algo nesse sentido em relação ao governador", completa. O advogado também diz que é importante ressaltar que também não houve iniciativa legislativa da ex-presidente para qualquer fim contrário às investigações. "Precisamos de mais fatos e menos boatos!", finaliza.

O executivo Hilberto Macarenhas, um dos delatores da Odebrecht, entregou à Operação Lava Jato, uma tabela com o valor total movimentado pelo Setor de Operação Estruturadas, o Departamento da Propina da empreiteira. Entre 2006 e 2014, foram girados aproximadamente US$ 3,37 bilhões.

Hilberto Mascarenhas trabalhou na Odebrecht por 40 anos por "predomínio na área financeira". Em 2006, relatou, estava na tesouraria da Odebrecht S.A sem programa específico, quando foi "intimado" por Marcelo Odebrecht, que na época era o presidente da Construtora Norberto Odebrecht, para assumir a área de Operações Estruturadas, subordinada a ele.

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O delator afirmou que "em princípio", relutou a aceitar o cargo "tendo em vista a grande exposição e risco" que o trabalho traria, mas "depois de alguma insistência", aceitou a proposta. Hilberto afirmou que haveria "remuneração e pelos benefícios que passaria a ter, tais como carro com motorista, apartamento em São Paulo para trabalho e passagem de volta a Salvador nos finais de semana", onde residia a família.

Segundo Hilberto, a área fazia duas formas de pagamentos: em espécie no Brasil e em depósito bancário em contas no exterior. Os repasses no País eram entregues em "pacotes/mala de dinheiro em locais predeterminados". As transferências bancárias no exterior eram feitas a partir de offshores na não declaradas.

A parte sigilosa da lista de Fachin inclui nove determinações ao Ministério Público Federal para que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre a possibilidade de crimes cometidos no exterior pelo Grupo Odebrecht envolvendo agentes públicos ou privados estrangeiros sejam julgados no Brasil.

Executivos e ex-executivos da empreiteira admitiram que operações da empreiteira em nove países - Argentina, Venezuela, Equador, México, El Salvador, Colômbia, Peru, República Dominicana e Angola - continham práticas ilícitas.

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Os valores descritos nas decisões do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, somam US$ 65,68 milhões - apenas uma fração do total que o grupo já admitiu ter pago em propinas internacionalmente.

Há relatos de propina envolvendo diversas obras na América Latina, como o metrô de Caracas, na Venezuela, e os Sistemas Troncais da Argentina.

Delatores narraram pagamento de US$ 1 milhão a um representante do Ministério de Energia do Equador com o intuito de obter a liberação do financiamento da Usina Hidrelétrica de Toachi Pilatón. Também valores foram pagos para campanhas eleitorais presidenciais em El Salvador - de Mauricio Funes, que teria recebido R$ 5,3 milhões - e do Peru, de Ollanta Humala - que teria recebido US$ 3 milhões.

Na África, um ministro de Angola, de identidade não revelada, teria recebido US$ 20 milhões para agir em favor dos interesses da empresa.

Um nome revelado foi o do Emilio Lozoya, que teria recebido US$ 5 milhões quando era presidente da Pemex, a estatal do petróleo do México, como contrapartida a benefícios indevidos obtidos pela Odebrecht.

Na maior parte dos casos, os pagamentos foram operados pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o chamado "departamento da propina" da empreiteira.

Jurisdição

O que o STF e a Procuradoria-Geral da República precisam decidir, neste momento, é se os crimes cometidos no exterior estão sujeitos à jurisdição brasileira.

Para definir isso, Fachin pediu que a Procuradoria se manifeste à luz de dois artigos do Código Penal brasileiro, considerando o princípio da territorialidade (local onde o crime foi praticado em todo ou em parte) e a possibilidade de aplicação do Art. 337-B, que trata do crime de corrupção ativa em transação comercial internacional.

Independentemente de haver investigação no Brasil ou não, a Procuradoria-Geral da República já pode comunicar ao exterior os fatos narrados pelos delatores, para que possa haver investigação estrangeira.

O ministro Fachin manteve o sigilo dos autos destes nove processos atendendo ao pedido da PGR, que informou haver tratativas entre o Grupo Odebrecht e alguns países para firmar acordos de colaboração, como feito no Brasil, admitindo crimes, pagando multas e identificando agentes públicos corruptos, sem encerrar as atividades no local.

A PGR se comprometeu a manter o sigilo até o dia 1.º de junho com os colaboradores, enquanto estes negociam acordos. O Estado apurou que já estão bastante avançadas as negociações da Odebrecht no Peru, na Colômbia e na República Dominicana.

Em dezembro, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos informou que a Odebrecht e a Braskem pagaram mais de US$ 1 bilhão para irrigar subornos e fraudes pelo mundo.

Um trecho da delação premiada do executivo Hilberto Mascarenhas, da Odebrecht, aponta para o ex-tesoureiro da campanha de Lula à Presidência em 2006. Segundo o delator, a corrida eleitoral foi ‘uma loucura’ e José de Filippi estava ‘ávido pelo dinheiro’. "Antes do dinheiro chegar, ele já ia buscar."

Cabia a Fillipi arrecadar doações para a campanha de Lula. Naquele ano, o petista concorreu à reeleição e levou a Presidência em 2º turno com 46,6 milhões de votos, superando.Geraldo Alckmin (PSDB).

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Hilberto era o chefe do Setor de Operações Estruturadas, o Departamento de Propinas da Odebrecht. Segundo o delator, naquele ano, a área da propina ‘ainda não estava estruturada’ na empreiteira e o Sistema Drousys, a rede de comunicação interna, uma espécie de intranet, dos funcionários deste departamento, ‘não estava funcionando’.

"Foi uma loucura de trabalho para controlar isso tudo", relatou ao Ministério Público Federal.

"Outubro, né? Foi logo depois que eu entrei . Foi uma loucura. Você tinha eleição para presidente, senador, deputado federal, deputado estadual, governador. Então, era uma loucura. A área não tinha nem experiência, nem estrutura. O caixa era controlado pelo Money. Vocês já ouviram falar do Money? Microsoft."

Hilberto citou ainda o My Web Day, o ‘manual da propina’ da Odebrecht. Por meio deste software desenvolvido pela empreiteira, era possível gerenciar a contabilidade paralela. O My Web Day permitia identificar os tipos de contrato, natureza do serviço, período de vigência, além de outros caminhos.

"Não tinha o My Web implantado. Era uma loucura, era uma loucura", disse.

O Ministério Público Federal questionou se Hilberto lembrava ‘de quem tratava dessas situações com o sr Benedicto, algum tesoureiro’.

"Eram todos tesoureiros deles, o Fillipi, era o de Lula, né? José Filippi", afirmou.

A Procuradoria da República perguntou ainda como era feito os repasses de dinheiro para as campanhas.

"É, naquela época, no início, ainda estava definindo lugar para ele buscar. Nesse assunto não tinha preocupação de ele não ir buscar. Ele ia buscar antes do dinheiro estar lá. O cara estava tão ávido pelo dinheiro que antes de o dinheiro chegar, ele já ia buscar. Ele ficava na porta do local, esperando autorização para entrar, para pegar o dinheiro", revelou.

O ex-tesoureiro de Lula na campanha de 2006 não foi localizado. O espaço está aberto para sua manifestação.

A Odebrecht doou oficialmente R$ 1,25 milhão à campanha de Marina Silva (Rede), em 2014, após um encontro da então candidata à Presidência com o herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, em um hotel perto do aeroporto de Guarulhos. Em acordo de delação premiada, Alexandrino Alencar, ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, descreveu a reunião como "institucional". Marina não é investigada na Operação Lava Jato.

"Houve uma conversa de Marcelo com ela, onde foram colocados posicionamentos, valores culturais, não monetários, e estratégias. A partir daí eu fui encarregado de procurar o senhor Álvaro de Souza e nós doamos essa quantia", disse o delator. Ele declarou ainda que não houve nenhuma contrapartida para a doação. "O Marcelo não conhecia ela, nem eu. Foi muito mais uma conversa de apresentação."

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Alexandrino disse que, naquele ano, ficou responsável por atuar diretamente nas doações da empreiteira para as campanhas presidenciais de Marina e Dilma Rousseff (PT), que recebeu R$ 7 milhões declarados à Justiça Eleitoral. As conversas sobre a campanha petista ocorriam entre Alexandrino e o ex-ministro e então tesoureiro Edinho Silva. "Edinho nos procurou e solicitou as doações e nós doamos esse valor", afirmou.

Questionado sobre a diferença expressiva entre as quantias doadas às candidatas, Alexandrino disse que a empreiteira "tinha um relacionamento mais antigo" com Dilma. "Pelo timing, pela história toda que aconteceu, porque o candidato, no caso da Marina Silva, até então era Eduardo Campos. E aí teve esse fato. Enquanto isso, as conversas da Dilma já vinham acontecendo. Tinha um relacionamento mais antigo", disse.

Em outro trecho de seu depoimento, Alexandrino declarou que também pagou "‘vantagens indevidas, não contabilizadas" à campanha de Dilma, em 2014. Segundo o delator, os repasses foram feitos por intermédio do assessor Manoel Araújo Sobrinho e a pedido de Edinho. Após suspeitar que estava sendo monitorado pela Polícia Federal, o então tesoureiro da campanha de Dilma teria evitado encontros com o ex-diretor da Odebrecht.

Em nota, o comitê de captação da candidatura presidencial de Marina Silva em 2014 afirmou que foi procurado pela empresa Odebrecht para conhecer as suas propostas. "Houve uma reunião com o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e outros dirigentes, onde foram expostas as principais propostas para o desenvolvimento sustentável do país. A reunião ocorreu no hotel Pullman Guarulhos, em sala ao lado do saguão de entrada, em função da agenda de viagens de Marina Silva. Nessa reunião, não se abordou nenhum assunto referente a financiamento de campanha", afirma a nota.

Segundo a assessoria de Marina, as empresas do grupo Odebrecht realizaram depósitos de R$ 98.574,41 por meio da empresa Odebrecht Ambiental (2 depósitos) e de R$ 500.000 por meio da empresa Ecosteel Gestão de Águas Industriais para a campanha, conforme consta na prestação de contas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Durante o período eleitoral, o PSB recebeu doação da Construtora Norberto Odebrecht de R$ 600.000 ao Diretório Nacional, que não foram direcionados para a campanha presidencial de Marina Silva.

"É importante ressaltar que todos os depoimentos e demais documentos coletados pela operação Lava-Jato, como planilhas, mensagens de celular e troca de e-mails estão em posse do Ministério Público Federal que considerou, no cruzamento dessas informações, que não havia elementos que justificassem o pedido de abertura de inquérito ou o encaminhamento às demais instâncias da Justiça", diz a nota.

Em nota divulgada em 2 de março, quando o caso veio a público pela primeira vez, Marina disse confiar no trabalho da Justiça e defendeu "urgência para mudar o sistema político corrompido e viciado que tem maculado a nossa democracia". "Qualquer acusação de doações irregulares em eleição, para campanha de quem quer que seja, deve ser rigorosamente investigada para que não paire nenhuma dúvida ou suspeita", afirmou.

A Odebrecht cogitou não dar nada ao então candidato do PMDB ao governo do Pará, Helder Barbalho, depois de ele ter solicitado R$ 30 milhões para a sua campanha em 2014, disse em delação premiada o executivo Mário Amaro da Silveira. No final das contas, a campanha do peemedebista teria recebido R$ 1,5 milhão via caixa 2.

Em nota, o ministro da Integração Nacional negou que tenha cometido ilegalidades. Barbalho reafirma que todos os recursos que recebeu como doações para sua campanha em 2014 foram devidamente registradas junto ao TRE-PA, que aprovou todas as suas contas. Segundo a nota, ao longo da campanha de 2014, o então candidato teve encontros com representantes de empresas com o objetivo de obter doações legais.

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Segundo a assessoria do ministro, a doação de R$ 1,5 milhão da Odebrecht corresponde à doação oficial registrada por Helder (R$ 1,2 milhão) e por Beto Salame (R$ 300 mil). Acrescenta ainda que Helder teve doação oficial de mais R$ 2 milhão da Braskem. "Estranhamente na delação não há referência à doação oficial, só a uma suposta doação via caixa 2", diz a nota.

Silveira ocupou o cargo de diretor-superintendente da Odebrecht Ambiental no Estado do Pará, tendo concentrado suas atividades em uma empresa adquirida pela empreiteira, a Saneatins, que na época tinha a concessão do serviço de saneamento de cinco municípios paraenses.

Apelidado de "Cavanhaque", Barbalho é um dos oito ministros do presidente Michel Temer que são alvos de inquéritos instaurados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht.

Em nota, a assessoria do ministro afirma que a conversa em São Paulo com o executivo da Odebrecht existiu sim, mas durou 10 minutos e foi apenas para apresentação. "Helder nunca pediu R$ 30 milhões ou quantia alguma."

Afirmou que não tinha e não tem qualquer ingerência sobre a área de saneamento no município de Marabá. O ministro destacou ainda sua "estranheza" com o codinome "Cavanhaque". "Em toda sua trajetória política, Helder Barbalho nunca usou cavanhaque", diz a nota.

O dinheiro que abastecia parte do caixa do departamento de propina da Odebrecht também saiu do fundo das águas turvas do Rio Madeira, na Amazônia. Em relatos dados aos investigadores da Operação Lava Jato, o delator Henrique Serrano de Prado Valadares contou como as fraudes dos serviços de retirada de sedimentos do fundo do rio amazônico, uma prática conhecida como dragagem, serviram de atalho para arrecadar milhões de euros e injetar recursos no departamento da propina, que passava dificuldades por conta de tanto saque.

Ex-executivo da área de energia da Odebrecht, Valadares contou que Marcelo Odebrecht havia dado a ordem para cada gestor das grandes obras lideradas pela companhia dessem um jeito de arrecadar recursos para as contas de caixa 2, tudo da forma mais discreta possível.

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Depois de analisar os caminhos possíveis para retirar dinheiro da hidrelétrica de Santo Antônio, que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez construíam na região de Porto Velho (RO), ficou decidido que a melhor saída seria burlar os serviços de dragagem.

O trabalho era prestado por empresas europeias, que recebiam pagamentos em euro. Como os custos pela retirada dos sedimentos do fundo do rio oscilam muito, por conta do tipo de material que será retirado, bastava alterar o tipo de serviço prestado. "É muito fácil dragar uma areia. Mas se você estiver dragando argila, natural e dura, é muito mais difícil, exige mais equipamentos e é muito mais caro", comentou o ex-executivo. "Existe uma gama de materiais para ser dragado e de preços."

Segundo o delator, a transação foi viabilizada por Marcos Grillo, que era responsável pela geração de caixa da Odebrecht. "Estou mostrando o quanto é fácil fazer isso. Se você combinar com a empresa holandesa ou belga que ela vai escavar areia, e vai cobrar pelo preço mais alto, como se estivesse escavando uma argila extremamente dura, difícil de dragar, aquilo vai dar um aumento na medição da fatura dele, enorme", disse Valadares. "E você pode combinar com ele, que ele vai lhe repassar essa diferença lá fora, em euros."

Uma complexa estrutura financeira foi montada para viabilizar o esquema, disse o ex-executivo. "O Grillo é muito competente nisso. Quem for procurar aquilo ali, se perde no meio do caminho. São tantos quadrinhos, tantas setinhas para lá e para cá, que você fica maluco. Ele fez um negócio muito competente. Através da dragagem ele resolveu o problema de geração da caixa 2."

Relator do projeto das Dez Medidas de Combate à Corrupção na Câmara, o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) recebeu o apelido de "inimigo" na planilha da Odebrecht. Ele é acusado de receber R$ 175 mil via caixa 2 para sua campanha de 2006 e será investigado em um dos inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em seu depoimento, o ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar disse que tinha como uma das funções na empreiteira "observar, intuir e perceber potenciais candidatos que poderiam crescer e dar destaque" no mundo político. Onyx, segundo o delator, foi identificado como um desses quadros, e foi procurado porque a Odebrecht queria tê-lo "como um parceiro futuro nas suas atividades de deputado federal".

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"Ele era uma pessoa importante, era uma pessoa, um jovem impulsivo, lutador, que precisávamos mantê-lo próximo, procurei o candidato a deputado, na época ele era candidato pelo "PFL" e procurei, dizendo do interesse nosso de nos aproximarmos, de que seria importante fazermos doações pra campanha dele", relatou Alexandrino.

Segundo o ex-executivo, a reunião com Lorenzoni foi ocorreu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e, na ocasião, o deputado gaúcho não demonstrou nenhuma "rejeição" em receber o dinheiro via caixa 2, prática comum adotada pela empreiteira naquela época para não chamar atenção da imprensa.

A operação foi registrada no sistema de informática "Drousys", que controlava as transações do "banco da propina" da Odebrecht. De acordo com Alexandrino, a doação não foi informada à Justiça Eleitoral.

Durante a discussão sobre o pacote anticorrupção na Câmara, Lorenzoni ganhou destaque por defender o texto elaborado pelo Ministério Público Federal e ficar ao lado da força-tarefa da Lava Jato. Em seu relatório, ele manteve a proposta de criminalizar a prática de caixa 2, mas reduziu as penas.

Pelas redes sociais, o deputado negou o recebimento de caixa 2. "Eu estou surpreso, indignado, revoltado, com essa citação nas delações da Odebrecht. Quero deixar claro que eu tenho 24 anos de vida pública limpa, e ela vai continuar limpa, sempre me separei dessa lambança que lamentavelmente tem aqui no Brasil. Não devo e não temo", afirmou.

Ele também disse que nunca esteve na sede da Odebrecht. "Se alguém descobrir uma foto minha ou qualquer registro de entrada minha na empresa, eu renuncio ao mandato".

Uma das acusações mais fortes da Odebrecht à atual cúpula do Congresso Nacional é a de recebimento de vantagens indevidas para a aprovação de medidas provisórias entre 2009 e 2013. O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), abriu inquérito para investigar repasses de R$ 7 milhões ao grupo formado pelo atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE); o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL); e o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PDMB-BA).

A propina foi liberada em 2013 para garantir a aprovação da MP 613, convertida na Lei 12.859, de 10 de setembro de 2013. A lei disciplinava o Regime Especial da Indústria Química (REIQ), com regras de desoneração fiscal para a aquisição de matérias-primas. O texto da MP 613 determinava a concessão de benefícios e incentivos à produção de etanol e à indústria química.

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"Eunício Oliveira criou dificuldade para cobrar dinheiro para não obstruir a tramitação", disse Carlos Fadigas, ex-presidente da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht.

Os relatos e documentos apresentados por seis delatores mostram que o Setor de Operações Estruturadas - o departamento da propina - repassou cerca de R$ 4 milhões a Jucá e Renan; R$ 2,1 milhões a Eunício; cerca de R$ 1 milhão a Vieira Lima; e R$ 100 mil a Maia. Os montantes foram pagos em espécie.

De acordo com os delatores, integrantes dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também receberam para ajudar na aprovação das MPs. Formalmente, no entanto, nenhum dos citados - incluindo os ex-ministros petistas Antonio Palocci e Guido Mantega - consta como investigado neste caso.

No pedido de abertura de inquérito, a Procuradoria-Geral da República reproduziu a tabela com os pagamentos aos parlamentares. "No sistema, também, a gente conseguiu identificar que isso foi pago em dinheiro pela área de Operações Estruturadas para o Eunício, para o Lúcio Vieira Lima e o Rodrigo Maia. Todos eles receberam dinheiro em espécie, em valores entregues por doleiros", disse Fadigas. "Eu acho difícil justificar esses pagamentos como doação de campanha. Estamos falando de 2013, portanto, fora do período eleitoral", afirmou Fadigas.

Interlocução

O interlocutor da Odebrecht no Congresso era Cláudio Melo Filho, diretor de Relações Institucionais. Ele narra uma relação próxima a Jucá desde 2004. Ele disse que Jucá "é muito qualificado tecnicamente" e era excelente para "resolver" os interesses da empresa. Ele teria intermediado a distribuição dos recursos em relação à MP 613. Segundo ele, Jucá atuava em favor também de Renan.

De acordo com Melo Filho, Eunício recebeu dois repasses de cerca de R$ 1 milhão. Ele contou ainda que o também delator José de Carvalho Filho, encarregado de viabilizar os pagamentos, recebeu uma reclamação do sobrinho do senador Ricardo Augusto por causa do atraso em um pagamento de R$ 1 milhão. Augusto, executivo da empresa Confederal Vigilância e Transporte de Valores Ltda., disse que já havia "disponibilizado avião para viabilizar a operação". Esta informação foi destacada no pedido da PGR para a abertura de inquérito contra os cinco parlamentares.

Melo Filho disse também que, pelo bom e longo relacionamento que tinha com Jucá, já repassou ao senador entre R$ 15 milhões e R$ 16 milhões. Ele também explicou que outro executivo fez repasses ao senador. "Tem um valor relacionado a Henrique Valadares, que tratou com Romero Jucá de R$ 6 milhões. Diz respeito à obra de (usina) Santo Antônio. E isso foi pago. A gente tem um dado específico para olhar isso", disse Melo Filho.

Defesa

Maia disse que todas as doações de campanha que recebeu "foram solicitadas dentro da legislação, contabilizadas e declaradas à Justiça, em cumprimento à lei eleitoral" e que o "processo vai comprovar que são falsas as citações dos delatores".

Eunício afirmou que jamais participou de negociações sobre emendas legislativas para favorecer empresas públicas ou privadas e que nem sequer participou da comissão que discutiu o texto da MP 613. "As contribuições da Odebrecht, como as demais, foram recebidas e contabilizadas de acordo com a legislação eleitoral", afirmou.

Renan disse acreditar as investigações "serão arquivadas por falta de provas e por total inconsistência da denúncia". Jucá disse que "está à disposição da Justiça para prestar qualquer esclarecimento". Vieira Lima não se pronunciou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os executivos da Odebrecht Carlos Armando Guedes de Paschoal e Alexandrino de Salles Ramos de Alencar apontam em depoimento à Lava Jato o repasse não contabilizado de R$ 200 mil para o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, por apoio contra greves nas Usinas Hidrelétricas do Rio Madeira em 2012.

Com o pretexto de contribuição para campanha, Paulinho da Força, então deputado pelo PDT, teria recebido propina em espécie através do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, chefiado por Hilberto Mascarenhas. À época, o deputado era conhecido pelo codinome de "Boa Vista", alcunha que seria substituída mais tarde por "Forte".

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Outro inquérito aberto a pedido do ministro do STF Edson Fachin aponta doações anuais de R$ 100 mil da Odebrecht para a realização de eventos da Força Sindical em comemoração ao Dia do Trabalho.

Paulinho da Força aparece também como alvo de investigação no recebimento de R$ 1 milhão em propina feito em duas parcelas, pelo setor de Operações Estruturadas do Grupo, em 2014, quando já era deputado federal pelo Solidariedade. A menção ao parlamentar aparece nas delações de Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, e Hilberto Mascarenhas.

O líder da Força Sindical teria recebido o pagamento por apoio à Odebrecht em função da greve ocorrida na Embraport, em Santos, e da invasão à sede do grupo empresarial em 2013.

COM A PALAVRA, PAULINHO DA FORÇA

Por meio do nota, Paulinho da Força admite ter recebido R$ 1 milhão para a campanha mas não fala especificamente a respeito da origem dos recursos. "A Odebrecht doou R$ 1 milhão para o partido Solidariedade, que foi distribuído para pagamentos de campanhas entre diversos candidatos aos cargos de deputados federal e estadual. Deste montante, minha campanha ficou com exatos R$ 158.563,00, conforme registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). É importante ressaltar que minhas contas foram aprovadas pelos órgãos eleitorais responsáveis. Como presidente da Força Sindical, que representa duas mil entidades em todo o Brasil, sempre sou solicitado, por minha liderança e experiência, a ajudar a solucionar conflitos em grandes demandas trabalhistas, como no caso da greve dos portuários ou conflitos na Usina do Rio Madeira", diz o deputado no documento.

Inquérito aberto contra o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin relativo a irregularidades envolvendo o projeto da Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, aponta possível operação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) junto à estatal Furnas para favorecer a Odebrecht em troca de propina.

O executivo ligado à empreiteira Henrique Serrano do Prado Valladares disse que procurou, em 2008, sob orientação do ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht, o ex-presidente da Câmara dos Deputados em busca de apoio para ‘os interesses políticos comuns de Furnas e Odebrecht’. A estatal tem participação de 40% em Santo Antônio e Cunha era conhecido no grupo ‘por ser o detentor do feudo Furnas’.

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A contrapartida, conforme aponta Valladares, seria pagamento de R$ 50 milhões em propina sobre os contratos de Santo Antônio, distribuído da seguinte maneira: Cunha e seus aliados ficariam com R$ 20 milhões, o então presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia e o senador Romero Jucá (PMDB-PE) receberiam R$ 10 milhões cada um e o então deputado federal Sandro Mabel também ficaria com R$ 10 milhões.

O pagamento foi dividido entre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, parceiras no consórcio, em uma proporção de 60%/40%, sendo os R$ 50 milhões correspondentes à fatia da Odebrecht. O projeto de Santo Antônio foi o primeiro investimento da Odebrecht no setor de energia, em meados dos anos 2000.

Os encontros entre Cunha e Valladares teriam ocorrido no escritório do ex-deputado no centro do Rio de Janeiro, em uma empresa de táxi aéreo e no aeroporto Santos Dumont, também no Rio. O ex-deputado está atualmente preso em Curitiba.

O chefe do setor de infraestrutura da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Junior confessou à Operação Lava Jato que a empresa pagou 40 milhões de euros para o lobista José Amaro Pinto Ramos para fechar o contrato de parceria com a gigante francesa DCNS para a construção de cinco submarinos - um deles, movido a energia nuclear - para a Marinha brasileira.

"Aprovei pagamentos a José Amaro Ramos no valor de aproximadamente EUR 40 milhões, com recursos não-contabilizados, os quais foram realizados em parcelas ao longo da execução do contrato", revelou o executivo, em sua delação premiada, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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O projeto de submarinos - quatro convencionais e um nuclear -, orçado inicialmente em 6,7 bilhões de euros, só saiu do papel após parceria com a França. Atualmente, a previsão é de R$ 31,8 bilhões de gastos. O programa foi entregue a um consórcio formado pela Odebrecht, pelo estaleiro francês DCNS, cujo principal acionista é o governo da França, e a Marinha brasileira.

"Os pagamentos foram operacionalizados pela equipe de Hilberto Silva (chefe do ‘setor de propinas’), que providenciou transferências bancárias para conta no exterior de José Amaro Ramos."

"Os pagamentos foram feitos entre 2010 e 2014. Eu tenho ideia do que ele fazia com o dinheiro, mas ele nunca me disse. Os pagamentos foram feitos e eu sou o responsável e estão registrados no sistema Drousys (sistema de comunicação seguro do setor de propinas)."

BJ, como é conhecido o delator, afirmou que os pagamentos foram feitos para uma empresa de Amaro Ramos no Uruguai. Ele entregou para os procuradores da República da Lava Jato os extratos de transferências para contas do lobista e também os registros de liberação e ordenamento dos pagamentos para ele, identificado pelo codinome "Champagne".

A offshore do lobista usada para receber os valores foi a Casu Trust & Management Services S.A.. Os documentos entregues pelo delator mostram que os valores saíram de uma conta de uma offshore da Odebrecht, a Strategic Project Planning. Segundo o delator, houve também pagamentos no Brasil.

Questionado pelos procuradores da Lava Jato, o motivo que levou a Odebrecht a pagar 40 milhões de euros, ele afirmou que quando ele assinou a parceria com os franceses da DCNS, foi exigido que ele fizesse os pagamentos para o lobista.

BJ afirmou que foi José Amaro que o procurou no final de 2006 e começo de 2007 com a proposta de que a Odebrecht "fechasse uma parceria com a DCNS, na implantação da base e do estaleiro naval para construção de submarinos convencionais e nuclear financiados pela França".

"Eu acredito que ele (José Amaro) deveria ter alguns almirantes da reserva que ajudaram na concepção do projeto nuclear envolvidos, deveria ter o Ohon porque ele me procurou depois para que eu ajustasse com ele um contrato de consultoria e eu percebi que ele tinha uma proximidade com os franceses."

O delator afirmou que José Amaro opera no mercado de armas para o Brasil há muitos anos, como representante de indústrias do setor de defesa e que já esteve com ele em uma casa que ele tem em na 5ª Avenida, de frente para o Central Park.

Eletronuclear

Othon é o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Luis Pinheiro da Silva, que já foi preso pela Lava Jato, em Curitiba, por receber propinas nas obras da Usina Termonuclear de Angra 3.

"Orientei que Fabio Gandolfo operacionalizasse os referidos pagamentos. Os pagamentos para Othon Pinheiro foram realizados durante os anos de 2012, 2013 e 2014 com recursos de caixa 2 pela equipe de Hilberto Silva, com recursos não contabilizados", disse o delator.

"Foram apurados pela Companhia pagamentos no montante de EUR 1,5 milhão, por meio de transferências bancárias em contas indicadas por Othon Pinheiro nos anos de 2012 e 2013 e, ainda, o valor aproximado de R$ 1,2 milhão no ano de 2014."

O almirante é identificado nas planilhas da Odebrecht como "Mergulhador". José Amaro tem relações de negócios com o ex-presidente da Eletronuclear.

PT

O delator afirmou que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto - preso pela Lava Jato, em Curitiba, desde abril de 2015 - também cobrou propina ao partido nesse contrato dos submarinos.

Segundo o executivo da Odebrecht, assim que foi fechado o acordo de cooperação com a DCNS e foi efetuada a liberação de um adiantamento de R$ 650 milhões, Vacarri o procurou no Rio "para solicitar que fossem realizados pagamentos ao PT por conta da conquista do projeto".

"Informei que não concordava em realizar o pagamento, por não ter havido combinação prévia, mas ele insistiu."

Segundo BJ, o assuntou foi levado a Marcelo Bahia Odebrecht, presidente afastado do grupo, que está preso desde junho de 2015, pela Lava Jato, em Curitiba.

Conta ‘Italiano’

Odebrecht afirmou à Justiça Eleitoral que a Odebrecht Infraestrutura ficou responsável por pagar R$ 50 milhões do montante acertado com o PT para a campanha da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, para que as liberações de dinheiro do governo no contrato de construção dos submarinos não parassem.

Odebrecht revelou que a empresa acertou, ao todo, R$ 150 milhões para a campanha de reeleição de Dilma. O ex-ministro Antonio Palocci, identificado sob o codinome "Italiano", seria o principal interlocutor do empresário nas negociatas.

O programa foi lançado em 2008, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista chegou a assinar uma "parceria estratégica" com o então mandatário da França, Nicolas Sarkozy. A DCNS ficou responsável pela transferência de tecnologia ao País e escolheu a Odebrecht como parceira nacional no projeto, sem realização de licitação.

Segundo a Marinha, o Prosub engloba "três grandes empreendimentos modulares". "A construção de uma infraestrutura industrial e de apoio para construção, operação e manutenção dos submarinos, a construção de quatro submarinos convencionais e o projeto e a construção do submarino com propulsão nuclear."

"O Programa foi concebido por meio da parceria estratégica estabelecida entre o Brasil e a França, a partir de 23 de dezembro de 2008, quando foram firmados acordos de nível Político e Técnico e Comercial, com o valor inicial para a sua consecução de 6,7 bilhões de Euros. O valor estimado até o final do Programa, cadastrado no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo Federal (SIOP), é de cerca de R$ 31,85 bilhões.

O Prosub havia sido citado em relatório da 36.ª fase da Lava Jato, denominada Ommertá. A citação se deu pelas anotações sobre o programa encontradas em celulares do ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht. No caso, segundo a Polícia Federal, o assunto Prosub estava relacionado à atuação do ex-ministro Antônio Palocci, que tratava com a empreiteira assuntos ligados ao projeto.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE JOSÉ AMARO RAMOS

O advogado Álvaro Luís Fleury Malheiros, que representa José Amaro Ramos, informou que seu cliente recebeu aproximadamente 17,5 milhões de euros - e não 40 milhões de euros, como informou o delator da Odebrecht Benedicto Júnior, o ‘BJ’.

Segundo Malheiros, o dinheiro foi pago pela empreiteira a título de honorários. Ramos, segundo seu advogado, recebeu porque levou para a Odebrecht um negócio importante, de grande porte, e também pela atuação intensa que promoveu entre duas sociedades que fecharam parceria.

O advogado esclareceu que a empresa francesa (DCNS) para a qual Ramos vinha trabalhando tinha intenção de fazer parceria com uma empreiteira também francesa no Brasil para construção do estaleiro e da base naval, necessários para implantação do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).

Malheiros destacou que Ramos fazia assessoria para a acionista principal e controladora da DCNS. "Ele mostrou que para a DCNS seria mais importante arrumar um parceiro que fosse uma empresa nacional. Aí apresentou esse projeto para a Odebrecht que acabou pagando honorários a ele."

"O dr. Ramos foi fundamental para o avanço e o êxito desse projeto", afirma Malheiros.

O advogado informou que Ramos declarou o recebimento dos valores. "Tudo está perfeitamente regularizado."

Sobre o codinome Champagne, pelo qual Ramos era identificado numa planilha da empreiteira, o advogado declarou. "Essa questão de codinome é uma questão interna da Odebrecht."

COM A PALAVRA, A MARINHA DO BRASIL

Por meio de nota, a Marinha do Brasil (MB) informou que "desconhece qualquer irregularidade sobre os pagamentos do contrato de construção dos submarinos do Programa de Desenvolvimento de Submarino (PROSUB)".

"Por esse motivo, não há qualquer investigação (interna) em andamento".

Entre os políticos sem foro privilegiado supostamente envolvidos com a Lava Jato e alvos de pedidos de investigação encaminhados à Justiça Federal de Pernambuco pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado federal Paulo Rubem Santiago (PSOL) afirmou, nesta quarta-feira (12), que ainda não sabe as razões pelas quais teve o nome incluído na lista do ministro Edson Fachin. Com passagem pelo PT, PDT e agora no PSOL, Santiago ressaltou as campanhas protagonizadas por ele “sempre ficaram entre as mais pobres de Pernambuco”. 

Ao esclarecer que já solicitou acesso ao conteúdo da petição na JFPE, Paulo Rubem enumerou ações da sua trajetória política e ponderou “jamais” ter apresentado “projetos de lei, emendas a projetos de lei ou medidas provisórias para beneficiar empresas de qualquer natureza”. “Pelo contrário, em 2004 criei a Frente Parlamentar de Combate à Corrupção. Por convicção, mudei de partido duas vezes, saindo de partidos grandes e médios para o PSOL, com apenas seis deputados federais”, declarou. 

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No texto, ele  também diz morar “no mesmo imóvel adquirido em 1981, financiado e quitado com recursos próprios”. “Vivo exclusivamente do meu salário de professor assistente da UFPE”, esclarece, pontuando ainda que seus maiores patrimônios são a honestidade, a consciência tranquila e a conduta ética em 38 anos de vida pública. 

Além de Paulo Rubem Santiago, outras cinco pessoas são alvos da petição encaminhada pelo STF a JFPE, entre elas, o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico (PSDB), e o ex-deputado federal José Chaves (PTB). O petebista, por sua vez, também negou veementemente o recebimento de recursos não contabilizados em sua campanha. Em nota, ele disse que, "todas as contribuições respeitaram a legislação e foram devidamente aprovadas pela justiça eleitoral". Chaves reforçou ainda que "exerceu seis mandatos e sempre teve suas contas aprovadas" e disse que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento que se julgue necessário.

Confira à íntegra da nota de Paulo Rubem:

"Bom dia. Considerando as notícias veiculadas nas últimas 24 horas, dando conta da inserção de meu nome na tal "Lista do Janot", enviada pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ao STF com pedido de abertura de inquérito em função de delações de investigados pela Operação Lava Jato, dirijo-me a todos e todas para esclarecer os fatos publicados, em defesa de meus maiores patrimônios que são minha honestidade, minha consciência tranquila e minha conduta ética, em trinta e oito anos de vida pública. Não sei, até o momento, as razões pelas quais meu nome foi citado.

1. Exerci mandatos de Vereador(1991-1994), Deputado Estadual (1995-2002) e Deputado Federal (2003-2014).Sempre combati irregularidades e privilégios. Não recebi no exercício desses mandatos, em nenhum momento, contribuição de campanha de empresas ou pessoas físicas, ora investigadas ou sob investigação a qualquer tempo. Fui Presidente da Fundação Joaquim Nabuco, vinculada ao MEC (2015-2016), com orçamento anual superior a R$ 100 milhões. Sempre exerci a função pública com ética, transparência e compromissos com o bem-estar da população. Minhas campanhas sempre ficaram entre as mais pobres de Pernambuco. Isso é público e notório;

2. Presidi a CPI de Sonegação Fiscal (1995), fui titular de várias CPIs, como a dos Combustíveis (1998), das Ambulâncias/Sanguessugas (2006), da Dívida Pública (2010), enfrentando interesses e corporações gigantescas, com independência, movido pelo interesse público e pela defesa da ética nas relações público-privadas, sem qualquer indício ou denúncia de envolvimento com atos indevidos de qualquer natureza nessas participações;

3. Na Comissão Mista de Orçamento, Planos e Fiscalização do Congresso Nacional fui Relator Setorial para os orçamentos do MEC, MinC e MCT (próximos de R$ 100 bilhões), atuando com zelo, transparência e ética;

4. Fui Vice-Presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara e presidi audiência pública acerca da gigantesca dívida ativa tributária, sem qualquer indício ou denúncia de favorecimento de empresas devedoras ao fisco ou à previdência social;

5. Fui autor da Proposta de Emenda Constitucional que encerrava o foro privilegiado para Deputados Federais e Senadores nos casos de denúncia por crimes cometidos antes do exercício dos mandatos ou durante os mesmos, por atos sem relação com a representação parlamentar;

6. Nessa trajetória jamais apresentei projetos de lei, emendas a projetos de lei ou medidas provisórias para beneficiar empresas de qualquer natureza. Pelo contrário, em 2004 criei a Frente Parlamentar de Combate à Corrupção. Por convicção, mudei de partido duas vezes, saindo de partidos grandes e médios para o PSOL, com apenas seis deputados federais;

7. Minha declaração de IR, meus sigilos telefônico e bancário estão à disposição dos órgãos de fiscalização e controle.

8. Por fim, moro no mesmo imóvel adquirido em 1981, financiado e quitado com recursos próprios. Vivo exclusivamente do meu salário de professor assistente da UFPE.

Estou tomando as providências necessárias para conhecer o teor da petição ora encaminhada à Justiça Federal de PE e quando obtiver mais detalhes voltarei para dar as informações necessárias. Obrigado."

Ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho, José Ivaldo Gomes, mais conhecido como Vado da Farmácia (sem partido), também é um dos políticos que integra a lista de investigados por envolvimento na Lava Jato construída pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, a partir de delações premiadas. Ele é citado por ex-executivos da Odebrecht por ter recebido propinas duas vezes para facilitar as negociações para a instalação de um hotel na Reserva do Paiva. 

De acordo a denúncia feita pelo Ministério Público, Vado teria recebido primeiro R$ 150 mil para a campanha de 2012 em que foi eleito prefeito. Em sua defesa, entretanto, o ex-gestor disse que na época quem coordenava as ações eleitorais e a arrecadação dos recursos foi o atual prefeito do Cabo, Lula Cabral (PSB). Vado e Lula eram aliados em 2012, inclusive, o pessebista indicou o político citado por Fachin para a sucessão municipal. 

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“Se houve, de fato, alguma doação ilícita eu desconheço. Quem quiser tirar a dúvida basta perguntar a quem denunciou se alguém manteve contato comigo ou me entregou algum dinheiro. Não tenho nada a temer, estou absolutamente tranquilo quanto a isso”, rebateu Vado da Farmácia em nota encaminhada à imprensa.

O segundo registro de repasse ilícito aconteceu, segundo a denúncia, em 2014 quando o político teria recebido R$ 750 mil da Odebrecht em troca de desoneração fiscal junto ao município e outros benefícios sobre o projeto da Reserva do Paiva.

Em 2014, Vado não disputou a reeleição. O ex-prefeito negou que tenha recebido “qualquer recurso de forma ilícita”. Veja a nota na íntegra:

O ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho Vado da Farmácia, que teve o nome incluído na relação de políticos beneficiados por doações irregulares feitas pela Empreiteira Odebrecht, negou que tenha recebido qualquer recurso de forma ilícita para sua campanha eleitoral em 2012. Segundo ele, todas as doações foram feitas legalmente, de acordo com a legislação, e as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. O ex-prefeito enfatizou que não tem nada a temer e se coloca à disposição da Justiça para fazer os esclarecimentos necessários.

De acordo com Vado, em 2012, o coordenador da sua campanha e o responsável pela arrecadação de recursos foi o atual prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral (PSB), também seu “padrinho” político naquela eleição. “Se houve, de fato, alguma doação ilícita eu desconheço. Quem quiser tirar a dúvida basta perguntar a quem denunciou se alguém manteve contato comigo ou me entregou algum dinheiro. Não tenho nada a temer, estou absolutamente tranquilo quanto a isso”, rebateu Vado da Farmácia.

Assessoria do ex-prefeito Vado da Farmácia

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