Um dos principais personagens das histórias em quadrinhos do Brasil completa 40 anos de existência em 2020. Criado pelo cartunista e escritor Ziraldo, “O Menino Maluquinho” conquistou leitores com o jeito simples, o visual despojado e as aventuras criativas com os amigos nas histórias do livro.
Além dos fãs da literatura infantil, as molecagens (e a caçarola na cabeça) de Maluquinho, Juju, Junim, Bocão e companhia também inspiraram a série de revistas em quadrinhos e viraram produções audiovisuais para o cinema e a televisão.
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Uma das fãs incondicionais da criação de Ziraldo é a escritora Ivy Farias, 39 anos. A paixão pelo personagem vem desde a infância, mas é tão grande que, mesmo adulta, Ivy chegou a comprar uma camiseta do Menino Maluquinho para usar com traje social em reuniões de trabalho.
“Usava para trabalhar com blazer, tailleur, enfim, para dar um contraste e fazia um sucesso, todo mundo ficava nostálgico, dava uma quebrada nos compromissos profissionais”, conta Ivy que, no entanto, declara que a peça de roupa desapareceu.
“Talvez algum fã a achou mais valiosa, não sei, encomendei outra”, recorda-se a escritora, que afirma não ter visto o filme lançado em 1996. “Não tive coragem de ver o filme porque a imagem dele da minha infância é a melhor", fala.
A escritora Ivy Farias trajando a camiseta em homenagem ao Menino Maluquinho. Foto: arquivo pessoal
Para Ivy, o mercado brasileiro poderia valorizar mais os personagens nacionais em detrimento das figuras famosas do exterior. Segundo ela, além de representar a alegria de ser criança, o Maluquinho pode ser considerado um marco para o aprendizado infantil nas questões de cidadania.
“O Menino Maluquinho é uma grande contribuição ao país. Além de ter formado gerações nesses 40 anos, esteve à disposição de causas importantes como a campanha de vacinação. Por isso não erro em dizer que ele é um herói muito maluquinho, uma delícia de menino, uma alegria para todos nós”, enfatiza a escritora, que hoje é estudante de Direito e usa os ensinamentos de Ziraldo como uma referência na promoção das garantias fundamentais das crianças.
De mãe para filhos
No caso da diretora de conteúdo e assessora de comunicação Danielle Blaskievicz, 45 anos, as estripulias e o jeito moleque do Maluquinho também estão presentes há tempos. Ela conta que, além de se divertir com as histórias, aproveita os personagens de Ziraldo na educação dos filhos Rafael, que tem oito anos e Augusto, de seis.
“Sou fã do Ziraldo desde sempre, pelo traço, pela criatividade, pela ousadia e pela irreverência que as histórias e desenhos carregam”, considera a mãe, que avalia como positiva a influência do autor na fase escolar dos filhos.
Na casa de Danielle, o amor pela obra de Ziraldo passou da mãe para os filhos Rafael e Augusto. Foto: arquivo pessoal
“Ele tem uma leitura toda divertida e despojada do mundo e é isso que eu quero que meus filhos aprendam, a ver o mundo pela arte e com bom humor”, relata Danielle.
De acordo com ela, o mais velho lê e divide as histórias com o irmão que ainda não está alfabetizado. “O Rafael tem os livros desde antes de saber ler e já se divertia com as imagens e com a figura do Maluquinho. Hoje ele que lê os livros para o irmão”, destaca.
Loucos por futebol, ambos são fanáticos pela história ‘Bocão em Bola Fora’, do livro “Maluquinho por Futebol” (2010). “Eles se identificam porque as histórias são legais e criativas. O Maluquinho e é um menino bagunceiro, divertido, ativo, que gosta de futebol, como a maioria dos meninos nessa idade e, diferente dos outros personagens da literatura, têm as maluquices dele”, completa Danielle.
Edição comemorativa
A história não vai passar em branco nas quatro décadas do Menino Maluquinho. A Editora Melhoramentos elaborou uma versão limitada e de luxo para homenagear a data. O livro que marca o aniversário de 40 anos do personagem e sua turma é considerado um item de colecionador. A edição tem 120 páginas e mostra a história do personagem que conquistou o público ao longo dos anos.
Desde o lançamento, em 1980, o livro teve 129 edições e vendeu 4 milhões de exemplares. A obra também teve duas adaptações para o cinema, versões para o teatro, ópera e histórias em quadrinhos.
Além de “O Menino Maluquinho”, Ziraldo Alves Pinto é pioneiro nas publicações de quadrinhos produzidos no Brasil. Nos anos 1960, lançou o livro “A Turma do Pererê”, censurado pela Ditadura Militar (1964-1985), e foi um dos fundadores do jornal “O Pasquim” (1969-1991) junto a outros cartunistas, jornalistas e humoristas da época. O periódico, que utilizava a cultura como artefato ante as imposições dos chamados “anos de chumbo”, também foi alvo da repressão.